Cuidado com as Armadilhas da Black Friday! Confira dicas para economizar e praticar o consumo consciente

Chegamos a mais uma Black Friday, época de maior venda e faturamento dos comerciantes, principalmente dos grandes varejistas. É também época de preços mais baixos, certo? Bem, não necessariamente, mas esse não é o único problema.

A cada ano, o consumo avança de maneira preocupante para a manutenção da vida. Não é exagero! O consumo predatório está chegando a níveis nunca antes vistos, isso pode ser constatado com a chegada cada vez mais cedo do Dia de Sobrecarga da Terra [1], com as emissões de GEE (gases de efeito estufa) que batem recorde ano após ano e do impacto do sistema produtivo no meio ambiente com o avanço das mudanças climáticas.

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Nessa onda de consumismo gerada pela data, não nos lembramos de refletir sobre alguns pontos essenciais antes da finalização da compra. Então inspire com calma e leia essas dicas antes de voltar para o seu carrinho de compras.

A compra é realmente necessária?

Esse deve ser o nosso pensamento antes de realizar qualquer compra. Será que aquele produto é realmente necessário para você? Ou você está agindo por impulso?

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O planejamento financeiro é essencial para manter as contas em dia, ainda mais na crise econômica que o país atravessa com taxas crescentes de desemprego e inflação. Em outras palavras, use sempre a boa e velha lista de compras – seja para a compra dos alimentos da semana, daquela blusinha ou de eletro-eletrônicos. Esse hábito nos ajuda a poupar dinheiro, evitar desperdícios e o descarte de resíduos sólidos urbanos (RSU).

Pesquisa de preços

Esse ponto é crucial, considerando o propósito da Black Friday – comprar produtos por preços menores que em outros períodos do ano. Mas cuidado com as propagandas enganosas! Infelizmente, é bem comum várias empresas elevarem os preços de seus produtos pouco tempo antes da Black Friday para que nessa data os preços estejam próximos aos preços comumente praticados. E existem ainda empresas que praticam preços até maiores que em outros períodos.

Se você não conseguiu fazer um acompanhamento prévio dos preços durante o ano, não se preocupe! Você ainda pode realizar uma pesquisa de preços através de sites e aplicativos que mostram o histórico de preços de produtos como: BuscapéZoom e Bondfaro.

Qual a origem do produto que você deseja comprar?

Além do preço, você se preocupa com a origem dos produtos que consome? Com a globalização e com o e-commerce as barreiras deixaram de existir e facilmente podemos comprar produtos vindos do outro lado do mundo e, muitas vezes, por valores menores do que os vendidos por aqui.

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Mas o custo de envio desses produtos para sua casa não se limita apenas ao frete cobrado. Nessa conta também entra a pegada carbono – as emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante o ciclo de vida do produto (correspondente a toda a cadeia produtiva, desde a extração da matéria-prima para a fabricação do produto, passando pelo envio até sua casa e no retorno desse bem ao fabricante – em caso de logística reversa).

Como esse produto é fabricado?

Do que é feito o produto que você deseja comprar? Que tipo de mão-de-obra é utilizada na produção? Você leva em consideração a composição do produto no momento da compra? Essas são algumas perguntas que costumam passar despercebidas, mas que são essenciais para o consumo consciente.

A empresa produtora possui algum compromisso com a redução de impactos socioambientais?

Felizmente, já podemos observar empresas que realmente estão se engajando na mudança da cultura organizacional em prol da inserção da sustentabilidade não apenas em sua cadeia produtiva, mas, também, exigindo que seus fornecedores caminhem na mesma direção.

Foto: Adeolu Eletu/ Unsplash

É claro que a absorção da sustentabilidade pelas empresas vai ocorrer de acordo com o tamanho, do ramo de atividade, da importância do tema para a gestão estratégica dos negócios, da disponibilidade de investimento e de vários outros fatores. No entanto, com o boom do ESG no mundo pandêmico, podemos observar muitas empresas se utilizando de termos ligados à sustentabilidade empresarial de forma rasa e falaciosa – é o greenwashing que continua sendo usado.

Existe política pós-consumo para o produto?

A política de pós-consumo está ligada diretamente a existência de programas de logística reversa nas empresas.  Com a adoção da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), a logística reversa [2] de alguns materiais se tornou obrigatória: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Para outros materiais ainda é facultativa a existência de logística reversa de produtos e embalagens. Mas considere esse como grande diferencial na avaliação do produto que deseja comprar, já que, o problema não deixa de existir quando o produto e sua embalagem são descartados. Lembre-se: Não existe jogar fora!

[1] Data que marca o dia em que a demanda da humanidade por recursos e serviços ecológicos excede o que a Terra poderia regenerar até o fim do ano.

[2] Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

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ABREU, Nathália. Cuidado com as Armadilhas da Black Friday! Confira dicas para economizar e praticar o consumo consciente. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/cuidado-com-as-armadilhas-da-black-friday-confira-dicas-para-economizar-e-praticar-o-consumo-consciente.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

ABREU, Nathália. Você sabe o que é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e como ela impacta diretamente na reciclagem?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2018/11/politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs-e-reciclagem.html>.

BRASIL. Lei 12.305/2010, que instituiu a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>.

TERRA. Começam os preparativos para a Black Friday 2021. Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/comecam-os-preparativos-para-a-black-friday-2021,5d32983aab7e421af02a724149c3757em9xj2ejg.html>.

Empresa paulista cria soluções para cadeias produtivas se tornarem circulares

Incentivar a transformação da economia linear em economia circular, essa é a incrível proposta da empresa paulistana Boomera, transformando resíduos de difícil reciclagem (plásticos com dupla ou tripla composição) em matéria-prima para novos produtos tanto para uso industrial como doméstico para os consumidores.

Com o slogan “Do início ao início”, um dos pilares da economia circular, a empresa tem a missão de auxiliar grandes empresas a gerenciar o pós-consumo e seus materiais de forma mais sustentável. Por meio da logística reversa (com a inclusão de cooperativas de catadores no processo) e da reintrodução desses resíduos na cadeia produtiva, é possível transformar esse mar de resíduos em uma nova realidade.

Imagem: Freepik

As embalagens descartadas – que na maioria das vezes são destinadas a aterros sanitários por possuírem compostos altamente complexos e classificados como rejeitos – são a matéria-prima que a Boomera trabalha dando nova utilidade a eles. Os resíduos utilizados são os mais variados possíveis, eles vão de cápsulas de café e sachês de molhos à fraldas descartáveis e plástico retirado dos oceanos.

Ao envolver as cooperativas de catadores de materiais recicláveis no processo da coleta desse material, a empresa gera mais renda para essa categoria, promove um processo de melhoria contínua dessas cooperativas e gera impactos ambientais positivos.

Pellets de resina plástica reciclada. Imagem: Boomera/Reprodução

Ao chegar na fábrica da Boomera, esses resíduos são transformados em resina reciclada feitas de material pós-consumo (PCR) que servem de matéria-prima para a fabricação de produtos circulares, como embalagens, pallets, utensílios domésticos e até mesmo artigos esportivos.

Sua metodologia própria, chamada de Circular Pack, permite identificar o melhor caminho para transformar esses resíduos complexos em novos produtos através de pesquisa e desenvolvimento, logística reversa e design de produtos.

Imagem: Boomera/Reprodução

A empresa que é certificada como Empresa B, desenvolve soluções há mais de uma década. Já realizaram projetos para mais de 400 empresas, mais de 500 cooperativas e 15 mil cooperados fazem parte do seu ecossistema, que já coletaram mais de 131 mil toneladas de resíduos recicláveis.

É incrível ver empresas como a Boomera com o propósito de tornar o mundo um lugar melhor.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Empresa paulista cria soluções para cadeias produtivas se tornarem circulares. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/boomera-solucoes-cadeia-produtiva-circular.html>.

Lixões, aterros sanitários e incineradores

A concentração demográfica nas grandes cidades e o grande aumento do consumo de bens geram uma enorme quantidade de resíduos de todos os tipos. Toneladas de matérias-primas, procedentes tanto das residências como das atividades públicas e dos processos industriais, são industrializadas e consumidas gerando rejeitos e resíduos, que são comumente chamados lixo. Seria isto lixo mesmo? Lixo é basicamente todo e qualquer material descartado, proveniente das atividades humanas.

Como se percebe, o lixo é gerado em todos os lugares. E se a este for dado um destino final inadequado?

O lixo que é retirado pelos caminhões coletores da porta de nossas casas vai para algum lugar. Muitas vezes esse lugar é impróprio, isto é, o lixo é jogado numa porção de terreno, sem nenhuma preparação para evitar os danos que ele pode causar. Esses locais chamam-se depósitos clandestinos de lixo ou lixões.

Mas há também lugares onde o lixo recebe algum tipo de tratamento, seja ele incinerado ou alocado em aterros, com normas de controle.

E afinal, qual o destino para aquele saco de lixo?

Depósitos Clandestinos

São aqueles locais onde um determinado cidadão ou empresa começa a descartar seu lixo. Em poucos dias o monturo vai-se avolumando e muitos começam a jogar seus dejetos lá. Esses depósitos representam uma grave ameaça à saúde pública, devem ser combatidos e denunciados.

Imagem: Unsplash

Se você tem conhecimento de algum depósito clandestino de lixo, denuncie-o ao órgão responsável pelo controle ambiental em seu estado ou município.

Lixões

Os lixões também são depósitos de resíduos a céu aberto, sem qualquer planejamento ou medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. No local também não há nenhum controle ou monitoramento dos resíduos depositados.

Como não há impermeabilização ou qualquer sistema de tratamento de efluentes líquidos, o chorume (líquido de cor negra característico de matéria orgânica em decomposição) penetra pela terra levando substâncias contaminantes para o solo e para os lençóis freáticos.

Lixão da Estrutural. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Além disso, atrai vetores de doenças, como germes patológicos, moscas, mosquitos, baratas e ratos. Entre as doenças que são geradas pelo acúmulo de lixo, temos: dengue, febre amarela, febre tifoide, cólera, disenteria, leptospirose, malária, esquistossomose, giardíase, peste bubônica, tétano e hepatite A.

O lixão traz ainda mais um problema: atrai a população mais carente e desempregada, que está ali para coletar matérias-primas a fim de sobreviver.

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305/2010, previa para agosto de 2014 o fim dos lixões, mas com a sanção do novo marco do saneamento básico os prazos foram atualizados, definindo que capitais e regiões metropolitanas têm até 2 de agosto de 2021 para acabar com os lixões, enquanto cidades com mais de 100 mil habitantes têm até agosto de 2022 como prazo final. Os municípios que têm entre 50 e 100 mil habitantes terão até 2023 para eliminar o problema e as cidades com menos de 50 mil habitantes até 2024.

Incineradores

Incineradores são grandes fornos, com temperaturas que vão de 900° e pode chegar a 1250°C, onde o lixo sofre uma queima controlada por filtros, com a finalidade de evitar que os gases formados na combustão dos materiais atinjam e poluam a atmosfera.

Imagem: Freepik

O tempo de residência em que o material será incinerado, é controlado para permitir a quebra orgânica do resíduo, de modo a reduzir o volume e diminuir o risco de toxicidade do material. Assim, o volume do lixo é reduzido em até 85%, mas ainda assim há uma sobra de cinzas e dejetos (os outros 15%), que precisam necessariamente ser levados para um aterro sanitário.

Os incineradores têm alto custo de implantação, manutenção e operação e existe muita polêmica sobre a segurança dos sistemas de filtragem, pois há evidências de que mesmo pequenas falhas podem liberar gases altamente tóxicos, causadores de câncer. Os incineradores são, entretanto, a forma mais indicada de tratamento para alguns tipos de lixo, como os resíduos hospitalares e resíduos tóxicos industriais.

Aterros Controlados

O aterro controlado é uma solução intermediária entre o lixão e o aterro sanitário, e consiste em uma tentativa de transformar os lixões em aterros, minimizando os impactos ambientais associados ao acúmulo de lixo em áreas sem nenhum tipo de tratamento para efluentes líquidos e preparação do solo.

No entanto, os aterros controlados não recebem impermeabilização do solo nem sistema de dispersão de gases e de tratamento do chorume gerado. Apenas recebem uma cobertura de argila, terra e grama, que ameniza o cheiro do lixo e a consequente proliferação de insetos e animais que buscam alimentos nos lixões.

Aterros Sanitários

Aterros sanitários são a realidade que o Brasil busca ter desde a publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e, ainda a melhor solução para o lixo que não pode ser reaproveitado ou reciclado.

Trata-se de áreas de terreno preparados para receber o lixo, impermeabilização do solo feita em camadas e com sistema de drenagem para o chorume (líquido preto e tóxico que resulta da decomposição do lixo), que é levado para tratamento, sendo depois devolvido ao meio ambiente sem risco de contaminação, além de captação dos gases liberados, como metano, seguida da sua queima.

As construções desses aterros são pautadas em normas e critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que permitem a confinação segura do lixo, em termos de controle da poluição ambiental e proteção do solo, do lençol freático, das águas superficiais e da atmosfera.

Vista geral do Aterro Sanitário da Caximba em Curitiba. Foto: Guilherme Grandi

Todos os municípios deveriam ter um aterro para deposição do seu lixo. Dependendo do volume de lixo gerado, existem aterros que podem ser implantados sem a necessidade de um grande dispêndio de recursos, sendo acessíveis a qualquer Orçamento Municipal.

Pressione o prefeito e os vereadores de sua cidade a implantarem um aterro sanitário o mais rápido possível, para armazenamento do lixo. Não aceite desculpas, como falta de recursos: o aterro sanitário é tão necessário à manutenção da saúde em seu município quanto as demais atividades do governo municipal.

A eliminação e possível reaproveitamento do lixo são um desafio ainda a ser vencido pelas sociedades modernas. Qualquer iniciativa neste sentido deverá absorver, praticar e divulgar os conceitos complementares de redução, reutilização e reciclagem.

Coleta Seletiva

Imagem: Freepik

É um processo que consiste na separação e recolhimento dos resíduos descartados por empresas e pessoas. Desta forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico (restos de carne, frutas, verduras e outros alimentos). Este último tipo de lixo é descartado em aterros sanitários ou usado para a fabricação de adubos orgânicos.

No sistema de coleta seletiva, os materiais recicláveis são separados em: papéis, plásticos, metais e vidros. Existem indústrias que reutilizam estes materiais para a fabricação de matéria-prima ou até mesmo de outros produtos.

Pilhas e baterias também são separadas, pois quando descartadas no meio ambiente provocam contaminação do solo. Embora não possam ser reutilizados, estes materiais ganham um destino apropriado para não gerarem a poluição do meio ambiente.

O lixo hospitalar também merece um tratamento especial, pois costuma estar infectado com grande quantidade de vírus e bactérias. Desta forma, é retirado dos hospitais de forma específica (com procedimentos seguros) e levado para a incineração em locais especiais.

A coleta seletiva de lixo é de extrema importância para a sociedade. Além de gerar renda para milhões de pessoas e economia para as empresa, também significa uma grande vantagem para o meio ambiente uma vez que diminui a poluição dos solos e rios. Ela também contribui significativamente para a vida útil do aterro sanitário, uma vez que a quantidade de resíduos que será descartado para o aterro é menor. Este tipo de coleta é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável do planeta.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Lixões, aterros sanitários e incineradores. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/lixoes-aterros-sanitarios-incineradores.html>.

Você sabe qual é a Taxa de Reciclagem de alguns resíduos que produzimos?

Por ano, são gerados no Brasil quase 80 milhões de toneladas de lixo. Deste total, 92% são coletados, mas isso não garante que todo esse material receba a destinação ambientalmente adequada, pois parte desses resíduos ainda é enviada para os lixões, impactando diretamente no meio ambiente e na saúde da população.

Dos resíduos gerados, apenas 3% são destinados à reciclagem no Brasil. O número está bem abaixo da média mundial, de 9%. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos sólidos acabaram descartados no meio ambiente em 2020.

Somente de plásticos são 6 milhões de toneladas. Papel ou papelão representam 4,7 milhões. Vidro (1 milhão) e alumínio (185 mil) também aparecem entre os principais materiais não reaproveitados.

A reciclagem é um dos gargalos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/2010), que completou 11 anos. Com isso, o Brasil perde R$ 14 bilhões todos os anos com o descarte incorreto do lixo reciclável e uma oportunidade gigantesca de criar novos empregos – força de trabalho adicional que seria necessária para coletar, separar e recuperar a fração de recicláveis em todo o país.

O aumento de volume de material reciclado abriria a possibilidade de novos mercados, novos serviços e produtos. Ao fomentar a reciclagem, se reduz a demanda de matérias-primas nas indústrias, diminui o impacto ambiental de aterros e lixões e atenua a pressão pela abertura de novas áreas para este fim.

Plástico

O volume de plástico reciclado pós-consumo produzido no Brasil em 2019 foi de 838 mil toneladas, indicando um índice de reciclagem de 24%, segundo estudo comandado pela MaxiQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade.

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Dos diversos tipos de plásticos produzidos no Brasil, o PET é o que apresenta o maior índice de reciclagem, chegando a 51% do total produzido. No entanto, o volume de plástico produzido no Brasil é muito expressivo para o baixo índice de reciclagem deste produto: 13,5% do total de resíduos produzidos anualmente no país são de plásticos, o equivalente a 10,5 milhões de toneladas.

Vidro

Durável, inerte e podendo ser reciclado infinitas vezes, sem perder suas características e qualidades. Assim, permite-se poupar matérias-primas naturais, como areia, barrilha, calcário etc. Ao ser reciclado ele gera 90% de economia energética em relação à produção de vidro novo.

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No entanto, menos de 50% das embalagens de vidro são recicladas no Brasil. O baixo custo de produção a partir da matéria-prima e o baixo valor agregado deste produto para os catadores e cooperativas de reciclagem, tornam o vidro um material com pouco investimento que incentivam sua reciclagem.

Papel

Segundo o Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), o índice de recuperação de papel atinge 66,9% do total de papel consumido no país passível de reciclagem, o que faz do Brasil um dos maiores recicladores de papel do mundo.

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A reciclagem envolve uma cadeia que começa na separação, passando pela coleta, triagem e preparação do material recolhido que, em seguida, é encaminhado à indústria para que seja transformado em nova matéria-prima. Na reciclagem, há redução no consumo de energia, do uso de água e na emissão de poluentes quando comparado com o papel virgem.

Embalagens Longa Vida

A embalagem longa-vida, também chamada de cartonada ou multicamadas, é composta de camadas de papel, polietileno de baixa densidade e alumínio. Seu percentual de reciclagem, em 2020, foi de 42,7%.

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Em média, mais de 70% do material das embalagens é proveninentes de fontes renováveis, que podem ser recicladas várias vezes. Quando reaproveitados e combinada a outros polímeros podem dar origem a novos produtos como telhas ecológicas, bancos de jardim, canetas, porta-chaves, etc.

Latas de Alumínio

A cadeia de reaproveitamento de latas de alumínio no país é referência mundial. No último ano, o Brasil reciclou 31,16 bilhões de latas de alumínio que entraram no mercado, o que representa 97,4% das latinhas, segundo a Associação Brasileira do Alumínio e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).

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O número é resultado de uma série de fatores como mercado de reciclagem já estabelecido em todas as regiões do país; facilidade na coleta, transporte e venda e; o alto valor da sucata de alumínio, que gera renda para milhares de famílias de catadores envolvidos.

Latas de Aço

Cerca de 47% do total das latas de aço consumidas no Brasil são recicladas. Isso representa quase 200 mil toneladas de latas de aço pós consumo retornando para o processo de fabricação de novo aço.

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No índice geral de 47% incluem-se latas de alimentos como ervilha, milho, achocolatados, leite em pó e sardinha, tintas, massa corrida e outros produtos. Na Europa, países como Alemanha e Bélgica reciclam mais de 90% de todas as latas de aço.

Com informações: CEMPRE

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SOUZA, L. B. Leonardo. Você sabe qual é a Taxa de Reciclagem de alguns resíduos que produzimos?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/taxa-reciclagem-residuos.html>.

Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Tão importantes quanto invisibilizados, essa é a realidade dos catadores e catadoras de materiais recicláveis. Por mais contraditório que essa informação possa soar, ela reflete exatamente o que ainda acontece com esses profissionais tão essenciais ao meio ambiente e à economia.

Somente em 2020 foram geradas, no Brasil, 79,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (composto por lixo doméstico e resíduos de limpeza urbana). O que significa que cada um de nós gerou, em média, 379 quilos de RSU (resíduos sólidos urbanos) em 2020. Esses são alguns dados apresentados no Panorama dos Resíduos Sólidos 2020 da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

Reprodução: Wikimedia Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

De acordo com o Anuário da Reciclagem 2020 da ANCAT (Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis), as 1.829 organizações de catadores e catadoras mapeadas no país foram responsáveis pela coleta e recuperação de aproximadamente 354,7 mil toneladas de materiais recicláveis.

Os mais de 800 mil catadores e catadoras [1] de materiais recicláveis são agentes essenciais à nossa sociedade, pois são responsáveis por grande parte do que é reciclado no país, conforme informações do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis). E vale ressaltar o protagonismo feminino na área, onde 70% da categoria é formada por mulheres. Entretanto, segundo pesquisa realizada pelo IPEA, com base nos dados do Censo 2010, constatou-se a existência de aproximadamente 388 mil catadores de materiais recicláveis em todo o território brasileiro.

Imagem: Freepik

Por isso, no Dia do Reciclador e da Reciclagem do Lixo, precisamos enfatizar a relevância desses profissionais cruciais para o funcionamento da  PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) [2] e da reciclagem [3], além de, também, destacar as várias dificuldades diárias enfrentadas na coleta dos materiais recicláveis – invisibilidade socioeconômica, insalubridade da atividade, desvalorização, discriminação e desrespeito.

Invisibilidade Socioeconômica

A invisibilidade socioeconômica caminha lado a lado com a discriminação e o desrespeito. A maioria dos catadores e catadoras exerce suas atividades na informalidade, principalmente os que trabalham de forma individual.  E estar na informalidade significa fragilidade, pois sem registro formal não há nenhuma garantia ou proteção trabalhista.

Imagine um catador de materiais recicláveis em situação informal, se esse mesmo catador por alguma razão ficar doente, ele não terá como comprar seus remédios e nem se manter financeiramente neste período. E isso, em muitos casos, significa que ele nem ao menos terá como se alimentar, já que sua renda depende exclusivamente do que consegue coletar diariamente.

Imagem: Freepik

Insalubridade da Atividade

Você já se perguntou quanto material reciclável os catadores e catadoras coletam diariamente? Você já teve a curiosidade de saber quanto peso eles transportam por dia? Pois eles podem carregar até 400 quilos em suas carroças (lembrando que a maioria das carroças tem tração humana).

Agora junto a isso, trabalhar de sol a sol, enfrentando chuva, altas ou baixas temperaturas, sem equipamentos de proteção (EPI), estando vulneráveis à contaminação por materiais biológicos e vetores de doenças. E no final ainda ser explorado, já que, a maioria dos catadores e catadoras de materiais recicláveis vende o que coletam por preços muito baixos para atravessadores. Complicado, não é mesmo?!

Desvalorização

O elo da cadeia produtiva, elementos vitais para a logística reversa, mas também a parte mais frágil desse sistema. Os catadores e catadoras de materiais recicláveis são os que na verdade realizam grande parte do retorno de embalagens à cadeia produtiva.

Sabe aquele produto feito de garrafas PETs recicladas que você comprou? Pois se não fosse o trabalho dos catadores e catadoras, dificilmente, esse produto estaria em suas mãos. Em cidades de até 100 mil habitantes, os catadores são responsáveis por 60,1% do volume total de recicláveis, de acordo com o estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

Discriminação e Desrespeito

Quantas vezes você já viu carros impacientes buzinando para catadores com suas carroças repletas de materiais recicláveis (que aos olhos de muitos continua sendo apenas lixo)? Essa cena é bem comum em grandes centros urbanos – locais de grande geração de RSU – e em alguns casos as agressões passam de verbais e gestuais às vias de fato. Isso sem contar o grande risco de serem atropelados.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

E o que podemos fazer? Empatia e respeito! Esse é o mínimo que podemos oferecer a esses profissionais. Reconhecer a importância da atividade de coleta de materiais recicláveis é despertar a consciência enquanto consumidores para questões ambientais, econômicas e sociais.

Pensem em quanto conhecimento e experiência catadores e catadores de recicláveis acumulam trabalhando diariamente. Eles são agentes ambientais que ajudam a reduzir a quantidade de resíduos em aterros. Eles são os que fecham o ciclo da logística reversa, encaminhando embalagens e produtos de volta ao ciclo de produção. Eles movimentam a economia e contribuem para que menos recursos naturais sejam explorados.

[1] Há diversas estimativas de que os catadores variam entre 300 mil a 1 milhão de pessoas sobrevivendo da coleta de materiais recicláveis, segundo levantamento do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) e Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia – GERI,  2006. Disponível em: <https://www.mncr.org.br/sobre-o-mncr/duvidas-frequentes/quantos-catadores-existem-em-atividade-no-brasil>.

[2] Além de esclarecer o que seria a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, a PNRS determina o que seria o gerenciamento de resíduos e o processo de reciclagem.

[3] “Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa.” Lei 12.305/2010 que instituiu a PNRS. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>.

Gostou do nosso conteúdo e quer utilizar parte deste artigo? Não esqueça de nos citar!
Saiba como colocá-lo nas referências:

ABREU, Nathália. Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/sem-catadores-de-materiais-reciclaveis-nao-ha-reciclagem.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

ABRELPE. PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS 2020Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Disponível em: <https://abrelpe.org.br/panorama-2020/>.

ABREU, Nathália. Eles fazem a reciclagem acontecer! Conheça a importância dos Catadores de Materiais Recicláveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2019/11/eles-fazem-a-reciclagem-acontecer-conheca-a-importancia-dos-catadores-de-materiais-reciclaveis.html>.

MORI, Letícia. ‘Acham que a gente é lixo’: a rede invisível de catadores que processa tudo o que é reciclado em SP. BBC Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40664406>.

A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26

A COP26 terminou e o Brasil deixou uma marca positiva no evento. Sim, temos motivo de orgulho. A participação de vários grupos da sociedade chamou a atenção de quem estava em Glasgow. Vozes indígenas e quilombolas foram ouvidas pelo velho continente que um dia as silenciou. Elas estiveram lá para avisar que só é possível pensar um modelo de desenvolvimento sustentável, se as vivências daqueles que historicamente têm resistido forem ouvidas.

A preocupação com o aumento da temperatura da Terra é urgente para todos, mas há outros problemas decorrentes do avanço de complexos industriais que impactam comunidades locais há décadas e que ainda precisam ser levados a sério. Os planos de descarbonizar precisam incluir as mais diversas comunidades que vivem dos ambientes naturais, porque elas têm necessidades diversas. Termos como “racismo ambiental” estão sendo utilizados para explicar o processo de destruição dos povos tradicionais e quilombolas através do avanço capitalista ao longo das décadas.

Xamã da tribo Pataxó. Imagem: Freepik

A sociedade em que vivemos foi construída tendo o racismo como sistema de dominação. Consequentemente, tudo que decorre dela também é racista. Essa é a premissa do “racismo estrutural” bem definido em livro de mesmo título do Professor Silvio Almeida. Sabendo-se disso, coletivos negros e indígenas do Brasil se uniram a outros movimentos no mundo para colocar a pauta contra o racismo na mais importante mesa de tomada de decisão sobre o futuro do planeta.

A Coalizão Negra por Direitos (reunião de entidades do movimento negro de todo o país para a incidência política no Congresso Nacional e em fóruns internacionais) junto à CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e à UNEafro estiveram em diversas cidades da Europa falando sobre a urgência de se titular as terras quilombolas se quisermos atingir a meta de desmatamento zero. Quilombos e terras indígenas protegem o espaço natural e salvam as florestas, pois a relação é de simbiose e respeito.

Quilombolas da comunidade Lagoa Santa, no município de Ituberá (BA). Foto: Programa de Aceleração do Crescimento/ Flickr

As populações das águas, por exemplo, retiram dos mangues, dos rios e do mar não apenas o seu sustento, mas também o seu viver. Se as águas são poluídas pelo lixo químico lançado nelas, aquela população não perde apenas seu ganha-pão, perde a saúde e, consequentemente, a vida. Para a Coalizão,

“A crise climática também é crise humanitária. Continuar negando as estruturas do racismo é negar aos povos e às gerações humanas o direito de Bem Viver e as diversas formas de vida no Planeta Terra” [1].

Imagem: Árvore e Água/ @arvoreagua

Já são mais de 200 anos de apagamento de vários povos que são colocados dentro da categoria “outros”. Enquanto as decisões partirem apenas entre aqueles que estão na categoria “nós”, não teremos esperança de dias melhores. É preciso mudar as estruturas da sociedade para que consigamos salvar o Planeta. É urgente a luta contra o racismo ambiental. Essa foi a bandeira levantada durante as últimas semanas pela sociedade civil brasileira na Europa. Por isso, meu motivo de orgulho.

Referências e Sugestões de Leitura:

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OLIVEIRA, Tassi. A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-forca-da-sociedade-civil-o-balanco-positivo-da-cop-26.html>.

A devastação da Caatinga e a intensificação da seca nos estados do Nordeste

Foto: José Nilton Rodrigues dos Santos/Wikimedia Commons

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, localizado na região nordeste do país e possui cerca de 800.000 Km² de extensão. Ela se caracteriza por possuir períodos de chuvas que se concentram em poucos meses, seguidos por períodos prolongados de estiagem. Isso faz com que esse bioma apresente um clima tipicamente quente e seco na maior parte do ano, sendo caracterizado como um clima semiárido.

O que agrava mais ainda a situação da água no domínio territorial da Caatinga são os solos rasos e pedregosos que não permitem acúmulo de grandes volumes de água da chuva. Além disso, muitos dos corpos hídricos, como riachos e lagoas, não são perenes. Esse fato reflete diretamente nas espécies de plantas que habitam este bioma, que geralmente apresentam folhas, flores, frutos e sementes durante o período de chuva, e perdem todas as folhas durante o período de estiagem, daí surge o nome do bioma, do tupi: Ka’a tinga, que significa mata branca.

Imagem: Arturalveees/Wikimedia Commons

De acordo com o Instituto Chico Mendes para Conservação, o bioma Caatinga não era considerado uma região prioritária para conservação, o que fez com que ele se tornasse o segundo mais degradado dentre os biomas brasileiros, com uma perda estimada em 42,3% de sua cobertura vegetal. Porém, com a redescoberta da Caatinga, por meio de inventariação ambiental, atentou-se para a importância e riqueza de espécies presentes no bioma, que apresentam grande potencial biotecnológico e farmacológico.

Um dos fatores que torna a Caatinga tão vulnerável é o fato de que o bioma apresenta períodos pontuais de produtividade, que é justamente o período de chuva. Quando o período de seca se inicia, os componentes vegetais entram em um período de dormência, fazendo com que a produtividade do ambiente caia drasticamente.

Açude da Nação. Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável

Essa problemática reflete diretamente na dificuldade em executar projetos de recuperação de áreas degradadas na Caatinga – que já apresenta diversos pontos de desertificação – e, consequentemente, amenizar os problemas cumulativos que pioraram o quadro da seca nos estados do Nordeste.

A seca nessa região é um problema datado desde a colonização do Brasil, desde então, implementou-se diversas técnicas para mitigar essa problemática, como construção de barragens, cisternas para armazenar água da chuva, tecnologias como o bioágua, poços e equipamentos para dessalinização.

Foto: Otávio Nogueira/ Flickr

Ainda assim, essas estratégias precisam ser repensadas e reinventadas, uma vez que, devido à degradação ambiental, estes problemas vêm aumentando de forma significativa. Um exemplo disto foi a seca intensa que ocorreu no ano de 2012 e se estendeu para os anos seguintes. Na ocasião, diversas famílias que dependem da agricultura familiar, grandes produtores e criadores de gado tiveram suas produções severamente prejudicadas.

Esse acontecimento tão recente serve de lembrete para que ocorram investimentos em educação ambiental, pesquisa e elaboração projetos de recuperação de áreas degradas, principalmente no que diz respeito a matas ciliares de riachos e lagoas, proteção de nascentes, além da implementação de tecnologias para reuso e armazenagem de água.

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MIRANDA, Paulo Henrique. A devastação da Caatinga e a intensificação da seca nos estados do Nordeste. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-devastacao-da-caatinga-e-a-intensificacao-da-seca-nos-estados-do-nordeste.html>.

Entre o Consenso Possível e as Necessidades Urgentes, o Pequeno Avanço da COP 26

No dia 13.11.2021, a COP 26 (Conferência das Partes – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) foi encerrada na cidade de Glasgow com aprovação de um Relatório Final por quase 200 países-membros, incluindo o Brasil.

Como é comum nesses encontros, o Acordo sobre o clima avançou em alguns pontos, mas, por outro lado, acabou se revelando mais tímido. Por exemplo, o trecho em que se incluía “a eliminação progressiva do uso sem restrições” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”, no final foi alterado para “redução” por pressão de países como Índia e China. Tais questões, aliás, foram levantadas após o término da COP 26 pelo atual Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, Antônio Guterres:

“As promessas soam ocas quando a indústria dos combustíveis fósseis ainda recebe bilhões de subsídios, como foi aferido pelo FMI. Ou quando ainda há países construindo centrais de carvão; ou onde o carbono permanece sem preço, distorcendo mercados e as decisões dos investidores. Cada país, cada cidade, cada empresa, cada instituição financeira deve reduzir radicalmente, de forma crível e verificável, as emissões e descarbonizar o patrimônio a partir de agora [1]“.

Secretário-geral da ONU, António Guterres, faz discursos para delegações na COP26. Foto: UNRIC/ Miranda Alexander-Webber

Nessa mesma linha, a jovem ativista climática, Greta Thunberg, declarou em sua conta pessoal do Twitter que os resultados da COP 26 não passavam de “blábláblá” [2], ou seja, de discursos vazios e promessas pouco avançadas diante da iminência dos problemas climáticos atuais.

“As pessoas no poder continuam a viver em sua bolha cheia de fantasias, como o crescimento eterno em um planeta finito e soluções tecnológicas que aparecerão de repente do nada e apagarão todas essas crises em um piscar de olhos [3].” Greta Thunberg

A jovem ativista climática Greta Thunberg. Imagem: Wikimedia Commons

As ponderações de jovens engajados pelo clima não são novas. Em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, a também jovem, à época, Severn Suzuki foi considerada a menina que calou o mundo pelas declarações feitas no evento: “os governantes deveriam se preocupar ainda mais com o legado ambiental para as futuras gerações” [4].

Apesar das importantes ponderações em tom crítico, a COP 26 também teve motivos para celebração daqueles que estão preocupados com os efeitos das mudanças climáticas. Dentre estes, o mais destacado é a regulamentação de pontos bases para o mercado de carbono global. Nesse tema, Carolina Prolo enumerou os pontos sobre mercado de carbono na COP 26, dentre os quais vale ressaltar:

  • “MDL: créditos de MDL de projetos registrados em ou a partir de 2013 poderão ser utilizados apenas para cumprimento de NDCs até o ano de 2030 e não sofrem ajustes correspondentes. Serão identificados como pré-2021″.
  • “Mercado voluntário: o mecanismo do artigo 6.4 pode gerar créditos que não necessariamente sejam usados por outro país para cumprimento de sua NDC, mas para outros propósitos internacionais e domésticos. Quando usados para outros propósitos de mitigação internacional, o país hospedeiro precisa emitir uma autorização expressa e para isso se aplica ajustes correspondentes”.
  • “Repartição de lucros para Adaptação: incide 5% sobre as transações do mecanismo do artigo 6.4, destinados para o Fundo de Adaptação. Não há a mesma exigência para as transações do artigo 6.2, mas é fortemente encorajado que também se faça contribuições para o Fundo de Adaptação nesses casos.” [5]

O primeiro-ministro Boris Johnson fala com ministros envolvidos nas negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em Glasgow. Foto: Simon Dawson / No 10 Downing Street

Entre avanços e oportunidades não aproveitadas, por conta do acordo possível, considera-se, aqui, que o resultado da COP 26 foi minimamente positivo com avanços sobre os desdobramentos do Acordo de Paris, em especial na regulamentação sobre mercado de carbono. Cabe agora aos Estados, como o Brasil, incluir de vez a agenda ambiental e climática como norteadora das políticas públicas, afim de transpor os compromissos internacionais para o campo interno, tanto das legislações como das ações práticas na proteção ao meio ambiente.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] BIZARRO, Teresa. Euro News. Guterres critica “promessas ocas”. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/11/11/guterres-critica-promessas-ocas

[2] THUNBERG, Greta. Twitter. Disponível em: https://twitter.com/GretaThunberg

[3] G1. Greta Thunberg e COP26: as duras críticas da jovem ativista à cúpula sobre mudanças climáticas. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-26/noticia/2021/11/06/greta-thunberg-e-cop26-as-duras-criticas-da-jovem-ativista-a-cupula-sobre-mudancas-climaticas.ghtml

[4] G1. Menina que ‘calou o mundo’ na Rio 92 volta como ativista para a Rio+20. Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/menina-que-calou-o-mundo-na-rio-92-volta-como-ativista-para-rio20.html

[5] PROLO, Caroline Dihl. Linkedin. Resumão sobre os principais pontos do Artigo 6 do Acordo de Paris regulamentados na COP26. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/resum%25C3%25A3o-sobre-os-principais-pontos-do-artigo-6-acordo-dihl-prolo/?trackingId=yUwHdX67Rlyp8pK2oQAUhA%3D%3D

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PIRES, Felipe. Entre o Consenso Possível e as Necessidades Urgentes, o Pequeno Avanço da COP 26. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/entre-o-consenso-possivel-e-as-necessidades-urgentes-o-pequeno-avanco-da-cop-26.html>.

Dicas para Começar uma Alimentação Saudável e Sustentável

Estabelecer uma rotina alimentar pautada em saúde e responsabilidade ambiental tem sido a busca diária de muitos. Em contrapartida, vivemos cada vez mais o cenário de insegurança alimentar.

O país tem apresentado índices elevadíssimos de fome e escassez. Para compreender tal cenário de escassez e mesmo de miséria que acomete muitas famílias, basta observar o entorno. Com a pandemia, a perda de empregos, o baixo ou nulo interesse governamental em reverter a situação de dificuldades de muitos brasileiros em manter o básico de uma alimentação, praticar uma alimentação sustentável e saudável fica ainda mais delicado e para muitos parece até impossível.

Fonte: Print de reportagem vinculada pelo portal G1 em 05/10/2021.

Quando pensamos em praticar sustentabilidade e experimentar saúde através da alimentação, é preciso ter em mente que isso só se torna realidade de fato quando todos podem ter a mesma possibilidade. Do contrário, sempre manteremos o desequilíbrio e a mesma visão limitada e dual de que alguns merecem e outros não. Essa ideia de “ter direito” à saúde e sustentabilidade não pode ser aplicada com um senso de propriedade. A aplicação prática e eficaz disso precisa nascer a partir de um “senso de humanidade”.  Pode parecer um discurso bem utópico, mas, habitamos a mesma “casa planeta” e o que acomete a um, de alguma forma, chegará ao outro.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 propõe acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Até 2030 a meta se estabelece em acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a uma alimentação segura. Notamos que o tempo corre e está curto. Na verdade, estamos bem atrasados!  Para além de metas, precisamos de práticas e mudanças urgentes em hábitos e sistemas de produção. Precisamos de políticas públicas de fato interessadas e nutridoras. É preciso ainda uma mudança de consciência. Cada um é o todo e o todo depende da ação de cada um.

Imagem: A Economia B

Uma forma de caminhar por esse terreno da alimentação sustentável e saudável, com consciência e responsabilidade, maximizando o olhar para o todo consiste em começar na cozinha de casa, tendo a mesma como uma central de apoio. Sim! Sua cozinha se torna uma central de apoio quando os serviços que você usa e os alimentos que adquire cooperam com outras comunidades e famílias. O uso inteligente dos recursos como água e luz também entram para a conta. O compartilhar de alimentos, o senso de usar o necessário também viabiliza transformação e mudança de cenário.

Dicas práticas para a jornada de cooperação através de uma alimentação sustentável e saudável:

  1. Opte por comprar de famílias produtoras locais. Muitas cultivam orgânicos mesmo nas grandes capitais. Pesquise, busque, empodere.

    Imagem: Freepik
  2. Se for adquirir produtos industrializados, escolha empresas ambientalmente responsáveis. Entre nos sites, pesquise. Muitas até oferecem um telefone para retirada de dúvidas. Observe que tipo de ações as empresas escolhidas patrocinam e participam. Nós financiamos o cenário ambiental através do que compramos e consumimos. É preciso assumir essa co-criação.
  3. Use integralmente os alimentos! De talos a cascas e sementes.
  4. Evite desperdício! Tenha senso de medida apurado. Não deixe estragar alimentos, não compre demais e se isso ocorrer, doe. Quando desperdiçamos, vale aquela máxima da mãe e da avó “alguém não tem o que comer”. Parece clichê, mas é a dor e a vida de alguém.
  5. Não desperdice recursos como água e energia elétrica. Abra a geladeira de uma única vez, pegue seus alimentos. Apague as luzes quando não estiver no local e retire o que puder da tomada. Não adianta fazer feira orgânica se a água corre sem controle pela pia e a luz fica acesa sem que a cozinha esteja em uso. Toda a ideia de sustentabilidade “vai pelo ralo” assim.
  6. Use sacolas retornáveis para suas compras, mas preste atenção no conteúdo interno. Uma sacola bonita de pano com estampa de árvore e que contém muito plástico e alimentos de empresas nada responsáveis ambientalmente volta a ser como uma sacola plástica.

    Imagem: Freepik
  7. Compre a granel e aproveite seus potes de vidro. Esqueça os saquinhos oferecidos.
  8. Opte por uma alimentação que não cause danos, dor ou sofrimento a outras vidas. Não é segredo que o desmatamento cresce para cultivo de pastos e plantação de soja para nutrir os animais que vão para abate. Pesquise e assista documentários sobre como são feitos os abates e logo mudará a forma de ver a alimentação. Vale para a produção massiva de ovos e leite. Não há saúde. Só dor, sofrimento.
  9. Leve marmita, cozinhe e compartilhe alimentos. Essa prática, além de oferecer saúde e integração, oferece a possibilidade de praticar autonomia e organização. Se for almoçar em algum lugar, preste atenção em como esse local cuida de seus resíduos, trata seus colaboradores e se usa muitos descartáveis. Parece complicado e excessivo, mas de nada adiante a sacola sustentável, a feira orgânica, se você financia empresas que, por exemplo, descartam óleo de cozinha em algum bueiro.

    Imagem: Freepik
  10. Participe de grupos e comunidades que viabilizam alimentação para todos: se a comunidade possui um restaurante e você está próximo, vá conhecer. Vá em algum evento de doação de alimentos para ser voluntário e vá, não como máxima de caridade, mas para viver a realidade do outro e treinar empatia prática. Se não puder ir, coopere doando o que puder.

São inúmeras formas de fazer girar a saúde (que sabemos bem que não se refere apenas à ausência de doenças, mas também a como nos integramos a tudo e todos) e a sustentabilidade. Começar pelo prato, pela cozinha, pode ser o motivador de outras posturas. Que tal?

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AMORES, Valéria. Dicas para Começar uma Alimentação Saudável e Sustentável. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/dicas-para-comecar-uma-alimentacao-saudavel-e-sustentavel.html>.

Você sabe o que é o ODS 4? Entenda a importância da Educação para Sustentabilidade

Os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) são metas que foram propostas pela ONU (Organização das Nações Unidas) como pacto entre os líderes mundiais a serem desenvolvidas até 2030 com o intuito de proteger o meio ambiente e a humanidade.

São 17 temáticas abordadas nos objetivos a serem trabalhados e o ODS 4 refere-se à educação, alertando para a importância de assegurar educação inclusiva de qualidade ao longo da vida.

Imagem: Unsplash

Sendo assim, podemos compreender que a educação deve ser oferecida com qualidade, acessibilidade e de forma continuada ao longo da vida a todas as pessoas, independente de questões raciais, de classe social, gênero, sexualidade, idade ou de possuírem alguma deficiência.

Entendemos a educação como peça fundamental na busca por um mundo mais justo, assim como no empenho para reverter as mudanças climáticas e danos ambientais já causados, visando desenvolver uma vida mais sustentável.

Imagem: Freepik

Para tanto, as propostas do ODS 4 indicam a importância da igualdade de acesso aos estudos para meninas e meninos em todos os níveis escolares, inclusive em níveis profissionalizantes. Desta forma, as oportunidades profissionais poderiam ser mais igualitárias, ou seja, mais pessoas teriam mais conhecimentos para então, buscarem trabalhos de forma mais justa.

Cabe aqui ressaltar que não basta igualdade de conhecimentos para que as pessoas tenham oportunidades de forma justa. Além disso, é indispensável que se proporcione, no âmbito educacional, a valorização da diversidade cultural, a promoção dos direitos humanos, a igualdade racial e de gênero para uma sociedade mais justa e sustentável.

Segundo o ODS 4, a educação deve ser o instrumento para transmitir conhecimentos e, consequentemente, pode ser a porta para oportunidades profissionais. Mas, também, por meio dela devem ser propostas reflexões para o desenvolvimento de valores e mudanças práticas no dia a dia que contribuam efetivamente para melhorar os problemas ambientais e climáticos.

Imagem: Freepik

Considerando tamanha responsabilidade e importância da educação para o desenvolvimento de valores de sustentabilidade, o ODS 4 ainda apresenta a necessidade de garantir instalações físicas apropriadas e adaptadas para todas as crianças, jovens e adultos, de modo que os ambientes sejam seguros, inclusivos e eficazes.

Além das questões arquitetônicas, é indispensável considerar investimento e atenção na formação de professoras e professores em todos os países, para que as propostas educacionais possam efetivamente serem trabalhadas. O ODS 4 está proposto de forma coerente com as necessidades para melhorar e atualizar aspectos educacionais e, assim, promover oportunidades e valores para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

Cabe refletirmos como está o trabalho para o cumprimento destes objetivos, tendo em vista que as necessidades apontadas são emergenciais e básicas para a manutenção da qualidade de vida no planeta.

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MATTARA, Bianca. Você sabe o que é o ODS 4? – Entenda a importância da Educação para Sustentabilidade. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/voce-sabe-o-que-e-o-ods-4-entenda-a-importancia-da-educacao-para-sustentabilidade.html>.

A Intensificação das Chuvas e das Tragédias Pluviais

Temos assistido a eventos trágicos relacionados às chuvas intensas ao redor do mundo. A Alemanha e a China, por exemplo, foram arrasadas, recentemente, por temporais aterrorizantes que causaram mortes e destruição. No Brasil, as águas também acometem cidades, desabrigando famílias, comprometendo o transporte público e arrastando tudo o que vê pela frente.

Diante disso, argumentos como “a culpa é da natureza” têm se tornado recorrentes. Mas, será que a grande vilã é, de fato, a Mãe Natureza? Será que, ao bel-prazer, ela tem causado a intensificação das chuvas?

Neste artigo, abordaremos duas das principais causas — reais — de enchentes, inundações e alagamentos: o Aquecimento Global e os Sistemas de Drenagem Urbana.

Tubo de concreto de drenagem urbana em canteiro de obras. Imagem: Freepik

Aquecimento Global

Não é novidade para ninguém (exceto para os negacionistas) que o Planeta está esquentando. Fortes ondas de calor assolam países como Estados Unidos, Canadá e Itália, que registraram em 2021 temperaturas de 54,4 °C, 49,6 °C e 48,8 °C, respectivamente.

Tal elevação nos índices apontados se deve ao desmatamento e à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, que emitem gases que agravam o efeito estufa. Dessa forma, a dispersão dos raios solares se torna mais difícil, pois o calor fica “preso” na atmosfera, aumentando a temperatura da Terra.

Notícia do “El País”

Assim, os processos de evaporação da água retida no solo e de evapotranspiração das plantas se aceleram. Além disso, de acordo com a Termodinâmica, o ar mais quente retém e suporta mais vapor até saturar, condensar e se converter em chuva.

Em síntese, quanto mais quente estiver a atmosfera, maior será o volume de água necessário para “saciar sua sede”. Nesse caso, tempestades mais duradouras e impetuosas são causadas.

Publicado em agosto deste ano, o sexto relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), maior autoridade do mundo relacionada ao tema, demonstrou um aumento de 1,3 vezes na frequência das precipitações, indicando ainda, que elas são 6,7% mais fortes.

Portanto, estruturas capazes de manejar enormes quantidades de água se fazem cada dia mais necessárias. E é justamente essa a segunda principal causa dos problemas pluviométricos.

Sistemas de Drenagem Urbana

Durante muito tempo, o conceito de Drenagem Urbana se limitou a escoar as águas pluviais da forma mais rápida possível. O intuito era apenas deslocar esse volume de um ponto mais alto (montante) até um ponto mais baixo (jusante), onde seria despejado.

Consequentemente, hoje, ao atingir as regiões de baixada, essas porções escoadas encontram contribuições oriundas de outras áreas. Resultando, obviamente, em enchentes e inundações.

Fortes chuvas e ventos causam transtornos no centro do Rio de Janeiro. Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

Além desse sistema projetado exclusivamente para “se livrar” das águas da chuva, devido aos elevados índices de impermeabilização do solo — como calçadas concretadas e ruas asfaltadas —, tais volumes não infiltram na terra. Pelo contrário, correm rapidamente para ralos e bocas de lobo, transbordando os cursos d’água.

De tal modo, estruturas alternativas e mais sustentáveis têm se tornado cruciais. Projetos absolutamente viáveis já são idealizados, tendo como intuito não descartar, mas sim, captar, reter e destinar as águas pluviais de maneira inteligente e logo que atingem o solo, sem percorrer grandes distâncias.

Como exemplo, podemos citar:

Telhados Verdes: cobertura vegetal que promove a infiltração da água da chuva e reduz o escoamento superficial, responsável pelas enxurradas;

Telhados regulam a temperatura ambiente dos edifícios e absorvem água da chuva. Imagem: Divulgação/Prefeitura da Cidade do México / Reprodução: Época Negócios

Pavimentos Permeáveis: absorvem a água e abastecem os lençóis freáticos, eliminando a necessidade de caixas de captação e tubos de condução;

Bacias de Detenção e Retenção: “lagoas” que armazenam as águas pluviais por um tempo específico e liberam o volume lentamente, evitando que o sistema de drenagem convencional seja sobrecarregado;

Jardins de Chuva: espécie de canteiros instalados nas calçadas com cerca de 30 centímetros de profundidade, compostos por camadas de areia, brita e vegetação que retêm as águas da chuva e alimentam o lençol freático.

Jardim de chuva em Copacabana, bairro da Cidade do Rio de Janeiro. Imagem: Divulgação/Prefeitura

Todos os dispositivos necessitam de estudo prévio e dimensionamento adequado, que varia conforme a composição do solo, característica das bacias hidrográficas e índices pluviométricos locais.

Os sistemas sustentáveis devem ser integrados aos sistemas convencionais, poupando assim, milhões de reais gastos todos os anos com manutenção e transtornos gerados por enchentes. Além, é claro, de poupar vidas expostas à precariedade de um planejamento urbano falho e ultrapassado.

Por fim, sabemos que diminuindo drasticamente as emissões de carbono, o aquecimento global pode ser freado. Entretanto, para que isso ocorra, devemos zerar o desmatamento até 2050, mudar nossos hábitos relacionados a compras e à alimentação e investir pesado em educação ambiental. Não há mais tempo a perder!

Área desmatada no município de Sinop (MT). Imagem: Florian Plaucheur/AFP / Reprodução: El País

Precisamos estar atentos às campanhas de desinformação que visam apenas os interesses políticos e particulares de uma indústria Capitalista e gananciosa, empenhada em promover o consumo compulsório e lucrar; acima de tudo, acima de todos!

Referências e Sugestões de Leitura:

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DA SILVA, Pâmela. A Intensificação das Chuvas e das Tragédias Pluviais. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-intensificacao-das-chuvas-e-das-tragedias-pluviais.html>.

Fumaça acima de tudo e poeira acima de todos: Desmatamento e Mudanças Climáticas

Recentemente, entre os meses de setembro e outubro de 2021, parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil registrou fenômenos que chamaram a atenção da mídia e da população em geral: as tempestades de poeira, chamadas de Haboobs (do árabe “habb”, soprar), que transformaram dias em noites e trouxeram cenários avermelhados atípicos para a realidade brasileira. Ao mesmo tempo que tais eventos são interessantes e incomuns em nossas terras tropicais, podem ser interpretados como um sinal ou sintoma de um problema maior, que extrapola determinada condição microclimática.

O interior do estado de São Paulo, o oeste de Minas Gerais, o sul de Goiás e o estado do Mato Grosso do Sul (exceto o extremo sul) possuem condições climáticas parecidas: o clima é tropical, com chuvas abundantes entre boa parte da primavera e o começo do outono e estiagem muito bem definida entre maio e setembro. A falta de chuvas no inverno é climatológica, ou seja, é normal e até desejável, uma vez que, a vegetação da região, como conhecemos hoje, evoluiu sob estas condições e muitas espécies dependem de estresse hídrico para florescer, frutificar, produzir sementes e, consequentemente, sobreviver. Neste contexto, a partir de processos co-evolutivos, muitos animais dependem, mesmo que indiretamente, dessa dinâmica climática estacional.

Tempestade de poeira no Mato Grosso do Sul. Fonte: Olhar Digital

Segundo o IBGE, originalmente, a vegetação que predomina na região é o Cerrado e a Mata Atlântica semi-decidual ou Ombrófila Aberta. Em ambas as fitofisionomias [1], a presença de árvores e arbustos de portes variados, com sistema radicular robusto, contribui para manter o solo protegido das intempéries ambientais. Um solo mais descoberto e outro vegetado respondem de maneira diferente à mesma condição de tempo – um vendaval, por exemplo. Nessa perspectiva, as tempestades de poeira podem estar relacionadas com uma profunda alteração na cobertura do solo, processo que pode estar potencializado por recentes alterações nos padrões climáticos.

Observe nos mapas a seguir, retirados do Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA), do Governo Brasileiro, como a vegetação da região foi profundamente alterada para dar espaço às atividades agropecuárias. No segundo mapa, tons em cinza indicam ‘atividade agropecuária’ e, em roxo, ‘reflorestamento’:

Figura 1: Vegetação original da principal área de ocorrência das tempestades de poeira esse ano (2021). Fonte: Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA)

Figura 2: Vegetação atual da região, profundamente alterada para finalidades agropecuárias. Tons em cinza correspondem à atividade agropecuária. Fonte: Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA)

A combinação de meses de estiagem, incêndios florestais, vegetação muito seca e a passagem dos primeiros sistemas meteorológicos causadores de perturbações atmosféricas provocaram um intenso levantamento de terra, fumaça e poeira nos municípios onde as instabilidades chegaram com vendaval. O solo menos protegido pode ter potencializado os efeitos e causado as imagens típicas de climas desérticos que observamos na mídia e nas redes sociais.

É importante lembrar que a ocorrência de temporais isolados na segunda quinzena do mês de setembro e no começo de outubro é normal nessas regiões, é nessa época que o padrão seco do inverno começa a ser quebrado. Como se observa na figura 3, as cores entre o vermelho e o marrom (indicadoras de ausência de chuva) perdem força em setembro e, no mês de outubro, desaparecem. Portanto, as cenas atípicas observadas no começo desta primavera não podem ser creditadas somente às convecções tipicamente tropicais:

Figura 3: Avanço da chuva pelo Brasil central entre agosto e outubro. Quanto mais próximo do marrom e do vermelho, menos chuva. Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado alterações sensíveis nos regimes de precipitação e temperatura em algumas épocas do ano. Um período muito afetado tem sido a transição do inverno para a primavera, que tem apresentado ondas de calor históricas, com registros de temperaturas excepcionalmente elevadas em ampla área, sem precedentes na história climática do país. Esse aumento do calor, somado à irregularidade pluviométrica que tem predominado de forma geral desde meados da década de 2010, causou os recentes problemas hídricos e energéticos – e as tempestades de poeira podem ser interpretadas como um mero sintoma de tudo isso, a “ponta do iceberg”.

Diante de um monitoramento climático curto – nossas estações meteorológicas, salvo raras exceções, têm menos de 100 anos de dados, muitas funcionam há poucos anos ou poucas décadas, tempo demasiadamente curto para fazer afirmações conclusivas – é muito difícil saber se as anomalias dos últimos anos se configuram como tendências ou se são parte de uma variabilidade periódica das condições de clima. Outubro de 2021 trouxe uma excelente surpresa para a maior parte do Brasil: as chuvas voltaram de forma mais abrangente e volumosa que a média histórica e já conseguiu, inclusive, recuperar a umidade do solo, de forma que não há mais estiagem agrícola em quase nenhuma região:

Fonte: Agritempo

Prever se essa melhoria se configurará como uma reversão do atual quadro desfavorável é difícil. Entender qual a participação relativa das mudanças climáticas nesse processo tão complexo, que envolve desmatamento e alteração de paisagens naturais, é mais difícil ainda e fica a cargo dos especialistas na área. Mas os cidadãos brasileiros precisam se atentar para o que está ali, diante de seus olhos: fumaça, fuligem e poeira suspensas, em terras profundamente alteradas. Alguma coisa não está normal.

[1] Particularidade vegetal ou a flora típica de uma região.

Referências e Sugestões de Leitura:

  • BDiA (Banco de Dados de Informações Ambientais).
  • IBGE.
  • INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).

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PAIVA, Leonardo. Fumaça acima de tudo e poeira acima de todos: Desmatamento e
Mudanças Climáticas. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/fumaca-acima-de-tudo-e-poeira-acima-de-todos-desmatamento-e-mudancas-climaticas.html>.

Por que é urgente falar de COP 26?

É outono onde moro. Ontem, abri meu app “Tempo” e vi que a previsão para o próximo sábado era de neve. Dia 06 de novembro! Normalmente, começa a nevar no final do mês. Mas o que ainda há de “normal” quando se fala de clima, não é?

Estamos iniciando a COP 26 (Conferência das Partes – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) e os países estão reunidos por mais um ano para discutir o presente. Há quase 30 anos, quando os 196 países aderiram à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a preocupação era com o futuro. Hoje, sabe-se que é preciso não piorar o estado atual.

A pauta principal esse ano será avaliar o que já tem sido feito. Depois do grande avanço da reunião de 2015 (que levou ao Acordo de Paris), os países finalmente concordaram que é preciso manter o aquecimento global abaixo de 2ºC acima da média pré-industrial. O objetivo é chegar a no máximo +1,5ºC. Para isso, cada país tem que produzir um documento chamado “Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”. É isso que está sendo avaliado.

Imagem: Freepik

O Brasil elaborou e divulgou um documento que irá apresentar na reunião. Nomeado de “Programa Nacional de Crescimento Verde”, a ideia aparentemente é financiar projetos que tenham “alguma característica verde. Energias renováveis, agricultura de baixo carbono, ecoturismo, renovação florestal”, segundo o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite [1], que não explicou muito bem como isso seria feito. O nosso país não conseguiu atingir as metas estabelecidas em 2015. Aliás, em 2020 o Brasil aumentou a produção de carbono em cerca de 10% [2] segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

A boa notícia é que nossas universidades continuam produzindo boa ciência para trazer propostas concretas contra o aquecimento global. O “Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa”, sediado na USP, irá até Glasgow, na Escócia, para participar do International Technology Centres Summit & Research Study [3]. Esse é um dos vários eventos que acontecem paralelamente à COP 26. O grupo vai apresentar os caminhos que o Brasil tem para se tornar exemplo de país que reduziu a produção de gases de efeito estufa.

Imagem: Freepik

Como é possível observar, para além de um momento de reuniões e tomada de decisões entre as partes (países) aderentes da UNFCCC, várias organizações não governamentais e centros de pesquisa sempre compõem o cenário das COPs. É o momento que temos para congregar todos aqueles envolvidos no desafio da manutenção de um planeta habitável para os quase oito bilhões de habitantes e seus descendentes.

As esperanças estão renovadas desde que os EUA decidiram retomar o protagonismo no enfrentamento do problema. Veremos quais serão as decisões tomadas e suas consequências em breve. A verdade é que não há mais tempo para negociação.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] G1. Sem detalhar, governo anuncia comitê para incentivar ‘projetos verdes’ a uma semana da COP26. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/25/sem-detalhar-governo-cria-comite-para-promover-instrumentos-de-mercado-ambientais-e-incentivar-projetos-verdes.ghtml

[2] G1. COP26: Na contramão do mundo, Brasil teve aumento de emissões de CO2 em ano de pandemia. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-26/noticia/2021/10/28/cop26-na-contramao-do-mundo-brasil-teve-aumento-de-emissoes-de-co2-em-ano-de-pandemia.ghtml

[3] Jornal da USP. RCGI vai apresentar, na COP-26, o potencial brasileiro de reverter emissões de carbono. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/rcgi-vai-apresentar-na-cop-26-o-potencial-brasileiro-de-reverter-emissoes-de-carbono/

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OLIVEIRA, Tassi. Por que é urgente falar de COP 26?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/por-que-e-urgente-falar-de-cop-26.html>.

Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?

Nós, seres humanos, temos uma tendência a adiar problemas. Ainda mais quando é complexo e sem aparentes soluções acessíveis no curto prazo, como é o caso da emergência climática – aí é que deixamos em banho-maria. Nesse caso, porém, esse comportamento procrastinador pode resultar em nossa própria extinção enquanto espécie do planeta Terra.

Além de muitos acreditarem que temos tempo suficiente, que a previsão dos cientistas não irá se concretizar ou que “a tecnologia” dará um jeito aos 46 do segundo tempo, a ciência do clima não é a coisa mais fácil do mundo de se compreender. Isso acaba afastando e deslegitimando para muitos a gravidade do assunto.

Imagem: Chris LeBoutillier/ Unsplash

Mas a crise é urgente e parte do nosso trabalho enquanto educadores é encarar a missão de comunicar o desafio com a complexidade devida, porém de forma mais acessível, democrática e fundamentada em bases científicas sólidas. Graças a pessoas e instituições que há muitos anos estudam o assunto exaustivamente, temos hoje uma ciência climática extremamente robusta e qualificada.

Em agosto deste ano, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) divulgou um relatório que deu luz e validação ao que muito é debatido. Afirmou, por exemplo, ser certa a influência do ser humano no aquecimento do planeta e que a concentração de dióxido de carbono, um dos principais gases que contribuem para esse aquecimento, é a maior dos últimos 2 milhões de anos [1].

Não é mais uma questão de “daqui a 50 ou 100 anos”, o futuro é definitivamente agora e já estamos sofrendo os impactos do aquecimento do planeta. Cenas de filmes americanos que rondam nosso imaginário estampam agora as capas dos jornais: nuvens de poeira, metrôs submersos e pessoas fugindo de ilhas totalmente em chamas. Ainda que nem todos os meios de comunicação estabeleçam a conexão entre esses eventos e o aquecimento global, o IPCC deixa claro: eventos extremos podem ficar até 39 vezes mais frequentes com o aumento de 4°C do planeta e já são 4,8 vezes mais frequentes atualmente [2].

Imensa nuvem de poeira vermelha no interior de São Paulo em 26/9. Imagem: BBC Brasil

O mesmo relatório nos mostrou que algumas das consequências já são hoje irreversíveis, como o derretimento das geleiras, o aquecimento do oceano e o aumento do nível do mar. É provável que não exista mais gelo no Ártico em seu pico de verão pelo menos uma vez antes de 2050 [1].

O prazo para agirmos já foi calculado e estampa a fachada de um prédio em Nova York: 7 anos e 267 dias [3] (e decrescendo a cada minuto). Estudos podem variar em termos de quanto tempo temos para mudar nosso rumo e evitar uma catástrofe climática, mas uma coisa é certa, ele deve ser resolvido em uma geração e essa é a nossa.

Meios de comunicação como o renomado jornal The Guardian fazem hoje questão de abandonar a expressão “aquecimento global” para usar “crise climática”. Outros, incluindo o antropólogo Bruno Latour, utilizam a expressão “emergência climática” em seu lugar. O uso da língua se faz essencial neste momento, pois nos reforça o grau de urgência necessária para revertermos este cenário.

Grande parte do bioma Pantanal foi engolido por fogo em 2020. Imagem: Mayke Toscano/Secom-MT

Entretanto, expressões como “crise”, “colapso”, “emergência”, ou “catástrofes” precisam ser seguidas de “ação”, “compromisso”, “transição” e “conquistas”. A compreensão da urgência deve nos unir, e não nos afastar. Deve nos dar esperança e não impotência. Precisamos de ação e não de paralisia.

Problemas complexos exigem soluções complexas e desafios urgentes requerem medidas imediatas. Educação climática, regeneração dos ecossistemas, políticas públicas eficazes e a mudança de nossa forma de consumo e produção são exemplos de soluções concretas e viáveis, mas que serão apenas conquistadas colaborativamente.

Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 – COP 26

Com a reunião de grandes tomadores de decisão na Conferência do Clima agendada para a próxima semana, a pressão política pelo mesmo senso de urgência se faz necessária e possível. Convido vocês a acompanharem o que está em pauta no encontro, cobrarem seus representantes e inspirarem mais pessoas a também tomarem as rédeas na construção coletiva de nosso futuro melhor e possível.

Referências e Sugestões de Leitura:

  • [1] IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021
  • [2] Aumento da frequência e da intensidade de eventos que aconteciam em média uma vez a cada 50 anos em um clima sem influência humana. Fonte: IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021.
  • [3] Climate Clock.

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RIBEIRO, Livia. Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/por-que-precisamos-agir-hoje-no-enfrentamento-da-emergencia-climatica.html>.

Pequeno Guia para Compostagem Doméstica: saiba o que fazer com os resíduos orgânicos

O resíduo orgânico é um material de grande potencial e que pode virar energia, combustível e adubo da melhor qualidade. No Brasil, calcula-se que são produzidos em média 37 milhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano. Ainda mais assustador é saber que deste lixo, apenas 1% é reaproveitado.

Mas você sabia que pode compostar seus resíduos orgânicos em casa, diminuir o descarte de lixo nos aterros sanitários e ainda produzir terra para as suas plantas (e dos seus amigos) sem complicação. Interessante, certo?

São três as principais formas de compostagem doméstica:

  • Vermicompostagem
  • Compostagem Bokashi
  • Compostagem Seca

A compostagem doméstica é educativa e nos conecta com nossa alimentação, com o impacto que temos no mundo e com a natureza que está em todo lugar. Aqui você terá uma visão geral sobre estes três tipos para poder escolher qual o tipo que melhor se adapta ao seu ambiente e cotidiano.

Vermicompostagem

É a compostagem feita com o uso de minhocas (em especial as californianas), que ingerem os restos da cozinha e transformam em húmus de minhoca. O processo pode ser feito artesanalmente em caixas de plástico ou em compostores já específicos para este fim.

Como acontece

Primeiramente você precisa ter o equipamento adequado, as minhocas e material úmido e seco (em proporção entre 1:1 e 1:2). A pilha de composto é iniciada com material seco e intercalada com o úmido, que sempre deverá ser coberto para evitar que moscas e outras pragas sejam atraídas. Estas camadas devem repetir-se até que a primeira caixa esteja completa.

Existe aqui a última gaveta, reservada para a produção do chorume que, neste caso, é um biofertilizante super concentrado e sem cheiro, que pode ser diluído em água na proporção 1:10 e utilizado para a rega das plantas.

Imagem: Rastro Sustentabilidade

Pontos positivos

  • Funciona perfeitamente em apartamentos e locais sem acesso ao exterior;
  • Grande parte dos resíduos da cozinha é apropriada para esta compostagem;
  • As minhocas tornam o processo bastante rápido e eficiente;
  • O espaço ocupado pelo compostor pode ser adaptado à sua realidade;
  • Não atrai pragas e nem tem cheiro;
  • A população de minhoca se auto-regula e cresce ou não conforme o espaço disponível;
  • O chorume é mais um fertilizante resultante desta compostagem;
  • O contato com a terra é relaxante e diminui o estresse.

Pontos não tão positivos

  • Alguns alimentos não podem ser colocados no compostor (cítricos, carnes, alimentos cozidos, entre outros);
  • É preciso alguma atenção até se entender a relação entre alimento seco e úmido;
  • A temperatura precisa ser amena e o compostor deve estar abrigado do sol, da chuva e do frio.

Compostagem Bokashi

Apesar de pouco conhecida, a compostagem Bokashi tem ganhado espaço devido ao seu tamanho compacto e facilidade de utilização. Aqui utiliza-se o farelo de Bokashi: um farelo de cereais e açúcar (ou melado) que contém microorganismos capazes de fermentar os resíduos.

Como acontece

Nesta técnica tem-se duas etapas: a primeira é mais comprida e é onde há a fermentação anaeróbica (sem oxigênio) dos resíduos feita por microorganismos do farelo de Bokashi; a segunda é onde mistura-se o produto da fermentação juntamente com a terra e cria-se o adubo de fato. O seu tamanho mini e a pouca necessidade de manutenção são os grandes destaques deste tipo de compostagem.

Imagem: CicloVivo

Pontos positivos

  • A compostagem aceita uma grande variedade de resíduos, incluindo carnes, ossos, cítricos, etc.;
  • Não requer matéria seca na mistura;
  • Não tem cheiro;
  • O seu tamanho é inferior aos outros compostores e é bastante adequado aos meios urbanos.

Pontos não tão positivos

  • É necessário adquirir ou fazer farelo Bokashi para a fermentação;
  • O processo tem duas etapas e é preciso uma “segunda compostagem” para finalizar o processo.

Compostagem Seca

Esta compostagem é mais longa, mas se adapta àqueles que têm acesso ao terreno e podem usufruir da ação da própria natureza e dos microorganismos do solo. Pode ter tamanhos diversos (desde o mini até o industrial) e, apesar de levar mais tempo para se concluir – por depender exclusivamente da ação dos microorganismos – é uma solução para quem possui muita matéria seca (como folhas secas do jardim) e não se sente confortável em compostar dentro de casa.

Como acontece

Esta compostagem se resume em juntar a matéria seca (folhas secas e verdes, galhos, grama cortada, etc.) e material úmido (restos de comida, borra de café, casca de ovos, etc.), sempre mantendo o material úmido coberto. O tempo se encarrega do processo, sendo necessário mexer o composto para trazer oxigênio para toda a pilha de compostagem, até que tudo se torne composto.

Imagem: Freepik

Pontos positivos

  • Pode ser feito em tamanhos diversos e, portanto, compostar quantidades maiores;
  • Aceita resíduos diversos sejam da indústria, urbanos ou agrícolas;
  • Possibilita ver todo o processo e acompanhar os estágios de decomposição.

Pontos não tão positivos

  • É a mais demorada: em média o processo leva de 3 a 6 meses;
  • É necessário cuidado extra com pragas (principalmente roedores);
  • Ocupa mais espaço e requer acesso ao solo.

Independente do tipo de compostagem escolhida, a gestão dos resíduos orgânicos é uma das soluções para revolucionar a forma que vemos o lixo, o nosso consumo e a nossa responsabilidade e escolhas pessoais. Já escolheu qual se adapta melhor à tua realidade?

Abaixo destacamos estes três projetos que buscam e oferecem novas soluções para a destinação dos resíduos orgânicos, são eles:

Ciclo Orgânico: O projeto situa-se no Rio de Janeiro e cuida dos seus resíduos através de uma assinatura mensal, que garante diversas recompensas. Os resíduos são recolhidos na sua casa de bicicleta e a compostagem é feita todinha por eles.

Imagem: Ciclo Orgânico

Morada da Floresta: A Morada da Floresta existe desde 2009 e é uma empresa de soluções para a sustentabilidade, que vão desde compostores a coletores menstruais. A gama de produtos é grande e super interessante. Vale conhecer!

Mudatuga: O projeto foi criado por três mulheres brasileiras em Portugal e é um sucesso. Elas fazem formação para quem deseja aprender mais sobre os processos e desmistificam a compostagem com bom humor. Recomendamos seguir nas redes sociais e participar das aulas (que também acontecem online).

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MOSS, Luana. Pequeno Guia para Compostagem Doméstica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/pequeno-guia-para-compostagem-domestica-saiba-o-que-fazer-com-os-residuos-organicos.html>.

Desigualdade de Gênero e Previdência Social: o árduo caminho das mulheres

A igualdade de gênero é um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e busca empoderar mulheres e meninas através de políticas públicas e adequação de legislação. Ou seja, esse ODS vincula tanto o Poder Executivo, responsável pela criação e implementação das políticas públicas; quanto o Poder Legislativo, responsável pela edição de leis.

Quando pensamos na Previdência Social, o objetivo é suprir a necessidade de segurados (pessoas que efetuaram contribuições) em momentos de risco social – nascimento (salário-maternidade), incapacidade para o trabalho (benefícios por incapacidade), velhice (aposentadoria) e morte (pensão por morte).

Imagem: Freepik

E neste ponto começamos a perceber a importância da contribuição – só tem direito a benefício aquela pessoa que contribuiu para a Previdência. Cada tipo de benefício que pode ser solicitado terá um número mínimo de contribuições exigido.

E aqui é que a desigualdade de gênero é vista com clareza. O número de mulheres que busca por atendimento previdência e que não possui contribuições suficientes para aposentar, por exemplo, é muito maior que o número de homens. Normalmente a pergunta dos homens é: “Como faço para ter um valor de aposentadoria maior?” Já as mulheres questionam: “Eu posso aposentar?”.

Pois é. Elas param de contribuir quando se casam, por pensar que o marido vai prover tudo que necessitam. Ao engravidar, muitas vezes elas não retornam ao trabalho nos anos seguintes. Elas esperam os filhos crescerem para pensar em trabalho e ficam sem contribuir para o INSS. Quando retornam, passam a ter subempregos, começam um pequeno negócio ou ficam na informalidade e não contribuem. E vão se preocupar com contribuições somente aos 60 anos ou quando acreditam que já podem se aposentar.

Imagem: Freepik

E o que sinto quando preciso dizer a uma mulher que ela precisa contribuir por mais 8 anos (após os 60 anos) me tira o sono – é impotência. Primeiro, porque provavelmente, devido a n motivos, ela não contribuirá por mais esse tempo. Segundo, porque ela morrerá de vergonha de ter que ser sustentada pelos filhos e, mesmo que seja para comprar remédio ou comida, ela ficará muito constrangida de pedir dinheiro para a família. Terceiro, porque por mais que os filhos ajudem, é pouco provável que eles consigam dedicar-se da mesma forma que ela se dedicou. Enfim, corta o coração. Falhamos com as mulheres e continuamos falhando.

É uma situação que acontece com muito mais frequência do que se imagina. É uma realidade invisível, pois essas mulheres aceitam a situação, resignam-se e passam a viver de acordo com o possível. A velhice se transforma em uma nova provação na vida destas mulheres.

Imagem: Freepik

Estamos no outubro rosa, mês de olhar para as mulheres e incentivá-las a cuidar de sua saúde. Gostaria de incentivar homens e mulheres a pensar sobre como podemos trazer mais informação para que meninas e mulheres possam entender sua situação financeira e previdenciária. Ou seja, o que fazer para que as mulheres também possam ter garantia de direitos a exigir da Previdência Social e possam usufruir de uma velhice com dignidade?

Saiba Mais:

  • Em 2021, as mulheres podem aposentar se tiverem 61 anos de idade e 15 anos de contribuição para o INSS.
  • Em 2022, as mulheres poderão aposentar se tiverem 61 anos e 6 meses de idade e 15 anos de contribuição para o INSS.
  • Se a mulher de baixa renda não tiver contribuições suficientes para aposentadoria, ainda existe um benefício assistencial (benefício de prestação continuada ou LOAS) que é pago para pessoas que tem mais de 65 anos.

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STEFFEN, Janaína. Desigualdade de Gênero e Previdência Social: o árduo caminho das mulheres. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/desigualdade-de-genero-e-previdencia-social-o-arduo-caminho-das-mulheres.html>.

Como o Consumo Consciente colabora para a Moda Sustentável?

A ONU (Organização das Nações Unidas) e seus membros, entre eles o Brasil, estão trabalhando, desde 2015, para atingir os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). São 17 metas ambiciosas e interconectadas que abordam os principais desafios para o desenvolvimento sustentável enfrentados pelas pessoas em todo o mundo.

O ODS 12 é o que busca assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Nele está previsto, até 2030, a implementação do Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis; alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais; reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso; incentivar as empresas a adotar práticas sustentáveis e garantir que as pessoas tenham informação relevante e conscientização para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza; entre outros.

Este Objetivo de Desenvolvimento Sustentável está intimamente ligado à indústria têxtil e de vestuário, que é considerada a segunda indústria mais poluente do mundo e que sempre foi apontada também por problemas relacionados à exploração da mão de obra.

Um dos casos que se tornou mais conhecido e alertou o mundo para o impacto da moda foi o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, em 2013. A tragédia deixou mais de mil mortos e 2,5 mil feridos e se tornou símbolo da exploração inescrupulosa no setor. O prédio abrigava cinco oficinas de confecção que prestavam serviço para marcas mundialmente famosas.

Foto do edifício do Rana Plaza após o desabamento. / Imagem: Benfeitoria

Oito anos após o desabamento, o que mudou? Muito, mas ainda pouco. A tragédia do Rana Plaza motivou a criação do movimento Fashion Revolution, cujo mote inicial é a pergunta ‘quem fez minhas roupas?’, que instiga as pessoas a pensarem sobre quem são as vidas por trás daquilo que usamos todos os dias e demanda mais transparência das marcas sobre suas cadeias produtivas.

Porém, mais do que saber sobre quem fez suas roupas, é preciso questionar onde foram feitas, em que condições, qual é a média salarial, como impacta as comunidades do entorno e qual matéria-prima está sendo usada – só para citar algumas questões.

No Brasil, por exemplo, algumas das maiores marcas de roupa já foram flagradas ao explorar o trabalho escravo contemporâneo em pequenas oficinas terceirizadas, a maioria com funcionários imigrantes. E, se não aprofundarmos cada dia mais o debate, ficaremos na inércia de soluções insuficientes, pouco efetivas e abrangentes. A mudança deve ser sistêmica e envolver não só a sociedade civil, como também o setor público e principalmente a iniciativa privada.

Trabalho análogo à escravidão. / Imagem: Reprodução Terra.

Mais do que cobrar uma moda sustentável (que se preocupa com as formas de produção desta indústria), precisamos praticar também a moda consciente – que é quando o consumidor manifesta em suas compras a preocupação com as questões ambientais e também sociais que envolvem a produção em massa das fast fashions. Dessa forma o ciclo se fecha e conseguiremos atingir o ODS 12.

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MATTOS, Litza. Como o Consumo Consciente colabora para a Moda Sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/como-o-consumo-consciente-colabora-para-a-moda-sustentavel.html>.

Como acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030?

Imagem: Vinícius Mendonça/Ibama

O Brasil prometeu, em 2015, que acabaria com o desmatamento ilegal na Amazônia até o ano de 2030. Ou seja, o país teria 15 anos para pôr fim às práticas de garimpo, queimadas, produção agrícola ilegal, ação de grileiros, destruição de áreas indígenas, dentre outras ações que colocam em risco o futuro da floresta.

A promessa investida pelo Brasil, no Acordo de Paris, foi de manter a taxa anual de desmatamento da Amazônia abaixo dos limites estabelecidos pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (estabelecido em 2010) que é de 3.925 km²/ano [1].

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2], não conseguimos chegar nem perto da meta nos últimos anos. Desde 2017, a tendência é de crescimento chegando a mais que duplicar a meta em 2019 (10.129 km² de área desmatada). O ano de 2020 não traz notícias animadoras também. Segundo o Instituto Imazon, houve novo recorde de desmatamento na região amazônica com aumento de 30% em relação ao ano anterior [3]. O próprio MMA já projeta o número de 11.088 km² de área desmatada em 2020.

Imagem: Agência Brasil.

A verdade sobre a luta pelo fim do desmatamento é que, desde a promessa em 2009, o Brasil ainda não conseguiu frear significativamente a destruição de suas florestas. Com exceção do ano de 2012, os demais ficaram muito longe do ideal. A pergunta que surge, então, é: como o Brasil poderia cumprir a nova promessa feita no último dia 22 de abril na Cúpula do Clima?

Segundo o Observatório do Clima [4], o Brasil sequer tem os instrumentos necessários para atingir o compromisso no Acordo de Paris. As instituições que eram responsáveis pelos planos de contenção do desmatamento foram esvaziadas nos últimos dois anos e, no dia seguinte ao discurso, o Governo apresentou um corte de R$ 240 milhões no orçamento do MMA [5].

Taxa de Desmatamento na Amazônia Legal – INPE [6].
A resposta dura e realista, portanto, é: o Brasil não vai cumprir o acordado até 2030. Se não começar a agir rápida e seriamente hoje, talvez nunca consiga cumprir. O motivo é simples: no ritmo de desmatamento que estamos vivenciando ano a ano, não vai sobrar mais floresta a proteger.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/brasil-nao-deve-cumprir-nem-meta-menos-ambiciosa-no-clima/>.

[2] BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Educa Clima. GRÁFICOS: desmatamento da Amazônia e do Cerrado em 2019 e mais 27 novos gráficos da sociedade civil! Disponível em: <http://educaclima.mma.gov.br/graficos-desmatamento-da-amazonia-e-do-cerrado-em-2019-e-mais-27-novos-graficos-da-sociedade-civil/>.

[3] JORNAL NACIONAL. Desmatamento na Amazônia é o maior dos últimos dez anos. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/01/18/desmatamento-na-amazonia-e-o-maior-dos-ultimos-dez-anos.ghtml>.

[4] OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/brasil-nao-deve-cumprir-nem-meta-menos-ambiciosa-no-clima/>.

[5] CORREIO BRASILIENSE. Após promessa de dobrar recursos, governo corta orçamento do Meio Ambiente. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/04/4919825-apos-promessa-de-dobrar-recursos-governo-corta-orcamento-do-meio-ambiente.html#:~:text=Um%20dia%20depois%20de%20o,do%20Meio%20Ambiente%20(MMA)>.

[6] BRASIL. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. PRODES (desmatamento). Disponível em: <http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates>.

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OLIVEIRA, Tassiana. Como acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/como-acabar-com-o-desmatamento-ilegal-na-amazonia-ate-2030.html>.

Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela

Uma carta para a vegana mais legal que eu já conheci e para os que não escolheram e estão nessa

Verdade seja dita, para mais da metade da população, carne virou um artigo de luxo. O dinheiro mal paga as contas e quando dá para comprar “mistura”, geralmente é ovo. E aí entram os vegs sem opção mesmo. Não tem como comprar carne, só que falta informação sobre como substituir e equilibrar os nutrientes para saúde andar bem.

Em paralelo a isso, temos os vegs por opção – seja pelos animais, pelo meio ambiente como um todo, ou por uma soma de fatores, o vegetarianismo é uma escolha (em um futuro próximo, talvez não seja mais, porém vocês ainda não estão prontos para essa conversa). É uma opção simples, não fácil. Envolve estudar, se adaptar, testar e experimentar novas possibilidades e sabores.

A tomada de consciência é algo chato por duas razões, a primeira é que é um caminho sem volta. A partir do momento que cai a ficha, não tem como desfazer, porque primeiramente você sempre pensará e pesará os impactos daquela determinada ação. Em segundo lugar, porque vem a vontade de fazer a chave girar para todos ao nosso redor. E, nos tornamos quem mais tememos: a pessoa que ao abrir a boca, todo mundo revira os olhos.

Trabalhando em comunidades de alta vulnerabilidade social, conheci o pior tipo de consciência socioambiental: o elitista/excludente. Em um projeto específico, atendendo crianças e jovens de duas vilas, a galera se reunia para almoçar e era uma alegria só. Até que chegou o dia em que fizemos um estrogonofe de frango sensacional. Muitas das pessoas ali nunca nem tinham experimentado, então havia uma ansiedade geral. Alguns dos voluntários eram vegs e fizeram uma cumbuquinha de estrogonofe de grão de bico, que mal dava para 5 pessoas comerem, mas eles eram em 3, então estava safo!

Só que aí veio a grande baixaria. Um bilhete ao lado da cumbuquinha com a frase “esse não matou animais”. E para explicar para as crianças o que aquilo significava? Com o perdão da expressão, mas toda vez que lembro dessa cena só me vêm em mente a frase “não se caga veganismo/vegetarianismo para quem mal tem o que comer em casa e vê carne como artigo de luxo”.

Por ver tanta coisa que acaba sendo um tiro no pé desses movimentos tão importantes, hoje quis escrever sobre a vegana mais incrível que eu já conheci. Foi em um evento que reunia pessoas de iniciativas de impacto social e ambiental (em um lugar mais ou menos refinado, com quiosques de várias opções de comida) que conheci a Duda. Quando ela chegou na rodinha falou “Estou com fome, vocês já comeram?”

Particularmente, eu amo quem fala de comida já de cara, talvez por ser taurina, não sei. Mas eu estava com fome e fui com ela procurar o que comer. Começamos a andar e ela me disse que era vegana e queria comer algo bem gostoso. Falei que eu tinha essa vontade de ser veg um dia, mas que amava demais sushi, hambúrguer, cachorro quente e essas guloseimas todas. Então a Duda me deu uma girada de chave que me voltou para o lado certo. Ela disse: “Eu como sushi e amo!”.

Ok Bruna e o que tem isso? Mas ela não era vegana? Não estou entendendo mais nada!

A melhor vegana que eu conheço é imperfeita! É sempre uma escolha atrás de outra e está tudo bem querer comer de vez em quando.

Para o planeta, para as nossas relações, para a vida fluir, é muito melhor termos uma maior quantidade de pessoas com conhecimento e conscientiza-ação sendo vegs imperfeitos, do que uma pouca quantidade de vegs “perfeitos”. Quantas pessoas se reconheceriam em uma Duda e passariam a fazer ao menos uma Segunda Sem Carne?

Enfim, aos que não têm a grana do bife, grão de bico é caro, mas couve não! Vegetais verde-escuros e bastante cor nesse prato. Aos que se sentem os ecochatos da rodinha, vão com calma, cada um tem seu próprio tempo para girar a chave. A todos meu abraço com afeto, porque o mundo está precisando, acima de tudo, de amor.

O amor cura e inclui. E como se esse texto fosse um grande brinde à vida do planeta: Saúde!

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CARVALHO, Bruna. Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/veganismo-e-vegetarianismo-uma-opcao-ou-a-falta-dela.html>.

Além das PANCs, o que deixamos de ganhar por não conhecer nossa biodiversidade?

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) tem chamado cada vez mais atenção da população, seja pela busca de novas experiências gastronômicas, seja pelo interesse de adotar um hábito de vida mais sustentável, ou mesmo por motivos culturais – que normalmente se restringem a determinada região até que sejam transpostos para uma esfera global.

O que as PANCs nos revelam é que há diversas espécies de plantas, que podem ser exploradas comercialmente, desde que, sejam realizados estudos científicos para entender como estas espécies podem nos beneficiar. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil detém cerca de 20% da biodiversidade global, distribuídos em diferentes biomas, o que leva a ocorrência de espécies únicas em microrregiões ainda mais únicas.

Folhas de capuchinha.

Entender a biodiversidade das distintas regiões do Brasil, e como ela é explorada pelas comunidades locais, pode nos relevar produtos promissores e uma rede de cadeias produtivas, que além de beneficiarem o meio ambiente, geram economia e trazem produtos benéficos para população em geral.

Fugindo do assunto das PANCs, e indo para um mais abrangente, há espécies que desempenham papeis chave no meio ambiente, e que têm potencial para serem exploradas comercialmente. Um exemplo que gosto de citar são espécies de plantas halófitas, que conseguem se desenvolver bem em ambientes com altas concentrações de sais. Para tal feito, estas plantas possuem mecanismos fisiológicos que permitem o acúmulo de sal em determinados órgãos, como folhas, caule, raízes ou frutos. A presença destes sais está atrelada a mecanismos de síntese de biomoléculas que aumentam a capacidade de sobrevivência destas plantas. Estas biomoléculas podem ser extraídas e utilizadas em diversas indústrias, como a farmacêutica, a alimentícia e a biotecnológica.

Erva de sal (Sarcocornia ambigua). / Imagem: Diário Catarinense.

E por que não transformar essa espécie acumuladora de sal, e rica em biomoléculas benéficas para saúde, em um produto como um tipo de sal orgânico? Ou nutracêutricos totalmente a base de vegetais, para reposição de sais como cálcio, potássio ou até mesmo ferro? Um exemplo destas plantas é a erva de sal (Sarcocornia   ambigua), que apresenta altos teores de magnésio, potássio, cálcio e zinco, ácidos graxos com propriedades anti-inflamatórias, e que, por consequência, é utilizada na alimentação humana.

Claro que quando pensamos dessa forma, devemos ter em mente que diversas pesquisas científicas são necessárias para garantir a seguridade do uso destas espécies. Ou seja, um controle rigoroso sobre o tipo de matéria orgânica e inorgânica presente nestas, além dos impactos que a exploração delas acarretariam, tanto os negativos quanto os positivos.

A salinização dos solos é uma ameaça à agricultura e a segurança alimentar. / Imagem: Nossa Ciência.

Citando novamente as plantas halófitas, cultivá-las em solos ricos em sais e improdutivos seria uma solução para o problema da infertilidade provocada pela presença de altas concentrações de sais no solo. Essas plantas também poderiam gerar produtos ou insumos para diversos ramos industriais, além de outros potenciais benefícios que só pesquisas científicas, dentro de diversas áreas de estudos, poderiam nos revelar.

Referências e Sugestões de Leitura:

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MIRANDA, Paulo Henrique. Além das PANCs, o que deixamos de ganhar por não conhecer nossa biodiversidade?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/alem-das-pancs-o-que-deixamos-de-ganhar-por-nao-conhecer-nossa-biodiversidade.html>.