Sustentabilidade e Escola: Uma Dupla de Futuro

Uma das boas notícias anunciadas pelo MEC em junho foi o investimento de R$ 100 milhões em um programa destinado a tornar 10 mil escolas brasileiras sustentáveis.
O investimento ainda pode ser considerado tímido se realmente considerarmos o número de escolas que apresentam algum tipo de vulnerabilidade socioambiental. Mas a iniciativa é animadora.
Nos últimos anos, tenho tido a chance de colaborar com diferentes instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que tem a sustentabilidade como eixo condutor.
Autossustentavel: Escola Sustentável
Junto a equipes interdisciplinares de professores dessas instituições, tenho mantido a preocupação de criar um projeto novo e personalizado para cada escola (afinal, cada escola tem sua história e suas características próprias), sempre valorizando práticas que verdadeiramente aliem as esferas tradicionalmente ligadas ao conceito de sustentabilidade: a ambiental, a econômica e a social. Somente identificando os desafios que deixem claras as interligações e a interdependência entre essas três esferas, estaremos de verdade formando professores e estudantes dentro do novo paradigma da sustentabilidade.
Minha fonte primária de inspiração são as ideias e os ideais de Edgar Morin.

Apenas por meio da compreensão profunda da complexidade do mundo atual, colaboraremos efetivamente na formação de indivíduos críticos e capazes de propor soluções de cunho coletivo aos desafios do dia a dia. O trabalho dentro dos paradigmas da complexidade quebra as barreiras disciplinares dando um novo significado ao que é trabalhado em sala de aula.
Costumo dizer que projetos em Educação e Sustentabilidade devem “trazer o mundo para a escola e inserir a escola no mundo”.
De maneira geral, projetos de Educação e Sustentabilidade devem (ou deveriam) ousar e ir além das propostas isoladas de ecoeficiência, que geralmente empobrecem e resumem a sustentabilidade ao seu componente ambiental.
Para a implantação de projetos integrais em Educação e Sustentabilidade, tenho seguido um roteiro simples com seis etapas:
  • Formação teórica competente de professores e estudantes dentro da história e da conceituação de sustentabilidade;
  • elaboração de um diagnóstico real da escola, caracterizando seus principais desafios e formas viáveis de solucioná-los;
  • identificação dos principais atores envolvidos em cada desafio e que podem se tornar parceiros em ações;
  • estabelecimento de um verdadeiro diálogo democrático entre os atores, visando compreender os vários lados da mesma questão, garantindo, dessa forma, uma visão sistêmica complexa;
  • monitoramento participativo dos resultados alcançados e;
  • criação de parcerias com outras instituições de ensino, ONGs, entidades governamentais, etc., aumentando ainda mais a complexidade do trabalho e envolvendo de forma efetiva sua comunidade.


 Um ponto fundamental de toda essa caminhada (que tem data para começar, mas não possui data para terminar) é sempre colocar os estudantes como protagonistas desde a elaboração do diagnóstico até a avaliação das ações implantadas, permitindo que esses conheçam melhor sua escola e sua comunidade. O professor está ali unicamente para auxiliar a caminhada, funcionando como tutor e não como aquele que detém o conhecimento e sabe o que é certo ou errado. Esse deslocamento do professor de sua posição onipotente estabelece uma relação mais saudável, o que favorece muito o diálogo e a busca conjunta por soluções.
Autossustentável: Criança, sustentabilidade e o mundo.
Por sinal, considero o desenvolvimento da capacidade de propor soluções criativas para problemas coletivos por meio do diálogo democrático, um dos grandes resultados positivos dos projetos de Educação e Sustentabilidade c
om que tenho colaborado.
Acredito muito nesse caminho para garantir uma educação mais integral e integrada. Espero que o investimento do MEC na criação de escolas sustentáveis valorize de verdade todo o potencial existente dentro do tema da sustentabilidade. Para isso, entretanto, boa parte desse investimento deve ser voltado à formação de professores dentro dos preceitos da sustentabilidade.

A prática da verdadeira sustentabilidade na escola é capaz formar cidadãos responsáveis, que valorizam mais o coletivo que o individual e que estejam preparados para construir uma sociedade mais sustentável, justa e democrática para todos.


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3 comments

  1. O conceito de Escolas Sustentáveis vem sendo trabalhado por educadores ambientais de universidades que vem parceria com o MEC e a UAB ofertam Cursos de Extensão. A UFOP oferta Curso de Especialização.

  2. Gostaria de saber nomes de filmes ou palestras para passar em escolas do meu estado sobre Meu Ambiente, sustentabilidade ou qualquer assunto ligado 'a area

  3. Oi gente,
    isso de formação dos professores para a construção do Programa Nacional de Escolas Sustentáveis é crucial para a sua efetivação no chão da escola. Em 2013, na escola em que trabalho soubemos que deveríamos desenvolver este projeto e inicialmente foi "desesperador" pois não sabíamos o que realmente devíamos fazer. Como passar isso para os alunos? Como conduzir o projeto? Parecem questões tolas, mas que no dia a dia de um professor é bem Complicado de resolver. Ter segurança de onde esta pisado é fundamental.

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