Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Tão importantes quanto invisibilizados, essa é a realidade dos catadores e catadoras de materiais recicláveis. Por mais contraditório que essa informação possa soar, ela reflete exatamente o que ainda acontece com esses profissionais tão essenciais ao meio ambiente e à economia.

Somente em 2020 foram geradas, no Brasil, 79,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (composto por lixo doméstico e resíduos de limpeza urbana). O que significa que cada um de nós gerou, em média, 379 quilos de RSU (resíduos sólidos urbanos) em 2020. Esses são alguns dados apresentados no Panorama dos Resíduos Sólidos 2020 da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

Reprodução: Wikimedia Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

De acordo com o Anuário da Reciclagem 2020 da ANCAT (Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis), as 1.829 organizações de catadores e catadoras mapeadas no país foram responsáveis pela coleta e recuperação de aproximadamente 354,7 mil toneladas de materiais recicláveis.

Os mais de 800 mil catadores e catadoras [1] de materiais recicláveis são agentes essenciais à nossa sociedade, pois são responsáveis por grande parte do que é reciclado no país, conforme informações do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis). E vale ressaltar o protagonismo feminino na área, onde 70% da categoria é formada por mulheres. Entretanto, segundo pesquisa realizada pelo IPEA, com base nos dados do Censo 2010, constatou-se a existência de aproximadamente 388 mil catadores de materiais recicláveis em todo o território brasileiro.

Imagem: Freepik

Por isso, no Dia do Reciclador e da Reciclagem do Lixo, precisamos enfatizar a relevância desses profissionais cruciais para o funcionamento da  PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) [2] e da reciclagem [3], além de, também, destacar as várias dificuldades diárias enfrentadas na coleta dos materiais recicláveis – invisibilidade socioeconômica, insalubridade da atividade, desvalorização, discriminação e desrespeito.

Invisibilidade Socioeconômica

A invisibilidade socioeconômica caminha lado a lado com a discriminação e o desrespeito. A maioria dos catadores e catadoras exerce suas atividades na informalidade, principalmente os que trabalham de forma individual.  E estar na informalidade significa fragilidade, pois sem registro formal não há nenhuma garantia ou proteção trabalhista.

Imagine um catador de materiais recicláveis em situação informal, se esse mesmo catador por alguma razão ficar doente, ele não terá como comprar seus remédios e nem se manter financeiramente neste período. E isso, em muitos casos, significa que ele nem ao menos terá como se alimentar, já que sua renda depende exclusivamente do que consegue coletar diariamente.

Imagem: Freepik

Insalubridade da Atividade

Você já se perguntou quanto material reciclável os catadores e catadoras coletam diariamente? Você já teve a curiosidade de saber quanto peso eles transportam por dia? Pois eles podem carregar até 400 quilos em suas carroças (lembrando que a maioria das carroças tem tração humana).

Agora junto a isso, trabalhar de sol a sol, enfrentando chuva, altas ou baixas temperaturas, sem equipamentos de proteção (EPI), estando vulneráveis à contaminação por materiais biológicos e vetores de doenças. E no final ainda ser explorado, já que, a maioria dos catadores e catadoras de materiais recicláveis vende o que coletam por preços muito baixos para atravessadores. Complicado, não é mesmo?!

Desvalorização

O elo da cadeia produtiva, elementos vitais para a logística reversa, mas também a parte mais frágil desse sistema. Os catadores e catadoras de materiais recicláveis são os que na verdade realizam grande parte do retorno de embalagens à cadeia produtiva.

Sabe aquele produto feito de garrafas PETs recicladas que você comprou? Pois se não fosse o trabalho dos catadores e catadoras, dificilmente, esse produto estaria em suas mãos. Em cidades de até 100 mil habitantes, os catadores são responsáveis por 60,1% do volume total de recicláveis, de acordo com o estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

Discriminação e Desrespeito

Quantas vezes você já viu carros impacientes buzinando para catadores com suas carroças repletas de materiais recicláveis (que aos olhos de muitos continua sendo apenas lixo)? Essa cena é bem comum em grandes centros urbanos – locais de grande geração de RSU – e em alguns casos as agressões passam de verbais e gestuais às vias de fato. Isso sem contar o grande risco de serem atropelados.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

E o que podemos fazer? Empatia e respeito! Esse é o mínimo que podemos oferecer a esses profissionais. Reconhecer a importância da atividade de coleta de materiais recicláveis é despertar a consciência enquanto consumidores para questões ambientais, econômicas e sociais.

Pensem em quanto conhecimento e experiência catadores e catadores de recicláveis acumulam trabalhando diariamente. Eles são agentes ambientais que ajudam a reduzir a quantidade de resíduos em aterros. Eles são os que fecham o ciclo da logística reversa, encaminhando embalagens e produtos de volta ao ciclo de produção. Eles movimentam a economia e contribuem para que menos recursos naturais sejam explorados.

[1] Há diversas estimativas de que os catadores variam entre 300 mil a 1 milhão de pessoas sobrevivendo da coleta de materiais recicláveis, segundo levantamento do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) e Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia – GERI,  2006. Disponível em: <https://www.mncr.org.br/sobre-o-mncr/duvidas-frequentes/quantos-catadores-existem-em-atividade-no-brasil>.

[2] Além de esclarecer o que seria a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, a PNRS determina o que seria o gerenciamento de resíduos e o processo de reciclagem.

[3] “Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa.” Lei 12.305/2010 que instituiu a PNRS. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

ABREU, Nathália. Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/sem-catadores-de-materiais-reciclaveis-nao-ha-reciclagem.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

ABRELPE. PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS 2020Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Disponível em: <https://abrelpe.org.br/panorama-2020/>.

ABREU, Nathália. Eles fazem a reciclagem acontecer! Conheça a importância dos Catadores de Materiais Recicláveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2019/11/eles-fazem-a-reciclagem-acontecer-conheca-a-importancia-dos-catadores-de-materiais-reciclaveis.html>.

MORI, Letícia. ‘Acham que a gente é lixo’: a rede invisível de catadores que processa tudo o que é reciclado em SP. BBC Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40664406>.

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