Consumidor Consciente e a necessidade do reposicionamento de Mercado

Lá se vão mais de cem dias dentro de casa. E, junto com todo o turbilhão de informações e práticas que nos direcionam ao “novo normal”, as experiências individuais vão mostrando que o consumo, em geral, passa por mudanças, seja em relação à queda na renda ou porque a nova rotina tem levado as pessoas a descobrirem o que realmente precisam e não precisam mais consumir.

É fato que a freada nas compras vem sendo constatada em todas as classes sociais, e é esperado um cenário de queda recorde no consumo das famílias para este ano – uma retração de 7,2%, segundo projeção feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Isso mostra que o surto causado pelo novo coronavírus traz ainda muitas incertezas e vem impactando o mercado de produtos de consumo em todo o mundo, provocando também mudanças nos hábitos dos consumidores, que estão mais cautelosos ao realizar suas compras.

Fonte: Creative Commons

Pesquisa recente divulgada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostrou também que diante desse momento inédito de pandemia e das medidas de isolamento social necessárias para conter o avanço da doença, os brasileiros esperam que as marcas sirvam de exemplo e os guiem para a mudança. É o que respondeu 25% dos entrevistados de uma pesquisa da Kantar Ibope realizada em março. Os consumidores também esperam que o mercado tenha um posicionamento prático e realista, ajudando as pessoas no dia a dia (21%). Outro posicionamento esperado é que as marcas usem seus conteúdos para explicar e informar (18%) o seu público. Os clientes desejam ainda que elas ataquem a crise e mostrem que ela pode ser derrotada (20%).

Esse complexo e inesperado cenário está forçando o mercado a investir em estratégias de comunicação que ajude a tornar a empresa presente e perene, evidenciando ainda mais sua missão e valores, e a ter um indispensável e relevante posicionamento junto a seus públicos de interesse.

Por tudo isso que, ultimamente, tem sido mais comum notar as pessoas assumindo uma postura mais questionadora em relação aos produtos que compram, pesquisando sobre a empresa e suas atitudes. É que a facilidade de acesso a uma excessiva quantidade de informações a respeito de marcas e produtos também contribui para que os consumidores fiquem cada vez mais alertas sobre o impacto que cada compra pode causar na sociedade, no meio ambiente, e agora, consequentemente, no bolso.

Fonte: Creative Commons

É preciso deixar para trás a ideia de que consumir consciente é não consumir. Na verdade, é consumir melhor e diferente, levando em consideração os impactos deste hábito, pois o consumidor consciente é aquele que leva em conta, o meio ambiente, a saúde humana e animal, as relações justas de trabalho, além de questões como preço e marca, antes de escolher os produtos que compra.

Mais do que nunca, diante da valorização das empresas sustentáveis, o cidadão que busca ter um consumo mais responsável e consciente deverá se atentar para a prática do “greenwashing” – que une os termos em inglês green (verde) e wash (lavar, limpar) -, uma prática ecologicamente incorreta na qual empresas usam e abusam do marketing verde, se promovendo por meio da divulgação de uma responsabilidade socioambiental, quando na verdade não adotam essas políticas.

Fonte: El País

Com discursos convincentes e frases como, por exemplo, “100% natural”, “ecologicamente correto” e “amigo do meio ambiente”, muitas pessoas acreditam nesse marketing enganoso e compram um produto ou uma ideia que não condiz com a realidade da empresa.

É esse consumidor consciente – que entende que pode ser um agente transformador da sociedade e que, mesmo um único indivíduo, ao longo de sua vida, deixará um rastro de impacto significativo na sociedade e no meio ambiente por décadas – que poderá contribuir para diminuir essas fraudes. O equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade é o que deve ser buscado em cada ato de consumo.

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MATTOS, Litza. Consumidor Consciente e a necessidade do reposicionamento de Mercado. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/consumidor-consciente-e-a-necessidade-do-reposicionamento-de-mercado.html>.

Como a Bioconstrução impacta o planeta? – Construção civil aliada à sustentabilidade

O setor da construção civil vem sendo apontado como um grande vilão do meio ambiente há algum tempo. Afinal, ele é responsável por cerca de 50% a 75% do consumo dos recursos naturais do mundo. Além disso, a indústria é a que mais gera resíduos no planeta.

Diante desta problemática, alternativas sustentáveis surgem e ganham destaque. A bioconstrução, por exemplo, aparece neste contexto como uma forma de reduzir custos e ajudar a população de baixa renda a ter uma moradia digna. E, tudo isso, sem causar danos estratosféricos ao meio ambiente.

Este conceito construtivo utiliza materiais de baixo impacto ambiental – como terra, madeira, areia e bambu – e aproveita da melhor forma possível as condições naturais do local.  E apesar de ser um método que conta com recursos baratos e técnicas ancestrais, a bioconstrução pode ser encontrada em obras nada associadas à escassez econômica, como na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em hotéis cinco estrelas em Sydney, em bairros franceses e até mesmo em restaurantes nobres da capital de São Paulo.

Fonte: Peace Garden Lungta

No entanto, uma edificação não deve se rotular como “bioconstruída” tendo como critério, única e exclusivamente, a escolha dos materiais básicos. É preciso que outros aspectos sejam considerados, como o conforto térmico, a iluminação, a ventilação, os revestimentos e o sistema de água e de esgoto da obra.

Segundo o arquiteto Gugu Costa, de São Paulo: “Uma casa de tijolo convencional, no verão amanhece com temperatura de 17º C em seu interior e à noite pode chegar a 34º C. Já uma parede de terra crua (técnica bioconstrutiva) fará com que essa casa acorde com 22º C e durma com 28º C, o que é praticamente a temperatura de conforto térmico do ser humano”.

Quanto às aberturas das portas e janelas, elas devem ser projetadas de modo a permitir ao máximo possível a entrada de luz natural nos ambientes internos. E o pé direito (altura livre interna) deve ser ampliado, a fim de gerar uma maior circulação de ar nos cômodos.

Fonte: Viva Decora.

Já no lugar da cerâmica, um revestimento comumente utilizado sobre o piso, assim como em toda a área molhada da edificação (cozinha e banheiros), pode ser aplicada resina 100% vegetal, tendo como objetivo a impermeabilização das superfícies.

Por sua vez, a implantação de sistemas ecoeficientes de esgoto (como BETs e Fossas Verdes, por exemplo), captação e armazenamento da água de chuva, também é de extrema relevância quando a intenção é bioconstruir.

Os imóveis edificados a partir do modelo bioconstruído dispensam vigas e colunas, pois a estrutura é sustentada pelas próprias paredes (autoportante), as quais não costumam contar com tijolos comuns, aço e cimento para serem erguidas. Alguns dos métodos mais utilizados para isso são:

1.Adobe

Bloco feito de terra, areia e palha, que ao contrário do tijolo convencional, não passa pela etapa da queima, evitando o desmatamento (já que não há necessidade de lenha para os fornos) e a liberação de gás carbônico.

Fonte: Creative Commons

2.Taipa de pilão

Sistema em que a terra é comprimida dentro de formas de madeira – denominadas taipais – e disposta em camadas de 15 centímetros de altura.  No Norte da Europa, existem construções de até 7 andares feitas com essa técnica.

Glenhope Residence Australia./ Fonte: Futura Arquitetos

3. Superadobe

Sacos de polipropileno são preenchidos com uma mistura de cal e terra e empilhados uns sobre os outros, compondo paredes com aproximadamente 40 centímetros de espessura. Após o terremoto de magnitude 7,2 no Nepal em 2015 e o furacão Maria em Porto Rico, os edifícios de superadobe continuavam de pé.

Casa construída com a técnica superadobe. / Fonte: Mallika Vora/ BBC Brasil.

Obviamente que, para que a bioconstrução seja executada de modo adequado, é preciso contar com profissionais qualificados e especializados. E é aí que o aspecto negativo surge: por não ser a escolha mais tradicional do mercado, nem todos os engenheiros e arquitetos estão habituados a utilizar esse tipo de construção. Desta forma, o sistema construtivo mais caro e mais danoso ao meio ambiente acaba sendo escolhido e tido como “convencional”, já que os profissionais tendem a seguir aquilo que a maioria diz ser “melhor”. Contudo, ficam os questionamentos: Melhor para quem? Vantajoso até que ponto?

Vale ressaltar a importância das tecnologias construtivas, dos avanços nas pesquisas de materiais como concreto e aço, que representam, sem dúvida alguma, um papel fundamental na Engenharia Civil. Entretanto, não é mais possível permanecermos presos a uma única forma de construir que causa tanto impacto negativo ao planeta. Já temos conhecimento suficiente para trabalharmos com consciência, aplicando técnicas socialmente justas, economicamente viáveis e ambientalmente corretas.

Em suma, é passada a hora de ampliar os horizontes e agir conforme a orientação do arquiteto Gugu Costa: “em vez de utilizar o cimento como se fosse arroz, eu uso como se fosse sal.”

 

 Referências:

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SILVA, Pâmela. Como a Bioconstrução impacta o planeta? – Construção civil aliada à sustentabilidade. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/como-a-bioconstrucao-impacta-o-planeta.html>.

Por que é importante as crianças terem contato com a natureza?

Você tem alguma memória de brincar na natureza em sua infância? Subir na árvore, deitar na grama, caçar tatu-bola ou construir uma cabana ao ar livre? Infelizmente, é possível que essas memórias estejam em extinção para muitas crianças que vivem no ambiente urbano da atualidade.

Estudos mostram que entre 1997 e 2003 houve um declínio de 50% na proporção de crianças de 9 a 12 anos que passavam tempo em atividades externas nos Estados Unidos. As crianças brasileiras são as que mais passam tempo na frente da televisão e chegam a ficar 90% do tempo em lugares fechados nos grandes centros urbanos.

Fonte: Creative Commons

As consequências dessa desconexão dos pequenos com a natureza estão sendo percebidas, estudadas e colocadas em pauta em diversos contextos e espaços. São levantadas, por exemplo, questões como obesidade infantil, ansiedade, depressão, dificuldades de concentração e menos interação social.

A fala de um dos maiores especialistas da área, entretanto, chamou minha atenção para um aspecto interessante (e preocupante): “Estamos criando um ambiente em que, creio eu, as crianças estão menos vivas.” Richard Louv aponta que um dos principais impactos da desconexão com a natureza é o encolhimento de seu mundo sensorial. Ao invés de terem experiências primárias, diretas e exploratórias com o mundo, crianças estão apenas observando, dialogando e vivenciando o mundo por meio de telas e aplicativos.

Fonte: Creative Commons

As novas tecnologias não envolvem o toque humano e dessa maneira nossos sentidos estão sendo eletrificados e segundo o próprio Louv, corremos o risco de despersonalização da vida humana.

Queremos crianças menos vivas? Tenho certeza que não. Como começar a reverter esse quadro? Nós, adultos, precisamos nos (re)encantar e (re)conectar com a natureza. A grande maioria dos adultos, atualmente, não se sente parte da natureza e a enxerga como um ambiente cheio de riscos, perigos, sujeiras e sem “progresso”. E adivinhem só: as crianças nos observam o tempo todo.

Referências:

  • Criança e Natureza.
  • Eurodata TV Worldwide.
  • HOFFERTH, S. L.; SANDBERG, J. F.. “How American Children Spend Their Time”.

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RIBEIRO, Livia. Por que é importante as crianças terem contato com a natureza?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/por-que-e-importante-as-criancas-terem-contato-com-a-natureza.html>.

Óleo no litoral brasileiro: quase um ano sem respostas sobre um dos maiores desastres ambientais no Brasil

Em setembro de 2019 diversas manchas de óleo começaram a ser avistadas em praias do nordeste brasileiro, tratava-se de um óleo pouco processado e altamente denso. Em quatro meses, esse óleo afetou mais de 3000 km de costa brasileira.

Diversos fatores fazem com que este seja um dos maiores desastres ambientais brasileiros. Um dos principais fatores foi a inação governamental, demonstrando que o meio ambiente não é uma preocupação do atual governo, como destacado pelo colunista Fernando Malta no artigo “O Meio Ambiente com Bolsonaro”. Em meio a tantos cortes e redução de verbas na pasta ambiental, o corte das comissões de suporte e de execução do Plano Nacional de Contingência de Derramamento de Óleo nos deixou vulneráveis a desastres dessa natureza. O notório atraso nas tentativas de contenção da dispersão do óleo foi consequência direta desses cortes, visto que estas comissões atuam no monitoramento e na ação imediata para impedir dispersão de óleo originária de acidentes.

Fonte: Instituto Bioma

Outro fator complicador foi o ponto de origem deste óleo, especialistas afirmam que pela forma pela qual o óleo se distribuiu ao longo da costa brasileira, possivelmente foi derramado próximo a corrente sul equatorial que se bifurca no nordeste brasileiro, dando origem a duas correntes: a corrente do norte do Brasil que vai em direção à América Central, e a corrente do sul do Brasil que segue em direção ao sul do nosso país. Isso fez com que o óleo atingisse mais de 980 praias distribuídas em 11 estados brasileiros, atingindo diversos tipos de ecossistemas e pelo menos 55 áreas de proteção ambiental.

Voluntários retiraram do mar placa de óleo na praia de Suape em Pernambuco. Fonte: Diego Nigro/ REUTERS

Além disso, as características do óleo também foi um fator que aumentou seu potencial destrutivo. Devido à sua densidade o óleo não era transportado através da superfície do mar, mas a certa profundidade, vindo à tona apenas nas partes mais rasas da praia e acima de recifes de corais. Enquanto era carreado pelas correntes, o óleo ia se depositando no leito marinho, recobrindo diversos recifes de corais.

Os danos e impactos, que foram continuamente noticiados pela mídia, foram imediatos: mortandade de espécies, danos à estrutura física dos ecossistemas, prejuízos a ramos econômicos como o turismo, prejuízo à renda de diversas famílias que vivem de pesca artesanal. De acordo com dados do IBAMA e do SisRGP (Sistema informatizado do Registro Geral da Atividade Pesqueira), quase 66 mil pescadores foram prejudicados, sendo incluídos em um programa de auxílio criado pelo governo dividido em duas parcelas.

Fonte: Teresa Maia/ El País

As consequências deste desastre perdurarão por gerações, uma vez que, este óleo tem alta capacidade de persistência no ambiente, podendo se fragmentar em micropartículas que são incorporados por toda biota marinha. Além disso, por essas micropartículas serem carreadores de moléculas tóxicas (que são diversos tipos hidrocarbonetos) podem induzir efeitos mais leves como inflamações locais, a efeitos mais graves como formação de câncer e problemas neurológicos. Por isso é necessário o constante monitoramento das áreas afetadas, tanto para avaliação dos ecossistemas (verificando se estão se recuperando), como para avaliação das concentrações de elementos tóxicos nas espécies afetadas. Igualmente se faz necessário o monitoramento das comunidades diretamente dependentes do extrativismo destes locais, para acompanhar como estão se mantendo e quais são suas necessidades.

CPI do derramamento de óleo no Nordeste. Fonte: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

Por fim, quase um ano após a aparição da primeira mancha de óleo nas praias, a CPI do derramamento de óleo no Nordeste (que teve 05/05/2020 como prazo para conclusão), instaurada pelo deputado João Campos, ouviu agentes sociais que foram afetados diretamente pelo desastre, diversos pesquisadores, assim como membros do governo. A finalidade desta CPI era estimar não só o dano ocasionado pelo desastre, como também verificar se as ações do governo foram ineficazes ou insuficientes, para que então responder “quem será responsabilizado e penalizado por um dos maiores desastres ambientais que já aconteceu no Brasil?”. Quase um ano sem respostas, quase um ano com severos prejuízos ao meio ambiente, e ainda sem saber por quanto tempo os afetados serão prejudicados pelos efeitos colaterais desse desastre.

Referências:

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MIRANDA, Paulo Henrique. Óleo no litoral brasileiro: quase um ano sem respostas sobre um dos maiores desastres ambientais no Brasil. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/oleo-no-litoral-brasileiro-quase-um-ano-sem-respostas.html>.

Educação Regenerativa por um Futuro Sustentável

O processo de aprendizagem está diretamente relacionado com a maneira que lidamos com as relações e o mundo a nossa volta.

Vivemos condicionados por um sistema que não oferece suporte nem suprimentos necessários para o desenvolvimento de um estilo de vida mais integrado com o planeta. Vivemos em uma sociedade que caminha para destruição de seus recursos naturais, mas que tem sua sobrevivência ligada diretamente a manutenção do planeta. Para exemplificar em termos biológicos: o ar que respiramos, a atmosfera que mantém o oxigênio disponível, o alimento vindo da terra, a água que brota das nascentes. Absolutamente tudo é importante para a sustentação da vida.

Então como é possível continuar com a excessiva destruição de tais recursos se a espécie humana quiser continuar viva? Isso se torna um paradoxo.

É prudente levar em conta também a relação da nossa saúde com a saúde do planeta, pois quanto mais nos afastamos do fluxo natural, ou seja, dos ciclos que mantém a natureza em seu funcionamento, mais artificial se torna nosso modo de vida sobre a Terra. Dito isso, tal “modus operandi” de viver cria inúmeras consequências que se revelam em forma de distúrbios emocionais como depressão, ansiedade, altos índices de estresse, pânico, etc.

Imagem: Creative Commons

Sendo assim, para contextualizar a situação atual, é interessante regressar na história e ver onde tudo se transformou. Em resumo, com a Revolução Industrial acontece o afastamento dos trabalhos manuais, claro que tal mudança não é completamente maléfica, tendo em vista que a automatização gerou uma facilidade imensa para trabalhos que não necessariamente requerem uma atenção especial, otimizando e encurtando o tempo de produção. Porém, a gestão das escalas de produção e captação de recursos se tornou grandiosa e desmedida, o que não corresponde proporcionalmente com a capacidade regenerativa da Terra.

Mas o que a educação tem a ver com tudo isso? Diante desse cenário, podemos constatar que o retorno a escalas menores se mostra mais eficiente para a manutenção e gestão de recursos do que a proposta de produção a qualquer custo. A visão gananciosa do consumismo em detrimento do consumo consciente e responsável gera como consequência ao planeta uma dificuldade cada vez maior de manutenção do que em Biologia se conhece como homeostase, o que nada mais é que a manutenção do equilíbrio. Lembrando que como organismo vivo, a Terra possui a capacidade de se autorregular (veja Capra, A Teia da Vida).

Imagem: Creative Commons

Deste modo, gerar consciência por meio da educação ecológica requer uma série de mudanças de paradigmas para que as novas gerações não repitam os mesmos erros e não sofram as consequências de um modo de vida desconexo da compreensão de que a humanidade é parte integrante do meio ambiente.

Tal mudança requer olhar para o futuro de forma menos individual, entendendo a necessidade de pensar o coletivo. Sair da lógica mecanicista e perceber a interconexão entre todas as áreas de atuação e campos de saberes. Requer também que tenhamos uma percepção mais acurada de toda a cadeia produtiva para começarmos a enxergar o sistema por inteiro. Descobrir e entender quais são os pontos de convergência que conectam cada rede; quais os efeitos e função de cada parte no todo.

Imagem: Creative Commons

A partir disso, podemos dialogar e construir novos caminhos, nos quais poderemos aliar essa nova consciência às novas tecnologias para otimização de um modo de vida mais saudável e, assim, mais regenerativo e sustentável. A educação regenerativa é pensada em prol do planeta que vivemos, buscando educar os cidadãos de maneira mais consciente sobre a vida e a teia ecológica que nos cerca.

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MUNIZ, Isabella. Educação Regenerativa por um Futuro Sustentável. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/educacao-regenerativa-por-um-futuro-sustentavel.html>.

Pandemia e o Agravamento das Desigualdades

Momentos delicados como o de uma pandemia deveriam ser explorados para a construção de uma sociedade melhor. O tal novo normal que tantos falam deveria ser um mundo diferente daquele que conhecíamos, com mais igualdade, um meio ambiente equilibrado e respeito pelas diferenças.

No entanto, estamos acompanhando exatamente o contrário acontecer. O momento está sendo usado para aprofundar diferenças e acabar com direitos duramente conquistados. Parece uma análise pessimista, mas é real e este texto traz alguns exemplos de como governos estão utilizando esse momento para “passar boiadas”.

1. Finalmente um muro

A pandemia tem sido utilizada para justificar medidas restritivas de direitos em muitos países. Nos últimos meses, os Estados Unidos da América suspenderam a emissão de vistos de diversas categorias e, inclusive, ameaçaram expulsar estudantes estrangeiros que estejam no país, mas que não venham a ter aula presencial no próximo semestre. Durante todo o seu governo, Trump advogou pela construção de um muro que separasse o México dos Estados Unidos para evitar o acesso ilegal de imigrantes via fronteira mexicana. Com a necessidade de evitar a contaminação e a imposição de limitação de viagens, Trump também aproveitou o momento para ordenar a limitação de imigração e a suspensão de concessão de vistos de estudo, pesquisa e trabalho, por exemplo.

Fonte: Charge de João Bosco

2. Como não falar daquela reunião?

No Brasil, temos que lembrar aquela reunião divulgada no final de maio. Apesar de não ter chocado muita gente, ficou muito claro naquele momento que o objetivo do governo seria aproveitar enquanto a imprensa estava preocupada com os casos de Covid-19 para passar medidas “impopulares” que fazem parte da agenda deles.

Para além da dificuldade de manter as atividades durante a pandemia, os órgãos de fiscalização como o Ibama ainda têm que enfrentar o próprio governo que não age de acordo com suas recomendações e assina medidas que favorecem madeireiros e garimpeiros. Por causa do avanço dos garimpos ilegais, populações indígenas como a Yanomami estão completamente vulneráveis à Covid-19 e estão morrendo (junto com a floresta).

Print de notícia vinculada na Agência Brasil. / Fonte: Portal EBC – Empresa Brasileira de Comunicação.

As relações trabalhistas também sofreram alterações graves. Durante discussões sobre o que deveria ser feito para evitar perdas econômicas ainda mais graves, o governo chegou a editar uma medida provisória (MP 927) que permitia o afastamento do trabalho, sem ajuda financeira, em caso de investimento em qualificação. O artigo que tratava sobre isso logo caiu diante da repercussão negativa, mas ele é um exemplo das diversas medidas que achataram ainda mais os direitos trabalhistas durante a pandemia.

3. O mais importante: direito à vida

Os EUA e o Brasil são os dois países com o maior número de casos da doença e, por causa da grande desigualdade social em ambos, a pandemia atingiu, de forma diferente, diferentes pessoas. A taxa de morte entre negros e latinos (people of color) nos EUA é mais alta do que entre os brancos. A mesma coisa acontece no Brasil, a população periférica é atingida de forma muito mais grave. No estado de São Paulo, de acordo com dados da secretaria de saúde municipal, as mortes estão concentradas nas regiões mais pobres. Não existe explicação biológica para esse fato, a resposta é social. As populações periféricas tanto dos EUA quanto do Brasil têm menor qualidade de vida, por isso estão vulneráveis. A esse grupo foi negado o direito mais importante: o direito à vida.

Print de notícia vinculada no jornal “O Globo”. / Fonte: Jornal O Globo

4. Mas o que tem sido feito para atrapalhar?

Falta de liberdade de imprensa: O ataque à liberdade de imprensa não é algo novo. Questionar o trabalho dos jornalistas é algo comum em diversos governos, mas o ataque sistemático e a limitação do seu trabalho é típico de governos mais autoritários. Durante a pandemia, alguns governos tiveram a ideia de não testar ou não divulgar mais os dados sobre contaminação e mortes já que um número alto é negativo para suas imagens. Trump chegou a dizer: “nós temos mais casos porque testamos mais, estou pensando em diminuir isso”. Por aqui, foi implementada uma barreira ao acesso à informação. Hoje, é graças a um convênio entre os meios de comunicação e as secretarias de saúde estaduais que sabemos como estão os números da Covid-19 no Brasil.

Print de notícia no portal G1. / Fonte: G1

Impedimento do ir e vir: Este é o último direito limitado que gostaria de falar, porque apesar de difícil, ele é menos importante uma vez que é a consequência natural e temporária de uma pandemia. Certamente, o impedimento temporário de circulação traz consequências econômicas para a sociedade também, além das consequências individuais. Todavia, é possível contornar isso. Os países que pararam cedo e controlaram a circulação do vírus eficazmente já estão vivendo numa quase-normalidade. Provavelmente, por causa da falta de políticas públicas sérias de controle do vírus no nosso país, tenhamos um prolongamento da necessidade de manter o isolamento. Nem tão cedo teremos a vida que tínhamos antes.

Calma, talvez olhar para tudo que vem se perdendo durante esse momento seja muito difícil, mas acredito que é necessário para que nada disso seja tratado como natural/normal. O que podemos fazer hoje para evitar uma tragédia igual ou pior amanhã? Qual a nossa parte nessa desordem? Todos nós podemos fazer um pouco. Desde consumir menos e melhor até votar em quem nos representa de fato. A solução está em nossas mãos e começa no próximo novembro. Fica aqui o convite para conversar sobre política e viver conscientemente. Vamos ou bora?!

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OLIVEIRA, Tassi. Pandemia e o Agravamento das Desigualdades. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/pandemia-e-o-agravamento-da-desigualdades.html>.

Você já ouviu falar no conceito do Repair Café?

O primeiro Repair Café foi criado em 2009, em Amsterdã, pela jornalista Martine Postma. A frustração que Martine sentia quanto ao desenvolvimento da cultura local baseada no desperdício e à luta contra a obsolescência programada foi o grande impulso para organizar a comunidade para o combate ao descarte.

A obsolescência programada tem sido uma grande vilã do consumo moderno e baseia-se em limitar a vida útil dos produtos. O primeiro caso de obsolescência programada registrada foi em 1920, quando empresas norte-americanas e europeias concordaram em diminuir o tempo de vida das suas lâmpadas de 2,5 mil horas para mil, forçando os consumidores a comprar mais.

O evento (e seus desdobramentos) foram registrados no documentário “The Light Bulb Conspiracy” (“A Conspiração da Lâmpada” – 2010), disponível no YouTube.

Em 2010, Martine fundou a Repair Café Foundation, que já conta com mais de dois mil locais físicos onde é possível levar desde brinquedos às bicicletas para consertar – juntos! Os locais contam com ferramentas, materiais e pessoas que possibilitam estender a vida útil de sapatos, eletrônicos, móveis e o que mais for preciso. E caso não tenha nada para consertar? Pode ajudar em outros projetos ou tomar um café.

Imagem: Sugru

No Brasil, o movimento ainda é pequeno e conta com dois lugares cadastrados no mapa, em Santos e em Porto Alegre. Porém, tudo indica que a ideia tem grande força e potencial para crescer, já que a ideia de menos desperdício e mais contato humano tem se tornado cada vez mais necessário.

De acordo com a filosofia proposta por Martine Postma, o que quebra não deve ser substituído, mas arrumado. Alguns países (como a Suíça) já oferecem impostos mais baixos para produtos que foram consertados – e não novos. Martine trabalha para que essa seja uma realidade global e espera que, algum dia, os Repair Cafés não sejam mais necessários. E afirma: “Eu não me importaria (se não fossem mais necessários). Porque, é claro, não se trata do café, mas de bens reparáveis, menos desperdício e um estilo de vida sustentável. Esse é o objetivo”.

Imagem: Wikimedia Commons

Você já ouviu falar sobre Repair Café? Gosta da ideia? Conhece outros cafés ou iniciativas semelhantes? Conta nos comentários!

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MOSS, Luana. Você já ouviu falar no conceito do Repair Café?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/07/repair-cafe-obsolescencia-programada.html>.

O Tempo Usado com Sabedoria e Sabor – Uma receita e uma reflexão para você nessa pandemia

Estamos todos em casa e precisamos observar qual é a qualidade que colocamos no tempo que está disposto diante de nós.

Quando falamos de sustentabilidade precisamos pensar também na gestão sábia de nosso tempo e como podemos aproveitar o cenário atual para criar hábitos mais sustentáveis a partir do uso do que temos, praticando simplicidade.

Desconectar para reconectar

Não precisamos passar o dia conectados, por exemplo! Podemos e devemos aprender a soltar a “respiração por aparelhos” que estamos tendo também em casa e que além de sobrecarregar nossa ecologia interior de excessos, tensões e pouca clareza diante das cenas, nos tira da conexão com aquilo que vem da natureza, com práticas artesanais e orgânicas.

Cozinhar é uma das práticas orgânicas. Plantar também…Será mesmo que precisamos passar um fim de semana pensando no vídeo que faremos, na “live”?  Ou será que podemos oferecer ao planeta ainda mais descanso deixando de sobrecarregar redes e indo por exemplo, fazer algo mais manual?

Imagem: Creative Commons

Quando desconectamos, criamos um espaço para a reflexão e prática de aspectos sustentáveis. O tempo atual oferece uma pausa para os que sabem pausar e oferece uma plataforma de corrida, cuja linha de chegada nunca está perto para os que ainda insistem correr maratonas de sucesso sem compreender a mensagem que uma pandemia traz: Pare, olhe, escute e cuide.

O ponto de partida da desconexão: Começando pela cozinha

Os alimentos que recebemos pelas entregas ou que compramos no supermercado contam uma história. Você já parou para pensar nisso ou nunca se deu conta da trajetória desse alimento até a sua mesa? O mecânico dos dias nos tira esse discernimento. Nos tira o senso crítico positivo. Já fez a pergunta: De onde veio esse tomate? E esse saco de laranjas? Quem plantou e como isso é feito?

Imagem: Creative Commons

Daí vem o “como” usamos esses alimentos. E sim, sabemos que o tipo de uso cria um tipo de impacto. Então, precisamos usar sabiamente.

Trabalhar nosso hábito alimentar pode nos ensinar muito sobre o rótulo que nós mesmos colocamos sobre o quesito comida. Será que precisamos mesmo de tantos enlatados? De tanta fruta envolta em plástico? Do mais caro?

Quando manipulamos os alimentos com uma consciência mais simples, nosso hábito alimentar se torna mais simples e nem por isso, menos saboroso e menos saudável.

Imagem: Creative Commons

Olhar a despensa, a gaveta da geladeira e planejar o bom uso do que já existe é fundamental para um engajamento realmente sustentável com a vida. Eis que chegou um tempo que nos diz: não, não precisamos correr atrás de sermos melhores… Passamos uma vida assim e talvez não tenhamos conseguido sustentar nossa própria criação de excessos e que impacta o meio ambiente fortemente, nos trazendo um cenário preocupante.

A cozinha pode parecer um pequeno espaço para começar a desconexão de excessos e a rotina de um tempo mais bem usado. No entanto, pequenas sementes geram grandes sombras e frutos. É a cada hábito transformado que cuidamos do planeta com amplitude e maestria.

Fica ainda uma reflexão:

Talvez, a proposta da pandemia seja para que troquemos a fala “ser melhor” pela ação de “ser mais simples” e dentro desse contexto, ser mais criativo e mais coerente. Talvez nem exista esse “novo normal” que vem sendo propagado. O novo que segue brotando é o antigo orgânico, o bom e velho artesanal. É um reaprender a caminhar passo a passo, mesmo que comece aí, na sua pia.

Isso, por si só, já é o melhor.

Uma receita para praticar a mudança de hábitos: Abobrinha e cenoura seladas na cúrcuma e com temperinhos + Lentilha com acelga.

Imagem: Valéria Amores – Autossustentável

Corte a abobrinha e a cenoura, coloque numa frigideira já aquecida em fogo baixo. Mexa um pouco para selar. Polvilhe cúrcuma e sal. Acrescente, um fio de óleo de coco ou azeite. Salpique salsa ou tomilho, coentro.

Lentilha com acelga

Deixe a lentilha de molho de um dia para o outro. Descarte a água.

Refogue com sal e suco de 01 limão. Coloque um pouco de azeite e acelga picada. Junte um pouco de água para fazer um caldinho. Acrescente mais temperos se desejar.

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AMORES, Valéria. O Tempo Usado com Sabedoria e Sabor – Uma receita e uma reflexão para você nessa pandemia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/07/tempo-sabedoria-sabor-reflexao-pandemia.html>.

A Culpa e o Amor de Ser Mãe: 3 lições do maternar

Para todas as mães que vão ler isso escondidas no banheiro ou a prestações, um parágrafo por vez, quando conseguirem uma folguinha, um abraço.

Diariamente, uma mãe se sente insuficiente e se questiona se está fazendo um “bom trabalho”. Diariamente, uma mãe carrega amor e culpa, quase que na mesma proporção (altíssima por sinal). Diariamente, alguém julga uma mãe por uma escolha dela, e o pior, dentro da própria rede próxima (família, amigos, colegas). A maternidade já te feriu quantas vezes? E com quantas pessoas você se sentiu à vontade para falar o que está no seu coração? Todos viemos de um útero, todos somos filhos do mesmo planeta, em que momento deixamos de respeitar o papel materno para colocá-lo na estante como um enfeite sem defeitos?

“Você sonha ser mãe? Porque com esses problemas que você tem, se contente em adotar. Se um dia você engravidar, é provável que não evolua e o tratamento vai te causar sofrimento à toa”. Aos 16 anos, um médico me disse isso. Na época, nem tinha certeza se tinha o sonho (tão imposto socialmente dentro de nós) de ser mãe, mas doeu. Doeu por me sentir incapaz de ser solo fértil e por ouvir algo tão lindo e importante, quanto a adoção é, como algo negativo.

Sempre que alguém falava que não queria ser mãe, me revoltava. Pensava “qual a justiça de tantas pessoas tentando e querendo e quem pode jogando isso fora?”. A maternidade ressignifica a vida. E eu não tinha ideia do turbilhão de mudanças, sentimentos e demandas que ela traz consigo.

Aos 22, engravidei. Sem tratamento algum. Passei a ler, estudar, conversar, fiz uma imersão nesse universo. Me deslumbrei, como seria lindo gerar um fruto de amor, alimentar um ser com o meu corpo, interna e externamente, como seria lindo trazer uma vida ao mundo. De fato é sim, mas é muito além.

Imagem: Creative Commons

Ninguém me falou sobre as estrias, sobre o vazio do pós-parto, sobre as inseguranças, medos, fissuras, dores (muitas dores físicas e emocionais) e solidão. Sobre nossa barriga virar domínio público em que todos, inclusive desconhecidos, sentem-se à vontade para tocar sua barriga sem cerimônia. Sobre todos saberem mais que a própria mãe. E sobre a realidade materna em si.

Eu amava bacon. Amava muito, só de sentir o cheiro já salivava. Na gravidez, só de pensar na palavra já me dava ânsia e tinha que correr para o banheiro. Até hoje não consigo. Eu estava partilhando meu corpo com alguém que não gosta de fritura, nem de carne. Na época, abrir mão do bacon era algo difícil para mim, porque não era minha vontade. E essa foi a primeira lição da minha maternidade, minhas escolhas nunca mais seriam individuais, porque elas impactam um todo que vai além do eu.

Não cedo a todas as vontades da minha filha, pois isso não contribui para a sua formação. Nem tampouco a obrigo a acatar todas as minhas, por acreditar que relação é troca. E essa é a segunda lição: “3+2=5, mas 4+1 também é”.

Não é porque eu gosto/faço as coisas de um jeito que esse é o único modo certo. Cada um tem suas próprias formas, visões de mundo, personalidades e isso independe da idade. Quando nos permitimos perceber o outro, nos percebemos e aceitamos melhor nós mesmos, reconhecendo as semelhanças e respeitando as diferenças.

Imagem: Creative Commons

Nem sempre o dia a dia dá certo, isso envolve choro, birra, frustração (em ambas as partes). E é assim que vamos nos desconstruindo do “eu quero por mim”, para o “hoje podemos tentar desse jeito, no meio termo por nós?”, mas tem momentos que não vai dar. E isso funciona para absolutamente tudo.

O ser mãe não tem trégua. No home office menos ainda. Trabalho da casa, ser mãe, ser mulher, ser profissional, ser mil e não saber mais nem o que se é. E essa é a terceira lição, como disse Clarice Lispector: “perder-se também é caminho”.

Não é fácil, não é simples, não é só riso. Diariamente, diversas vezes ao dia temos que nos reinventar. Só quem exerce o papel materno verdadeiro e vivencia isso, sabe. O maternar envolve ser amor, educar, contribuir para a evolução de alguém que depende de você até que o fluxo natural da vida siga por si só. Pode ser feito por mãe, pai, avó, avô, tutor, pode ser fruto de uma gestação, de uma adoção, de uma situação adversa dessa vida, não importa. O que define não é a nomenclatura ou a origem, mas o laço afetivo e de responsabilidade.

Imagem: Creative Commons

Acredito que como mães (ou quem quer que exerça a maternidade) somos os maiores exemplos da formação de indivíduos que podem fazer a diferença no mundo.

Hoje entendo melhor e admiro quem segue tentando engravidar, quem tem muitos filhos, quem teve um e parou, quem adotou, quem se considera mãe de pet e até quem não quer ter filhos. Maternar é uma escolha para a vida toda, seja nossa, do universo ou conforme a crença que você acreditar.

Mães: parabéns por fazerem o melhor que podem, tenham a certeza de que ninguém seria uma mãe melhor para seu(s) filho(s). Vocês estão indo bem, cada dia é um desafio, o que deu certo hoje pode não dar amanhã e o contrário também é real.

Imagem: Creative Commons

Não se sintam só, eu ainda estou aqui (e muitas mães também), sem apoio fica mais pesado, compartilhe com quem vivencia o mesmo. E, por favor, não julgue outra mãe, ela está fazendo o melhor que pode, de acordo com o que acredita, com as condições e consciência que têm, opiniões diferentes devem ser respeitadas. O mundo já está difícil demais para criarmos inimigas dentro do nosso próprio campo de batalha.

Em uma turbulência, a orientação é “coloque a máscara em si antes de mais nada”, na vida turbulenta de mãe também. Mães precisam muitas vezes serem lembradas de que para cuidar do outro, é preciso cuidar de si. Quando uma mãe não aguenta mais, ela não quer deixar de ser mãe, ela quer descansar, pois está exausta.

Esse texto contém afeto e verdade. Para acalentar as mães incríveis deste mundo, ser transparente com quem sonha com o maternar, levar um pingo de empatia à sociedade e dizer que redes de apoios são fundamentais, pois juntas somos mais.

Imagem: Creative Commons

Tomei a liberdade de escrever em primeira pessoa por falar sobre a vivência do eu e do nós, mães, a partir dos relatos diários que recebo. A maternidade é linda sim, não digo que não. Mas algumas desconstruções são necessárias para que a sociedade evolua. Já diria O Teatro Mágico “A demanda do mundo é amar”, que bom que vocês semeiam amor, teremos lindos frutos na humanidade ❤

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CARVALHO, Bruna. A Culpa e o Amor de Ser Mãe: 3 lições do maternar. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/07/a-culpa-e-o-amor-de-ser-mae-3-licoes-do-maternar.html>.

Biotecnologia: a Manopla do Infinito

Um tema polêmico e pouco acessível, que envolve a manipulação genética de seres vivos – assim é vista a biotecnologia pelo senso comum. Já tive a oportunidade de trabalhar com biotecnologia industrial e quando fui convidada a falar deste tema senti o desafio de simplificar os jargões científicos que erguem muros entre a universidade e a população. Além disso, quero mostrar que a biotecnologia pode ser maravilhosa ou terrível (mas não da forma que os grandes laboratórios ou ambientalistas fanáticos defendem), dependendo da forma que a utilizamos. Decidi, então, usar metáforas bem maduras e didáticas para facilitar o entendimento.

Se a biologia, a química, a engenharia, a informática e a estatística fossem os Power Rangers, que funcionam muito bem separadamente, a biotecnologia seria o “Megazord”, uma combinação extremamente poderosa que reúne as qualidades que cada um apresenta e as potencializa. Mas Power Rangers é coisa da minha geração (não que eu seja velha), então nossas metáforas científicas a partir de agora contarão com a ajuda dos companheiros do Capitão da referência.

Imagem: Marvel Studios.

Como todos sabem, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. A biotecnologia é responsável por grandes avanços biomédicos, farmacêuticos, agropecuários, alimentícios, ambientais, entre outros. O que muita gente não sabe é que isso não é algo novo. Graças à biotecnologia, ainda que em sua forma rudimentar, temos cerveja, pão, animais com mais carne e gordura, uma variedade de cães e outros animais domésticos, bananas sem sementes e vários outros elementos do nosso cotidiano que sofreram seleção artificial, o que direcionou para o aprimoramento de uma característica desejada por nossos antepassados. Inúmeros processos que na Antiguidade eram interpretados como magia ou considerados arte eram, além disso, a biotecnologia engatinhando e dando seus primeiros passos como ciência.

Desde a descoberta da insulina, em 1921, pacientes diabéticos passaram a ser tratados com ela em vez das rigorosas dietas que até então eram a única alternativa. O problema era o fato dessa insulina ser extraída de animais abatidos. Eram necessárias cerca de oito toneladas de pâncreas para produzir aproximadamente 230 ml de insulina purificada, que ainda causava efeitos colaterais em alguns pacientes por possuir pequenas diferenças da insulina humana.

Foi na década de 1980, mais ou menos quando Peter Quill nasceu, que a tecnologia do DNA recombinante possibilitou a utilização de bactérias que incorporassem fragmentos do DNA humano para a produção em maior escala de uma insulina verdadeiramente compatível (muito mais útil que o Senhor das Estrelas, convenhamos). Atualmente, as bactérias foram destronadas pelas leveduras Saccharomyces cerevisae (sim, as mesmas que fazem cerveja, pão e etanol. Benditas sejam!), que são as preferidas porque geram moléculas com estrutura tridimensional quase tão perfeita quanto Thor chegando em Wakanda, diminuindo os gastos com purificação.

Imagem: Wikimedia.

O grande ponto de virada, em termos de tecnologia, veio nos anos 2000, com o advento do CRISPR. Eu poderia dar a definição oficial, mas creio que podemos entendê-lo como ‘Éter’. Quem detém o conhecimento sobre CRISPR é capaz de mudar a realidade de tudo que possui DNA e isso deixou de ser ficção faz tempo. Essa técnica permite que o DNA seja editado, ou seja, cientistas podem mudar, silenciar, retirar ou adicionar genes. Com o CRISPR temos o poder de manusear os seres vivos de acordo com nossa vontade. Não significa que já podemos criar humanos com superpoderes, mas, se decidirmos que isso é ético e investirmos nisso, em poucas gerações é possível chegar ao cenário de Boku no Hero (a comparação era muito boa, tive que desviar da Marvel, perdão). O poder do CRISPR levanta grandes questionamentos éticos, pois, se por um lado podemos eliminar diversas doenças, também podemos criar uma sociedade eugênica e ainda mais racista e desigual, pois os ricos poderão pagar para que seus bebês nasçam com as melhores combinações de genes.

Imagem: Creative Commons.

Além da questão do CRISPR, a biotecnologia enfrenta impasses em outras frentes de batalha. Um dos mais debatidos são os organismos geneticamente modificados (OGMs) que, como o nome sugere, tiveram seu código genético original alterado para favorecer, apagar ou adicionar características de interesse. A maioria dos cereais, como soja, milho e trigo têm OGMs como padrão de culturas comerciais. O termo mais popularmente conhecido é “transgênicos”. No entanto, nem todo OGM é transgênico, pois esta categoria envolve, obrigatoriamente, a introdução de material genético de outra espécie.

Imagem: LaborGene Agrogenética

OGMs e transgênicos prometem diversas vantagens para a agricultura: aumento da produção, aumento do valor nutricional, maior resistência a pragas, diminuição do uso de agrotóxicos, maior tolerância a herbicidas. No entanto, esta tecnologia ainda é bastante recente e não se sabe a totalidade de seus riscos para a saúde humana e para o meio ambiente. Países com grande foco em biossegurança, como os da União Europeia, não aboliram os transgênicos de suas prateleiras, considerando-os seguros, mas informam ao consumidor para que este possa fazer sua escolha.

Existem várias outras questões polêmicas envolvendo os superpoderes da biotecnologia e as questões éticas, como em Guerra Civil. Contudo, quero destacar dois últimos exemplos positivos inter-relacionados. O primeiro deles é a produção de carne artificial a partir de células-tronco animais. Como já discutimos no meu artigo anterior (clique aqui), a indústria da carne gera enormes impactos ao meio ambiente com emissão de gases, pegada hídrica e desmatamento, além da questão moral sobre a vida dos animais. O cultivo de carne em laboratório é uma revolução em andamento que permitirá que as pessoas saboreiem seus bifes sem peso na consciência. O outro exemplo também envolve a preservação de florestas, principalmente da Floresta Amazônica, e de outros biomas ricos em biodiversidade. Explorar produtos biotecnológicos nessas áreas evita o seu desmatamento e degradação, pois o ecossistema preservado gera mais valor do que se fosse destruído para virar pasto ou garimpo.

Imagem: Olhar Digital.

As possibilidades que a biotecnologia fornece ao ser humano são infinitas e ainda temos potencial para desenvolvê-la ainda mais. Os avanços biotecnológicos são inevitáveis. Utilizar novas ferramentas para aprimorar e acelerar os processos naturais ou direcioná-los para satisfazer nossas demandas é algo praticado há milênios e que será feito enquanto o Homo sapiens existir ou assim desejar. É necessário estabelecer, racionalmente, os limites éticos de sua utilização, sem demonizar ou glorificar essa ciência. A biotecnologia é apenas a manopla. Quem escolhe quem vai estalar os dedos e com que propósito o fará somos nós.

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LOPES, Jéssica. Biotecnologia: a Manopla do Infinito. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/07/biotecnologia-a-manopla-do-infinito.html>.

O Novo Papel das Escolas: Educação e transformação local pós-COVID19

Desde março, mais de 180 mil escolas foram fechadas como medida de prevenção à propagação do coronavírus, deixando quase 48 milhões de estudantes sem aulas presenciais.

Fonte: Ascom/INEP (2019)

Os impactos sobre os estudantes do ponto de vista de aprendizagem, sobre os professores,  sobre a dinâmica das famílias e comunidades são pontos que demandam – e vão demandar – muita dedicação dos pesquisadores, não somente para entender o presente, mas já para projetar novos cenários e alternativas considerando novos períodos de crise.

A pandemia certamente deixará muitas marcas negativas do ponto de vista educacional, mas amplia de forma significativa o papel e a importância dos educadores, da tecnologia (bem utilizada, e não oportunista) e da escola enquanto instituição chave na vida dos jovens e das cidades, uma vez que muitos têm nela a única oportunidade, tanto de melhorar suas condições de vida, quanto de se alimentar todos os dias.

Imagem: Print de reportagem do “O Globo”.

Do ponto de vista estratégico, e considerando os múltiplos cenários educacionais pós-pandêmicos, a crise atual pode estimular processos de ressignificação do espaço, da atuação e do papel das escolas, as quais deixariam de ser somente locais de transmissão de conhecimento para tornarem-se espaços de criação, criatividade e produção de novos conhecimentos aplicados e contextualizados.

A pandemia trouxe à tona, além da questão da doença em si, pontos altamente relevantes relacionados a indicadores sociais e ambientais. Disponibilidade hídrica, coleta e destinação de resíduos sólidos, uso de energia, mobilidade, produção e distribuição de alimentos, entre outros, são temas diretamente relacionados à pandemia e que interagem de forma complexa para a maior ou menor propagação do vírus. Ponto crucial para o bom gerenciamento desses processos é a informação, muitas vezes, não produzida e/ou disponível.

Imagem: Creative Commons

Um cenário possível é imaginar que as mais de 180 mil escolas (considerando-se somente a rede pública de ensino) poderiam se tornar verdadeiros laboratórios de pesquisa na direção da compreensão mais profunda e ampliada das características socioambientais do seu território. Esse processo de investigação colocaria a escola como um dos centros vitais da comunidade e de sua cidade (uma vez que quase 90% delas estão em zona urbana), colaborando para a compreensão da realidade local e fomentando transformação dos pontos de vista pessoal, coletivo e em políticas públicas.

Do ponto de vista de ensino-aprendizagem, fazer pesquisa e gerar conhecimento (ou seja, aprender por meio da investigação) vai diretamente ao encontro de formas de aprendizagem mais ativas e que estimulam a participação e a colaboração na busca por soluções aos desafios comuns. Tal estratégia dialoga diretamente com o desenvolvimento das diferentes competências gerais preconizadas na atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e de competências socioemocionais. Tal cenário, inclusive,  já pode ser pensado por meio dos itinerários formativos sugeridos às instituições de Ensino Médio.

As informações e conhecimentos construídos local e coletivamente colaborariam diretamente com a busca por alternativas e mobilizações comunitárias em momentos de crise, como pudemos observar, recentemente, na comunidade de Paraisópolis.

O ponto aqui não é (re)criar uma nova instituição dentro de uma óptica utilitarista e pragmática, mas unir atributos educacionais desejáveis dentro processo de ensino-aprendizagem aos múltiplos caminhos de desenvolvimento local, melhoria da qualidade de vida, prevenção, mobilização e ação em momento de crise.

Imagem: Creative Commons.

É verdade que já existem muitos bons exemplos de instituições do ensino básico que já possuem o DNA da pesquisa e da criação em sua matriz curricular, em especial, entre as escolas técnicas. É preciso ampliar as pesquisas nessas instituições para compreender ainda mais como estas (e muitas outras) já estão colaborando com suas comunidades e suas cidades. A ampliação dessas práticas pode criar uma rede de informação nacional centrada na escola, nos educadores, nos estudantes e seus territórios, valorizando ainda mais sua atuação como agentes de prevenção, resposta e transformação permanente.

Artigo de:
Edson Grandisoli (Pós-doutorando pelo IEA-USP e Doutor em Ciências) & Pedro Roberto Jacobi (Professor Senior do IEE-USP).

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GRANDISOLI, Edson. O Novo Papel das Escolas: Educação e transformação local pós-COVID 19. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/07/educacao-e-transformacao-local-pos-covid19.html>.

Estamos nos tornando consumidores conscientes ou ainda somos guiados pelo impulso da compra?

Cada um de nós vem acompanhando em tempo real os movimentos de uma crise sanitária global. Percebemos muitas inovações despontando e ao mesmo tempo pudemos testemunhar os reflexos da nossa desigualdade social. Estamos restritos aos espaços domésticos e nosso alcance real ao mundo e ao consumo diminuiu muito. E o que acontecerá quando for liberado o acesso para aqueles que estão em quarentena extravasarem tudo o que foi reprimido por meses?

Os últimos dias tem sido desafiadores. Em SP tivemos um feriadão para tentar evitar um lockdown (isolamento total) e o que muitos paulistanos fizeram? Fugiram para as montanhas ou praias. Todos estamos percebendo nossas limitações enquanto nação e enquanto indivíduos após um isolamento forçado. Temos limites financeiros, temos limites de locomoção, temos limites de atuação. Estamos inclusive desenvolvendo formas de atuar à distância – estamos fazendo reuniões, comemorações e encontros via internet.

Imagem: Creative Commons

Mas um dos aspectos que tem mexido de modo profundo com todos é a nossa relação com o dinheiro e o consumo. Há muito que estamos centrados no ciclo que inicia com o trabalho que nos dá acesso à renda que será enfim usada para suprir nossas necessidades e desejos. Alguns estão ficando sem trabalho. Alguns tiveram o trabalho suspenso e a renda diminuiu. Outros continuam como antes, só que trabalhando em casa (homeoffice).

É notório que a situação mexeu com nossos hábitos de consumo. Alguns já manifestaram que a fatura do cartão diminuiu pela metade, o consumo de combustível e a utilização de meios de transporte quase zerou, o lazer diminuiu consideravelmente. Outros descobriram os aplicativos de refeição, as promoções e saldões de todas as espécies por grupos no whatsapp ou pela internet; e as compras online. Para quem tem acesso e dinheiro disponível, o consumo pode ter aumentado. Para os que são assalariados ou profissionais liberais, o risco da diminuição de renda parece estar provocando uma atitude conservadora de restringir os gastos e economizar para o futuro – restrição de gastos, repressão de desejos e rezando para passar logo.

Imagem: Creative Commons.

Sabemos que a maioria das restrições provoca um descontrole na sequência. Alguns têm chamado esse comportamento de “consumo de vingança” – o pensamento que guia esse consumo é o seguinte: já que não foi possível fazer o que se desejava por um período de tempo, ao final das restrições se fará tudo sem muito controle.

Tenho tanta saudade… e aí cada um tem saudades de um local, de um comércio, de um produto, uma experiência. Existem dados que comprovam, por exemplo, que após um período de restrição, o consumo de produtos de luxo aumenta. Produtos que em tempos normais você não compraria, você se permite comprar por ter suportado uma situação difícil – o pensamento que guia esse consumo: “eu mereço!”.

Imagem: Creative Commons.

A boa notícia? Temos livre arbítrio! O consumo consciente é uma opção. Quem ainda não colocou na ponta do lápis a sua contabilidade individual, terá muitas surpresas quando o fizer. Economia, como diz o Prof. Boaventura de Souza Santos, é cuidar da casa, cuidar de nós. E isso é, mais do que livre arbítrio, responsabilidade e amor.

Então vamos combinar de pensar a respeito do que realmente queremos para o nosso futuro e de sermos conscientes quando tivermos a liberdade de voltar a fazer o que bem entendermos?

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STEFFEN, Janaína. Estamos nos tornando consumidores conscientes ou ainda somos guiados pelo impulso da compra?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/estamos-nos-tornando-consumidores-conscientes-ou-ainda-somos-guiados-pelo-impulso-da-compra.html>.

Muvuca de Sementes: Reflorestamento baseado na troca de saberes

Na maioria das vezes quando pensamos em reflorestamento vem à mente aquela imagem de alguém fazendo um buraco no solo e colocando a mudinha lá. Agora, imagina recuperar uma floresta inteira assim? A Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, está aí resistindo firme e forte para nos provar que isso é possível desde o século XVIII. Mas, atualmente, existe outra alternativa muito interessante: a muvuca de sementes.

O nome pode soar estranho ou até engraçado. A “muvuca” nesse caso não é uma grande confusão de pessoas, mas uma solução que surgiu como resultado de muita pesquisa. A ideia não é inédita, já que os povos ancestrais da América Central plantavam sementes misturadas direto no chão bem antes da muvuca ficar famosa, mas é uma alternativa que vem ganhando muitos adeptos pelo Brasil, especialmente na região da Amazônia como tentativa de amenizar os recordes de desmatamento nos últimos anos.

Foto: Camila Grinsztejn.

A mistura de sementes agrícolas e florestais que compõe a muvuca segue a lógica da sucessão florestal, copiando aquilo que a própria natureza já pratica. Sementes nativas e de adubação verde são misturadas com areia, formando um insumo homogêneo perfeito para formar a estrutura da floresta. A muvuca consegue gerar o dobro ou até dez vezes mais árvores por hectare e com metade do custo do que um plantio com mudas.

Muvuca de sementes no Mato Grosso. / Foto: Camila Grinsztejn.

Para que a muvuca possa vingar, é preciso planejar com bastante critério a combinação de sementes que vai ser usada na restauração. O ideal é ter sempre espécies de ciclo curto, médio e longo. Isso significa que algumas plantas vão crescer super rápido logo de cara, criando sombra, umidade e um microclima perfeito, protegido do sol e do vento, para o desenvolvimento de espécies que demoram um pouco mais para germinar e crescer. Além disso, a proximidade entre as sementes germinadas na área recuperada favorece a interação entre os microorganismos presentes nas raízes. Essa comunicação radicular complementa a vida e a fertilidade do solo, para que tenhamos de volta árvores densas e maduras, compondo a floresta linda do nosso imaginário.

Uma das maiores inovações da muvuca é a troca de saberes gerada por uma cadeia produtiva envolvendo diferentes atores que, em um primeiro momento, podem parecer contraditórios: comunidades tradicionais (povos indígenas, agricultores familiares e assentados), produtores rurais e ambientalistas. O conhecimento dos indígenas e agricultores para produção, coleta e beneficiamento de sementes junta-se a com a capacidade do produtor rural de plantar em diferentes sistemas. Nesse modelo de restauração florestal são utilizadas técnicas de plantio dominadas pelos produtores da agricultura familiar e agroindustrial, como o plantio manual e o mecanizado com plantadeira ou calcareadeira. Ou seja, planta-se floresta mais ou menos da mesma forma como se planta soja ou milho, por exemplo.

Os coletores também são importantes quando pensamos na inovação e nas técnicas de produção dessas sementes florestais nativas. Beneficiar sementes consiste em deixá-las perfeitas para o armazenamento e, depois, para o plantio. E sem semente, não tem floresta. Às vezes a semente vem dentro de um fruto denso, de uma castanha, de flores ou outro tipo de mecanismo natural. Existem várias formas de dispersão natural das sementes, algumas são leves para voar com o vento, outras acompanham frutas deliciosas e contam com animais para carregar suas sementes, atraem polinizadores através de belas flores, enfim, cada espécie com sua estratégia. Isso faz com que exista toda uma complexidade em torno do ato de coletar e armazenar sementes florestais nativas.

Indígena coletando semente de buriti na aldeia Ripá do povo Xavante, Mato Grosso. / Foto: Camila Grinsztejn.

No entanto, os coletores aos quais me refiro aqui muitas vezes desenvolvem formas eficientes e baratas de beneficiar as sementes, com ferramentas simples ou adaptadas do cotidiano. Já vi um coletor do P.A. Banco da Terra, no Mato Grosso, tratando sementes usando uma antena de tv velha acoplada a uma furadeira! Além disso, como eles cultivam as sementes nos seus próprios terrenos, perto das suas casas, percebem como podem germinar melhor, entendem a influência das chuvas no comportamento das árvores, o ambiente em que nascem mais, se demoram mais, entre outras coisas. A prática, a observação e a ancestralidade trazem um conhecimento empírico que aumenta a eficiência da restauração.

Essas sementes trazem de volta não apenas a vida da floresta, mas também das pessoas que se dedicam a trabalhar com elas. As redes de coleta de semente têm saído da Amazônia e ganhado outros biomas. A principal referência de uma governança e modelo de trabalho bem desenvolvidos é a Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX), a maior do Brasil, que há 12 anos empodera mais de 560 coletores, produziu mais de 200 toneladas de sementes e recuperou mais de 5 mil hectares na Bacia Xingu Araguaia.

Foto: Camila Grinsztejn

Uma das características mais importantes da ARSX é justamente a capacidade de manter o diálogo entre todas as partes. Eles reúnem todos os envolvidos com a restauração, começando pelo produtor rural, que tem a terra, as ferramentas, e, principalmente, que deseja estar dentro da lei, quer manter uma área de floresta viva na sua propriedade para inúmeros benefícios. A diversidade de sementes da muvuca permite uma enorme variedade de aplicações. Em sistemas produtivos, o plantio de muvuca pode ser usado tanto numa horta agroflorestal, como para diversificar um milharal com feijão e árvores. Também pode formar sombra (que gera madeira) nos pastos, melhorar a cobertura do solo fazendo entrelinhas em plantações como soja e feijão ou até em roça de mandioca, mantendo espécies que colaborem com a produtividade. Para a restauração de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legais (RLs), geralmente a combinação de sementes inclui adubação verde e espécies nativas.

Também entram para as conversas os coletores indígenas, que recebem treinamento para administrar as demandas de trabalho e coordenar equipes de coleta nas aldeias, além de coletores que são agricultores familiares e assentados. Simplificando um pouco o processo, basicamente essas pessoas são remuneradas financeiramente pelas sementes que coletam, vendem para a ASRX que encaminha para o plantio, conforme acordado com os produtores rurais e parceiros técnicos. Ou seja, atribui-se valor à floresta de pé, que além de gerar renda para a população local, age como fornecedor de matéria-prima estimulando o desenvolvimento sustentável na prática.

Foto Camila Grinsztejn

Que a gente possa ser semente também, para aprender com a natureza a germinar, coletar e beneficiar tudo aquilo que é importante. Valorizando a vida e os conhecimentos tradicionais, trabalhando em conjunto com aquele que parece ser o diferente, podemos conquistar resultados importantes para a manutenção de um planeta saudável. A recuperação das nossas áreas verdes depende de esforços coletivos, de uma muvuca de pessoas trabalhando em prol de um bem comum, valorizando uma cadeia ética e o desenvolvimento sustentável.

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GRINSZTEJN, Camila. Muvuca de Sementes: Reflorestamento baseado na troca de saberes. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/muvuca-de-sementes-reflorestamento-baseado-na-troca-de-saberes.html>.

Moda Consciente: Iniciativas que aumentam o ciclo de vida das peças

A indústria da moda é a segunda maior indústria poluente do mundo. Estima-se que o equivalente a um caminhão de lixo têxtil seja gerado por segundo no planeta. 1 caminhão de lixo por segundo! Para você ter ideia, para produzir uma única camiseta de algodão, em média, são utilizados 2 mil litros de água.

Além do processo produtivo nada sustentável, nos deparamos ainda com um ciclo de vida deturpado. Pesquisas indicam que mais de 70% do que as pessoas têm nos guarda-roupas não é utilizado em um período de um ano, e, a média de uso de uma roupa, antes de ser descartada, é de sete vezes.

Imagem: Creative Commons

De acordo com o Ibope, o mercado de roupas usadas no Brasil tem potencial financeiro de mais de R$46 bilhões por ano. Levando em consideração tudo isso e o fato de que uma forma eficiente de diminuir o impacto deste setor é aumentando o ciclo de vida das peças (roupas, sapatos, bolsas, acessórios), separamos alguns exemplos de iniciativas que funcionam no Brasil e que são bem interessantes.

Repassa

O Repassa é um brechó online em que você recebe em casa a chamada “Sacola do Bem” para colocar todas as peças que pretende passar pra frente, enviando-as para o Repassa. Quando a peça for vendida você recebe uma porcentagem do valor, que pode ser utilizado para apoiar uma causa de sua escolha no site. O Repassa disponibiliza em seu site dados sobre o impacto ambiental e social da iniciativa nos últimos 12 meses, como economia de água, quantidade de gás carbônico que foram evitados, valores repassados para quem vendeu as peças e também valores doados para ONGs parceiras. Vale a pena conferir!

Impacto ambiental do Repassa nos últimos 12 meses. / Imagem: Print do site Repassa.

Closet BoBags

A Closet BoBags é especializada no aluguel e venda de bolsas e acessórios de luxo. Lá, além de alugar peças, você também deixa itens do seu closet disponíveis para que outras pessoas possam alugar. A iniciativa tem como filosofia o compartilhamento do armário, baseado no conceito de economia colaborativa, gerando menos impacto.

Enjoei

O Enjoei se autodenomina como marketplace mais simpático para comercializar roupas, acessórios, móveis, eletrodomésticos e outros objetos. Lá você pode vender aquelas peças que já estão há tempos esquecidas no guarda-roupa e comprar outras (novas ou usadas), de várias marcas e de pessoas que também querem mais espaço livre no closet. É possível criar uma espécie de lojinha virtual personalizada.  O Enjoei é um pouco mais abrangente, então além de moda você pode comprar ou vender itens de decoração, móveis, computadores, entre outros.

Imagem: Print do site Enjoei.

TROC

No TROC você encontra roupas, bolsas, sapatos e acessórios usados de marcas nacionais e internacionais. O intuito da plataforma é possibilitar que mulheres tenham acesso a produtos em ótimo estado e por preços bacanas. Eles recebem todas as peças e analisam individualmente. Já contabilizaram mais de 40 mil peças no acervo. Eles aceitam a partir de 15 peças e estas precisam estar na lista das marcas aceitas pelo TROC. Não são aceitos produtos com pele animal, couro sintético ou ecológico e peças sem etiqueta.

Etiqueta Única

O Etiqueta Única é um portal de luxo online que faz o intermédio entre a compra e a venda de artigos de luxo seminovos entre terceiros. Eles contam com uma equipe especializada em curadoria, autenticação e higienização das peças, tendo como objetivo disponibilizar produtos em excelente estado e também garantir que as peças sejam originais. Lá você encontra acessórios, bolsas, roupas e sapatos das principais marcas de luxo. Eles reforçam a importância de abrir mão de itens que não são mais usados na contrapartida de que pessoas que sempre quiseram determinados artigos de luxo possam adquirir estas peças em bom estado e de forma mais acessível.

Você também conhece uma iniciativa de moda consciente? Então compartilha com a gente!

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LOPPNOW, Stephani. Moda Consciente: Iniciativas que aumentam o ciclo de vida das peças. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/moda-consciente-iniciativas-que-aumentam-o-ciclo-de-vida-das-pecas.html>.

Tecido de PET reciclado é realmente sustentável?

Estima-se que 60% das roupas produzidas globalmente sejam feitas de plástico e, segundo o Greenpeace, esse número tende a dobrar em 2030. Estima-se também que a ideia de transformar garrafas plásticas em tecido tenha surgido em meados dos anos 1980. Mas apenas atualmente, com as discussões sobre alternativas sustentáveis na moda, que seu uso tem se popularizado cada vez mais como uma opção eco para as roupas feitas com fibras sintéticas.

Marcas como a Osklen, Everlane, Renner, Nike e PatBo – que fez, inclusive, um desfile para o SPFW n.46 com looks de PET reciclado – tem adotado cada vez mais o material em coleções para promover a sustentabilidade na moda.

Campanha da marca Everlane.

A dificuldade em explicar o problema da utilização de PET para fabricação de tecido começa quando as vantagens do uso desse material são levantadas, principalmente quando a reciclagem do PET é proveniente de garrafas recolhidas do meio ambiente. Uma pesquisa divulgada pelo Fórum Econômico Mundial de Davos estima que haverá mais plástico do que peixes nos oceanos em 2050. Já sabemos também que apenas 3% do lixo brasileiro é reciclado, segundo os dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O recolhimento do PET ainda é rentável para catadores e cooperativas, fornecendo o sustento para pessoas que sobrevivem do ciclo da reciclagem. Como a ideia do tecido de PET reciclado não pode ser tentadora diante desse cenário?

Imagem: Creative Commons

Compreende-se que a reciclagem é algo positivo em termos de sustentabilidade, já que, ao invés de produzirmos algo com matéria prima nova, que necessita de recursos – finitos, precisamos lembrar – para ser produzida, estaremos reutilizando o que já existe. Na teoria, devolver para o mercado um produto cujo material teve sua vida útil prolongada numa visão macro é bem positiva.

Contudo, se analisarmos as entrelinhas, veremos que transformar PET em tecido possui mais desvantagens do que poderíamos imaginar. O primeiro dos seus problemas é o microplástico (assunto abordado no artigo “O que a etiqueta não mostra! Os impactos socioambientais da moda tradicional” – clique aqui para ler).

Visão ampliada de microplásticos na ponta de um dedo. / Imagem: Igui Ecologia

É preciso entender que, durante a lavagem de uma roupa de poliéster, o tecido libera micropartículas de plástico na água, segundo estudo sobre microplásticos têxteis desenvolvido pela pesquisadora Flavia Salvador Cesa. Essa quantidade de microplástico pode aumentar dependendo da lavagem. Por serem pequenas, essas micropartículas não são filtradas pelo sistema de esgoto, que não possui estrutura para reter esse tipo de material. Pesquisas e estudos já estimam que essas partículas estão em diversos lugares, dos oceanos até a água que bebemos. No mar, algumas dessas micropartículas são ingeridas por animais marinhos, o que pode afetar diversas espécies, inclusive a humana.

O segundo dos problemas é que, transformando uma garrafa PET em tecido, interrompemos o ciclo de vida do material.  É previsível que essas roupas feitas com poliéster de PET reciclado acabem em aterros sanitários, pois sua taxa de reciclabilidade é baixíssima. Na prática, estamos reciclando um material que já é comprovadamente problemático e transformando em algo tão (ou mais) problemático.

Descarte incorreto de roupas a base de tecidos plásticos representa um grande problema atualmente. / Imagem: Fashion Foward

Tratando-se de sustentabilidade na moda, sabemos que a probabilidade de extinguir o uso do plástico (poliéster, poliamida) na produção de roupa é nula. Mas é preciso levantar diálogos honestos sobre a utilização e os impactos desses materiais no meio ambiente. Sobre usar o plástico em itens que precisem realmente da utilização desse material (roupas esportivas, por exemplo). Sobre esses itens serem bens duráveis e que a economia circular possa realmente ser aplicada. É necessário também abrir incentivo a novas tecnologias e falar sobre a produção de tecidos menos mistos, com fibras possíveis de rastrear no fim do seu ciclo de vida.

Roupas esportivas utilizam poliéster e outros materiais plásticos em sua composição para garantir a melhor mobilidade aos atletas. / Imagem: Creative Commons.

O PET reciclado pode funcionar como oportunidade para que marcas possam falar de sustentabilidade na moda, mas não pode estagnar aí. É preciso avançar o debate também para a cultura do descarte, investimento em novas tecnologias e pensar em economia circular de maneira honesta e prática, incentivando e aplicando alternativas melhores para um mercado que precisa de mudanças urgentes.

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AURELIANO, Bruna. Tecido de PET reciclado é realmente sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/tecido-de-pet-reciclado-e-realmente-sustentavel.html>.

A escolha do “decrescimento” nos tempos atuais para tempos futuros

Já parou para pensar que quando queremos evoluir, em diversas áreas das nossas vidas, nós podemos escolher diferentes meios e perspectivas para alcançar essa evolução?

E é baseando-se nesse raciocínio que o conceito econômico do decrescimento se apoia. Não é no sentido contrário do crescimento, mas sim no sentido de deixar de pensar no crescimento infinito, sem escalas, pois, assim como afirmou o economista e filósofo Serge Latouche, “O crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”.

Ou seja, essa ansiedade pelo progresso que nos deparamos no dia-a-dia está em querer ultrapassar os limites da abundância e não aprender a viver com o que nos é suficiente.

A ideia do decrescimento não é alterar instantaneamente a nossa sociedade e o estilo de vida atual e adotar o estilo “vamos viver somente com aquilo que a natureza nos dá”, é transformar a nossa concepção de suficiência, de nos satisfazer com a quantidade necessária sem a abundância que estamos acostumados a cultivar, ou melhor, a comprar. É crescer para manter o equilíbrio, entre nós, seres humanos, e os recursos naturais associados a uma economia igualitária.

Imagem: Granada en Transición

Transformar uma cidade, um estado ou país baseando-se no princípio do decrescimento pode ser uma utopia, mas dentro das nossas casas, na comunidade em que vivemos, não! E como podemos adotar o decrescimento em nossas vidas? Entendendo que crescer é diferente de lucrar, é encontrando alternativas que nos façam evoluir como humanos e pensando nas futuras gerações.

O propósito do decrescimento não é deixar de lado fatores como dinheiro e bens materiais, mas sim, diferentes maneiras de utilização dos recursos que uma sociedade usufrui, o que nos possibilita um convívio mais satisfatório para toda a comunidade, prezando a qualidade de vida e o bem-estar social, cuja sociedade atual não associa com o desenvolvimento econômico de uma determinada região.

Atualmente, está evidente que o estilo de vida que estamos levando está acelerando o processo degradativo do meio natural, levantando a questão: até quando suportaremos levar uma vida cada vez mais apressada, sem apreciar nossos dias deixando de lado valores e ideais que não se baseiam somente no lado financeiro.

Imagem: Creative Commons

Aproveitando essa alteração forçada das nossas rotinas, poderíamos iniciar um novo planejamento das nossas vidas, criar novos hábitos a fim de melhorar a conviver no ambiente em que vivemos, valorizando e nos satisfazendo com o que já conquistamos e entendendo que o “ter” algo é diferente de “ser” alguma coisa, pois assim encontraremos nosso equilíbrio e saberemos transmitir isso para nossas próximas gerações.

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ARTIJA, Maria Vitória. A escolha do “decrescimento” nos tempos atuais para tempos futuros. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/a-escolha-do-decrescimento-nos-tempos-atuais-para-tempos-futuros.html>.

Você sabe o que são “Sementes Crioulas”?

As sementes têm uma grande importância na manutenção da nossa biodiversidade e,consequentemente, na nossa alimentação. As sementes crioulas, sementes da paixão, landraces, raças da terra, variedades tradicionais, entre outras denominações, pelas quais são conhecidas, fazem parte do universo da agricultura familiar e da agroecologia.

Essas variedades foram melhoradas apenas pelas mãos de agricultores e agricultoras. Não foram modificadas geneticamente, como em processos de melhoramento genético e transgenia. Tais variedades, têm preferência devido a características de adaptabilidade, valorização dos costumes, sabor e qualidade, além do baixo custo de produção.

Imagem: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

As sementes crioulas são utilizadas pelos agricultores há muito tempo, sendo uma prática antiga entre as populações tradicionais, que fazem o manejo e preparo das sementes de forma artesanal, por isso recebem o nome de “crioulas” e/ou “nativas”, estas vêm sendo produzidas em suas propriedades ao longo dos anos, passando de geração em geração pelas famílias. As formas de produção são de caráter agroecológico em sistema manual de semeadura e consorciado de plantio.

As variedades tradicionais não são somente as sementes em si, mas também tubérculos, como batata, mandioca, culturas de origem animal entre outros alimentos conhecidos. Possuem um grande potencial nutricional, além de outros aspectos positivos, como: maior resistência, maior produtividade, melhor adaptação, menor custo de produção e também maior diversificação das possibilidades de plantio, pois não requerem um pacote de insumos, não demandam uso de agrotóxicos e não irão prejudicar o meio ambiente, além de promover saúde.

Imagem: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

Para, Antunes et al (2017), o termo “Variedade Crioula”, pode ser definido como “aquele em cultivo” por agricultores em um mesmo ambiente, por tempo suficiente para que a seleção natural e os agricultores ajam de modo a produzir uma população, cuja composição gênica a tenha tornado altamente adaptada às condições em que foi cultivada. Consequentemente, diferenciada das demais, que surgem como resultado das interações temporais entre populações de plantas e os demais componentes do agroecossistema, incluindo o homem.

Historicamente, as mulheres são as “guardiãs das sementes”. De acordo com Nunez e Maia (2006), quando se fala da origem das sementes, há relatos que desde o começo da humanidade, agricultores e, especialmente agricultoras, têm conservado, selecionado e melhorado sementes, dando origem a uma grande diversidade de cultivos e variedades utilizadas na produção agrícola, adquirindo características desejáveis de adaptação muito específicas aos locais de cultivo, carregando consigo a questão cultural e, garantindo a sustentabilidade e soberania alimentar.

Como explica, Franco et al (2015), os agricultores familiares que trabalham com agricultura de base ecológica e armazenam sementes em suas propriedades, são considerados “guardiões das sementes crioulas”. Em muitas regiões a Comissão Pastoral da Terra organiza o trabalho criando bancos de sementes, e incentiva os agricultores a serem os guardiões, além de organizar eventos para troca de sementes e reflexões sobre o tema junto às comunidades, sendo de grande relevância para a manutenção da agrobiodiversidade local.

Imagem: Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Governo da Bahia

Esse trabalho de incentivo e apoio realizado pela Pastoral da Terra e também outras instituições, fortalecem o trabalho dos agricultores e a troca de informações para obter maior produção e variedade. A Via Campesina congrega entidades e movimentos sociais ligados aos pequenos agricultores (camponeses) de todo o Planeta, e fazem campanhas em oposição aos transgênicos e a oligopolização do setor de sementes, como a campanha mundial “Sementes: patrimônio dos povos a serviço da humanidade”.

Referências

BARROS, I. I. B. et al.  Sementes crioulas: o estado da arte no Rio Grande do Sul. Rev. Econ. Sociol. Rural, v.46, n .2.  Brasília Apr./June 2008.

PEREIRA et al. Reconquista de sementes crioulas e plantas alimentícias não convencionais no Assentamento Dênis Gonçalves, Zona da Mata Mineira0. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF – Vol. 13, N° 1, Jul. 2018.

ANTUNES et al. Agrobiodiversidade, sementes crioulas e guardiões de sementes – ou a construção de uma nova realidade social a partir de uma nova realidade rural. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF – Vol. 13, N° 1, Jul. 2018.

FRANCO et al. Percepção de agricultores familiares sobre as dificuldades na produção e conservação de sementes Crioulas. cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 8, No. 2, Nov 2013.

NUÑEZ, P. B. P.; MAIA, A. S. Sementes crioulas: um banco de biodiversidade. Revista Brasileira de Agroecologia. v. 1. n. 1. 2006.

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MAIRESSE, Letícia. Você sabe o que são “Sementes Crioulas”?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/voce-sabe-o-que-sao-sementes-crioulas.html>.

O Saneamento Ecológico como artifício de dignidade social

Quando o assunto é Saneamento Básico o Brasil apresenta um cenário no mínimo desesperador, onde cerca de 35 milhões de pessoas não possuem acesso a água potável e mais de 100 milhões estão sem coleta de esgoto. O índice de brasileiros que possuíam tais serviços em 2011 era de 48,10% e em 2018 passou para 53,20%, ou seja, uma evolução praticamente irrisória comparada àquilo que precisa ser feito.

“Se continuarmos nesse ritmo, vamos demorar pelo menos 40 anos nas maiores cidades e mais de 50 anos no Brasil para universalizar o saneamento. ”  (Édison Carlos – Instituto Trata Brasil).

Ao analisarmos determinadas regiões, percebemos que o desafio na cobertura da coleta de esgoto permanece ainda maior. No Norte do País 89,51% da população não têm nenhum tipo de atendimento referente à destinação adequada desses efluentes; no Nordeste a taxa é de 71,99%.  Mesmo capitais como Manaus apresentam um índice preocupante: 87,57%. A região Sul, apesar de tida como economicamente próspera e desenvolvida, tem mais da metade de seus habitantes sem acesso correto à coleta: 54,83%. (SNIS – ano base 2018).

Imagem: Creative Commons

Um dos principais entraves das obras de Saneamento Básico no Brasil é a burocracia. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o tempo médio entre o início do processo e a liberação dos recursos financeiros para utilização das empresas responsáveis pelo projeto é de mais ou menos 27 meses. Além disso, um discurso que, infelizmente, ainda parece possuir muita relevância nos palanques políticos é: “enterrar dinheiro – referência às tubulações de água e esgoto subterrâneas – não dá voto”, uma frase que deixa claro o tamanho do descaso por parte dos nossos governantes.

Apesar dos números nos apontarem um caminho tortuoso, o Saneamento Ecológico desabrocha e aflora diariamente, nos trazendo esperança de dias melhores e mais limpos, através de estruturas sustentáveis. Para lidar com a problemática envolvendo a coleta dos dejetos domiciliares, podemos citar como exemplo a Bacia de Evapotranspiração.

A Bacia de Evapotranspiração (BET) ou Fossa Verde, como também pode ser conhecida, é uma alternativa para o tratamento das chamadas águas negras – aquelas que são oriundas do vaso sanitário – em zonas urbanas e periurbanas.

Imagem: http://ciac.org.br/bet-bacia-de-evapotranspiracao/

O sistema consiste, basicamente, em um reservatório que é cavado no chão, impermeabilizado e preenchido, primeiramente, com pneus enfileirados – formando uma espécie de túnel – ou com tijolos inclinados – formando uma pirâmide de interior oco, praticamente uma galeria.

Ao redor do túnel construído no centro da bacia e também sobre ele, são despejadas diferentes camadas de substrato: entulhos de obra, material de demolição, telhas quebradas, pedriscos, cascalho, britas e areia, de modo que seja constituído um leito filtrante. Por fim, o preenchimento do reservatório deve ser realizado com solo fértil, adequado para o plantio de espécies vegetais de crescimento rápido e folhas largas (como bananeiras e taióbas).

O dimensionamento do Sistema BET deve ser feito considerando 2 m³ por indivíduo. Por exemplo, em uma residência com quatro habitantes a bacia deve contar com 8 metros quadrados e 1 metro de profundidade.

Quanto ao seu funcionamento, este acontece da seguinte maneira: o efluente vindo do vaso sanitário desemboca direto no túnel de pneus – ou tijolos – por meio de uma tubulação de 100 mm, sendo decomposto através do processo de digestão anaeróbica (fermentação) desempenhado pelas bactérias fixadas nas paredes do túnel.

Imagem: O Blumenauense

O fluxo dentro da bacia ocorre de baixo para cima, de modo que os dejetos fiquem “aprisionados” no interior da galeria, enquanto o fluido separado da matéria orgânica vai subindo e passando pelo leito filtrante, onde também se encontram bactérias entre os entulhos e pedriscos. Ao atingir as raízes das plantas a água – resultante do efluente que foi tratado pelos micro-organismos do sistema – já está 99% limpa e após ser absorvida pelas bananeiras e taiobas, ela é devolvida ao meio ambiente por meio da evapotranspiração realizada pelas plantas.

A Fossa Verde trata-se, portanto, de uma estrutura fechada, um sistema que não gera resíduo final, que se utiliza de um método limpo e ecológico capaz de transformar esgoto em nutrientes, permitindo que a água retorne ao meio ambiente sem causar nenhum tipo de poluição ao solo e aos rios.

Imagem: Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS)

O investimento em Saneamento Básico está intrinsecamente vinculado às questões de saúde pública. Pesquisas apontam que o Brasil possui cerca de 400 mil interações por ano decorrentes de diarreia; caso houvesse a universalização dos serviços de coleta de esgoto, esse valor cairia para 270 mil. (Instituto Trata Brasil). Outros estudos indicam ainda, que no âmbito mundial, um dólar gasto em saneamento básico gera uma economia de quase seis dólares em problemas futuros (Organização Mundial de Saúde).

Estamos inseridos em um contexto carregado de tradicionalismo técnico, repleto de sistemas convencionais. Nos vemos cercados de profissionais, gestores públicos e cidadãos que parecem não se interessar por métodos alternativos que sejam relativamente simples e verdadeiramente sustentáveis.

Há uma infinidade de estudos científicos aplicados, executados e muito bem-sucedidos ao redor do mundo que nos mostram a eficiência do Saneamento Ecológico no tratamento do esgoto doméstico, basta que estudemos a respeito e cobremos que as autoridades responsáveis estejam dispostas a implementá-lo.

É primordial que um serviço ligado à dignidade humana, essencial à vida, que carrega no próprio nome o termo “básico”, seja colocado em pauta, trazido para o debate público, exposto diariamente nos canais midiáticos, para que assim, possam se fazer conhecidas as soluções verdes que tanto têm a contribuir na reversão da realidade calamitoso e funesta de milhões de brasileiros.

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SILVA, Pâmela. O Saneamento Ecológico como artifício de dignidade social. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/saneamento-ecologico.html>.

Como se preparar para o novo “normal”?

Põe máscara, lava máscara, higieniza as mãos, tira os calçados ao entrar em casa, coloca as roupas na máquina de lavar imediatamente, lava todas os produtos comprados no supermercado. Até quando? Seria esse o novo “normal”? Como agir diante de uma Pandemia?

O primeiro passo é aceitar o nosso novo contexto e entender que o risco de contaminação é como uma música que nos fará dançar no ballet que conduz os modelos comerciais e a capacidade do sistema de saúde nacional.

Conscientes da situação, precisamos sincronizar nosso corpo de ballet. Sem uma coreografia muito bem ensaiada (lembre-se desta palavra ENSAIO), certamente, estagnaremos no palco machucados de tanto nos esbarrarmos ou cansados por tentar sair do lugar, porém sem sucesso.

Imagem: Creative Commons

O que acabamos de ilustrar trata-se de um espetáculo sem ensaio ou alinhamento. Na dança e na vida precisamos estabelecer diretrizes quando o coletivo impacta no resultado final. Como alcançar resultados com o mínimo de danos possíveis diante do risco? Através de um Plano de Gerenciamento de Risco, conhecido, tecnicamente, como Plano de Contingenciamento. Em nosso caso, o grande problema é a elevada transmissibilidade da Covid-19, sem previsão da vacina ou medicação.

Em uma Pandemia, a decisão de um impacta o todo, portanto precisamos escolher a mesma música e sincronizar nossos passos. Para que um alcance dessa magnitude não se perca entre os ruídos da comunicação, deve-se criar um plano com todas as estratégias que serão adotadas e compartilhá-lo com a comunidade. O uso correto de máscaras, a etiqueta respiratória e o distanciamento social são medidas adotadas em cada nível de resposta.

Quando fazemos um Plano de Contingenciamento executável (Plano de Ação) convergirmos os esforços humanos e os insumos para uma única causa, logo evita-se retrabalho e o desperdício de bens e serviços.

Como você tem programado seu “Novo Normal”? Dançando qualquer música da rádio ou criando sua playlist favorita?

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BRITO, Suan Lima. Como se preparar para o novo “normal”?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/como-se-preparar-novo-normal-covid.html>.

Moda: o mercado e o consumidor que vão surgir após a pandemia

A pandemia de Covid-19 apresentou ao mundo desafios sem precedentes, nos obrigou a dar um passo atrás e a redefinir nossas prioridades. Para indústria da moda (vestuário, calçados e têxtil), este deve ser encarado, de fato, como um momento de reflexão sobre seus processos, bem como sobre o preço e os impactos para as pessoas e o planeta. O novo coronavírus parece ter freado o consumo, eliminado supérfluos e colocado uma lente de aumento em rotinas automatizadas e valores como a sustentabilidade, além de colocar em xeque a cultura do excesso.

Até então, as iniciativas de sustentabilidade vinham sendo vistas como algo ainda a ser consolidado, e que aos poucos iria ocupar seu espaço em processos e normas em diversos segmentos, como luxo, esporte, fast fashion e varejo, mas agora estão mais pressionadas a definitivamente se tornarem parte do compromisso de marcas e empresas.

Um estudo recente – “Tecendo um futuro melhor: reconstruindo uma indústria da moda mais sustentável após o Covid-19”, publicado por pesquisadores do Boston Consulting Group (BCG), da Sustainable Apparel Coalition (SAC) e da empresa de tecnologia Higg Co – confirmou essa tendência e constatou que esse tema vem ganhando proporções mais relevantes do que nunca.

O levantamento mostra que a atual crise “exige simultaneamente que as empresas adequem seus progressos com iniciativas sustentáveis, a fim de serem competitivas no mercado que surgirá após a pandemia”. Mostrou que “embora o caminho ainda não esteja claro e as questões em aberto permaneçam enquanto os governos e a sociedade navegam na pandemia, uma das principais lições da era Covid-19 será que saúde, segurança e prosperidade são atividades intrinsecamente coletivas, e não individuais. E as indústrias de vestuário, calçados, têxtil e moda não são diferentes”. O estudo concluiu que “os líderes que tecerem com sucesso a sustentabilidade em suas estratégias de negócios deixarão um legado duradouro: o de uma indústria da moda reconstruída e mais sustentável”.

Felizmente, todo esse cenário vem colocando questões de interesse em todo o ambiente, seja para os clientes, ou seja, impulsionando ainda mais os esforços de sustentabilidade dos varejistas. Em todo o mundo marcas e grandes corporações concentraram suas manufaturas na produção de roupas hospitalares, bem como em máscaras médicas e não médicas. Esse movimento levou as empresas a redirecionar o excesso de material e tecidos de matérias-primas que, de outra forma, acabariam em aterros para criar equipamentos de proteção laváveis e reutilizáveis, além de investirem em projetos sociais.

Imagem: Creative Commons

Um exemplo é a marca carioca Osklen, que firmou uma parceria com o Instituto Alpargatas para a produção de 50 mil máscaras de proteção e 9.000 jalecos não hospitalares para profissionais que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Já a marca mineira Bendizê criou a campanha “Por uma quarentena mais justa”, onde uma linha de blusas em homenagem a Guimarães Rosa terá 20% da venda revertida para a organização social TETO Brasil, para adquirir cestas básicas, galões de água e produtos de higiene para serem doados a famílias em situação de vulnerabilidade. Outro exemplo, a grife Thaís Rodrigues aproveitou o momento para doar 100 kits de higiene (com detergente, sabonete, creme dental e outros itens) para o Instituto Melo Cordeiro, um projeto social que atende crianças e adolescentes em situação de risco social em Ferraz de Vasconcelos (SP).

Imagem: TETO Brasil

No entanto, enquanto aqueles que estão começando no campo da sustentabilidade precisam usar esse momento para fazer a transição para estabelecer vantagem competitiva, empresas mais adiante nessa jornada do consumo consciente precisam salvaguardar o progresso e manter práticas essenciais. Além disso, para que todos esses exemplos se transformem efetivamente na construção de uma nova era, a mudança de mentalidade deve passar também pelo consumidor e, consequentemente, seu comportamento de compra.

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MATTOS, Litza. Moda: o mercado e o consumidor que vão surgir após a pandemia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/moda-mercado-consumidor-pandemia.html>.