A Intensificação das Chuvas e das Tragédias Pluviais

Temos assistido a eventos trágicos relacionados às chuvas intensas ao redor do mundo. A Alemanha e a China, por exemplo, foram arrasadas, recentemente, por temporais aterrorizantes que causaram mortes e destruição. No Brasil, as águas também acometem cidades, desabrigando famílias, comprometendo o transporte público e arrastando tudo o que vê pela frente.

Diante disso, argumentos como “a culpa é da natureza” têm se tornado recorrentes. Mas, será que a grande vilã é, de fato, a Mãe Natureza? Será que, ao bel-prazer, ela tem causado a intensificação das chuvas?

Neste artigo, abordaremos duas das principais causas — reais — de enchentes, inundações e alagamentos: o Aquecimento Global e os Sistemas de Drenagem Urbana.

Tubo de concreto de drenagem urbana em canteiro de obras. Imagem: Freepik

Aquecimento Global

Não é novidade para ninguém (exceto para os negacionistas) que o Planeta está esquentando. Fortes ondas de calor assolam países como Estados Unidos, Canadá e Itália, que registraram em 2021 temperaturas de 54,4 °C, 49,6 °C e 48,8 °C, respectivamente.

Tal elevação nos índices apontados se deve ao desmatamento e à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, que emitem gases que agravam o efeito estufa. Dessa forma, a dispersão dos raios solares se torna mais difícil, pois o calor fica “preso” na atmosfera, aumentando a temperatura da Terra.

Notícia do “El País”

Assim, os processos de evaporação da água retida no solo e de evapotranspiração das plantas se aceleram. Além disso, de acordo com a Termodinâmica, o ar mais quente retém e suporta mais vapor até saturar, condensar e se converter em chuva.

Em síntese, quanto mais quente estiver a atmosfera, maior será o volume de água necessário para “saciar sua sede”. Nesse caso, tempestades mais duradouras e impetuosas são causadas.

Publicado em agosto deste ano, o sexto relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), maior autoridade do mundo relacionada ao tema, demonstrou um aumento de 1,3 vezes na frequência das precipitações, indicando ainda, que elas são 6,7% mais fortes.

Portanto, estruturas capazes de manejar enormes quantidades de água se fazem cada dia mais necessárias. E é justamente essa a segunda principal causa dos problemas pluviométricos.

Sistemas de Drenagem Urbana

Durante muito tempo, o conceito de Drenagem Urbana se limitou a escoar as águas pluviais da forma mais rápida possível. O intuito era apenas deslocar esse volume de um ponto mais alto (montante) até um ponto mais baixo (jusante), onde seria despejado.

Consequentemente, hoje, ao atingir as regiões de baixada, essas porções escoadas encontram contribuições oriundas de outras áreas. Resultando, obviamente, em enchentes e inundações.

Fortes chuvas e ventos causam transtornos no centro do Rio de Janeiro. Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

Além desse sistema projetado exclusivamente para “se livrar” das águas da chuva, devido aos elevados índices de impermeabilização do solo — como calçadas concretadas e ruas asfaltadas —, tais volumes não infiltram na terra. Pelo contrário, correm rapidamente para ralos e bocas de lobo, transbordando os cursos d’água.

De tal modo, estruturas alternativas e mais sustentáveis têm se tornado cruciais. Projetos absolutamente viáveis já são idealizados, tendo como intuito não descartar, mas sim, captar, reter e destinar as águas pluviais de maneira inteligente e logo que atingem o solo, sem percorrer grandes distâncias.

Como exemplo, podemos citar:

Telhados Verdes: cobertura vegetal que promove a infiltração da água da chuva e reduz o escoamento superficial, responsável pelas enxurradas;

Telhados regulam a temperatura ambiente dos edifícios e absorvem água da chuva. Imagem: Divulgação/Prefeitura da Cidade do México / Reprodução: Época Negócios

Pavimentos Permeáveis: absorvem a água e abastecem os lençóis freáticos, eliminando a necessidade de caixas de captação e tubos de condução;

Bacias de Detenção e Retenção: “lagoas” que armazenam as águas pluviais por um tempo específico e liberam o volume lentamente, evitando que o sistema de drenagem convencional seja sobrecarregado;

Jardins de Chuva: espécie de canteiros instalados nas calçadas com cerca de 30 centímetros de profundidade, compostos por camadas de areia, brita e vegetação que retêm as águas da chuva e alimentam o lençol freático.

Jardim de chuva em Copacabana, bairro da Cidade do Rio de Janeiro. Imagem: Divulgação/Prefeitura

Todos os dispositivos necessitam de estudo prévio e dimensionamento adequado, que varia conforme a composição do solo, característica das bacias hidrográficas e índices pluviométricos locais.

Os sistemas sustentáveis devem ser integrados aos sistemas convencionais, poupando assim, milhões de reais gastos todos os anos com manutenção e transtornos gerados por enchentes. Além, é claro, de poupar vidas expostas à precariedade de um planejamento urbano falho e ultrapassado.

Por fim, sabemos que diminuindo drasticamente as emissões de carbono, o aquecimento global pode ser freado. Entretanto, para que isso ocorra, devemos zerar o desmatamento até 2050, mudar nossos hábitos relacionados a compras e à alimentação e investir pesado em educação ambiental. Não há mais tempo a perder!

Área desmatada no município de Sinop (MT). Imagem: Florian Plaucheur/AFP / Reprodução: El País

Precisamos estar atentos às campanhas de desinformação que visam apenas os interesses políticos e particulares de uma indústria Capitalista e gananciosa, empenhada em promover o consumo compulsório e lucrar; acima de tudo, acima de todos!

Referências e Sugestões de Leitura:

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DA SILVA, Pâmela. A Intensificação das Chuvas e das Tragédias Pluviais. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-intensificacao-das-chuvas-e-das-tragedias-pluviais.html>.

Fumaça acima de tudo e poeira acima de todos: Desmatamento e Mudanças Climáticas

Recentemente, entre os meses de setembro e outubro de 2021, parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil registrou fenômenos que chamaram a atenção da mídia e da população em geral: as tempestades de poeira, chamadas de Haboobs (do árabe “habb”, soprar), que transformaram dias em noites e trouxeram cenários avermelhados atípicos para a realidade brasileira. Ao mesmo tempo que tais eventos são interessantes e incomuns em nossas terras tropicais, podem ser interpretados como um sinal ou sintoma de um problema maior, que extrapola determinada condição microclimática.

O interior do estado de São Paulo, o oeste de Minas Gerais, o sul de Goiás e o estado do Mato Grosso do Sul (exceto o extremo sul) possuem condições climáticas parecidas: o clima é tropical, com chuvas abundantes entre boa parte da primavera e o começo do outono e estiagem muito bem definida entre maio e setembro. A falta de chuvas no inverno é climatológica, ou seja, é normal e até desejável, uma vez que, a vegetação da região, como conhecemos hoje, evoluiu sob estas condições e muitas espécies dependem de estresse hídrico para florescer, frutificar, produzir sementes e, consequentemente, sobreviver. Neste contexto, a partir de processos co-evolutivos, muitos animais dependem, mesmo que indiretamente, dessa dinâmica climática estacional.

Tempestade de poeira no Mato Grosso do Sul. Fonte: Olhar Digital

Segundo o IBGE, originalmente, a vegetação que predomina na região é o Cerrado e a Mata Atlântica semi-decidual ou Ombrófila Aberta. Em ambas as fitofisionomias [1], a presença de árvores e arbustos de portes variados, com sistema radicular robusto, contribui para manter o solo protegido das intempéries ambientais. Um solo mais descoberto e outro vegetado respondem de maneira diferente à mesma condição de tempo – um vendaval, por exemplo. Nessa perspectiva, as tempestades de poeira podem estar relacionadas com uma profunda alteração na cobertura do solo, processo que pode estar potencializado por recentes alterações nos padrões climáticos.

Observe nos mapas a seguir, retirados do Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA), do Governo Brasileiro, como a vegetação da região foi profundamente alterada para dar espaço às atividades agropecuárias. No segundo mapa, tons em cinza indicam ‘atividade agropecuária’ e, em roxo, ‘reflorestamento’:

Figura 1: Vegetação original da principal área de ocorrência das tempestades de poeira esse ano (2021). Fonte: Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA)
Figura 2: Vegetação atual da região, profundamente alterada para finalidades agropecuárias. Tons em cinza correspondem à atividade agropecuária. Fonte: Banco de Dados de Informações Ambientais (BDiA)

A combinação de meses de estiagem, incêndios florestais, vegetação muito seca e a passagem dos primeiros sistemas meteorológicos causadores de perturbações atmosféricas provocaram um intenso levantamento de terra, fumaça e poeira nos municípios onde as instabilidades chegaram com vendaval. O solo menos protegido pode ter potencializado os efeitos e causado as imagens típicas de climas desérticos que observamos na mídia e nas redes sociais.

É importante lembrar que a ocorrência de temporais isolados na segunda quinzena do mês de setembro e no começo de outubro é normal nessas regiões, é nessa época que o padrão seco do inverno começa a ser quebrado. Como se observa na figura 3, as cores entre o vermelho e o marrom (indicadoras de ausência de chuva) perdem força em setembro e, no mês de outubro, desaparecem. Portanto, as cenas atípicas observadas no começo desta primavera não podem ser creditadas somente às convecções tipicamente tropicais:

Figura 3: Avanço da chuva pelo Brasil central entre agosto e outubro. Quanto mais próximo do marrom e do vermelho, menos chuva. Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado alterações sensíveis nos regimes de precipitação e temperatura em algumas épocas do ano. Um período muito afetado tem sido a transição do inverno para a primavera, que tem apresentado ondas de calor históricas, com registros de temperaturas excepcionalmente elevadas em ampla área, sem precedentes na história climática do país. Esse aumento do calor, somado à irregularidade pluviométrica que tem predominado de forma geral desde meados da década de 2010, causou os recentes problemas hídricos e energéticos – e as tempestades de poeira podem ser interpretadas como um mero sintoma de tudo isso, a “ponta do iceberg”.

Diante de um monitoramento climático curto – nossas estações meteorológicas, salvo raras exceções, têm menos de 100 anos de dados, muitas funcionam há poucos anos ou poucas décadas, tempo demasiadamente curto para fazer afirmações conclusivas – é muito difícil saber se as anomalias dos últimos anos se configuram como tendências ou se são parte de uma variabilidade periódica das condições de clima. Outubro de 2021 trouxe uma excelente surpresa para a maior parte do Brasil: as chuvas voltaram de forma mais abrangente e volumosa que a média histórica e já conseguiu, inclusive, recuperar a umidade do solo, de forma que não há mais estiagem agrícola em quase nenhuma região:

Fonte: Agritempo

Prever se essa melhoria se configurará como uma reversão do atual quadro desfavorável é difícil. Entender qual a participação relativa das mudanças climáticas nesse processo tão complexo, que envolve desmatamento e alteração de paisagens naturais, é mais difícil ainda e fica a cargo dos especialistas na área. Mas os cidadãos brasileiros precisam se atentar para o que está ali, diante de seus olhos: fumaça, fuligem e poeira suspensas, em terras profundamente alteradas. Alguma coisa não está normal.

[1] Particularidade vegetal ou a flora típica de uma região.

Referências e Sugestões de Leitura:

  • BDiA (Banco de Dados de Informações Ambientais).
  • IBGE.
  • INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).

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PAIVA, Leonardo. Fumaça acima de tudo e poeira acima de todos: Desmatamento e
Mudanças Climáticas. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/fumaca-acima-de-tudo-e-poeira-acima-de-todos-desmatamento-e-mudancas-climaticas.html>.

Por que é urgente falar de COP 26?

É outono onde moro. Ontem, abri meu app “Tempo” e vi que a previsão para o próximo sábado era de neve. Dia 06 de novembro! Normalmente, começa a nevar no final do mês. Mas o que ainda há de “normal” quando se fala de clima, não é?

Estamos iniciando a COP 26 (Conferência das Partes – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) e os países estão reunidos por mais um ano para discutir o presente. Há quase 30 anos, quando os 196 países aderiram à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a preocupação era com o futuro. Hoje, sabe-se que é preciso não piorar o estado atual.

A pauta principal esse ano será avaliar o que já tem sido feito. Depois do grande avanço da reunião de 2015 (que levou ao Acordo de Paris), os países finalmente concordaram que é preciso manter o aquecimento global abaixo de 2ºC acima da média pré-industrial. O objetivo é chegar a no máximo +1,5ºC. Para isso, cada país tem que produzir um documento chamado “Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”. É isso que está sendo avaliado.

Imagem: Freepik

O Brasil elaborou e divulgou um documento que irá apresentar na reunião. Nomeado de “Programa Nacional de Crescimento Verde”, a ideia aparentemente é financiar projetos que tenham “alguma característica verde. Energias renováveis, agricultura de baixo carbono, ecoturismo, renovação florestal”, segundo o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite [1], que não explicou muito bem como isso seria feito. O nosso país não conseguiu atingir as metas estabelecidas em 2015. Aliás, em 2020 o Brasil aumentou a produção de carbono em cerca de 10% [2] segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

A boa notícia é que nossas universidades continuam produzindo boa ciência para trazer propostas concretas contra o aquecimento global. O “Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa”, sediado na USP, irá até Glasgow, na Escócia, para participar do International Technology Centres Summit & Research Study [3]. Esse é um dos vários eventos que acontecem paralelamente à COP 26. O grupo vai apresentar os caminhos que o Brasil tem para se tornar exemplo de país que reduziu a produção de gases de efeito estufa.

Imagem: Freepik

Como é possível observar, para além de um momento de reuniões e tomada de decisões entre as partes (países) aderentes da UNFCCC, várias organizações não governamentais e centros de pesquisa sempre compõem o cenário das COPs. É o momento que temos para congregar todos aqueles envolvidos no desafio da manutenção de um planeta habitável para os quase oito bilhões de habitantes e seus descendentes.

As esperanças estão renovadas desde que os EUA decidiram retomar o protagonismo no enfrentamento do problema. Veremos quais serão as decisões tomadas e suas consequências em breve. A verdade é que não há mais tempo para negociação.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] G1. Sem detalhar, governo anuncia comitê para incentivar ‘projetos verdes’ a uma semana da COP26. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/25/sem-detalhar-governo-cria-comite-para-promover-instrumentos-de-mercado-ambientais-e-incentivar-projetos-verdes.ghtml

[2] G1. COP26: Na contramão do mundo, Brasil teve aumento de emissões de CO2 em ano de pandemia. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-26/noticia/2021/10/28/cop26-na-contramao-do-mundo-brasil-teve-aumento-de-emissoes-de-co2-em-ano-de-pandemia.ghtml

[3] Jornal da USP. RCGI vai apresentar, na COP-26, o potencial brasileiro de reverter emissões de carbono. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/rcgi-vai-apresentar-na-cop-26-o-potencial-brasileiro-de-reverter-emissoes-de-carbono/

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OLIVEIRA, Tassi. Por que é urgente falar de COP 26?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/por-que-e-urgente-falar-de-cop-26.html>.

Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?

Nós, seres humanos, temos uma tendência a adiar problemas. Ainda mais quando é complexo e sem aparentes soluções acessíveis no curto prazo, como é o caso da emergência climática – aí é que deixamos em banho-maria. Nesse caso, porém, esse comportamento procrastinador pode resultar em nossa própria extinção enquanto espécie do planeta Terra.

Além de muitos acreditarem que temos tempo suficiente, que a previsão dos cientistas não irá se concretizar ou que “a tecnologia” dará um jeito aos 46 do segundo tempo, a ciência do clima não é a coisa mais fácil do mundo de se compreender. Isso acaba afastando e deslegitimando para muitos a gravidade do assunto.

Imagem: Chris LeBoutillier/ Unsplash

Mas a crise é urgente e parte do nosso trabalho enquanto educadores é encarar a missão de comunicar o desafio com a complexidade devida, porém de forma mais acessível, democrática e fundamentada em bases científicas sólidas. Graças a pessoas e instituições que há muitos anos estudam o assunto exaustivamente, temos hoje uma ciência climática extremamente robusta e qualificada.

Em agosto deste ano, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) divulgou um relatório que deu luz e validação ao que muito é debatido. Afirmou, por exemplo, ser certa a influência do ser humano no aquecimento do planeta e que a concentração de dióxido de carbono, um dos principais gases que contribuem para esse aquecimento, é a maior dos últimos 2 milhões de anos [1].

Não é mais uma questão de “daqui a 50 ou 100 anos”, o futuro é definitivamente agora e já estamos sofrendo os impactos do aquecimento do planeta. Cenas de filmes americanos que rondam nosso imaginário estampam agora as capas dos jornais: nuvens de poeira, metrôs submersos e pessoas fugindo de ilhas totalmente em chamas. Ainda que nem todos os meios de comunicação estabeleçam a conexão entre esses eventos e o aquecimento global, o IPCC deixa claro: eventos extremos podem ficar até 39 vezes mais frequentes com o aumento de 4°C do planeta e já são 4,8 vezes mais frequentes atualmente [2].

Imensa nuvem de poeira vermelha no interior de São Paulo em 26/9. Imagem: BBC Brasil

O mesmo relatório nos mostrou que algumas das consequências já são hoje irreversíveis, como o derretimento das geleiras, o aquecimento do oceano e o aumento do nível do mar. É provável que não exista mais gelo no Ártico em seu pico de verão pelo menos uma vez antes de 2050 [1].

O prazo para agirmos já foi calculado e estampa a fachada de um prédio em Nova York: 7 anos e 267 dias [3] (e decrescendo a cada minuto). Estudos podem variar em termos de quanto tempo temos para mudar nosso rumo e evitar uma catástrofe climática, mas uma coisa é certa, ele deve ser resolvido em uma geração e essa é a nossa.

Meios de comunicação como o renomado jornal The Guardian fazem hoje questão de abandonar a expressão “aquecimento global” para usar “crise climática”. Outros, incluindo o antropólogo Bruno Latour, utilizam a expressão “emergência climática” em seu lugar. O uso da língua se faz essencial neste momento, pois nos reforça o grau de urgência necessária para revertermos este cenário.

Grande parte do bioma Pantanal foi engolido por fogo em 2020. Imagem: Mayke Toscano/Secom-MT

Entretanto, expressões como “crise”, “colapso”, “emergência”, ou “catástrofes” precisam ser seguidas de “ação”, “compromisso”, “transição” e “conquistas”. A compreensão da urgência deve nos unir, e não nos afastar. Deve nos dar esperança e não impotência. Precisamos de ação e não de paralisia.

Problemas complexos exigem soluções complexas e desafios urgentes requerem medidas imediatas. Educação climática, regeneração dos ecossistemas, políticas públicas eficazes e a mudança de nossa forma de consumo e produção são exemplos de soluções concretas e viáveis, mas que serão apenas conquistadas colaborativamente.

Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 – COP 26

Com a reunião de grandes tomadores de decisão na Conferência do Clima agendada para a próxima semana, a pressão política pelo mesmo senso de urgência se faz necessária e possível. Convido vocês a acompanharem o que está em pauta no encontro, cobrarem seus representantes e inspirarem mais pessoas a também tomarem as rédeas na construção coletiva de nosso futuro melhor e possível.

Referências e Sugestões de Leitura:

  • [1] IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021
  • [2] Aumento da frequência e da intensidade de eventos que aconteciam em média uma vez a cada 50 anos em um clima sem influência humana. Fonte: IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021.
  • [3] Climate Clock.

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RIBEIRO, Livia. Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/por-que-precisamos-agir-hoje-no-enfrentamento-da-emergencia-climatica.html>.

Pequeno Guia para Compostagem Doméstica: saiba o que fazer com os resíduos orgânicos

O resíduo orgânico é um material de grande potencial e que pode virar energia, combustível e adubo da melhor qualidade. No Brasil, calcula-se que são produzidos em média 37 milhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano. Ainda mais assustador é saber que deste lixo, apenas 1% é reaproveitado.

Mas você sabia que pode compostar seus resíduos orgânicos em casa, diminuir o descarte de lixo nos aterros sanitários e ainda produzir terra para as suas plantas (e dos seus amigos) sem complicação. Interessante, certo?

São três as principais formas de compostagem doméstica:

  • Vermicompostagem
  • Compostagem Bokashi
  • Compostagem Seca

A compostagem doméstica é educativa e nos conecta com nossa alimentação, com o impacto que temos no mundo e com a natureza que está em todo lugar. Aqui você terá uma visão geral sobre estes três tipos para poder escolher qual o tipo que melhor se adapta ao seu ambiente e cotidiano.

Vermicompostagem

É a compostagem feita com o uso de minhocas (em especial as californianas), que ingerem os restos da cozinha e transformam em húmus de minhoca. O processo pode ser feito artesanalmente em caixas de plástico ou em compostores já específicos para este fim.

Como acontece

Primeiramente você precisa ter o equipamento adequado, as minhocas e material úmido e seco (em proporção entre 1:1 e 1:2). A pilha de composto é iniciada com material seco e intercalada com o úmido, que sempre deverá ser coberto para evitar que moscas e outras pragas sejam atraídas. Estas camadas devem repetir-se até que a primeira caixa esteja completa.

Existe aqui a última gaveta, reservada para a produção do chorume que, neste caso, é um biofertilizante super concentrado e sem cheiro, que pode ser diluído em água na proporção 1:10 e utilizado para a rega das plantas.

Imagem: Rastro Sustentabilidade

Pontos positivos

  • Funciona perfeitamente em apartamentos e locais sem acesso ao exterior;
  • Grande parte dos resíduos da cozinha é apropriada para esta compostagem;
  • As minhocas tornam o processo bastante rápido e eficiente;
  • O espaço ocupado pelo compostor pode ser adaptado à sua realidade;
  • Não atrai pragas e nem tem cheiro;
  • A população de minhoca se auto-regula e cresce ou não conforme o espaço disponível;
  • O chorume é mais um fertilizante resultante desta compostagem;
  • O contato com a terra é relaxante e diminui o estresse.

Pontos não tão positivos

  • Alguns alimentos não podem ser colocados no compostor (cítricos, carnes, alimentos cozidos, entre outros);
  • É preciso alguma atenção até se entender a relação entre alimento seco e úmido;
  • A temperatura precisa ser amena e o compostor deve estar abrigado do sol, da chuva e do frio.

Compostagem Bokashi

Apesar de pouco conhecida, a compostagem Bokashi tem ganhado espaço devido ao seu tamanho compacto e facilidade de utilização. Aqui utiliza-se o farelo de Bokashi: um farelo de cereais e açúcar (ou melado) que contém microorganismos capazes de fermentar os resíduos.

Como acontece

Nesta técnica tem-se duas etapas: a primeira é mais comprida e é onde há a fermentação anaeróbica (sem oxigênio) dos resíduos feita por microorganismos do farelo de Bokashi; a segunda é onde mistura-se o produto da fermentação juntamente com a terra e cria-se o adubo de fato. O seu tamanho mini e a pouca necessidade de manutenção são os grandes destaques deste tipo de compostagem.

Imagem: CicloVivo

Pontos positivos

  • A compostagem aceita uma grande variedade de resíduos, incluindo carnes, ossos, cítricos, etc.;
  • Não requer matéria seca na mistura;
  • Não tem cheiro;
  • O seu tamanho é inferior aos outros compostores e é bastante adequado aos meios urbanos.

Pontos não tão positivos

  • É necessário adquirir ou fazer farelo Bokashi para a fermentação;
  • O processo tem duas etapas e é preciso uma “segunda compostagem” para finalizar o processo.

Compostagem Seca

Esta compostagem é mais longa, mas se adapta àqueles que têm acesso ao terreno e podem usufruir da ação da própria natureza e dos microorganismos do solo. Pode ter tamanhos diversos (desde o mini até o industrial) e, apesar de levar mais tempo para se concluir – por depender exclusivamente da ação dos microorganismos – é uma solução para quem possui muita matéria seca (como folhas secas do jardim) e não se sente confortável em compostar dentro de casa.

Como acontece

Esta compostagem se resume em juntar a matéria seca (folhas secas e verdes, galhos, grama cortada, etc.) e material úmido (restos de comida, borra de café, casca de ovos, etc.), sempre mantendo o material úmido coberto. O tempo se encarrega do processo, sendo necessário mexer o composto para trazer oxigênio para toda a pilha de compostagem, até que tudo se torne composto.

Imagem: Freepik

Pontos positivos

  • Pode ser feito em tamanhos diversos e, portanto, compostar quantidades maiores;
  • Aceita resíduos diversos sejam da indústria, urbanos ou agrícolas;
  • Possibilita ver todo o processo e acompanhar os estágios de decomposição.

Pontos não tão positivos

  • É a mais demorada: em média o processo leva de 3 a 6 meses;
  • É necessário cuidado extra com pragas (principalmente roedores);
  • Ocupa mais espaço e requer acesso ao solo.

Independente do tipo de compostagem escolhida, a gestão dos resíduos orgânicos é uma das soluções para revolucionar a forma que vemos o lixo, o nosso consumo e a nossa responsabilidade e escolhas pessoais. Já escolheu qual se adapta melhor à tua realidade?

Abaixo destacamos estes três projetos que buscam e oferecem novas soluções para a destinação dos resíduos orgânicos, são eles:

Ciclo Orgânico: O projeto situa-se no Rio de Janeiro e cuida dos seus resíduos através de uma assinatura mensal, que garante diversas recompensas. Os resíduos são recolhidos na sua casa de bicicleta e a compostagem é feita todinha por eles.

Imagem: Ciclo Orgânico

Morada da Floresta: A Morada da Floresta existe desde 2009 e é uma empresa de soluções para a sustentabilidade, que vão desde compostores a coletores menstruais. A gama de produtos é grande e super interessante. Vale conhecer!

Mudatuga: O projeto foi criado por três mulheres brasileiras em Portugal e é um sucesso. Elas fazem formação para quem deseja aprender mais sobre os processos e desmistificam a compostagem com bom humor. Recomendamos seguir nas redes sociais e participar das aulas (que também acontecem online).

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MOSS, Luana. Pequeno Guia para Compostagem Doméstica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/pequeno-guia-para-compostagem-domestica-saiba-o-que-fazer-com-os-residuos-organicos.html>.

Desigualdade de Gênero e Previdência Social: o árduo caminho das mulheres

A igualdade de gênero é um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e busca empoderar mulheres e meninas através de políticas públicas e adequação de legislação. Ou seja, esse ODS vincula tanto o Poder Executivo, responsável pela criação e implementação das políticas públicas; quanto o Poder Legislativo, responsável pela edição de leis.

Quando pensamos na Previdência Social, o objetivo é suprir a necessidade de segurados (pessoas que efetuaram contribuições) em momentos de risco social – nascimento (salário-maternidade), incapacidade para o trabalho (benefícios por incapacidade), velhice (aposentadoria) e morte (pensão por morte).

Imagem: Freepik

E neste ponto começamos a perceber a importância da contribuição – só tem direito a benefício aquela pessoa que contribuiu para a Previdência. Cada tipo de benefício que pode ser solicitado terá um número mínimo de contribuições exigido.

E aqui é que a desigualdade de gênero é vista com clareza. O número de mulheres que busca por atendimento previdência e que não possui contribuições suficientes para aposentar, por exemplo, é muito maior que o número de homens. Normalmente a pergunta dos homens é: “Como faço para ter um valor de aposentadoria maior?” Já as mulheres questionam: “Eu posso aposentar?”.

Pois é. Elas param de contribuir quando se casam, por pensar que o marido vai prover tudo que necessitam. Ao engravidar, muitas vezes elas não retornam ao trabalho nos anos seguintes. Elas esperam os filhos crescerem para pensar em trabalho e ficam sem contribuir para o INSS. Quando retornam, passam a ter subempregos, começam um pequeno negócio ou ficam na informalidade e não contribuem. E vão se preocupar com contribuições somente aos 60 anos ou quando acreditam que já podem se aposentar.

Imagem: Freepik

E o que sinto quando preciso dizer a uma mulher que ela precisa contribuir por mais 8 anos (após os 60 anos) me tira o sono – é impotência. Primeiro, porque provavelmente, devido a n motivos, ela não contribuirá por mais esse tempo. Segundo, porque ela morrerá de vergonha de ter que ser sustentada pelos filhos e, mesmo que seja para comprar remédio ou comida, ela ficará muito constrangida de pedir dinheiro para a família. Terceiro, porque por mais que os filhos ajudem, é pouco provável que eles consigam dedicar-se da mesma forma que ela se dedicou. Enfim, corta o coração. Falhamos com as mulheres e continuamos falhando.

É uma situação que acontece com muito mais frequência do que se imagina. É uma realidade invisível, pois essas mulheres aceitam a situação, resignam-se e passam a viver de acordo com o possível. A velhice se transforma em uma nova provação na vida destas mulheres.

Imagem: Freepik

Estamos no outubro rosa, mês de olhar para as mulheres e incentivá-las a cuidar de sua saúde. Gostaria de incentivar homens e mulheres a pensar sobre como podemos trazer mais informação para que meninas e mulheres possam entender sua situação financeira e previdenciária. Ou seja, o que fazer para que as mulheres também possam ter garantia de direitos a exigir da Previdência Social e possam usufruir de uma velhice com dignidade?

Saiba Mais:

  • Em 2021, as mulheres podem aposentar se tiverem 61 anos de idade e 15 anos de contribuição para o INSS.
  • Em 2022, as mulheres poderão aposentar se tiverem 61 anos e 6 meses de idade e 15 anos de contribuição para o INSS.
  • Se a mulher de baixa renda não tiver contribuições suficientes para aposentadoria, ainda existe um benefício assistencial (benefício de prestação continuada ou LOAS) que é pago para pessoas que tem mais de 65 anos.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

STEFFEN, Janaína. Desigualdade de Gênero e Previdência Social: o árduo caminho das mulheres. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/desigualdade-de-genero-e-previdencia-social-o-arduo-caminho-das-mulheres.html>.

Como o Consumo Consciente colabora para a Moda Sustentável?

A ONU (Organização das Nações Unidas) e seus membros, entre eles o Brasil, estão trabalhando, desde 2015, para atingir os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). São 17 metas ambiciosas e interconectadas que abordam os principais desafios para o desenvolvimento sustentável enfrentados pelas pessoas em todo o mundo.

O ODS 12 é o que busca assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Nele está previsto, até 2030, a implementação do Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis; alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais; reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso; incentivar as empresas a adotar práticas sustentáveis e garantir que as pessoas tenham informação relevante e conscientização para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza; entre outros.

Este Objetivo de Desenvolvimento Sustentável está intimamente ligado à indústria têxtil e de vestuário, que é considerada a segunda indústria mais poluente do mundo e que sempre foi apontada também por problemas relacionados à exploração da mão de obra.

Um dos casos que se tornou mais conhecido e alertou o mundo para o impacto da moda foi o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, em 2013. A tragédia deixou mais de mil mortos e 2,5 mil feridos e se tornou símbolo da exploração inescrupulosa no setor. O prédio abrigava cinco oficinas de confecção que prestavam serviço para marcas mundialmente famosas.

Foto do edifício do Rana Plaza após o desabamento. / Imagem: Benfeitoria

Oito anos após o desabamento, o que mudou? Muito, mas ainda pouco. A tragédia do Rana Plaza motivou a criação do movimento Fashion Revolution, cujo mote inicial é a pergunta ‘quem fez minhas roupas?’, que instiga as pessoas a pensarem sobre quem são as vidas por trás daquilo que usamos todos os dias e demanda mais transparência das marcas sobre suas cadeias produtivas.

Porém, mais do que saber sobre quem fez suas roupas, é preciso questionar onde foram feitas, em que condições, qual é a média salarial, como impacta as comunidades do entorno e qual matéria-prima está sendo usada – só para citar algumas questões.

No Brasil, por exemplo, algumas das maiores marcas de roupa já foram flagradas ao explorar o trabalho escravo contemporâneo em pequenas oficinas terceirizadas, a maioria com funcionários imigrantes. E, se não aprofundarmos cada dia mais o debate, ficaremos na inércia de soluções insuficientes, pouco efetivas e abrangentes. A mudança deve ser sistêmica e envolver não só a sociedade civil, como também o setor público e principalmente a iniciativa privada.

Trabalho análogo à escravidão. / Imagem: Reprodução Terra.

Mais do que cobrar uma moda sustentável (que se preocupa com as formas de produção desta indústria), precisamos praticar também a moda consciente – que é quando o consumidor manifesta em suas compras a preocupação com as questões ambientais e também sociais que envolvem a produção em massa das fast fashions. Dessa forma o ciclo se fecha e conseguiremos atingir o ODS 12.

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MATTOS, Litza. Como o Consumo Consciente colabora para a Moda Sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/como-o-consumo-consciente-colabora-para-a-moda-sustentavel.html>.

Como acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030?

Imagem: Vinícius Mendonça/Ibama

O Brasil prometeu, em 2015, que acabaria com o desmatamento ilegal na Amazônia até o ano de 2030. Ou seja, o país teria 15 anos para pôr fim às práticas de garimpo, queimadas, produção agrícola ilegal, ação de grileiros, destruição de áreas indígenas, dentre outras ações que colocam em risco o futuro da floresta.

A promessa investida pelo Brasil, no Acordo de Paris, foi de manter a taxa anual de desmatamento da Amazônia abaixo dos limites estabelecidos pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (estabelecido em 2010) que é de 3.925 km²/ano [1].

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2], não conseguimos chegar nem perto da meta nos últimos anos. Desde 2017, a tendência é de crescimento chegando a mais que duplicar a meta em 2019 (10.129 km² de área desmatada). O ano de 2020 não traz notícias animadoras também. Segundo o Instituto Imazon, houve novo recorde de desmatamento na região amazônica com aumento de 30% em relação ao ano anterior [3]. O próprio MMA já projeta o número de 11.088 km² de área desmatada em 2020.

Imagem: Agência Brasil.

A verdade sobre a luta pelo fim do desmatamento é que, desde a promessa em 2009, o Brasil ainda não conseguiu frear significativamente a destruição de suas florestas. Com exceção do ano de 2012, os demais ficaram muito longe do ideal. A pergunta que surge, então, é: como o Brasil poderia cumprir a nova promessa feita no último dia 22 de abril na Cúpula do Clima?

Segundo o Observatório do Clima [4], o Brasil sequer tem os instrumentos necessários para atingir o compromisso no Acordo de Paris. As instituições que eram responsáveis pelos planos de contenção do desmatamento foram esvaziadas nos últimos dois anos e, no dia seguinte ao discurso, o Governo apresentou um corte de R$ 240 milhões no orçamento do MMA [5].

Taxa de Desmatamento na Amazônia Legal – INPE [6].
A resposta dura e realista, portanto, é: o Brasil não vai cumprir o acordado até 2030. Se não começar a agir rápida e seriamente hoje, talvez nunca consiga cumprir. O motivo é simples: no ritmo de desmatamento que estamos vivenciando ano a ano, não vai sobrar mais floresta a proteger.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/brasil-nao-deve-cumprir-nem-meta-menos-ambiciosa-no-clima/>.

[2] BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Educa Clima. GRÁFICOS: desmatamento da Amazônia e do Cerrado em 2019 e mais 27 novos gráficos da sociedade civil! Disponível em: <http://educaclima.mma.gov.br/graficos-desmatamento-da-amazonia-e-do-cerrado-em-2019-e-mais-27-novos-graficos-da-sociedade-civil/>.

[3] JORNAL NACIONAL. Desmatamento na Amazônia é o maior dos últimos dez anos. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/01/18/desmatamento-na-amazonia-e-o-maior-dos-ultimos-dez-anos.ghtml>.

[4] OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima. Disponível em: <https://www.oc.eco.br/brasil-nao-deve-cumprir-nem-meta-menos-ambiciosa-no-clima/>.

[5] CORREIO BRASILIENSE. Após promessa de dobrar recursos, governo corta orçamento do Meio Ambiente. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/04/4919825-apos-promessa-de-dobrar-recursos-governo-corta-orcamento-do-meio-ambiente.html#:~:text=Um%20dia%20depois%20de%20o,do%20Meio%20Ambiente%20(MMA)>.

[6] BRASIL. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. PRODES (desmatamento). Disponível em: <http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates>.

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OLIVEIRA, Tassiana. Como acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/como-acabar-com-o-desmatamento-ilegal-na-amazonia-ate-2030.html>.

Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela

Uma carta para a vegana mais legal que eu já conheci e para os que não escolheram e estão nessa

Verdade seja dita, para mais da metade da população, carne virou um artigo de luxo. O dinheiro mal paga as contas e quando dá para comprar “mistura”, geralmente é ovo. E aí entram os vegs sem opção mesmo. Não tem como comprar carne, só que falta informação sobre como substituir e equilibrar os nutrientes para saúde andar bem.

Em paralelo a isso, temos os vegs por opção – seja pelos animais, pelo meio ambiente como um todo, ou por uma soma de fatores, o vegetarianismo é uma escolha (em um futuro próximo, talvez não seja mais, porém vocês ainda não estão prontos para essa conversa). É uma opção simples, não fácil. Envolve estudar, se adaptar, testar e experimentar novas possibilidades e sabores.

A tomada de consciência é algo chato por duas razões, a primeira é que é um caminho sem volta. A partir do momento que cai a ficha, não tem como desfazer, porque primeiramente você sempre pensará e pesará os impactos daquela determinada ação. Em segundo lugar, porque vem a vontade de fazer a chave girar para todos ao nosso redor. E, nos tornamos quem mais tememos: a pessoa que ao abrir a boca, todo mundo revira os olhos.

Trabalhando em comunidades de alta vulnerabilidade social, conheci o pior tipo de consciência socioambiental: o elitista/excludente. Em um projeto específico, atendendo crianças e jovens de duas vilas, a galera se reunia para almoçar e era uma alegria só. Até que chegou o dia em que fizemos um estrogonofe de frango sensacional. Muitas das pessoas ali nunca nem tinham experimentado, então havia uma ansiedade geral. Alguns dos voluntários eram vegs e fizeram uma cumbuquinha de estrogonofe de grão de bico, que mal dava para 5 pessoas comerem, mas eles eram em 3, então estava safo!

Só que aí veio a grande baixaria. Um bilhete ao lado da cumbuquinha com a frase “esse não matou animais”. E para explicar para as crianças o que aquilo significava? Com o perdão da expressão, mas toda vez que lembro dessa cena só me vêm em mente a frase “não se caga veganismo/vegetarianismo para quem mal tem o que comer em casa e vê carne como artigo de luxo”.

Por ver tanta coisa que acaba sendo um tiro no pé desses movimentos tão importantes, hoje quis escrever sobre a vegana mais incrível que eu já conheci. Foi em um evento que reunia pessoas de iniciativas de impacto social e ambiental (em um lugar mais ou menos refinado, com quiosques de várias opções de comida) que conheci a Duda. Quando ela chegou na rodinha falou “Estou com fome, vocês já comeram?”

Particularmente, eu amo quem fala de comida já de cara, talvez por ser taurina, não sei. Mas eu estava com fome e fui com ela procurar o que comer. Começamos a andar e ela me disse que era vegana e queria comer algo bem gostoso. Falei que eu tinha essa vontade de ser veg um dia, mas que amava demais sushi, hambúrguer, cachorro quente e essas guloseimas todas. Então a Duda me deu uma girada de chave que me voltou para o lado certo. Ela disse: “Eu como sushi e amo!”.

Ok Bruna e o que tem isso? Mas ela não era vegana? Não estou entendendo mais nada!

A melhor vegana que eu conheço é imperfeita! É sempre uma escolha atrás de outra e está tudo bem querer comer de vez em quando.

Para o planeta, para as nossas relações, para a vida fluir, é muito melhor termos uma maior quantidade de pessoas com conhecimento e conscientiza-ação sendo vegs imperfeitos, do que uma pouca quantidade de vegs “perfeitos”. Quantas pessoas se reconheceriam em uma Duda e passariam a fazer ao menos uma Segunda Sem Carne?

Enfim, aos que não têm a grana do bife, grão de bico é caro, mas couve não! Vegetais verde-escuros e bastante cor nesse prato. Aos que se sentem os ecochatos da rodinha, vão com calma, cada um tem seu próprio tempo para girar a chave. A todos meu abraço com afeto, porque o mundo está precisando, acima de tudo, de amor.

O amor cura e inclui. E como se esse texto fosse um grande brinde à vida do planeta: Saúde!

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CARVALHO, Bruna. Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/veganismo-e-vegetarianismo-uma-opcao-ou-a-falta-dela.html>.

Além das PANCs, o que deixamos de ganhar por não conhecer nossa biodiversidade?

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) tem chamado cada vez mais atenção da população, seja pela busca de novas experiências gastronômicas, seja pelo interesse de adotar um hábito de vida mais sustentável, ou mesmo por motivos culturais – que normalmente se restringem a determinada região até que sejam transpostos para uma esfera global.

O que as PANCs nos revelam é que há diversas espécies de plantas, que podem ser exploradas comercialmente, desde que, sejam realizados estudos científicos para entender como estas espécies podem nos beneficiar. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil detém cerca de 20% da biodiversidade global, distribuídos em diferentes biomas, o que leva a ocorrência de espécies únicas em microrregiões ainda mais únicas.

Folhas de capuchinha.

Entender a biodiversidade das distintas regiões do Brasil, e como ela é explorada pelas comunidades locais, pode nos relevar produtos promissores e uma rede de cadeias produtivas, que além de beneficiarem o meio ambiente, geram economia e trazem produtos benéficos para população em geral.

Fugindo do assunto das PANCs, e indo para um mais abrangente, há espécies que desempenham papeis chave no meio ambiente, e que têm potencial para serem exploradas comercialmente. Um exemplo que gosto de citar são espécies de plantas halófitas, que conseguem se desenvolver bem em ambientes com altas concentrações de sais. Para tal feito, estas plantas possuem mecanismos fisiológicos que permitem o acúmulo de sal em determinados órgãos, como folhas, caule, raízes ou frutos. A presença destes sais está atrelada a mecanismos de síntese de biomoléculas que aumentam a capacidade de sobrevivência destas plantas. Estas biomoléculas podem ser extraídas e utilizadas em diversas indústrias, como a farmacêutica, a alimentícia e a biotecnológica.

Erva de sal (Sarcocornia ambigua). / Imagem: Diário Catarinense.

E por que não transformar essa espécie acumuladora de sal, e rica em biomoléculas benéficas para saúde, em um produto como um tipo de sal orgânico? Ou nutracêutricos totalmente a base de vegetais, para reposição de sais como cálcio, potássio ou até mesmo ferro? Um exemplo destas plantas é a erva de sal (Sarcocornia   ambigua), que apresenta altos teores de magnésio, potássio, cálcio e zinco, ácidos graxos com propriedades anti-inflamatórias, e que, por consequência, é utilizada na alimentação humana.

Claro que quando pensamos dessa forma, devemos ter em mente que diversas pesquisas científicas são necessárias para garantir a seguridade do uso destas espécies. Ou seja, um controle rigoroso sobre o tipo de matéria orgânica e inorgânica presente nestas, além dos impactos que a exploração delas acarretariam, tanto os negativos quanto os positivos.

A salinização dos solos é uma ameaça à agricultura e a segurança alimentar. / Imagem: Nossa Ciência.

Citando novamente as plantas halófitas, cultivá-las em solos ricos em sais e improdutivos seria uma solução para o problema da infertilidade provocada pela presença de altas concentrações de sais no solo. Essas plantas também poderiam gerar produtos ou insumos para diversos ramos industriais, além de outros potenciais benefícios que só pesquisas científicas, dentro de diversas áreas de estudos, poderiam nos revelar.

Referências e Sugestões de Leitura:

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MIRANDA, Paulo Henrique. Além das PANCs, o que deixamos de ganhar por não conhecer nossa biodiversidade?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/alem-das-pancs-o-que-deixamos-de-ganhar-por-nao-conhecer-nossa-biodiversidade.html>.

A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030

Ontem, dia 5 de junho, foi o Dia Mundial do Meio Ambiente. No entanto, não há nada o que se comemorar. Retrocessos, afrouxamento de legislações ambientais como a dispensa de licenciamento aprovada na Câmara, e sucateamento dos órgãos de fiscalização, como IBAMA e ICMBio, aumento do desmatamento, invasão de terras indígenas estão em curso.

A devastação dos ecossistemas brasileiros vem se tornando cada vez mais preocupante, não só para a biodiversidade, como também, para própria humanidade. Afinal, afeta o clima global, a segurança alimentar e pode até ser o centro de origem de novas zoonoses.

Fizemos um raio-x dos nossos biomas detalhando a importância de cada um deles e o cenário atual de degradação, destruição.

Amazônia

Um dos habitats naturais mais preciosos do mundo e desempenha um papel vital na regulação da temperatura do planeta. Apesar de sua exuberância, a Amazônia sofre diariamente com diversas ações de desmatamento, que danificam o sistema de ‘rios voadores’, responsável por abastecer outras regiões do continente.

Dados oficiais do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta semana apontam que em abril e maio de 2021 a região registrou os maiores índices de alertas de destruição para os meses em toda a série histórica.

Imagem: Felipe Werneck/ IBAMA

Somente neste ano, entre janeiro e maio, foram 2,337 Km2 um aumento na área de 14,6% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar da cobertura de nuvens ter sido superior em 2021 (janeiro-maio) e apesar de ter chovido mais na região norte – o que em tese, deveria desacelerar o desmatamento.

A falta de chuva e a perda da biodiversidade provocadas pelo desmatamento na região sul da Amazônia já causam queda de produtividade e de receita ao agronegócio brasileiro. A estimativa é de que o prejuízo, mantidos os níveis de desmatamento, chegue até US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) por ano até 2050, segundo pesquisa publicada na ‘Nature Communications’.

Caatinga

A caatinga é o único bioma 100% brasileiro. Se estende por cerca de 70% do Nordeste e também se encontra no Norte de Minas Gerais. Considerado o bioma do semiárido mais diverso do mundo, a Caatinga possui mais de mil espécies de vegetais, destacando-se a carnaúba e o cumaru e quase duas mil espécies de animais, incluindo o veado-catingueiro, o tatu-peba e a asa branca.

De acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 42,3% da sua cobertura vegetal original já sofreu algum tipo de modificação e 52% do bioma sofre com problemas de degradação. Apenas cerca de 4% da área da Caatinga é protegida pelo Governo.

Cerrado

O segundo maior bioma do País ocupa quase 24% do território nacional (2 milhões de km²) e é considerado a savana mais biodiversa do planeta em fauna e flora. Também abriga as nascentes que alimentam as principais bacias hidrográficas do País. No entanto, apenas 8,21% de sua área é protegida por unidades de conservação, segundo dados do ICMBio.

De 2000 a 2019, foi o bioma mais afetado por queimadas, com focos de fogo em 41% de sua área, de acordo com o Mapbiomas. Em março deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) emitiu alertas de desmatamento para uma área de 529,3 km² de Cerrado, 146% a mais do que no mesmo período de 2020.

A região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como MATOPIBA, é considerada a vitrine do agronegócio brasileiro. Mas esse modelo vem acelerando o desmatamento no Cerrado. Imagem: Fernanda Ligabue / Greenpeace

Segundo dados disponibilizados pelo Mapbiomas, 43,8% do Cerrado é utilizado para agropecuária, o que é resultado do aumento de 61 milhões para 86 milhões de hectares registrado entre 1985 e 2019.

A situação é ainda mais preocupante em 2021. Somente entre 1 e 27 de maio de 2021, foram desmatados 870km², um aumento de 142% em comparação aos 360km² registrados no mesmo período em 2020.

Mata Atlântica

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o bioma cobria originalmente 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Mas, por estar presente na região onde estão as maiores cidades, atualmente restam apenas 12,4% da área de floresta original.

Este bioma é considerado o mais ameaçado do país e acolhe maior número de espécies ameaçadas, tanto em números absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos ecossistemas. São 1.026 animais ameaçados que vivem ali, sendo que 428 deles são endêmicos, ou seja, só existem em regiões de Mata Atlântica.

Pampa

Atualmente, resta apenas 36% da vegetação nativa da região, já que boa parte foi desmatada para a criação de monoculturas de soja e arroz. No Pampa, há apenas uma Área de Proteção Ambiental, que é a APA do Ibirapuitã.

Pantanal

O ano de 2020 foi um marco terrível para o Pantanal, pois cerca de 26% de sua vegetação foi devastada em incêndios transformando mais de 4 milhões de hectares deste bioma em cinzas. Estima-se que mais de 11 milhões de animais tenham morrido durante os incêndios. E os que sobreviveram começam, aos poucos, a retornar para as suas áreas.

Imagem: Vinícius Mendonça/ IBAMA

Por trás das queimadas estão a expansão da agropecuária e o fogo para manejo de áreas de pastagem, a degradação de biomas interligados (Amazônia, principalmente) que alteram os regimes de chuva por todo o Brasil e, uma fiscalização deficiente por parte dos órgãos governamentais. Segundo o ICMBio, somente 4.4% de seu território está protegido por unidades de conservação.

Década da Restauração

O relatório “Tornando-se #GeraçãoRestauração: restauração de ecossistemas para pessoas, natureza e clima” destaca que a humanidade está usando cerca de 1,6 vezes a quantidade de serviços que a natureza pode fornecer de forma sustentável. Isso significa que os esforços de conservação por si só são insuficientes para evitar o colapso do ecossistema em grande escala e a perda da biodiversidade.

A restauração do ecossistema é uma das formas mais importantes de fornecer soluções baseadas na natureza para a insegurança alimentar, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e perda de biodiversidade. O relatório destaca ao seu final que cada dólar investido em restauração dos ecossistemas cria até 30 dólares em benefícios econômicos.

Afinal, não basta não derrubar. É preciso contribuir para sua regeneração.

Assim, foi lançada nesta semana a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030, liderada pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 visa prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos. É um chamado para a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o mundo, para benefício das pessoas e da natureza.

Somente com ecossistemas saudáveis podemos melhorar a subsistência das pessoas, combater as mudanças climáticas e deter o colapso da nossa biodiversidade.

Mas o que você pode fazer?

  • Começar sua própria iniciativa em campo, unir-se a um esforço de restauração ou conservação existente, ou ajudar a construir uma aliança para apoiar a recuperação da natureza. Realize mutirões de limpeza de rios e lagos e praias.
Close Up of Person Collecting Plastic From the River. Man Cleaning River of Plastics. Environment Concept.
  • Mude seu comportamento e gastos para diminuir sua pegada ambiental local e global e direcionar recursos para empresas e atividades que restaurem a natureza, em vez de prejudicá-la. Encorajar outros ao seu redor a fazerem o mesmo. Isto é, alimente-se sazonalmente e regionalmente: descobrir quais frutas e plantas crescem perto de você durante qual época do ano.
Imagem: Creative Commons
  • Plante árvores: plantar árvores é uma atividade de restauração simples e enormemente popular. Você pode incluir árvores em um jardim, um espaço público, uma fazenda, em uma paisagem ou mesmo um país inteiro. A plantação seletiva pode revitalizar uma floresta degradada por sobre-exploração.
  • Fazer sua voz e ideias serem ouvidas em debates sobre como gerenciar seu ambiente local e sobre como podemos tornar nossas sociedades e economias mais justas e mais sustentáveis. Pressionar tomadores de decisão para fazerem a coisa certa.

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SOUZA, L. B. Leonardo. A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/a-decada-da-restauracao-de-ecossistemas-2021-2030.html>.

Da vanguarda ambiental ao retrocesso: o perigoso plot twist da Política Ambiental Brasileira

O Brasil possui uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. Desde a sua Constituição de 1988, que inclui a proteção jurídica ao meio ambiente, até leis voltadas exclusivamente para a matéria ambiental.

Temos leis que englobam diversas áreas do meio ambiente e assuntos correlatos como, por exemplo: as águas (Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei nº 9.433/97), os recursos marítimos (Política Nacional para os Recursos do Mar – Decreto nº 5.377/05), a biossegurança (Política Nacional de Biossegurança – Lei nº 11.105/05), a Mata Atlântica (Lei da Mata Atlântica – Lei nº 11.428/06); o saneamento básico (Política Nacional de Saneamento Básico – Lei nº 11.445/07), as mudanças climáticas (Política Nacional sobre Mudança do Clima – Lei nº 12.187/09), os resíduos sólidos (Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305/10), as florestas (Novo Código Florestal – Lei nº 12.651/12).

Serra da Mantiqueira

Além disso, o Brasil é um dos países mais biodiversos do mundo, com uma riqueza natural que engloba águas superficiais e subterrâneas, seis biomas (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal), espécies endêmicas, vasta extensão territorial, recursos minerais, recursos energéticos, alta incidência solar, posição geográfica favorável, dentre vários outros fatores que dão ao país vantagem natural e energética sobre os países desenvolvidos.

O país foi sede de dois importantes eventos internacionais relacionados ao tema, a Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra) e a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável), ganhando projeção internacional e possibilitando que, dessa forma, entrasse no radar de outras nações para negociações sobre meio ambiente e outros temas.

Líderes globais na Rio +20 (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável). / Imagem: Divulgação/UNIC Rio/Roberto Stuckert Filho. / Reprodução: Rede Globo.

Mas isso vem mudando, e caminhando para um perigoso retrocesso que já afeta não somente o meio ambiente, mas também o desenvolvimento de atividades agrícolas e industriais e, consequentemente, a economia do país, compromete a renda dos brasileiros, principalmente dos mais pobres, e prejudica a imagem do país no cenário internacional.

Quando o mundo inteiro discute a necessidade de preservar o meio ambiente diante da crise climática, incluindo e (re)criando métricas que aliam e alinham economia, governança, sociedade e meio ambiente, o Brasil caminha, a passos largos, na direção oposta. Afrouxamento da legislação ambiental, desmonte institucional, esvaziamento de discussões via descrédito na comunidade científica, negacionismo, intensificação do desmatamento, aumento das emissões de carbono, avanço da fronteira agrícola em direção à Amazônia, Cerrado e Pantanal, invasão de terras indígenas, garimpo ilegal…

Nos últimos anos observamos o meio ambiente sendo preterido diante do interesse de grupos específicos – como a bancada ruralista no Congresso, ciclo iniciado ainda com a aprovação do Novo Código Florestal na gestão de Dilma Rousseff, prosseguindo no governo Temer e sendo aprofundado no governo Bolsonaro. Esse retrocesso da política ambiental já prejudica o país com a perda de repasses diretos de outros países para políticas públicas ambientais, como o congelamento do Fundo da Amazônia.

“O Brasil deixou de receber R$ 299 milhões em 2019 que iriam para o Fundo da Amazônia, porque Noruega e Alemanha suspenderam os repasses diante da ideia do governo de usar o dinheiro para pagar um bônus a produtores rurais que cumprem a lei e não desmatam além do percentual máximo previsto. Antes o dinheiro do fundo era usado para projetos de reflorestamento e para a compra de equipamentos das equipes de bombeiros dos Estados do norte do país.” BBC Brasil

O retrocesso da política ambiental brasileira igualmente provoca crescente ameaça sobre as exportações brasileiras, já que, a opinião pública, os produtores rurais e empresas no exterior possuem grande influência sobre as decisões dos governos. Se não a questão ambiental, ao menos a questão econômica deveria acender o alerta do governo Bolsonaro, já que voltamos a ser um país primário-exportar que depende fortemente do comércio internacional para negociar e vender suas commodities. Nesse cenário de boicotes (a curto prazo) e possíveis barreiras comerciais (a médio e longo prazo) representam um grande risco para a balança comercial brasileira deteriorando ainda mais a situação econômica do país estagnada a partir de uma crise político-administrativa.

É imperativo se compreender que conservação do meio ambiente atualmente vai muito além da manutenção dos biomas e ecossistemas ameaçados pelo avanço de uma política econômica com mentalidade desenvolvimentista da década de 1970.

Conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável estão ligados à manutenção da vida na terra, à preservação das condições naturais de cultivo e produção, à obtenção de energia para consumo residencial e industrial, ao funcionamento de cidades, a oportunidades de negócios e a uma janela de oportunidade para o país despontar como referência mundial de desenvolvimento sustentado e sustentável por meio de sua rica biodiversidade.

A mentalidade política precisa englobar o meio ambiente e o desenvolvimento por vias sustentáveis antes que atinjamos o ponto crítico e seja tarde demais para nós.

Referências e Sugestões de Leitura:

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ABREU, Nathália. Da vanguarda ambiental ao retrocesso: o perigoso plot twist da Política Ambiental Brasileira. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/da-vanguarda-ambiental-ao-retrocesso-o-perigoso-plot-twist-da-politica-ambiental-brasileira.html>.

#VireCarranca – Um Velho Chico Para Todos

Por mais um ano, a Autossustentável apoia e vira carranca para defender o Velho Chico.

A campanha “Vire Carranca” em defesa do Velho Chico é uma mobilização do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e tem o objetivo de conscientizar a população sobre a preservação do Rio São Francisco e mobilizar todos pelo uso responsável dos seus recursos hídricos.

Neste dia 03 de junho celebra-se o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco cujo propósito é reforçar em todo o território da Bacia a importância de um rio vivo e ativo.

O tema desse ano é “Velho Chico para Todos”. Afinal, o Velho Chico é importante para todos, pois quem vive, quer água. O objetivo é chamar a atenção de que, para assegurar os usos múltiplos, é necessária a proteção dos recursos hídricos, através do Pacto das Águas, é prioritária.

Uma das diretrizes da Lei Nº 9.433, a Lei das Águas, é justamente garantir o uso múltiplo das águas, de maneira que todos os setores usuários tenham igualdade de acesso aos recursos hídricos.

Mas de quem é o Velho Chico?

Seria da população ribeirinha? Do agronegócio? Do turismo? Da geração de energia? Das indústrias, da pesca, da fauna e da flora?

Imagem: Divulgação – CBHSF

O rio São Francisco é um dos mais importantes cursos d’água do Brasil e de toda a América do Sul. De sua nascente, na Serra da Canastra (MG), até a foz, no Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe, o Rio São Francisco percorre 2.700 Km, levando a água que dá vida ao Semiárido. Ele corre por 521 municípios em 5 estados (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas). Além disso, sua bacia hidrográfica ocupa porções de três biomas: Cerrado (de Minas Gerais ao oeste e sul da Bahia), Caatinga (nordeste baiano) e Mata Atlântica (no Alto São Francisco, principalmente nas cabeceiras).

A Bacia do Rio São Francisco é o responsável por 70% da água doce do Nordeste e de boa parte do estado de Minas Gerais. O Velho Chico alimenta a vida e a esperança dos 18 milhões de brasileiros que dependem direta ou indiretamente de suas águas, seja para o abastecimento público, para a agricultura, as indústrias, a geração de energia, navegação, pesca e aquicultura, turismo e recreação, entre outros.

Cânions do Rio São Francisco. Imagem: Fabricio Ferreira Silva / Wikimedia Commons

O rio ainda possui o quinto maior cânion navegável do mundo – o Cânion do Xingó. Com lindos paredões rochosos esculpidos naturalmente, com a ação do clima e dos ventos, há mais de 60 milhões de anos, formam uma impressionante paisagem dominada pelo verde da água em contraste com o alaranjado dos paredões.

E o que é esse “Pacto das Águas”?

O “Pacto das Águas” sugere que a União, os estados, os municípios e os comitês de bacias hidrográficas incorporem a questão dos recursos hídricos da bacia do São Francisco em sua vida política e institucional.

É a proposição de ações coordenadas para prever a distribuição da água da bacia do São Francisco garantindo a sua qualidade, quantidade e o uso racional e democrático das suas águas, evitando conflitos, além de estabelecer compromissos e ferramentas de monitoramento e revisão ao longo do tempo.

Assim, com planejamento é possível garantir água de qualidade e em abundância para quem produz, para quem pesca, planta, visita, gera energia e para quem vive lá!

#VelhoChicoParaTodos. Para quem usa hoje e para quem vai usar amanhã.

Para mais informações sobre a campanha, acesse: http://virecarranca.com.br

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SOUZA, L. B. Leonardo. #VireCarranca – Um Velho Chico Para Todos. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/vire-carranca-velho-chico-para-todos.html>.

Mostra Ecofalante de Cinema tem programação especial para a Semana do Meio Ambiente

Pelo segundo ano consecutivo, a mostra acontece de forma online e gratuita.

Mostra Ecofalante de Cinema preparou mais uma edição bem especial para celebrar a Semana do Meio Ambiente. Entre os dias 2 e 9 de junho haverá uma programação online e com acesso gratuito a 16 filmes e duas séries para TV, e trará também debates, webinars e master classes.

A proposta da Mostra Ecofalante de Cinema este ano é abranger e destacar questões, impasses e possíveis soluções relacionados aos problemas da Amazônia, promovendo a participação da comunidade na preservação deste patrimônio natural do Brasil.

Um ciclo de debates coloca em discussão diferentes questões que afetam a Amazônia, como o uso das terras, infraestrutura, bioeconomia e crise climática. Participam dos encontros, entre outros, o documentarista João Moreira Salles, o professor Ricardo Abramovay, a Secretária de Ciências e Tecnologia do Amazonas Tatiana SchorDanicley de Aguiar, do Greenpeace Brasil, e os cineastas Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel.

Na programação da edição especial da Semana do Meio Ambiente estão os seis episódios da série exclusiva HBO “Transamazônica: Uma Estrada Para o Passado”, série dirigida por Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel, uma coprodução entre a HBO Latin America Originals e a Ocean Films.

Imagem: Mostra Ecofalante

A elogiada produção percorre a rodovia BR-230, obra faraônica iniciada durante a ditadura civil-militar (1964-1985), com extensão implantada de 4.260 km e nunca finalizada. Da extração ilegal de madeira e a rotina nos garimpos ao total abandono da população, a série documental retrata a atual situação de quem vive nas regiões por onde passa a via.

Entre os títulos programados está “BR Acima de Tudo”, uma produção do ((o))eco que trata dos impactos da possível expansão da rodovia BR-163, cujo traçado corta a floresta amazônica em direção à fronteira com o Suriname, projeto gestado durante a ditadura civil-militar (1964-1985).

Já o “Edna”, de Eryk Rocha, focaliza as marcas da guerra pela terra em uma moradora nas margens da rodovia Transbrasiliana (BR-153, ou rodovia Belém-Brasília), e “A Última Floresta”, do diretor Luiz Bolognesi, selecionado para a edição deste ano do Festival de Berlim e protagonizado por Davi Kopenawa, xamã da tribo Yanomami corroteirista do filme que vive embates com garimpeiros que chegam a seu território.

Cena do filme Quando Dois Mundos Colidem, sobre conflitos na Amazônia peruana – Foto: Reprodução/Yachaywasi Films

Na programação está incluído o multipremiado longa-metragem britânico “Quando Dois Mundos Colidem”, que aborda o violento conflito desencadeado na Amazônia peruana por um projeto de extração de petróleo, minério e gás, que vitimou os povos indígenas ali residentes.

Entre os filmes programados pelo evento estão os premiados: “Soldados da Borracha” (de Wolney Oliveira), vencedor do prêmio de melhor filme (concedido pelo público) na Mostra Ecofalante de Cinema de 2020; “Amazônia Sociedade Anônima” (de Estevão Ciavatta), finalista do One World Media Awards, um dos mais importantes prêmios internacionais da área; “Mataram Irmã Dorothy”,  coprodução EUA/Brasil que venceu o grande prêmio do júri e prêmio do público no cultuado Festival SXSW ao acompanhar o julgamento dos assassinos de irmã Dorothy Stang; e “Serra Pelada: A Lenda da Montanha de Ouro” (de Victor Lopes), sobre o maior garimpo do Brasil e premiado como melhor filme no FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental.

“Sob a Pata do Boi – como a Amazônia vira pasto”

Título selecionado para o Festival de Berlim, “O Reflexo no Lago”, de Fernando Segtowick, trata de comunidades ribeirinhas localizadas próximas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Já projetos com propostas de uso da floresta de maneira sustentável estão em “Amazônia Eterna”, de Belisario Franca. A atriz Christiane Torloni dirige, em parceria com Miguel Przewodowski, “Amazônia, o Despertar da Florestania”, uma discussão sobre questões ambientais da floresta amazônica. “Sob a Pata do Boi”, de Márcio Isensee e Sá, focaliza a relação da pecuária com a Amazônia. Já o curta-metragem “Ameaçados” a diretora Julia Mariano mostra a luta de pequenos agricultores do sul e sudeste do Pará.

DEBATES

“Amazônia: Uma Questão de Terra(s)”Dia 04/06, sexta-feira, às 19h00

São várias as atividades econômicas que fazem pressão sobre a maior floresta tropical do mundo e os povos tradicionais que lá vivem. Atualmente, uma série de leis em tramitação procura regular tais atividades. Quais são os principais beneficiários dessas leis? Participam do encontro Brenda Brito, pesquisadora do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), Marcello Brito, presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) e Sônia Guajajara, líder indígena nacional (APIB). O jornalista acreano Fábio Pontes faz a mediação.

“Amazônia: Infraestrutura Para Quem?” Dia 07/06, segunda-feira, às 19h00

A Amazônia é palco de atividades econômicas desde o Brasil Colônia, mas foi só na ditadura militar que os projetos de desenvolvimento em grande escala surgiram, trazendo consigo uma ocupação desordenada e um forte desmatamento. Hoje, fala-se muito na necessidade de infraestrutura na região para alavancar a economia e apoiar um projeto de desenvolvimento sustentável. Como resolver o gargalo sem ampliar a destruição? Será necessário uma nova compreensão do território para alcançar esse objetivo? Integram a mesa Ana Cristina Barros, pesquisadora do CPI – Climate Policy Initiative, Suely Araújo, especialista-sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do IBAMA, e Simão Jatene, ex-governador do Pará. Sérgio Leitão, diretor do Instituto Escolhas, faz a mediação.

“Raízes da Amazônia: Projetando o Futuro” Dia 08/06, terça-feira, às 19h00

Quando o tema é o futuro da Amazônia, fala-se em bioeconomia, mercado de carbono, valorização da floresta em pé, inúmeros projetos que contemplam a biodiversidade da maior floresta do mundo e os ‘serviços ambientais’ não contabilizados que ela presta. Por outro lado, há também uma efervescência cultural – nas artes, na gastronomia, no pensamento e conhecimento milenar das múltiplas culturas da Amazônia que necessitam de reconhecimento. O debate propõe um novo olhar sobre a Amazônia, seu enorme potencial e a contribuição de seus povos. Participam Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP) e autor de “Amazônia: Por uma Economia do Conhecimento da Natureza”, a Secretária de Ciências e Tecnologia do Amazonas Tatiana Schor e Eliakin Rufino, compositor e produtor musical de Roraima. Mariano Cenamo, diretor do Idesam/AMAZ faz a mediação.

Amazônia e os Futuros Possíveis” – Dia 09/06, quarta-feira, às 19h00

Trata-se de uma conversa sobre o documentário “BR Acima de Tudo”, que retrata a diversidade socioambiental em uma das partes mais preservadas da floresta brasileira, e as perspectivas da chegada de uma rodovia na região. Participam da mesa Fred Rahal Mauro, diretor do filme, e, a confirmar, Angela Kaxuyana, da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, e Carlos Printes, da ARQMO – Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná.

Webinário – “A Crise Climática e a Amazônia”– 07 de junho, segunda-feira, das 10h00 às 12h00.

Entre os convidados estão dois dos mais influentes cientistas brasileiros da atualidade: o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP, que atua principalmente nas questões de mudanças climáticas globais e meio ambiente na Amazônia, e o climatologista e meteorologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), especialista em mudanças climáticas e Amazônia.

Toda a programação pode ser acessada através do endereço: https://ecofalante.org.br

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SOUZA, L. B. Leonardo. Mostra Ecofalante de Cinema tem programação especial para a Semana do Meio Ambiente. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/mostra-ecofalante-cinema-2021-semana-meio-ambiente.html>.

Como a Crise Climática Ameaça o Meio Ambiente e Nossas Vidas?

No próximo dia 05 é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, mas não temos muito a comemorar. São tantos os impactos causados por nós no meio ambiente que as mudanças climáticas se agravaram de tal forma que atingimos uma crise climática sem precedentes.

 “2020 não foi apenas o ano da pandemia, foi também o ano do recorde de temperaturas e de crescente impacto das mudanças climáticas: enchentes, secas, tempestades, incêndios e pragas de gafanhotos. Ainda mais preocupante é que o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de pelo menos 3°C neste século.” ONU Brasil

Diante desse grave cenário, 11 mil cientistas de 153 países declararam, em novembro de 2019, que o planeta está em situação de emergência climática. E isso exige ações imediatas de instituições, governos, empresas, de mim e de você. De todos nós! Caso contrário a espécie humana e milhares de outras espécies estarão fadadas a desaparecerem do planeta.

Geleira localizada na Antártida pode cruzar seu ponto de inflexão. / Imagem: Danting Zhu/Unsplash / Reprodução: Revista Galileu.

Impactante, não é? Mas realmente precisamos entender a gravidade da situação. E exigir ações efetivas de nossos governantes e das empresas que consumimos produtos e serviços. O que vendo sendo feito de fato para conter e mitigar a crise climática que está gerando a crise ambiental e sanitária que também estamos enfrentando atualmente?

Nasci em um mundo que já discutia os impactos do crescimento econômico sobre o meio ambiente e a saúde das pessoas. Desde criança ouço que o planeta está funcionando em cheque especial, uma referência ao conceito de Sobrecarga da Terra (data que marca o dia em que a demanda da humanidade por recursos e serviços ecológicos excede o que a Terra poderia regenerar até o fim do ano). Sou da geração que cresceu ouvindo sobre as negociações do Protocolo de Kyoto, sobre o buraco na camada de ozônio e como os gases CFC (clorofluorcarbonetos) comprometeram boa parte da atmosfera. Lembro dos noticiários mostrarem cada vez mais eventos climáticos extremos (secas, furacões, enchentes…) e toda comoção momentânea que eles geravam pelas vidas que, muitas vezes, se perdiam e por todas as consequências que traziam como pessoas desabrigadas, que perderam o pouco que tinham.

Segundo o governo do estado do Amazonas, Anamã é a cidade mais afetada pela cheia de 2021. Segundo o Estado, a cidade está 100% inundada pelas águas. / Imagem: Defesa Civil do Amazonas.

Desde a década de 1970 o alerta sobre o perigo dos impactos humanos no meio ambiente vem sendo debatidos – em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo – abrindo caminho para diversas outras conferências, para a criação de importantes programas e organizações – como, respectivamente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).   

Atualmente temos diversos mecanismos recomendatórios de abrangência internacional – como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o Acordo de Paris – mas, como a própria nomenclatura aponta, são de caráter recomendatório, deixando a cargo de cada país como estas metas serão internalizadas. E o que observamos nas últimas décadas, pelo agravamento da crise climática, é que mudanças efetivas são bem pouco aplicadas.

Enganam-se os que acreditam que as consequências da crise climática se restringem apenas à área ambiental. Talvez esse tipo de pensamento ocorra pelo modelo econômico que utilizamos, a economia linear, que considera a natureza como provedora irrestrita de recursos naturais e serviços ecossistêmicos e receptora de todos os resíduos gerados pelas diversas fases do processo de produção e consumo.

Imagem: Carinho Eco Green.

Já sentimos em nosso bolso os impactos das secas de importantes rios na região Sudeste e Centro-Oeste. O impacto econômico das secas é sentido no setor energético com contas de energia elétrica com bandeira tarifária vermelha no segundo patamar, a mais alta. E também no setor alimentício com a alta do preço de itens da cesta básica.

As cidades também enfrentam os efeitos da crise climática com a variabilidade do ciclo hidrológico, que ora resulta em estiagens (período de secas) e ora traz épocas chuvosas longas e intensas. Essa variabilidade ocasiona em racionamento do abastecimento de água, comprometendo a assepsia e higiene durante a pandemia; em enchentes que podem levar a surtos de doenças transmitidas pela ingestão ou contato com água contaminada, além de diversos outros problemas para a saúde pública, para a infraestrutura da cidade e, consequentemente, para a economia dessas cidades.

Grande parte do bioma Pantanal foi engolido por fogo em 2020. / Imagem: Mayke Toscano/Secom-MT.

Estamos bem mais conectados à natureza do que imaginamos e sentimos no cotidiano. O desmatamento e as queimadas do bioma amazônico, do bioma cerrado e do bioma pantanal já são sentidos em cidades próximas pela poluição do ar – o fogo que consome o material orgânico lança uma grande quantidade de carbono atmosfera formando densas cortinas de fumaça que comprometem a saúde – do solo e das águas. E os impactos não se limitam às cidades próximas, como no caso da influência da Amazônia no regime de chuvas em outras regiões graças aos rios voadores.

Por isso a crise climática deve receber a devida atenção, se continuarmos tratando ou tentando tratar apenas os efeitos dessa crise, a tendência é que o cenário piore consideravelmente nos próximos anos, muitos pesquisadores alertam para o surgimento de novas doenças e para o retorno de antigas devido ao avanço do desmatamento e deflorestamento. A intensificação dos eventos climáticos será cada vez maior causando fome, desabrigados, refugiados climáticos, países insulares e cidades costeiras sendo engolidos pelo mar. A situação é grave! E as ações precisam ser, no mínimo, da mesma intensidade.

Referências e Sugestões de Leitura:

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ABREU, Nathália. Como a Crise Climática Ameaça o Meio Ambiente e Nossas Vidas?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/como-a-crise-climatica-ameaca-o-meio-ambiente-e-nossas-vidas.html>.

O que é que o Natal faz com a gente?

Seja lá qual for a sua crença, o seu credo, a sua cultura, te peço (talvez seja muito, eu sei) um fôlego de 3 minutos para ler esse texto, se libertar desse peso que está aí dentro e vivenciar a magia do Natal de novo, porque você merece depois de tanta coisa!

2020 foi um ano para lá de exaustivo. Teve tristeza, frustração, muitas e muitas perdas. Perdemos vidas, histórias, a liberdade de ir e vir, a possibilidade de abraçar e estar junto de quem amamos. Perdemos empregos, cancelamos ou adiamos eventos (pode parecer até supérfluo falar disso, mas quantos sonham a vida toda com casamentos, formaturas, aniversários e quando finalmente chegaria o dia, veio a pandemia e mudou os planos). Ganhamos ansiedade, os medos viraram pânico, as incertezas tomaram conta.

Nos deparamos com questões enraizadas na nossa cultura, com mortes banalizadas, seja pela Covid-19, seja pela violência, seja pelo preconceito. Tenho um amigo que sempre diz: a gente aprende pelo amor ou pela dor. E, neste ano, infelizmente, dor não faltou. A gente aprendeu muita coisa na marra. E vou até parar por aqui, porque cada linha é uma lágrima. Me perdoem os coaches e “good vibes only”, mas foi um ano muito difícil para muita gente! E esse tal de “novo normal” que tentaram nos empurrar goela abaixo para seguirmos fingindo naturalidade não desceu não. Nada disso pode ser considerado normal, mesmo que seja normalizado pela rotina.

Eu gosto dos poréns da vida e eles sempre vêm. Acredito que eles servem justamente para nos dar vírgulas. Para concluirmos de um jeito diferente e podermos iniciar novos parágrafos com mais leveza e esperança. Quer um exemplo bem pequeno? É uma fase difícil, porém os dias ruins também chegam ao fim.

Imagem: Creative Commons

E dezembro é o mês que traz a maior quantidade de poréns do ano. Porque podemos ser egoístas, porém o Natal traz solidariedade e união. Porque o ano foi ruim, porém trouxe muito aprendizado e dia 31 a gente leva o que aprendeu e o que teve de amor para um novo ciclo. Porque estamos todos exaustas e exaustos, porém estamos juntos e renovamos a esperança de que dias melhores virão.

Porque a gente ama sonhar! Talvez mais até do que ame viver. E dezembro é mês de sonho, de programar um momento mágico para o Natal, de planejar o cardápio, a decoração, a roupa das festas de Natal e Ano Novo (mesmo que seja pra ficar na sala de casa), de brincar com a palavra Reveião, Reveillon, Rebelião, de fantasiar 365 novas possibilidades de dias bons.

Imagem: Freepik

E eu te pergunto: o que é que o Natal faz com a gente? Faz a gente ser humano! Eu amo Natal, não pela parte cristã e nem pela parte capitalista. Eu amo o Natal pela magia que ele traz para as pessoas. Pela sensação de amor, de solidariedade, de estar junto, de ser presente, de esperança. Imagina que lindo se fosse Natal o ano inteiro e a gente entendesse que o maior presente de Natal é, na verdade, amar?

Se eu posso desejar algo para o Natal de cada um e cada uma é que todos se sintam amados, acolhidos, pertencentes a esse universo tão lindo, apesar de todos os pesares (e também por causa deles). Que possamos agradecer por estarmos aqui, por termos a chance de sermos pessoas melhores para nós mesmos, para os outros e para o planeta. Que a gente não espere mais uma semana para sermos a mudança que queremos ver no mundo, mas que continuemos tentando por nós mesmos, pelas pessoas e pelo planeta. Que de 2020, a gente leve o aprendizado do que realmente importa.

Imagem: Freepik

Como disse Carol Busatto, uma das pessoas que me inspira a seguir em meio ao caos, “é a gente que pinta a aquarela da nossa vida”. Que possamos escolher as cores que fazem nosso coração pulsar contente. O Ano Novo chega dia primeiro, mas se 2020 nos ensinou algo é que uma semana é muito tempo e tudo pode acontecer. Que o amanhã seja lindo, mas que o hoje seja melhor ainda!

Feliz sonhos, feliz amor, feliz paz no coração, feliz vida e feliz Natal!

Um abraço, com afeto.

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CARVALHO, Bruna. O que é que o Natal faz com a gente?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/o-que-e-que-o-natal-faz-com-a-gente.html>.

“Os seres humanos são estúpidos demais para evitar a mudança climática.”

As palavras de James Lovelock em sua entrevista para o The Guardian, em 2010, parecem cada dia mais fazer sentido. A manutenção de um modelo civilizatório predatório, competitivo e excludente, que trata as pessoas como recursos, e os recursos como infinitos, tem causado danos aos sistemas naturais e sociais que se tornam gradualmente irreversíveis. Os bônus desse modelo são para poucos, enquanto os ônus são compartilhados com todas as formas de vida do planeta.

A COVID-19 é também uma das inúmeras consequências das formas como nos relacionamos com o ambiente. Uma das características de um evento pandêmico é a velocidade com que sentimos suas consequências e a rapidez com que nos mobilizamos para enfrentá-lo, diferindo de outros problemas socioambientais, como, por exemplo, a mudança climática, apesar de já estar sendo chamada a tempos de emergência climática.

A mudança climática possui a característica de mostrar seus efeitos de forma lenta, gradual e que, por sua complexidade, dificulta análises mais apuradas de causa e consequência, em especial, em escala local. Dessa forma, ela se configura como um dos maiores desafios já enfrentados pela humanidade, e coloca em cheque um mundo de expressão neoliberal baseado nos combustíveis fósseis e no consumismo.

Grafite em uma parede próxima ao Canal Regent, em Camden, em Londres, em 22 de dezembro de 2009. A mídia britânica atribuiu o novo trabalho ao aclamado artista de rua britânico Banksy. REUTERS / Luke MacGregor

Em resumo, apesar das evidências e de que 97% dos cientistas climáticos concordarem que o clima está mudando graças às atividades humanas, a maior parte da população mundial está à margem desse debate, cética quanto às suas conclusões e, ao mesmo tempo, sofrendo suas consequências.

Segundo o NY Times, somente no primeiro semestre de 2019, mais de 7 milhões de pessoas perderam suas moradias por conta de eventos climáticos extremos. Vale lembrar que esse e outros impactos são vividos, em geral, por comunidades mais vulneráveis e acontecem, via de regra, distantes do conforto e segurança de onde vivem a maior parte dos políticos e outros tomadores de decisão.

Imagem: Creative Commons

As mudanças climáticas não podem ser encaradas como um tema ambiental, mas, sim, social. Reverter esse quadro complexo exige uma série de esforços combinados desde a esfera privada, via mudanças de comportamentos, até amplas políticas públicas de descarbonização. A eleição de Biden joga uma nova luz nessas questões, pois quebra a dominância de um olhar calcado no crescimento econômico, e no desprezo à ciência e à busca de novos modelos civilizatórios. Tal visão parece cada vez mais em moda no Brasil.

Sendo um desafio social, informação de qualidade e participação são fundamentais na busca por soluções. Nessa direção, a educação, e mais especificamente a Educação Climática, parece também emergencial nas escolas, uma vez que visa informar e motivar as pessoas a se tornarem cidadãos ativos no enfrentamento das mudanças climáticas (Stevenson, Nicholls, Whitehouse, 2017).

Parte central dos processos envolvendo Educação Climática é a aproximação do tema da Mudança Climática dos currículos do ensino básico e, consequentemente, da vida das comunidades. Apesar disso, em toda a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) o tema é mencionado somente três vezes de forma genérica e nada propositiva.

Existem diferentes caminhos possíveis para a implementação de uma Educação Climática. O trabalho com competências climáticas se mostra um dos mais promissores no momento atual.As competências climáticas guiam a criação de diferentes estratégias de ensino que visam desenvolver a compreensão, a consciência e as habilidades necessárias para o enfrentamento local e global das mudanças climáticas (Fuertes et al., 2020). Dessa forma, estabelecer o diálogo entre competências climáticas e o currículo exige uma abordagem não somente temática, mas que leve em consideração a centralidade de diferentes conceitos, atitudes, valores e habilidades a serem trabalhados.

Imagem: Creative Commons

Do ponto de vista estrutural, ou seja, pensando no currículo como possuindo uma lógica horizontal (que estimula a interdisciplinaridade) e uma vertical (visando progressão lógica e complexa), pode-se considerar quatro pontos fundamentais a serem considerados:

  • Informação: valorizando o papel da Ciência, dos cientistas, e das formas de construção desse conhecimento baseado em investigação e busca por evidências.
  • Adaptação: compreensão dos impactos, vulnerabilidades e a importância das ações locais e globais baseadas nos mecanismos de redução de risco de desastres e preservação da vida.
  • Mitigação: busca por novos modelos civilizatórios que reduzam a dependência dos combustíveis fósseis e estabelecimentos de novos propósitos de vida.
  • Comunicação: divulgar práticas inovadoras, ampliando o círculo de corresponsabilização na busca de soluções para as mudanças climáticas.

A informação depende da identificação de conceitos centrais na compreensão das dinâmicas associadas às mudanças climáticas, permitindo a construção de narrativas que estabeleçam conexões complexas e críticas entre causas e efeitos. Mecanismos de adaptação devem trazer o contexto, ou seja, o olhar para o território e as possíveis conexões com as mudanças climáticas, fomentando a criatividade na busca por soluções.

Mecanismos de mitigação, por sua vez, ampliam o olhar para a história e as escolhas da espécie humana de forma a compreendê-la melhor na busca por caminhos para a redução da emissão de GEEs. Por fim, a comunicação deve garantir escala e acesso às boas informações e ideias, inspirando o enfrentamento das mudanças climáticas. Todos os quatro pontos dialogam, estão conectados, e contribuem para a alfabetização climática dos estudantes e professores.A busca por mecanismos de adaptação e mitigação, em especial, possui grande potencial educacional, pois estimula a investigação, a pesquisa, a cultura maker e o uso de metodologias ativas de aprendizagem. Por meio da análise integrada da escola e do território, estimula-se a identificação de possíveis vulnerabilidades que precisam ser trabalhadas, a fim de buscar soluções para reduzir os riscos e impactos das mudanças climáticas e garantir, por exemplo, que a escola e outros serviços fundamentais continuem funcionando mesmo frente a um evento extremo, tornando a comunidade mais resiliente.

Imagem: Edson Grandisoli

Dessa forma, a Educação Climática pode transformar a escola em um polo de criatividade, enfrentamento das mudanças climáticas e construção de novos conhecimentos, garantindo um novo significado ao conceito de aprendizagem e influenciando as esferas pessoal, comunitária e política no estabelecimento de novos valores mais coletivos e solidários.

Para que essa revolução aconteça é preciso reconhecer a urgência das questões ligadas ao clima e ter coragem para agir. Um dos caminhos para isso é engajar sua comunidade em eventos pontuais como a Marcha pelo Clima, ou mais continuados como o Movimento Escolas pelo Clima.

Imagem: Creative Commons

Se todos reconhecemos a urgência e gravidade do problema, o que estamos esperando para agir?

Referências

Fuertes, M. A. et. al. Climate Change Education: A proposal of a Category-Based Tool for Curriculum Analysis to Achieve the Climate Competence. Education in the Knowledge Society 21, article 08, 2020. https://doi.org/10.14201/eks.21516

Stevenson, R. B.; Nicholls, J.; Whitehouse, H. What Is Climate Change Education? Curric. Perspect., 2017. https://doi.org/10.1007/s41297-017-0015-9

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GRANDISOLI, Edson. “Os seres humanos são estúpidos demais para evitar a mudança climática”. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/os-seres-humanos-sao-estupidos-demais-para-evitar-a-mudanca-climatica.html>.

Monoculturas da Mente – Entenda o modo de vida destrutivo sobre a Terra

Entenda porque fomos e estamos condicionados a um modo de vida destrutivo sobre a Terra.

Esta leitura serve para todos àqueles que estão dispostos a sair do véu do desconhecimento e olhar de fato para o funcionamento do mundo que habitamos. Para assim, sair do automatismo e rapidez que atropela a todo tempo o próprio modo de vida genuíno e autêntico. É preciso sair da ilha, para enxergar a ilha. Neste artigo te convido a isso.

Para começar, gostaria de introduzir a autora do conceito: Vandana Shiva, PDH em física, ativista ambiental e ecofeminista. Ela participou de diversos movimentos ecologistas na Índia desde a década de 1970 e ativamente de fóruns internacionais como porta-voz do contra-desenvolvimento capitalista.

Fonte: Medium.

Com este termo, ela traz a reflexão acerca de temas como as políticas globais de conservação e preservação da biodiversidade, biotecnologia, ciência e poder, autonomia dos povos, produção de alimentos e outros insumos.  Critica os grandes organismos internacionais e as corporações que interferem na definição de políticas mundiais amparadas no conhecimento científico gerado pela comunidade acadêmica, desconsiderando, desta forma, comunidades tradicionais que  dependem da manutenção da biodiversidade.

Segundo Vandana Shiva, a cultura e o conhecimento científico ocidentais tornaram-se hegemônicos e passaram a ser encarados como únicas formas possíveis de se conceber a realidade e atuar no mundo. Aquilo que o foge dessa esfera passa a ser encarado como anticientífico, primitivo e, com o tempo, acaba desaparecendo.

A partir disso, Vandana desperta o questionamento sobre o pensamento unilateral que se instalou no mundo, denominando o processo de “monoculturas da mente”. Segundo ela, a monocultura inicia-se na mente para só depois chegar ao solo. Isso ocorre quando um grupo ou um sistema se autodetermina superior, sobretudo em termos de conhecimento e cultura, e crie mecanismos para imprimir em outras sociedades as formas de pensar e de estar no mundo.

Foto: Giselle Paulino, 2008. / Reprodução: Drops de Sustentabilidade.

Os sistemas modernos de saber provêm de uma cultura “ultradominadora e colonizadora […] e são, eles próprios, colonizadores” (SHIVA, 2003, p. 21).

Vandana afirma ainda que os sistemas locais de saber sofrem uma série de violências, destacam-se duas:   (a)   não   são   considerados   como   saber,   são obscurecidos  e  tornados  desprezíveis;  (b)  o  sistema  dominante  destrói  as próprias  condições  de  existência  concreta  dos  sistemas  locais,  eliminando alternativas ao sistema imposto. Dessa maneira, a relação com a diversidade cultural, ecológica e biológica que os diferentes sistemas de saber apresentam está condenada ao desaparecimento, e  também  são  solapados  “os  meios  de vida das pessoas, cujo trabalho está associado ao uso diversificado e múltiplo dos  sistemas  de  silvicultura,  agricultura  e  criação  de  animais”.

As reflexões são trazidas para o universo da agricultura e da silvicultura, destacando que a proposta do modelo ocidental moderno para essas áreas é a expressão concreta do saber dominante e  das  necessidades  do  mercado, gerando  uniformidade  e  destruindo  a  diversidade.

Contudo, um tipo de conhecimento ou determinada cultura não ganham status de superior simplesmente porque realmente o é. Isso acontece por meio da dominação. Como assegura Shiva, poder e saber são indissociáveis porque tem a ver com a forma que alguns grupos passaram a ser vistos com a ascensão do capitalismo. Nesse sentido, para que um grupo ou determinada nação consiga impor sua forma de pensar ao mundo, é necessário que tenha poder aquisitivo e que o tenha em maior valor do que os grupos que deseja dominar.

Imagem: Gerd Altmann/Pixabay.

A autora salienta que esse poder ainda se torna mais forte e ganha validade, porque se tende a conceber o sistema dominante não como uma tradição local globalizada, mas como uma tradição universal, que é superior aos sistemas locais. “O saber dominante também é produto de uma cultura particular” (SHIVA, 2003, p. 22).

No entanto, as sociedades que estão sob o jugo desse poder parecem alienadas e reproduzem o pensamento, modo de vida, modos de produção do sistema dominante, sem nenhum pensamento crítico a tal respeito. Mas isso não acontece por acaso, simplesmente porque as pessoas gostam de ser dominadas e desejam isso. Os sistemas dominantes atuam de maneiras diversas para que seu saber continue perpetuando e para que permaneça reinando absoluto, desconsiderando todos os outros saberes.

Imagem: Freepik.

Portanto, cabe a nós a reflexão sobre o modus operandi que se encontra o planeta. Isto é, um sistema capitalista que pressupõe a eliminação de outras culturas para sobressair um modo totalitário, impondo certos modos de vida, de pensamento, de compra, de produção, etc. E busca abolir aqueles que fogem a esse modelo.

É preciso estar atento e usar da coragem que habita em si para buscar uma vida verdadeira que condiz com seus próprios valores e construir seu sentido no mundo, não deixando dominar-se por ele. Ser voz ativa e não apenas reproduzir pensamentos e ações diárias que estão destruindo o ecossistema terrestre, que só visa o lucro. Destrói-se a vida em prol de dinheiro, sem medir o impacto que causa em nós e nos outros seres da Terra. Não podemos fechar os olhos para isso e fingir que não acontece. Saber é poder. O conhecimento expande os horizontes e ajuda-nos a não submeter ao que supostamente dizem que é “certo”.

Referências:

 

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MUNIZ, Isabella. Monoculturas da Mente – Entenda o modo de vida destrutivo sobre a Terra. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/monoculturas-da-mente-entenda-o-modo-de-vida-destrutivo-sobre-a-terra.html>.

Um chá de transformação!

Diz a lenda que, em meados de 250 a.C., o imperador chinês Shen-Nung estava sentado na sombra de uma árvore e fervia uma água a fim de purificá-la, como era de costume. A brisa da primavera trouxe para a água quente algumas folhas da árvore. Atraído pelo aroma, o imperador bebeu aquela infusão e, percebendo a sensação de bem estar e lucidez, começou a propagar a cultura do chá.

Hoje em dia é muito comum falarmos de chá fazendo referência à infusão de qualquer erva em água. Todo mundo tem uma receitinha infalível para curar alguma doença, algum desconforto físico ou emocional. O que muita gente não sabe é que as folhas que caíram na água do imperador vem de uma planta específica chamada Camellia sinensis, a verdadeira planta do chá, que dá origem ao chá verde, chá branco, chá preto e tantos outros, dependendo da forma de processamento feita.

Camellia sinensis cultivada em sistema agroflorestal. Foto: Camila Grinsztejn/ Autossustentável

Chá é uma palavra em mandarim que chegou ao português justamente porque os portugueses colonizaram Macau, uma região na costa sul da China continental. Nas línguas espanhola, italiana, dinamarquesa, norueguesa, sueca e húngara se escreve té, em inglês Tea, em francês thé, em finlandês tee, em coreano ta. Ou seja, nós brasileiros falamos mandarim toda vez que queremos tomar uma xícara de chá, já que em quase todo o resto do mundo prevalecem as variedades de té.

Ainda assim não associamos o chá à planta Camellia sinensis e a cultura do chá no Brasil gira muito em torno das plantas medicinais e da medicina popular, que utiliza espécies nativas devido à nossa incrível biodiversidade. Mas, na época que moravam por aqui, os portugueses tentaram cultivar a planta chinesa em terras tupiniquins, especialmente na região de Registro (SP), onde ainda é possível encontrar algumas plantações.

Matchá usado para a tradicional Cerimônia do Chá. / Fonte: Mundo Nipo.

Hoje, muitos outros países se destacam como produtores de chá de qualidade. Cada um possui uma característica específica que depende do terroir, do solo, da altitude, do clima, entre tantas outras coisas. Por exemplo, os melhores chás pretos do mundo são os indianos, com destaque para os produzidos na região de Darjeeling, Assam e Nilgiri. Na Inglaterra qualquer chá preto será bebido com leite. Sim, a prática é quase obrigatória entre os ingleses, porque ao adicionar o leite, os taninos do chá ligam-se com as proteínas do leite, tornando a bebida muito menos adstringente. Os chás verdes do Japão trazem notas de algas, mas o grande destaque da região é o matchá, um chá verde em pó extremamente antioxidante.

A forma de colher e de processar a planta é o que vai definir o tipo de chá que ela vai ser. Tradicionalmente existem os mestres de chá que definem a qualidade do produto final. Entretanto, existem produtores que fazem isso de forma mais artesanal e outros em grande escala para atender a demanda global por chá, que é uma das bebidas mais consumidas do mundo. Este problema da escala de produção é justamente o que transformou toda uma cultura em produto, algo que deveria ser especial, mas hoje representa veneno para nós e para o solo, exploração de mão de obra e tantas outras coisas incompatíveis com a pausa delicada para uma xícara de chá no meio da tarde ou com o ritual proposto pelas cerimônias tradicionais do Oriente.

Foto: Helena Cooper.

A origem florestal e estrutura arbórea da Camellia sinensis deu lugar para a monocultura dos campos e sua característica arbustiva, que se dá por causa das podas constantes para estimular a colheita, o rebrote e mais colheita, feita muitas vezes por mulheres sob o sol escaldante. A monocultura vem ainda acompanhada de agrotóxicos, poluição das águas e da nossa própria mente.

Hoje em dia, uma xícara de chá é quase sempre uma xícara de veneno temperada com desigualdade social. É urgente e necessário valorizarmos a cultura do chá olhando para a origem florestal das plantas, para a relação das comunidades produtoras e consumidoras com toda a ancestralidade e tradição que envolvem a Camellia sinensis e tantas outras ervas medicinais que utilizamos para infusões.

A citação do monge vietnamita, Thich Nhat Hahn, ao mesmo tempo que traz uma conotação meditativa aplicada à sua realidade na década de 1930, no contexto atual pode soar até contraditório: “Beber chá é um ato completo na sua simplicidade. Quando bebo chá, só sou eu e o chá. O resto do mundo se dissolve. Beba o seu chá de forma lenta e reverente, como se fosse o eixo sobre o qual o mundo da Terra gira – lentamente, uniformemente, sem se apressar com o futuro”.

O futuro deveria ser representado por uma xícara de chá de floresta, que valoriza as pessoas envolvidas na produção, que valoriza o solo onde é cultivado e honra todo o beneficiamento artesanal e gera mais vida ao promover saúde e bem estar para quem bebe.

Fonte: Freepik.

Tomar uma xícara de chá é um convite para mergulhar nos elementos que acompanham todos os seres da natureza (fogo, água, terra e ar). A água tem uma capacidade muito especial de guardar memória. É a grande memória do Planeta Terra já que é a mesma água, em diferentes estados, que circula desde sempre por aqui. Numa xícara de chá, o espírito das plantas cede ao veículo água para ser a memória delas refletida no eterno. Do plantio à colheita, do preparo ao primeiro gole, é fundamental colocar muita intenção em todo o processo.

Essa alquimia é uma grande revolução que flui do simples para o complexo, seguindo a mesma lógica da floresta. Temos muita autonomia no processo de cultivo, colheita e preparo dessa medicina que as plantas doam para a água, que sempre tem um efeito muito potente mesmo que não possa ser percebido de imediato por quem toma.

Foto: Camila Grinsztejn/ Autossustentável.

É importante não preparar ou tomar um chá no modo automático, mas reservar um momento de contato profundo e íntimo com a planta, com sua trajetória, com o solo, com todas as pessoas e microorganismos envolvidos para que tenha chegado até a xícara. Aguçar essa percepção é uma forma de conectar com a origem da planta e naturalmente de reconhecer a situação atual do mercado de chá, tanto da Camellia sinensis quanto de outras plantas medicinais cultivadas em monoculturas. É uma oportunidade para buscar alternativas disponíveis que valorizam a agricultura familiar e um cultivo biodiverso, que não exploram o solo e seus nutrientes.

Tomar um chá é uma ferramenta incrível para reconectar consigo mesma através do Reino Vegetal, sentindo todas as sensações, o aroma, as notas sensoriais, as memórias que chegam, como essa infusão ativa o corpo e em qual parte ela se destaca. Essas são informações preciosas que fazem com que cada contato seja único e medicinal e, no final das contas, talvez o futuro devesse mesmo ser mais parecido com o passado.

 

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GRINSZTEJN, Camila. Um chá de transformação!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/um-cha-de-transformacao.html>.

Economia Circular: resíduos se transformam em matéria-prima!

Os próximos parágrafos resumirão brevemente a ilustração abaixo. Este artigo será sucinto, pois acredito que esta imagem fala por si só, e se você se atentar a cada detalhe, será guiado intuitivamente para o fluxo e entendimento ao qual se propõe.

Todo conceito, ilustração e resultados aqui propostos foram baseados no estudo realizado pela Ellen Macarthur Foundation, chamado “Rumo a Economia Circular: O Racional de negócio para acelerar a Transição”. Um material muito fluido e prático para o entendimento sobre economia circular. Particularmente indico muito as leituras dos estudos da Fundação a qual tenho muita admiração e respeito.

Diagrama do Sistema de Economia Circular. / Fonte: Ellen Macarthur Foundation.

É possível perceber que o conceito dos ciclos acima se baseia no estímulo do fluxo de nutrientes dentro de um sistema que possibilite e crie condições necessárias para a regeneração deles.  O diagrama proposto possibilita visualizar com muita clareza os campos de atuação e inovação em produtos e serviços dentro do contexto de economia circular.

De um lado o ciclo técnico, onde materiais como plásticos e polímeros, bem como outros materiais desenvolvidos pelo ser humano, são desenhados para serem recuperados e renovados, de forma a utilizar menos energia e aproveitar ao máximo o valor que o recurso possui.

Do outro lado o ciclo biológico, materiais orgânicos não tóxicos que podem voltar ao solo para decomposição ou através de um processo de digestão anaeróbica. Dessas formas, o lixo ou resíduo nos dois processos são desenhados com uma intenção final.

Fonte: Illinois Community Associations Institute.

Dentro desses princípios, os materiais se tornam recursos, componentes e produtos, otimizados ao máximo para aproveitar sua utilidade e excluindo suas externalidades desde o princípio. As diferentes escolas de pensamento compartilham desta mesma visão, se mostrando viável e factível como modelo de negócio e ferramenta para uma transição para a economia circular.

Ressignificar o resíduo como matéria-prima gera a possibilidade de ressignificarmos a forma como lidamos com o lixo, e, consequentemente, como e o que consumimos. Vamos circular juntos!

Referência:

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LAZZAROTTO, Aline. Economia Circular: resíduos se transformam em matéria-prima!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/economia-circular-residuos-se-transformam-em-materia-prima.html>.