O que a Tanzânia Revela sobre a luta global por Justiça Climática
Durante minha participação no Climate Justice Camp na Tanzânia, aproveitei alguns dias para experienciar a região e conhecer uma comunidade tradicional Maasai, nos arredores de Arusha.
Fui recebida pelas mulheres do grupo que, vestidas com suas roupas típicas, entoaram cantos tradicionais em um gesto de hospitalidade, conforme a tradição local. O líder da comunidade, Ayubu Naandi, me guiou então em uma visita enquanto contava sobre a história e os modos de vida dos Maasai, um povo seminômade que se concentra na criação de gado e mantém uma forte conexão com a terra.
Ao fim da visita programada, sentados sob a sombra de uma árvore, Ayubu começou a compartilhar comigo os desafios recentes enfrentados pela comunidade. Nos últimos anos, as secas se tornaram mais severas e prolongadas, afetando drasticamente seu modo de vida e sobrevivência.
Quando mencionei que tinha vindo para Tanzânia para participar de um evento justamente sobre mudanças climáticas e suas consequências, fui surpreendida pela sua reação: ele nunca tinha ouvido falar sobre o assunto. Com atenção e curiosidade, me ouviu falar sobre aquecimento global, gases de efeito estufa, mudanças climáticas e suas consequências. Sua perplexidade aumentou ao descobrir que muitas pessoas, mesmo cientes do impacto de suas ações, escolhem não agir.
A luta por justiça climática se refere justamente a casos como esse. A comunidade Maasai, devido ao seu modo de vida, praticamente não teve contribuição nas emissões de gases de efeito estufa que resultaram nas mudanças climáticas e, mesmo assim, é exemplo de um dos grupos que mais sofrem com suas consequências.
Além disso, comunidades vulneráveis como a de Ayubu tem pouco ou nenhum apoio técnico e financeiro nas ações de adaptação por parte dos governos e, principalmente, dos grandes poluidores. Ele me contou sobre um projeto que começou com um amigo para instalar cisternas de captação de água da chuva. Porém, o projeto foi paralisado justamente por falta de recursos financeiros. A baixa capacidade adaptativa e pouco capital social são mais uma das várias camadas da injustiça climática.
Ayubu me pediu para voltar e compartilhar com todas as pessoas das comunidades Maasai sobre o que são as mudanças climáticas e como eles podem agir e cobrar mudanças. Entretanto, expliquei que, mesmo querendo muito voltar, não seria possível no curto prazo e sugeri que ele mesmo tivesse esse papel. Trocamos contatos, me comprometi a seguir o apoiando a entender e pensar sobre a emergência climática e ele pareceu animado.
A educação tem um papel fundamental no enfrentamento das injustiças climáticas e o primeiro passo pode ser justamente reconhecer e entender o problema. A comunidade Maasai, que por anos achou que o tempo seco era apenas um acaso, agora tem caminhos para dialogar sobre as mudanças climáticas e suas causas e para cobrar soluções.