Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas
Uma parceria entre a Sagui, uma marca de óculos, e o Estúdio RatoRói que desenvolve novas superfícies com materiais reciclados da recuperação de embalagens e sacolas plásticas, resultou em óculos sustentáveis.
A ideia surgiu quando o designer Felipe Madeira percebeu o alto preço dos acetatos importados e, começou a pesquisar um material sustentável, há quatro anos. A sua ideia de reutilizar tubos de pasta de dente foi inspirada nas telhas produzidas com este mesmo material.
Em 2017, o designer Felipe Pinto conheceu a RatoRói. Eles uniram suas tecnologias e começaram a criar e produzir, em um processo exclusivo, armações que levassem material residual em sua composição e tivessem um design moderno.
Mas como é feito?
Os tubos de pasta e as sacolas plásticas são transformados em uma chapa, depois moldada e cortada nos formatos dos óculos, tanto de grau quanto de sol. Cada par é único, já que a cor das armações depende do material pois, na reciclagem a textura e cor dos tubos de pasta e das sacolinhas criam padrões aleatórios.
Para cada armação, na média de 3 a 5 tubos de pasta de dente, descartados pela indústria, e uma sacola plástica são ressignificados.
A Sagui possui 12 modelos disponíveis em 6 padrões de cores distintos, totalizando 72 modelos para melhor atender ao perfil dos consumidores. A produção mensal é de 180 unidades e o custo de produção chega a ser 70% menor do que óculos tradicionais de acetato.
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SOUZA, L. B. Leonardo. Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas. Autossustentável. Disponível em: <Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas>.
A Reciclagem sozinha vai salvar o planeta?
Falamos muito sobre reciclar aqui na Autossustentável e sobre toda a importância desse processo para diminuição do impacto que temos no meio ambiente, seja considerando a reciclagem como instrumento para mitigar a poluição, ou como alternativa para menor extração de recursos naturais do planeta.
Mas é preciso entender que a reciclagem é parte (ou deveria ser) da destinação correta de todos os resíduos que geramos (comumente chamados de “lixo”). Por isso não podemos esquecer que a reciclagem faz parte de um processo maior, a gestão de resíduos urbanos – uma dos quatro componentes do saneamento básico no Brasil, clique aqui para saber mais.
Além disso, ampliando um pouco mais nossa percepção, em um exercício de melhor compreensão de nosso papel enquanto cidadãos, consumidores e habitantes deste planeta cada vez mais prejudicado, a reciclagem é também parte de um processo de reeducação, onde a mudança de hábitos de consumo está ligada ao despertar da consciência socio-econômica-ambiental. Complicou? Calma que estamos juntos nessa jornada!
Tudo começa bem antes de nos depararmos com o todo o “lixo” gerado em nossas casas: latas e potes de alumínio, garrafas PET, potes de vidro, celulares e baterias, roupas que não usamos mais, eletrodomésticos, restos de alimentos e tantos outros tipos de coisas que precisamos descartar.
Reciclagem um dos 7 R’s da Sustentabilidade
Inicialmente pode parecer estranho, mas a sustentabilidade tem uma relação muito próxima com a economia e com a forma como consumimos. Quanto mais conscientes de nosso papel e quanto mais exigentes com as empresas das quais consumimos e com os governantes que nos representam, mais próximos estaremos de reduzir nossa pegada ecológica – ou seja, a pressão que nosso ritmo e hábitos de consumo geram sobre os recursos naturais e o planeta como um todo.
Podemos começar a mudança de hábitos de consumo ao planejar nossas compras, pensar com calma e cuidado sobre o que vamos consumir. Aí entra em cena o que conhecemos como os R’s da Sustentabilidade, que nada mais é do que o processo de reavaliar nossa relação com o consumo, de despertar a consciência e entender a responsabilidade que temos, compartilhada com empresas e governos, em manter essa grande casa que nos acolhe habitável para nós, para as gerações futuras e para todas as espécies de fauna e flora.
Repense!
É muito comum ao entrar em mercados e lojas sem uma lista definida do que realmente precisamos, acabemos incluindo na cesta ou no carrinho produtos que não precisamos. As promoções são válidas apenas quando adquirimos um produto ou serviço que vamos de fato utilizar, isso ambientalmente e economicamente! Isso é válido também para compras online. Repense: consumo consciente é bom para o seu bolso e para o planeta!
Recuse!
Seguindo a mesma linha de raciocínio e pensando em nosso poder como consumidores, recuse produtos e serviços de empresas que não estejam comprometidas em melhorar sua atuação social e ambiental. Empresas que poluem o meio ambiente ou que não entendam a necessidade de ações voltadas para a inclusão social – aqui vale observar se a empresa possui políticas afirmativas para a contração de mulheres, negros, indígenas, portadores de alguma deficiência, LGBTQUIA+ – normalmente estão focadas apenas no lucro financeiro.
Reduza!
Vamos a um exemplo prático: você vai ao mercado comprar 1 litro suco, o sufuciente para você passar o mês. Mas chegando ao mercado você se depara com a seguinte promoção: leve a embalagem de 2 litros de suco e pague apenas 1,8 litro. O primeiro impulso é comprar, mas será que essa quantidade toda de suco (1 litro a mais do que você consome normalmente) vai ser realmente consumida por você durante o mês? Será que esse suco não vai estragar justamente por levar mais tempo para ser consumido? Junto da quantidade maior de suco, vem uma embalagem maior, que precisou de mais matéria-prima para ser produzida, precisou também de mais água e mais energia. Quando for comprar alguma coisa, pense em como reduzir a quantidade de lixo que será gerado com aquilo e evite excessos de consumo.
Repare!
Quebrou? Tente consertar. Rasgou? Tente costurar. Soltou? Tente encaixar. Descolou? Tente colar. Seguimos em um ritmo tão frenético de consumo que quando algum produto apresenta alguma falha o primeiro impulso é descartar e adquirir um novo. Muitas vezes esse produto ainda possui uma vida útil considerável e descartamos, perde o meio ambiente, perde seu bolso.
Reutilize!
Vivemos na era digital onde em um clique ou deslizada de tela aprendemos a fazer coisas incríveis com objetos e produtos que temos em casa, dando vida nova e com utilidades bem criativas. O DIY – Do It Yourself, traduzindo, o “faça você mesmo” além de ser econômico também leva a termos em nossas coisas peças únicas, dando um toque de originalidade e personalidade.
Além disso, também é muito positivo quando adotamos o hábito de adquirir produtos que sejam reutilizáveis, como: guardanapos de pano, sacolas retornáveis, fraldas de pano e embalagens reutilizáveis para armazenar alimentos ao invés das descartáveis.
Recicle!
Finalmente chegamos à reciclagem! Viu só como são vários os passos até chegarmos aqui como consumidores? A reciclagem deve ser pensada quando todas as outras alternativas anteriores já foram esgotadas.
E o que pode ser reciclado? Conforme expliquei em um de meus artigos aqui na Autossustentável – Não existe jogar fora! Saiba como descartar corretamente seu lixo– os recicláveis são geralmente as embalagens do que consumimos: plástico, alumínio (refrigerante, cerveja, enlatados em geral), vidro (garrafas), papel (cadernos, cartas, correspondências), e isopor (embalagens). Eles são facilmente reconhecidos pelo símbolo da reciclagem contido nas embalagens.
Reintegre!
Essa parte do processo é pensada para materiais que não podem ser reciclados, como a matéria orgânica, que é tudo aquilo que tem origem biológica. Reintegrar é retornar à terra tudo aquilo que ela nos ofereceu, fechando o ciclo natural. Através da compostagem dispomos restos de alimentos, cascas, sementes, saches de chá e café, folhas de árvores, buchas vegetais e colher desse processo adubo para nutrir a terra e nossa hortinha caseira.
E por que apresentei tudo isso a você em um texto que fala sobre reciclagem? Porque precisamos entender que a reciclagem sozinha não é capaz de dar conta de todo o lixo os resíduos que produzimos. Reciclar é sem dúvida muito importante para que elementos sejam reintegrados novamente à cadeia de produção, mas se continuarmos a consumir e descartar na velocidade atual, os impactos continuarão crescentes.
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ABREU, Nathália. A Reciclagem sozinha vai salvar o planeta?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/a-reciclagem-sozinha-vai-salvar-o-planeta.html>.
Unidades de Conservação que inspiram nossas paisagens
As Unidades de Conservação (UCs) foram criadas por ato do Poder Público (Lei 9985/2000) a partir de estudos técnicos prévios e consulta pública que permitiram identificar a localização, dimensão e seus limites mais adequados. Desta forma, as UCs foram criadas com o objetivo de conservação de recursos ambientais e possuem limites definidos, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção.
São os mosaicos e corredores ecológicos, que promovem a conservação da sociobiodiversidade, dos serviços ambientais e de oportunidades de negócios. Este último ponto mostra a importância dessas áreas, afinal aliar a conservação do meio ambiente com a rentabilidade das pessoas é o cerne da sustentabilidade. E as populações tradicionais residentes são consideradas no documento, inclusive indenizadas ou compensadas. Quando não há realocação, podem conviver com a UC sob normas e ações específicas, de forma que seus modos de vida e os objetivos da unidade estejam assegurados.
Na prática, são as áreas mais bem representativas dos ecossistemas em seu estado natural. Percorrendo o país, é comum passar por amplas áreas modificadas e alguma unidade de conservação se destacar como ilhas preservadas nesse cenário de paisagens profundamente antropizadas (cidades) ou alteradas (demais áreas). Cada uma deve dispor de um plano de manejo, que são regras específicas, como áreas de visitação, de proteção ou pesquisa, mas nem sempre está presente, como se pode ver no Painel das Unidades de Conservação Brasileiras.
Neste painel, é possível acessar relatórios detalhados sobre todas as UCs do país, facilitando a tomada de decisões, além de ser uma forma de fiscalização delas por parte dos governantes e dos cidadãos. Outras informações, ainda mais detalhadas, podem ser geradas na forma de relatório parametrizado de unidades de conservação. É importante ressaltar que, embora sejam muito importantes e de extrema valia, estes sistemas estão cheios de lacunas, ou seja, há muitas informações que ainda não foram disponibilizadas ou não foram estudadas in loco.
As primeiras UCs do mundo ocidental foram implantadas por sua beleza excepcional, como é o caso do Grand Canyon nos EUA (Arizona), considerado uma das 7 maravilhas naturais do mundo, o Parque Nacional de Yellowstone (o mais antigo do mundo, inaugurado em 1872), o Parque Nacional de Everglades (1947, hoje é patrimônio mundial pela UNESCO) e o Parque Nacional do Itatiaia, o mais antigo do Brasil, criado em 1937. Atualmente, outros critérios, além da paisagem propriamente dita, são considerados na criação de uma área protegida.
A ciência (ou arte) de planejar a paisagem tem tudo a ver com as Unidades de Conservação do Brasil, afinal, estes locais são verdadeiros refúgios para a vida silvestre animal, vegetal ou microscópica. Nossas paisagens podem ser planejadas para serem um reflexo dos nossos biomas de origem, que são encontrados em melhor estado justamente nas UCs, principalmente aquelas de Proteção Integral. Nossas áreas protegidas podem ser uma inspiração para o planejamento das paisagens urbanas, semi-urbanas e rurais. E o Paisagismo planejado, preferencialmente, com plantas nativas, tem um potencial conservacionista muito maior que o paisagismo convencional (“Paisagismo de condomínio”), podendo se tornar um grande aliado na conservação ex-situ de espécies vegetais ameaçadas de extinção.
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PAIVA, Leonardo. Unidades de Conservação que inspiram nossas paisagens. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/unidades-de-conservacao-que-inspiram-nossas-paisagens.html>.
É melhor abrir um MEI (Microempreendedor Individual)?
As relações de trabalho vêm se transformando já faz tempo, mas a pandemia gerou uma nova onda de busca por soluções. Muitos acabaram perdendo o emprego. O home office facilitou que alguns tivessem uma segunda fonte de renda.
A opção de usar o seu carro para atuar como motorista de aplicativo explodiu. Os salões de beleza passaram a ter regras específicas no MEI. As empresas mais do que nunca buscam formas de diminuir seus custos transferindo-os para os empregados que passam a ser terceirizados ou contratos como CNPJ.
O empreendedorismo não é das tarefas mais fáceis, mas está cada vez mais na lista de opções daqueles que precisam encontrar um meio de sustentar a própria família. As mulheres que se tornaram mães estão buscando formas de ficar mais próximas dos filhos ou de ter um rendimento enquanto cuidam de um filho que é pessoa com deficiência. Os aplicativos “sugeriram” que entregadores e motoristas deveriam se formalizar para que pudessem ser contratados.
As razões são muitas, mas o fato é que o número de cadastros como MEI explodiu. De acordo com os dados do Sebrae, em 29/02/2020 tínhamos 9.749.416 cadastrados. No dia 14/11/2020 já eram 11.160.729. Um milhão e trezentos mil novos cadastros.
O MEI se tornou a porta de entrada da formalização, pois é destinado a negócios cujo faturamento anual não ultrapasse R$ 81 mil por ano — média de R$ 6.750 por mês. Ele possibilita que se tenha um CNPJ em nome do microempreendedor, o que facilita para emitir notas, trabalhar para empresas e conseguir empréstimos bancários.
Mas cuidado, o MEI tem uma série de regras que devem ser estudadas com carinho no Portal do Empreendedor. Quem é servidor público ou já tem uma empresa em seu nome não pode se cadastrar como MEI. O MEI também não pode ter sócio, mas pode ter até um empregado. Algumas profissões não podem se cadastrar como MEI.
O cadastro do MEI é gratuito, mas é necessário emitir mensalmente uma guia que resume os tributos que o MEI precisa pagar com uma alíquota bem reduzida que vai de R$ 52,25 a R$58,25. E esse pequeno valor dá direito a benefícios previdenciários como salário-maternidade, auxílio por incapacidade temporária (o antigo auxílio-doença) e aposentadoria.
Então abrir um MEI é a solução da vez? Depende. Como dissemos nem todas as atividades podem ser MEI. E em relação aos direitos perante o INSS é necessário lembrar que se o valor da contribuição é pequeno, o valor do benefício também será. A Previdência Social é um sistema baseado na contribuição, então os benefícios devidos ao MEI serão no valor de um salário mínimo nacional, hoje R$1.045,00.
Sabemos que para muitos não existe opção, abrir um MEI é o que é possível para o momento. Mas, se você tiver opções, considere as possibilidades.
Também é necessário lembrar que apesar de ser uma forma simples e rápida de formalizar sua atividade, você passa a ser empresário e ter todas as obrigações de um empresário. E se você desistir da atividade e não der baixa no cadastro, continuará tendo a obrigação de pagar a DAS. Por esse motivo, muitos acabam buscando o auxílio de contador, a fim de que tudo seja feito da forma correta para evitar dívidas futuras desnecessárias.
Como mencionamos o local de cadastro do MEI é o Portal do Empreendedor. Para perguntas, dúvidas frequentes e informações mais confiável sobre o MEI você pode encontrar no site do Sebrae é a fonte mais confiável de informações sobre o MEI.
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STEFFEN, Janaína. É melhor abrir um MEI (Microempreendedor Individual)?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/mei-microempreendedor-individual.html>.
Como a escolha presidencial americana pode interferir na política ambiental do Brasil?
(Inicialmente, gostaria de informar que este texto respeita as projeções de vitória da chapa Biden/Harris para as eleições 2020 feitas pelas agências de notícias Associated Press, CNN, ABC, entre outras.)
No momento que escrevo este texto, estamos no meio de mais uma polêmica do presidente brasileiro. Na terça-feira, dia 10/11, em uma entrevista coletiva, Bolsonaro disse que “apenas na diplomacia não dá… é preciso pólvora” [1]. Ele se referia a uma fala do presidente-eleito Joe Biden em um debate em que ele propôs investimentos à Amazônia, desde que o Brasil “parasse de destruir a floresta” [2].
Várias pessoas já escreveram sobre o que esperar para o Brasil com Biden na presidência dos EUA, mas este é um momento em que líderes começam a definir estratégias nas relações com o novo comandante-chefe da maior potência mundial do ocidente. O que isso tudo quer dizer? Como devemos nos preocupar com o futuro da Amazônia agora que sabemos que Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos?
Trump e Bolsonaro, aparentemente, tiveram uma boa relação nestes últimos dois anos. O presidente brasileiro nunca escondeu sua admiração pelo colega americano [3]. No campo ambiental, os dois têm uma aproximação ideológica: negam o aquecimento global [4]; pregam um desenvolvimentismo agro-industrial e o nacionalismo na política internacional.
Biden, por outro lado, não compartilha totalmente das mesmas ideias dos dois. Uma das suas pautas de campanha foi o investimento em políticas públicas para diminuição das mudanças climáticas e o retorno dos EUA ao Acordo de Paris. Essas promessas de campanha já aparecem em o que é agora seu plano de governo [5]. Biden espera investir em tecnologia verde e criar empregos nessa área diminuindo a emissão de carbono dos Estados Unidos até 2050.
Pensando na próxima década, líderes se aproximam do presidente-eleito para dialogar sobre, entre outras coisas, o clima do planeta. Boris Johnson, Primeiro Ministro do Reino Unido, convidou Biden para participar da COP26 (Conferência das Nações Unidas para o Clima) em 2021 na Escócia [6]. Lembrando da boa convivência com Trump, Johnson citou ainda que Biden pode contribuir para um “retorno ao tipo de negócio que estamos acostumados a fazer: defender a democracia em todo o mundo, os direitos humanos” [7].
Por trás dessa aproximação existe o entendimento de que Biden não é tão entusiasta quanto Trump da saída do Reino Unido da União Europeia, por isso, será preciso fortalecer as relações diplomáticas entre os dois países. E é assim que se é feito há algumas décadas. Quando um país depende do apoio de outro, ou depende comercialmente, ele busca uma aproximação diplomática estratégica.
A situação do Brasil, neste momento, é tensa. O país investiu muito em uma relação entre líderes, não entre Estados. Por ser um parceiro histórico do nosso país, não acredito que os EUA venham a “escantear” o Brasil. Contudo, na pauta climática, se não houver uma mudança de postura do presidente brasileiro, é possível que aquelas discussões entre França e Brasil vistas em 2019 se repitam, mas, dessa vez, entre Biden e Bolsonaro. No entanto, no caso de uma discussão desses dois últimos, nós teríamos muito mais a perder. As sanções possivelmente impostas ao Brasil por parte dos EUA podem de fato vir a constranger o Executivo brasileiro a fazer o que aquele país quer.
Por um lado, pensando positivamente, isso pode significar que o Brasil volte a investir em política de proteção para a Amazônia, mesmo que a contragosto. Só que, do ponto de vista de Estado, é muito melhor que as políticas partam de uma vontade soberana do que de imposição externa. O que irá de fato acontecer, não sabemos, mas torço para que a apreensão fique apenas como um registro desse momento tenso e não se concretize.
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OLIVEIRA, Tassi. Como a escolha presidencial americana pode interferir na política ambiental do Brasil?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/como-a-escolha-presidencial-americana-pode-interferir-na-politica-ambiental-do-brasil.html>.
Bucha vegetal: alternativa simples e barata para uma limpeza mais ecológica
Muitas vezes, pela agitação do ritmo de vida, acabamos consumindo produtos sem pensar muito sobre o impacto que uma “pequena” e corriqueira compra pode causar no meio ambiente. A bucha que temos o costume de usar na cozinha, aquela fiel escudeira na limpeza, a esponja de lavar louça sintética de espuma, é um desses casos.
Esse objeto é composto por plástico poliuretano, um material de difícil reciclagem baseado em petróleo e outros componentes químicos sintéticos. Também demoram centenas de anos para se decompor e ainda deixam microplásticos no meio ambiente, podendo ser ingeridos por animais. Uma solução, mais barata e ecológica é a bucha vegetal, cuja matéria-prima é natural e totalmente biodegradável, podendo ser inclusive, reciclada em casa por meio da compostagem. Confira alguns bons motivos para mudar esse hábito de consumo.
10 motivos para usar a bucha vegetal
Ela vem da natureza.
A bucha vegetal é biodegradável.
Não gera resíduos durante a sua decomposição e pode ser compostável.
É mais eficiente do que a bucha sintética, porque limpa as louças e não risca.
Custa bem mais barato.
Rende mais, pois pode ser cortada em pedaços e dura cerca de um mês.
É mais higiênica, já que demora mais para desenvolver fungos e bactérias.
Usando a bucha vegetal, você incentiva os pequenos agricultores a produzirem a planta.
Com essa bucha, você vai produzir menos lixo, economizar na compra de esponjas e, se não quiser mais comprar, pode cultivar em casa.
O tempo médio de uso é de 2 meses.
A bucha vegetal, bucha-dos-paulistas, lufa, ou esponja vegetal, como o próprio nome diz, tem origem em uma planta, mais precisamente uma trepadeira com o nome científico de Luffa Aegyptiaca, própria do clima tropical, nativa do sul e sudeste da Ásia. Seu fruto se assemelha a um enorme pepino que pode chegar até 45 centímetros de comprimento. Essa fibra natural possui diferentes propriedades, como isolante térmico e acústico, pouco inflamável e de grande compactação.
Para quem mora em um ambiente espaçoso, que recebe luz direta do sol, ainda é possível cultivar sua própria bucha vegetal, dentro de vasos ou diretamente no solo. O ideal é um clima quente e úmido, mas pode ser cultivada em temperaturas acima de 16°C.
Além de ser usada como esponja de lavar louça, esse material também pode servir como esponja de banho, esponja de limpeza e esfoliante, e até mesmo como palmilha. Outra vantagem é que usando a bucha vegetal você também incentiva os pequenos agricultores que produzem a planta e ainda preserva a sua louça e utensílios dos riscos causados pelos modelos sintéticos.
Para limpar a bucha vegetal e prolongar a sua durabilidade, basta colocá-la de molho uma vez por semana em uma solução de cloro com água por 30 minutos. Essa simples medida a deixa livre de bactérias e branquinha novamente. Ou você pode também fervê-la uma vez por semana por 5 minutos. Outra dica é após o uso, sempre pendure a bucha para mantê-la seca.
Para descartá-la, enxague bem, corte em pedacinhos e coloque na composteira ou descarte com outros resíduos orgânicos. Composte somente se usada com lava louças e sabão biodegradável.
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MATTOS, Litza. Bucha vegetal: alternativa simples e barata para uma limpeza mais ecológica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/bucha-vegetal-alternativa-simples-e-barata-para-uma-limpeza-mais-ecologica.html>.
Qual sabor a carne tem para a saúde e o meio ambiente?
De acordo com dados do IBGE referentes ao ano de 2019, a cada minuto cerca de 11.204 frangos, suínos e bovino foram abatidos para consumo no Brasil. Além da causa animal, que é de absoluta relevância, a alimentação baseada no consumo de carne se mostra menos saudável quando comparada a uma alimentação centrada em vegetais, já que esta favorece a prevenção de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e diversos tipos de câncer.
Por se tratar de um alimento perecível, a carne demanda a incorporação de aditivos como nitritos e nitratos, que prolongam seu “tempo de prateleira” e permitem a comercialização antes do apodrecimento. E é justamente aí que mora um dos grandes problemas! Conforme pesquisas realizadas pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS), essas substâncias adicionadas têm o potencial de formar compostos cancerígenos.
Diante dos estudos, a carne processada – presunto, salame, hamburguer, linguiça e diversos outros embutidos – foi enquadrada pela agência no Grupo 1 de risco, junto com tabaco, álcool e amianto. Entretanto, o fato desse tipo de carne estar no mesmo grupo do tabaco, por exemplo, não significa que ambos sejam nocivos na mesma proporção, mas sim que nos dois casos a OMS considera comprovada a correlação entre seu consumo e o maior risco de câncer. A carne vermelha, por sua vez, foi classificada no Grupo 2A: provavelmente carcinogênica para humanos.
Voltando nosso olhar para questões ambientais, todo e qualquer esforço realizado na direção de uma vida mais sustentável é válido. Porém, quando se trata de água, nada parece impactar tanto na sua economia quanto eliminar a carne do cardápio. Compreensível, já que para produção de apenas 1 kg de carne bovina são utilizados entre 10 e 20 mil litros de água.
Como se não bastasse, em 2019 o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP estimou que de 60% a 80% das áreas desmatadas na Amazônia eram utilizadas como pasto. Sem citar, é claro, a enorme parcela de terra coberta por plantações que se transformarão em ração para engordar animais que serão abatidos.
Só no primeiro semestre de 2020, a China comprou mais de 43 milhões de toneladas de soja brasileira (utilizada, em sua maior parte, na alimentação de porcos). Em meados do século XX os chineses plantavam quase metade de toda soja consumida no mundo, hoje não chega a 5%. Essa queda se deve ao grande estresse hídrico gerado no cultivo do grão, tendo em vista que para produzir 1 tonelada de soja é consumido, em média, 1,5 milhão de litros de água.
Em síntese, o governo chinês parece ter ideia do valor que a água possui. Inclusive, já gastou 80 bilhões de dólares em um dos maiores projetos de engenharia da história, um duto que transportará 45 trilhões de litros de água por ano. Comparativamente, o Brasil manda por ano, inserido na soja, quase o triplo dessa quantidade que será transportada: 129 trilhões de litros. Ao importar soja brasileira, os chineses também estão importando água.
Todavia, se ainda assim você julgar necessário o consumo de carne, saiba ao menos que, de acordo com a Universidade Federal do Paraná, em 2017 o consumo per capita de carne no Brasil foi de 246,30 gramas por dia, quando o suficiente – nutricionalmente falando – seria apenas 71 gramas.
Estão cada vez mais evidentes os benefícios proporcionados por uma alimentação baseada em vegetais, seja sua motivação a saúde, o meio ambiente, a causa animal ou até mesmo, quem sabe, todos esses fatores combinados.
Obviamente, ao adotar uma dieta que difere da “tradicional”, alguns novos alimentos precisão ser apresentados e inseridos no cardápio, como grãos, leguminosas, verduras, cereais, oleaginosas e etc. E está aí, inclusive, mais um ponto mega positivo, já que uma infinidade de possibilidades se abrirá.
Tirando os alimentos de origem animal do prato por apenas 1 dia, uma pessoa deixa de gerar 14 kg de CO2 emitido na atmosfera (o que equivale a 100 km rodados de carro), 7 kg de grãos (usados como ração), 3.400 litros de água (o equivalente a 26 banhos de 15 minutos cada) e ainda preserva 24 m² de terras.
A carne pode conter nutrientes importantes ao organismo. Contudo, junto com tais nutrientes, por tabela, são ingeridas diversas substâncias nocivas à saúde. Então, por isso – e também pelo rastro destrutivo deixado até chegar ao prato – talvez seja válido considerar a busca por alimentos mais naturais, que causem menos efeitos colaterais.
Não se trata, portanto, de condenar a agropecuária e as pessoas que querem (ou que até mesmo ainda precisam) consumir carne, mas sim de repensar os modelos de produção e consumo que estamos reforçando diariamente. Afinal, para quem já pode escolher, existe uma enorme responsabilidade em gerar menos impacto e usar o garfo como “arma” política.
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SILVA, Pâmela. Qual sabor a carne tem para a saúde e o meio ambiente?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/qual-sabor-a-carne-tem-para-a-saude-e-o-meio-ambiente.html>.
Como as Escolas podem ajudar no combate às Mudanças Climáticas?
Vivemos crises globais sem precedentes. Enquanto desigualdades são escancaradas e milhares de pessoas sofrem suas consequências diretas, muitos ainda negam sua existência e urgência. Diferentemente da pandemia causada pela Covid-19, a crise climática não será solucionada com uma vacina que está em teste. Ambas têm origens similares – desequilíbrios ambientais, exploração ilimitada dos recursos, aumento exponencial da população e um sistema exploratório completamente desigual e opressor – mas as corridas por soluções ainda estão em ritmos e prioridades bem discrepantes.
As escolas sempre tiveram papel fundamental desde o início do movimento ambientalista na década de 1970, sendo palco de diferentes discussões e grande aliada na formação de pessoas protagonistas, críticas e que coletivamente buscam soluções locais para desafios globais. No combate à crise climática não poderia ser diferente, vemos nascer uma mobilização muito potente e inspiradora em instituições pelo mundo todo.
Grande parte do movimento pelo clima foi e segue liderado por crianças e jovens que mais do que convidar, convocam e provocam seus professores a fazerem parte, a aprenderem, a reinterpretarem o mundo e todas suas possibilidades junto com eles.
Partindo ou não de uma demanda dos próprios alunos, é urgente que as escolas assumam sua corresponsabilidade e vão para além de uma abordagem apenas disciplinar expositiva, trabalhando e as dimensões comunitárias e territoriais, com ações práticas, transformadoras e contextualizadas.
É necessário o desenvolvimento do que são chamadas de “competências climáticas” ligadas à ciência, adaptação e mitigação em relação a questões como justiça climática, vulnerabilidade e risco ambiental, compreensão dos ciclos da natureza e do método científico.
São diversas as possibilidades de inserir o enfrentamento à crise climática nas escolas, como, por exemplo, a criação de um comitê ou uma formação pedagógica para os educadores sobre o assunto. Porém, mais do que apenas iniciar, um dos grandes desafios das escolas é manter sua comunidade engajada em propostas significativas, sistêmicas e realmente transformadoras.
Um dos caminhos é fazer parte do Movimento Escolas pelo Clima, organizado pela Reconectta em parceria com o The Climate Reality Project, que surgiu com o objetivo de conectar e inspirar instituições comprometidas com educação e ação climática. A ideia é que as escolas se comprometam a inserir a temática no ano de 2021, que possam dialogar e se apoiarem ao longo do caminho em comunidade, assim como serem reconhecidas por seu empenho.
Mais que uma rede de apoio e inspiração, o movimento manifesta-se como um caminho possível. Imersos em contextos que parecem muitas vezes dar largos passos para trás, os educadores precisam acreditar que um futuro melhor é possível e que existem muitas pessoas comprometidas a fazer isso acontecer. Como responde o personagem “Armandinho” em uma de suas famosas tirinhas, “não estou sozinho, só estamos espalhados…, mas já começamos a nos reunir.”
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RIBEIRO, Livia. Como as Escolas podem ajudar no combate às Mudanças Climáticas?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/como-as-escolas-podem-ajudar-no-combate-as-mudancas-climaticas.html>.
Manguezal: um ecossistema ameaçado
Manguezal em Tamandaré – PE. / Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável
A biodiversidade é entendida como “a riqueza da vida na terra, o que inclui todas as plantas, animais, microorganismos e genes que eles contêm, bem como os ecossistemas que estes compõem”. Portanto, a biodiversidade diz respeito a tudo que envolve seres vivos sendo, por isso, de extrema importância para sobrevivência contínua das espécies, comunidades naturais e manutenção da espécie humana.
A diversidade de organismos sempre é positiva, já que uma maior diversidade de organismos representa uma maior diversidade genética e de ecossistemas (que prestam diferentes serviços para humanidade). Um exemplo disso, é como essa diversidade de organismos condiciona todo o alimento que consumimos, proporcionando uma grande variedade de alimentos e recursos que permitiram o avanço da humanidade.
O manguezal é um ecossistema ímpar, encontrado em regiões tropicais e subtropicais, e se caracteriza por possuir água salobra resultante do encontro da água doce de rios com a água salgada do mar. O estuário, local de transição dessas águas, gera uma salinidade bem específica dos manguezais. Além dessa, outras características que marcam esse ecossistema são os solos pobres em oxigênio e ricos em matéria orgânica, e a dinâmica do nível de água, que tende a variar de acordo com a maré. Vale ressaltar que a presença de mangues em um estuário faz com que esse ecossistema seja capaz de reter muito mais matéria orgânica do que estuários que não possuem esse tipo de flora.
A dinâmica do nível de água nos manguezais propicia o surgimento de uma flora própria e adaptada à água salobra e às baixas concentrações de oxigênio no solo: as árvores de mangue. Essas árvores possuem raízes expostas denominadas penumatóforos, que além de promover trocas gasosas entre as raízes e o ambiente, também funcionam como escoras que garantem uma melhor fixação das árvores. Outra importante função dessa flora é servir de abrigo e substrato para diversas espécies de animais graças à estrutura única que as árvores de manguezal possuem.
As características descritas acima fazem com que os manguezais sejam um foco de grande biodiversidade e um habitat bastante utilizado por diversas espécies de animais, seja de forma temporária ou permanente. Os mangues são habitados de forma temporária por animais que utilizam os estuários para reprodução e que passam parte do seu ciclo de vida nestes locais, como, por exemplo, camarões, lagostim, moluscos e peixes. E são habitat permanente de animais sésseis, que por não possuírem capacidade de locomoção, habitam exclusivamente estes ecossistemas. Muitas destas espécies de manguezais possuem grande valor comercial, o que faz com que sejam fonte de renda para diversas famílias que vivem no entorno dessas áreas.
Um dos muitos exemplos que podemos citar é o caso da Ilha de Deus, localizada em Recife, capital pernambucana. Nessa ilha existe uma comunidade, nascida no entorno de um manguezal associado a três rios distintos da cidade de Recife, cuja atividade pesqueira e o cultivo de sururu (molusco muito comum na região Nordeste) são as principais fontes de renda das famílias locais. O cultivo de sururu é uma atividade exercida por centenas de mulheres, as chamadas de marisqueiras.
No Brasil, as áreas de mangue são protegidas pela Resolução nº 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o texto define que toda a extensão de área de manguezal é uma área de proteção permanente. Recentemente, ao final de setembro de 2020, essa resolução foi revogada pelo próprio CONAMA, tornando esses ecossistemas ainda mais vulneráveis à ação humana.
Essa revogação representa um grande retrocesso já que coloca em xeque todas as espécies que compõe os manguezais e os diversos benefícios que estes ecossistemas trazem. Além disso, também compromete a fonte de renda de diversas famílias que dependem diretamente do bem estar e continuidade destes ecossistemas, como é o caso dos habitantes da Ilha de Deus.
Referências e Leitura Sugerida:
PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrinha; vida, 2011. 328p
DOURADO, M.L.; FREITAS, L. Como um antigo esconderijo de criminoso se tornou exemplo de transformação social no Recife. BBC News. 2016. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38236207>.
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MIRANDA, Paulo Henrique. Manguezal: um ecossistema ameaçado. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/manguezal-um-ecossistema-ameacado.html>.
Energias Renováveis como caminho para a Igualdade de Gênero
Observando o cenário global de energia, estamos vivenciando uma mudança rápida e abrangente de fontes de energia. A transição energética de combustíveis fósseis para a adoção das energias renováveis. Essa transformação pode trazer consigo grandes mudanças sociais, ambientais e econômicas como a inserção massiva de empregos na área.
A Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) estima em suas pesquisas que o número de empregos no setor pode aumentar de 10,3 milhões em 2017 para quase 29 milhões em 2050 [1]. Esse crescimento abre um leque de oportunidades para profissionais de diversas habilidades e talentos. Pensando nessas oportunidades, o setor de energias renováveis pode abranger maior participação das mulheres, ao mesmo tempo em que asseguraria a distribuição socialmente justa de oportunidades socioeconômicas.
As energias renováveis andam de mãos dadas com todos os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e podem ter um grande impacto se usadas da maneira certa. Especialmente os ODS relacionados ao o acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis e modernas (ODS 7), à igualdade de gênero e empoderamento (ODS 5), e o crescimento inclusivo e trabalho decente (ODS 8) que carregam entre si uma grande interligação [1]. Porém, é necessário que esses objetivos sejam alcançados com inclusão, igualdade e equidade entres gêneros, pois a energia é útil não em si, mas para fornecer bens e serviços, incluindo emprego e meios sustentáveis de subsistência.
Hanitsch [3]cita que “a desigualdade de gênero é um dos principais problemas para o combate no século XXI. A desigualdade de gênero não é apenas uma questão de direitos humanos, mas principalmente um desperdício de potencial humano no mundo, como muitas mulheres não podem viver a vida em sua plenitude. As energias renováveis podem empoderar as mulheres porque aumentam os direitos substantivos e processuais, visto que as mulheres são vistas não apenas como detentoras de direitos, mas também como parceiras essenciais e atores do desenvolvimento. As mulheres podem ser independentes, contribuindo para a família, renda e bem-estar. Isso permite que elas usem suas diversas habilidades, beneficiando o mundo tanto social quanto economicamente. As energias renováveis têm a capacidade de desempenhar um papel significativo nessa luta e fortalecer sua autoestima”.
Neste contexto, a IRENA lançou em 2019 um relatório contendo resultados de uma pesquisa sobre energia renovável com a perspectiva de gênero. O relatório “Energia Renovável: uma Perspectiva de Gênero” destaca os seguintes pontos [1]:
As respostas dos participantes da pesquisa mostram que 75% das mulheres e apenas 40% dos homens, percebem a existência de barreiras à entrada e ascensão das mulheres no setor;
A pesquisa apresenta também uma lacuna semelhante sobre a igualdade salarial ao longo das linhas de gênero: 60% dos entrevistados do sexo masculino assumem igualdade de remuneração entre mulheres e homens contra apenas 29% das entrevistadas;
Maior diversidade de gênero traz co-benefícios substanciais, concluiu a pesquisa;
As mulheres trazem novas perspectivas para o local de trabalho e melhoram a colaboração, enquanto o aumento do número de mulheres qualificadas na liderança de uma organização produz um melhor desempenho geral;
No contexto do acesso à energia, o envolvimento das mulheres como agentes ativos na implantação de soluções de energia renovável fora da rede é conhecido por melhorar a sustentabilidade e maximizar os benefícios socioeconômicos;
A pesquisa da IRENA revela que o acesso moderno à energia reduz a carga de trabalho pesado, melhora o bem-estar e libera tempo para mulheres e meninas buscarem educação e se engajarem em atividades geradoras de renda;
As mulheres estão em uma posição ideal para liderar e apoiar o fornecimento de soluções de energia em áreas isoladas da rede elétrica, especialmente em vista de seu papel como usuárias primárias de energia dentro de casa e em suas redes sociais.
A partir disso, percebemos que os investimentos em energias renováveis ultrapassam as questões técnicas, mas emerge no campo social promovendo a sustentabilidade e uma sociedade mais justa, ofertando o empoderamento de meninas e mulheres.
Referências:
[1] IRENA, “Gender equality for an inclusive energy transition”, Abu Dhabi, 2019.
[4] IRENA, Energías renovables: una perspectiva de género. 2019.
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COSTA, Tatiane. Energias Renováveis como caminho para a Igualdade de Gênero. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/energias-renovaveis-como-caminho-para-a-igualdade-de-genero.html>.
Relaxamento e autocuidado na cozinha: nutrindo a Ecologia Interior!
Não é mais segredo para ninguém que nosso estado interno determina nosso comportamento de consumo e hábitos. Os tipos de pensamentos, de sentimentos, a qualidade das emoções… tudo isso compõe o que chamamos de ecologia interior.
Todo pensamento cria um tipo de fala, que gera um tipo de sentimento, de ação e de hábito. E cada um de nossos hábitos impacta o mundo. É sempre um movimento de dentro para fora, por isso ser sustentável tem muito de autocuidado. Não dá mais para fugir desse ponto de partida!
No cenário atual e ainda pandêmico, sabemos bem os níveis de escassez interna e os níveis de excessos que movimentamos dia a dia a ponto de nos tornarmos frios, mecânicos e desatentos a tudo e todos que nos cercam. Parece que ligamos nosso piloto automático e as “lives” que tanto assistimos, de certa forma, minaram o “ao vivo” que podemos e devemos ter.
Fragmentamos nossa existência mas nunca é tarde para praticar atividades que tragam de volta o entendimento de que há vida brotando em todo canto e que somos cocriadores de uma realidade. Vamos juntos? Comece despertando sua criança interior. Ela sabe das coisas.
Estamos em um grande exercício para reconexão com uma ideia de “teia”. Todo movimento que fazemos promove ou não ambientes sustentáveis. Tudo depende do olhar que se expressa a partir de nós.
Sinto que aos poucos estamos reaprendendo a olhar para o lado de dentro, e nos percebendo como integrados ao meio ambiente externo. Muitos de nós, inclusive, voltaram a buscar atividades mais orgânicas e artesanais para manter a chama verdejante da vida. Atividades criativas, diferentes e sem que precisemos mutar o microfone ou ligar a câmera.
Um bom espaço para isso é a cozinha de nossas casas.
Monte um caderno de registros orgânicos na sua cozinha e se conecte com a vida!
Observe os alimentos – Ao cortar um tomate orgânico, como ele é por dentro? Compare com um tomate produzido em larga escala, envolto em agrotóxicos. O que percebe de diferente? O tamanho? A cor? Escreva com um lápis, desenhe o alimento, pinte mostrando as diferenças…
Ao cortar uma abóbora, o que você nota? A teia, as ligações que mantém as sementes ali, unidas e prontas para germinarem. Novamente registre! Faça colagens com revistas velhas, folhas secas.
Cores! Veja e se encante com as cores. Pinte as folhas de seu caderno de registros com elas. Beterraba, cenoura, couve etc. Tudo isso expressa vivacidade e pinta. Faça suas tintas naturais.
O pimentão e seu cheiro. A pimenta e sua ardência. A laranja e o sol que ela mostra quando cortada na metade. Registre também os sabores, os sentimentos que eles despertaram em você, as boas memórias… Por exemplo, o bolo de laranja de alguém especial.
As linhas da vida na folha da couve. A árvore no repolho quando você corta vertical e a mandala quando corta horizontal. As linhas da sua mão… Trace poemas em linhas, reproduza o desenho dos alimentos.
Esses são apenas alguns exemplos de como, o tempo todo, somos convidados a estar unidos com a vida, de forma criativa, lúdica, relaxante e mesmo amorosa.
Quando vamos para a cozinha nem percebemos os desenhos naturais que cada alimento tem. Se compararmos com o nosso desenho interno, podemos nos surpreender ainda mais! Nosso pulmão e a copa das árvores. Nossos vasos sanguíneos e a raiz da árvore. Tão semelhantes!
Poderia exemplificar muito mais para afirmar que somos parte de um mesmo meio ambiente. O fato é que precisamos refinar o olhar. Precisamos estar presentes de uma maneira diferente e menos egóica, menos mecânica, menos consumista e focada em outros sentidos para além do paladar. Podemos nos nutrir da beleza da vida e aprender com a observação, saudando a arte natural e precisa que existe.
Vivemos um período propício para isso. Podemos sim deixar de um pouco de lado as telas e nos entregarmos a momentos para a leitura das entrelinhas, para desbravar os aromas e sabores de uma forma mais atenciosa e experimental.
Já dizia Guimarães Rosa, “Felicidade se encontra nas horinhas de descuido.” Já eu, apenas lhes digo: Divirtam-se um pouco sem teclados.
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AMORES, Valéria. Relaxamento e autocuidado na cozinha: nutrindo a Ecologia Interior!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/relaxamento-e-autocuidado-na-cozinha-nutrindo-a-ecologia-interior.html>.
O custo de ser saudável e o custo de adoecer: a importância do equilíbrio
Como a qualidade de vida impacta diretamente na saúde do planeta e os custos disso são incalculáveis
Se há um mito que me entristece é o de que para ter uma vida saudável é preciso ter muito dinheiro. Se você acha financeiramente mais caro ter uma vida mais saudável, precisamos falar sobre os custos de adoecer. E estou falando de dinheiro porque é o que mais se destaca quando falamos de custos. Mas também precisamos considerar outros custos, como: qual o custo de ser doente ou saudável no seu tempo, na qualidade de vida, no ecossistema em que vivemos.
Entre as doenças que mais matam no mundo, os índices do câncer sempre me chamam atenção. Primeiro porque a prevenção consiste em hábitos saudáveis básicos: alimentação adequada, exercício físico regular, baixa ingestão de bebida alcoólica, etc. E esses mesmos cuidados evitam, inclusive, várias outras doenças. Mas também porque casos diagnosticados precocemente têm um índice de cura de 90%, o que significa que a maioria das mortes poderia ser evitada e isso é muito triste de se pensar.
Raramente pensamos na origem dos ditados populares, eles estão enraizados em nós, para o bem e para o mal. Sempre ouvi que prevenir é melhor que remediar, mesmo sem saber o que isso, de fato, significava. Aos poucos, quando precisei remediar muitas coisas, fui entendendo melhor.
Aos 17 anos, tomava nove comprimidos por dia. A cada seis meses, tinha que repetir exames de sangue e de imagem para verificar se o tratamento estava adequado ou precisava ser ajustado. Nessa época, somando o valor do plano de saúde (não vou negar, sinto saudade dele às vezes), dos medicamentos e dos deslocamentos já passaria fácil de um salário mínimo por mês.
Foram 3.285 comprimidos ao ano, com cartelas descartadas (para coleta seletiva), com algumas sobras vencidas/inutilizadas jogadas fora, da maneira como minha consciência permitia no momento: o lixo comum. Além de causar contaminação do solo e da água e colocar em risco a saúde de outras pessoas e de animais, que podem encontrar os remédios no lixo e fazer o uso indevido, os medicamentos e suas embalagens podem levar anos para se decompor. E vale lembrar que cada quilo de medicamento descartado na rede de saneamento pode contaminar até 450 mil litros de água. Olha quantos custos estão se somando a essa conta.
Mas vamos nos ater ao foco do alto custo financeiro de ser saudável. Sim, um litro de leite de amêndoas custa em torno de três vezes mais que um litro de leite integral pasteurizado. Um queijo vegano custa mais que um queijo “tradicional” (o vegcheddar então, inalcançável), mas o quilo da carne e das hortaliças nos põe de volta ao páreo. Se um bife de patinho bovino custa quase R$ 30/kg, com o mesmo valor é possível comprar brócolis, um quilo de feijão, couve e umas laranjas pra espremer suco na hora. Dei esse exemplo porque me peguei refletindo no mercado justamente essa questão: “Quanto de outros alimentos eu posso comprar com o dinheiro que eu compraria um quilo carne?”.
“Bruna, mas viver saudável é ser vegetariano ou vegano? Eu quero comer carne”. Está tudo bem querer carne, lembre-se sempre você pode comer o que você quiser, desde que de maneira consciente e equilibrada, pensando em tudo que isso envolve. Escolhas mais saudáveis passam por questionamento de hábitos alimentares e de novas rotinas. Inclusive, reforço a dica do movimento Segunda Sem Carne, clique aqui para saber mais.
Ser saudável não é fácil, mas é simples: aquilo que a terra nos dá tende a ser mais barato do que aquilo que passa por industrialização. E vale essa pequena reflexão para o dia a dia:
Por R$ 2, um chocolate da fila do caixa ou uma maçã?
Por R$ 5, uma lata de refrigerante de 350 ml (que contribui para o aumento de peso, enfraquecimento de ossos e dentes, pedra nos rins, aumento da pressão arterial) ou um suco natural de 200 ml?
Por R$ 30, um lanche fast food que acaba em 10 minutos e gera consequências negativas para seu organismo ou uma macarronada com molho de tomate caseiro que além de ser boa, geralmente serve duas refeições (almoço e janta)?
Por R$ 200, um jogo de videogame ou um tênis para caminhar que não prejudique sua coluna?
Por R$ 300, uma calça de uma marca famosa ou algo que realmente faça sentido para seu bolso, para seu coração, para sua saúde e para o bem-estar do planeta?
Então quer dizer que jogar videogame é errado? Que não pode tomar refrigerante e comer um cachorro quente? Calma! Essa conversa não é sobre extremismo, é um alerta. Ontem mesmo eu comi um cachorro quente com meu refrigerante favorito, por isso não seria hipócrita em tentar limitar a vida alheia. Mas o alerta é para antes de agir avaliar quais custos você prefere arcar em cada momento. E não somente custos relacionados ao campo financeiros ou da saúde, é sobre o todo ao seu redor. O consumo consciente passa pela qualidade de vida que buscamos e desenvolvemos.
Nossas escolhas custam caro sim, sejam elas saudáveis ou não. Pelo que você está pagando e o que têm colocado na conta do planeta?
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CARVALHO, Bruna. O custo de ser saudável e o custo de adoecer: a importância do equilíbrio. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/o-custo-de-ser-saudavel-e-o-custo-de-adoecer-a-importancia-do-equilibrio.html>.
Tecnologia e inovação podem ajudar o meio ambiente? Conheça a indústria 4.0!
Desde a época da escola, quando temos aula sobre Revolução Industrial, percebemos o quanto é complicado equilibrar a balança entre o desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente. Forma-se em nossa mente o conceito do “ou”: OU avançamos tecnologicamente OU cuidamos da natureza.
De fato, no início da industrialização, nossas possibilidades e nosso pensamento ainda eram muito limitados. O desejo desenfreado por lucro e por inovações, que tornassem a vida mais fácil, aliado ao total desconhecimento do potencial destrutivo de nossas ações fomentou o crescimento desordenado das indústrias durante décadas. Hoje, devido ao surgimento de mais alternativas de processos e dados históricos sobre os impactos que causamos ao planeta por gerações, existe um movimento crescente no meio industrial de busca por soluções mais verdes.
Durante estes anos na Engenharia Química, pude observar e ter um contato direto com esse movimento. Cada vez mais empresas investem em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos menos poluentes e mais sustentáveis. Quatro contatos com estes esforços foram marcantes na minha vida universitária. O primeiro deles aconteceu bem no início da graduação, no Núcleo de Pesquisas em Lubrificantes, um dos laboratórios do Grupo de Pesquisas em Separação por Adsorção em parceria com a Petrobras. Nesse laboratório, tive a oportunidade de pesquisar e desenvolver, junto com a equipe, biolubrificantes fabricados a partir de óleos vegetais. Algo importantíssimo na aplicação em máquinas agrícolas, já que a utilização de óleos minerais implica o risco de contaminação da lavoura em casos de vazamento.
A segunda experiência se deu durante o intercâmbio na Alemanha. Na Technische Universität Kaiserslautern, onde participei de um grupo de pesquisa em biotecnologia industrial. Um de nossos vários objetivos era otimizar a extração de um corante a partir de cianobactérias. Ao obter o corante desta fonte alternativa, o processo seria barateado e ainda preservaria árvores (no caso da fonte natural) e diminuiria a utilização de produtos químicos poluentes (rota sintética).
Já de volta ao Brasil, participei de uma competição universitária incrível realizada pela Scania. Nessa competição, fomos estimulados a buscar soluções que aliassem o uso de tecnologia de ponta e metodologias sustentáveis (do ponto de vista econômico, social e ambiental) para resolver problemas de mobilidade na cidade de São Paulo. Lá, durante o desafio, aprendemos sobre as inovações que são feitas pela Scania para melhorar a performance de seus caminhões e motores para reduzir os danos ao meio ambiente. Eles utilizam desde fontes renováveis de energia até softwares e outros mecanismos tecnológicos que aumentam a vida útil e a eficiência dos produtos.
Por fim, uma das experiências mais marcantes quando falo sobre indústria e sustentabilidade ocorreu durante uma palestra inesquecível do CEO da BASF no Brasil que tive o prazer e a honra de assistir aqui mesmo em Fortaleza. Dentre inúmeros tópicos abordados, algo sedimentou no mais profundo de minha memória. Aquele senhor, que falava ainda com um forte sotaque alemão, traduziu o que eu pensava em palavras. Segundo ele, não existe inovação verdadeira se esta não for sustentável. Não há mais tempo nem espaço para a humanidade ser tecnológica OU sustentável. É preciso pensar os avanços na indústria em conjunto com a preservação ambiental para que consigamos salvar não o planeta, mas nossa própria espécie. Segundo ele, a BASF abandonou o OU e agora trabalha com o E. Inovação tecnológica E sustentabilidade. Esse é o caminho da indústria 4.0
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LOPES, Jéssica. Tecnologia e inovação podem ajudar o meio ambiente? Conheça a indústria 4.0!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/tecnologia-e-inovacao-podem-ajudar-o-meio-ambiente-conheca-a-industria-4-0.html>.
Não jogue sua esponja de limpeza fora! Você pode reciclar!
A reciclagem doméstica tem se tornado uma realidade cada vez mais necessária em um mundo em dívida ambiental, principalmente quando falamos daqueles resíduos que não sabemos como descartar. Você sabia que alguns materiais, como a esponja de louça e cápsulas de café, demandam cuidados especiais?
Estes materiais de difícil reciclabilidade são os protagonistas daTerraCycle, uma empresa criada em 2001, presente em 21 países e responsável por engajar mais de 80 milhões de pessoas em programas de coleta, envio e reciclagem de lixo. Apesar das limitações quanto ao tipo de resíduo, a empresa disponibiliza soluções super interessantes às lacunas existentes no processo da reciclagem.
A empresa conta com a ajuda de pessoas em ações espalhadas ao redor do globo e, através de milhões de envios, já conseguiu reciclar, apenas no Brasil, quase 2 milhões de esponjas e arrecadar mais de 100 mil reais em doações.
Como funciona?
O processo é bastante simples! Primeiro é preciso cadastrar-se no site individualmente ou em grupo. O cadastro possibilita a contagem do sistema de pontos e de recompensas.
Depois é necessário coletar os materiais conforme as orientações no site. Independente do material em questão, é importante seguir as diretrizes para armazenamento e envio gratuito.
Para postagem do material nos Correios é necessário imprimir uma etiqueta (disponibilizada no site da TerraCycle), colocar todo o material em uma caixa e enviar sem custos. O pacote é então recebido, os pontos computados e o material reciclado.
No site é possível também monitorar os programas disponíveis, encontrar pontos de coleta já existentes na sua cidade e, até mesmo, acessar todo o material de apoio necessário caso você queira ser um ponto de coleta.
Incrível, não é? Que tal então impulsionar o seu entorno e criar um ponto de coleta no seu prédio, bairro ou trabalho e ainda arrecadar pontos para doar à escola pública ou instituição de caridade de sua preferência?
Entre no site da TerraCycle para conhecer mais sobre o programa! #nãoépubli
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MOSS, Luana. Não jogue sua esponja de limpeza fora! Você pode reciclar!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/nao-jogue-sua-esponja-fora-voce-pode-reciclar.html>.
Ecopsicologia como Despertar da Consciência Ecológica
Ao longo dos anos, é possível observar, sem muita dificuldade, a falta de equilíbrio existente na relação do ser humano com a natureza ao redor. Nota-se também a perpetuação de inúmeras ações desmedidas em prol do lucro sem levar em consideração as consequências, muitas vezes negativas, para o meio ambiente natural, como queimadas, poluição de rios e mares, desmatamento e invasões de terras preservadas.
A partir disso, gostaria de introduzir a vocês uma nova maneira de pensar e de se relacionar com a vida: a Ecopsicologia, uma área do saber que se estende tanto às relações humanas e globais quanto à saúde científica. Trarei algumas contribuições em prol de ações para construir um modo de vida mais saudável, harmônico e integral – conosco, com os outros e com o planeta sob a ótica do cuidado e do conceito de regeneração.
A Ecopsicologia busca promover o resgate da relação ser humano-natureza, revelando sua indissociabilidade. Ela possibilita o diálogo entre ecologia e psicologia, e investiga o papel do sujeito contemporâneo em relação às questões ambientais. Uma vez que considera a saúde desse sujeito como bem-estar biopsicossocial-espiritual-ecológico, ou seja: bem-estar físico, psicológico (mental e emocional), social (status socioeconômico, cultura e relações sociais), espiritual (sentido para a vida) e ecológico (ambiental).
Tal vertente sugere uma nova produção de subjetividade/visão de mundo: o ego ecológico, que em poucas palavras, é um conceito que aponta para o modo de ser, de pensar e agir do indivíduo em sintonia com um futuro sustentável. Propõe enxergar o indivíduo de modo holístico: como parte integrante e ativa da “teia da vida”, não algo exterior a ela. Ou seja, almeja provocar uma possível transformação comportamental e subjetiva do modo que o indivíduo lida com o seu entorno, ao sair de uma visão antropocêntrica (ser humano como centro do Universo) e fomentar uma visão de mundo ecocêntrica (ser humano como membro da natureza, tendo sua vida, diante do meio natural o mesmo peso que de qualquer outro ser vivo).
Levando-se em consideração esses aspectos, a questão central é fomentar a visão sistêmica da vida e a noção da interdependência para aproximar as práticas sociais e condutas individuais à sustentabilidade e regeneração da Terra; considerando o caráter espiritual, os desafios e mudanças a serem implementadas.
Neste campo de atuação, busca-se tratar com profundidade a questão da crise ecológica tão urgente e necessária atualmente. Ao questionar: “Por que o ser humano é o único animal que insiste em destruir seu habitat?”, faz-se necessário instigar e inspirar a efetivação de comportamentos pró-ambientais para que não nos escape a condição de perpetuação da vida, e impulsionar a reflexão sobre o impacto que causamos no planeta.
Em virtude do que foi mencionado, acredito que promover saúde e resgatar o contato harmonioso/equilibrado com a Natureza (nossa primordial fonte de vida) se torna essencial e urgente, tanto para nós, quanto para gerações futuras. Em outras palavras, na visão da Ecopsicologia promover saúde é quando o sujeito ao cuidar de si (psicologia) consegue ampliar o cuidado com ambiente que o rodeia (ecologia) e assim se sentir parte/pertencente deste todo (planeta). De fato, é um tema que necessita maior visibilidade, pois precisa ultrapassar o campo exclusivo daqueles que sentem empatia com as questões socioambientais e gerar uma noção global de que é um assunto de todos.
Ainda convém lembrar que a sabedoria ancestral de povos tradicionais também é considerada como parte fundamental do campo de saberes que contribuem a uma cosmovisão holística, ou seja, é a união entre a sabedoria antiga e as novas tecnologias e descobertas da ciência, que permite avançarmos em uma direção que honra e respeita todos os seres da Terra. Assim como é fundamental respeitar e abrir espaço e o diálogo à diversidade de conhecimentos, modos de vida, e culturas ao redor.
Desta maneira, ao sair da visão de mundo egóica e narcísica, onde prevalecem as próprias convicções de mundo de forma totalitária e verdadeira, podemos alcançar uma visão mais ampla que permite coabitar com variados modos de ser sem pressupor a eliminação do diferente, daquele que não se encaixa em tal visão estruturada e pré-concebida da existência. Pois a própria natureza predispõe diversidade para se manter viva, sem diversidade seu ecossistema não se sustenta! Logo, a humanidade como parte integrante desse sistema também se revela como múltipla e plural. Portanto, sistemas que induzem mentalidades a serem padronizados em seu modo de viver, é um perigo para a preservação das multiplicidades.
Diante disso, a normalização e a banalização da vida chegaram a um ponto crítico, ao invés de nos levar a questionar, nos faz aceitar condições de destruição e captação de recursos desmedidos da Terra como ações inatas da vida. Como contraponto, torna-se fundamental fomentar a mudança de paradigma da Terra como tal fonte inesgotável de recursos, para um organismo vivo capaz de se autorregular/regenerar, mas que necessita de tempo adequado para isso.
Logo, como seres humanos, pensantes e conscientes, temos a responsabilidade ética de observar criticamente o modo de vida que está em curso, nos posicionando diante desta crise ecológica. Olhar para qual direção iremos conduzir as próximas ações: se será à uma existência que preserva/cuida do próprio habitat e dos outros seres que aqui coabitam, ou apenas destrói de forma abusiva toda teia da vida.
De todo modo, você pode está se perguntando: “Como consigo mudar isso?”. Então aqui vão algumas dicas: comece observando aquilo que consome, quais tipo de empresas você investe seu dinheiro, quais são seus hábitos alimentares, qual a origem daquilo que come e para onde vai aquilo que descarta. Sair das grandes cadeias de produção para começar a reduzir, reciclar, reutilizar aquilo que já existe. Exercite a criatividade e reinvente novas formas de habitar o mundo de maneira sustentável e ecológica. A gente muda o mundo na mudança da mente! Comece como e onde puder… pode ser mais simples do que imagina!
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MUNIZ, Isabella. Ecopsicologia como Despertar da Consciência Ecológica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/ecopsicologia-como-despertar-da-consciencia-ecologica.html>.
Urbanização e Acesso à Água
Nos últimos sete anos, a frase “verão chegando e com ele, a falta de água” tem se tornado costumeira para a maioria dos cidadãos brasileiros, principalmente após 2014, quando o maior centro urbano do país foi fortemente afetado por uma crise hídrica.
Inicialmente pode parecer contraditório uma crise hídrica no Brasil, já que o país apresenta a maior reserva de água doce do planeta. No entanto, conforme já exposto por aqui no artigo “Qual a situação da água no Brasil? Como funciona a gestão de recursos hídricos no país?”, a água doce superficial não se distribui de forma igual no país: 68% localiza-se na região Norte, 16% na região Centro-Oeste, 7% na região Sul, 6% na região Sudeste e 3% na região Nordeste.
Junto a esse fato ainda observamos o aumento do processo de urbanização das cidades, que traz consigo alguns problemas característicos que, vinculados à gestão pública e à pressão sobre o ambiente natural, ocasionam, vários problemas, dentre os quais: a escassez hídrica e a falta de tratamento de esgoto, presentes principalmente em regiões de periferia.
Em países desenvolvidos, de forma geral, a urbanização ocorreu de maneira gradual e planejada. Já em países em desenvolvimento como o Brasil, a atração da população para centros urbanos se deu via processo de êxodo rural promovido pela chegada da industrialização ao país e de garantias trabalhistas (promovidas pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho). Assim, devido à busca de melhor qualidade de vida em grandes cidades, foi possível verificar a aceleração do processo de urbanização, cuja velocidade desconsiderou a importância do planejamento da cidade, focando mais no crescimento econômico do território.
Para exemplificar a importante relação da urbanização com o acesso aos recursos hídricos vamos analisar a cidade de São Paulo, que possui um histórico de enchentes e alagamentos e que sofreu o rigoroso racionamento de água mencionado anteriormente. E vem a questão: Por que uma cidade, que foi inundada inúmeras vezes durante anos, sofreu e ainda sofre com a falta de água? E por que os Rios Tietê e Pinheiros, que são tão extensos e abundantes, não resolvem o problema do fornecimento de água?
No mesmo ano (2014), a relatora da ONU, Catarina Albuquerque, ironizou: “O culpado parece ser sempre São Pedro”. Na verdade as respostas para a crise hídrica possuem raiz tanto no processo frenético de urbanização que a metrópole de São Paulo sofreu durante seu crescimento quanto na falta de investimentos por parte da prestadora de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário – a Sabesp.
Os Rios Tietê e Pinheiros estão contaminados pela poluição urbana e a cidade de São Paulo abastecida por vários sistemas, dentre eles, o Cantareira – que se destaca como principal produtor de água potável. O Sistema Cantareira abrange 12 municípios e é responsável metade da água consumida pelos 19 milhões de habitantes da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
De maneira geral, a lógica econômica da urbanização é vender a cidade, ou seja, dispor lotes para vendas. Em casos de presença de rios sinuosos, como Rio Pinheiros, a solução utilizada é retificar e/ou canalizar seu curso para que facilite a impermeabilização de suas margens, de forma que a oferta de terrenos e solos urbanos seja maior.
Além da impermeabilização do solo, a alteração do curso d’água promove a retirada das matas ciliares e ocupação das margens dos rios, impedindo que a água proveniente das chuvas, seja absorvida pelo solo e armazenada nas reservas de águas subterrâneas (como lençóis freáticos e aquíferos). Isso faz com que as águas pluviais não sejam aproveitadas, pois a ausência da vegetação nas margens dos rios e a constante degradação do solo impedem a infiltração da água.
Todos esses processos alteram o ciclo hidrológico – que compreende o regime de chuvas, o armazenamento e a disponibilidade de água – afetando o abastecimento público de água. É extremamente importante ressaltar que a preservação das matas ciliares, a criação de áreas verdes no meio urbano e soluções de bioengenharia para a proteção dos recursos hídricos não envolvem somente ideais ambientalistas, envolve também ideais econômicos e sociais que apontam para um direito previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (sancionada pela Lei nº 9.433/1997) que, considera a água como bem de domínio público.
Infelizmente, a cidade de São Paulo é apenas uma das muitas cidades que sofrem com o acelerado processo de urbanização, comumente não planejado, e com a escassez hídrica. O foco do problema não é a urbanização, mas sim a gestão multisetorial, principalmente dos recursos hídricos e do zoneamento do território.
É preciso aliar os planos de uso e ocupação do solo, medidas de preservação dos recursos hídricos com os planos de saneamento básico visando um planejamento urbano sustentável, e nós, como sociedade civil, repensar na nossa participação através das nossas escolhas políticas (principalmente em ano de eleições municipais) para evitar que, num futuro não tão distante, a falta não seja de água, mas sim de água potável.
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ARTIJA, Maria Vitória. Urbanização e Acesso à Água. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/urbanizacao-e-acesso-a-agua.html>.
4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro
Começar esse artigo falando sobre a necessidade urgente de modificar a maneira como estamos produzindo roupas pode soar redundante e confesso que o meu desejo aqui não é esse. Meu interesse é relembrar alguns pontos importantes dessa jornada para que possamos construir um raciocínio juntos.
Já debatemos sobre o impacto da indústria têxtil no meio ambiente e sobre a importância de se buscar alternativas mais ecológicas para confecção de roupas [1]. Porém, o futuro da indústria da moda não depende apenas de peças com materiais mais sustentáveis. Principalmente se essa etapa da concepção permanece inserida dentro de uma produção acelerada e de uma lógica de descarte (fast fashion).
Segundo Elena Salcedo, autora do livro ‘Moda Ética para um Futuro Sustentável’, o nosso verdadeiro desafio é redefinir todo o ciclo da produção de vestuário. Desde a forma de desenhar, passando pela produção, até a distribuição e utilização dessas peças. Quando partimos do momento em que o designer insere processos de produção mais sustentáveis e incentiva uma mudança de comportamento no consumidor, substituímos o discurso do design sustentável e o convertemos em design para a sustentabilidade.
Então, esse artigo deseja convidar marcas e consumidores a repensar esses processos. Sua intenção não é ser um guia prático ou verdade absoluta, e sim, uma ferramenta de reflexão para a busca de um futuro mais sustentável dentro da moda.
Quando sua peça é desmontada, o que temos?
Dentro do processo acelerado de produção de moda, nos deparamos com itens com uma mistura cada vez mais complexa de materiais. Isso inclui tecidos mistos, forros, enfeites e demais acessórios, o que dificulta consideravelmente a reciclagem quando terminada a fase de consumo.
Uma alternativa sugerida por Elena Salcedo é o de desenvolver um “design para a reciclagem”, onde o estilista deve refletir ainda durante o processo de criação na desmontagem da peça e na destinação de cada material que compõe esse vestuário.
Pensar no bem-estar social
Uma marca de roupas não é feita sozinha. Dentro de cada processo existem muitas mãos envolvidas. Pensar no bem-estar de cada um desses envolvidos da cadeia de produção é essencial para um futuro sustentável. E isso inclui condições e pagamentos justos pelo trabalho.
Segundo Kate Fletcher em ‘Moda & Sustentabilidade, Design para a Mudança’, “os designers podem contribuir para que esse esforço ganhe impulso – por exemplo, conscientizando-se dos efeitos que as decisões de um design têm sobre a velocidade e os custos da cadeia de fornecimento”, além de desenvolver estratégias de monitoramento de produção que garantam o acolhimento de todos os envolvidos.
Minimize os desperdícios
Quando falamos de resíduos têxteis derivado de uma roupa, não falamos somente da peça de roupa descartada em seu pós-consumo. Durante o corte, muitos pedaços de tecido que não são incorporados a essa peça são descartados – geralmente em formatos complexos por causa da modelagem. É o que chamamos de resíduos pré-consumo. Segundo Elena, cerca 15% do tecido utilizado pela indústria vira resíduos que acabam sendo descartados e, em sua grande maioria, terminam em aterros sanitários.
Um design de moda sem resíduo tem como objetivo reduzir a quantidade desses retalhos ou eliminá-la por completo. Investir em modelagens que contribuam para a diminuição de resíduos é uma boa opção. Outra alternativa é incorporar esses retalhos a novos designs, ou reaproveitá-los transformando-os em forros ou entretelas. Um ponto positivo dessa prática é a facilitação da reciclagem da peça, pois assim diminuímos a mistura de materiais.
Quanto vai durar a sua roupa?
Colocar a durabilidade como um pilar na hora de desenvolver um design é pensar em como é possível prolongar o tempo de vida de uma peça sem que ela tenha a necessidade de ser consertada – ou em como facilitar o processo de repará-la.
Para isso, é necessário pensar com cuidado na escolha dos materiais e investir numa boa confecção. Ambas as alternativas exercem uma influência visual e física na peça, fazendo com que o consumidor diminua o seu consumo por não precisar de novas aquisições.
É preciso reforçar que, dentro desses quatro questionamentos, o usuário também desempenhará um papel essencial nesse processo, pois ele se tornará responsável pelo uso e manutenção. As marcas têm como responsabilidade informar sobre as melhores práticas de cuidado e mostrar que isso também faz parte de um comportamento mais sustentável.
Acredito que o design pode não só funcionar como um meio para se produzir coisas bonitas, mas também como uma ferramenta de transformações que nos ajuda a romper barreiras para melhorar o futuro.
[1]O que a etiqueta não mostra! Os impactos socioambientais da moda tradicional, clique aqui para acessar o artigo.
Referências:
SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. Editorial Gustavo Gili, SlL, Barcelona, 2014.
FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & Sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
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AURELIANO, Bruna. 4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/4-praticas-para-marcas-de-moda-do-futuro.html>.
Alimentação saudável e o consumo de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais)
As plantas alimentícias não convencionais, conhecidas pelo acrônimo PANC, são facilmente encontradas na natureza. São frutos, folhas, flores, rizomas e sementes que podem estar nos quintais, em canteiros ou entre as frestas das calçadas, nos terrenos baldios, na beira de estradas, sendo, por isso, confundidas com inços ou mato. Para Kinupp e Lorenzi (2014), as PANC são plantas que têm uma ou mais partes ou porções que podem ser consumidas na alimentação humana sendo elas exóticas, nativas, silvestres, espontâneas ou cultivadas.
Essa definição de não convencionais pode variar de acordo com a região e/ou com a cultura de um povo, aquilo que é não convencional no sul do Brasil pode ser corriqueiro no Norte e vice-versa. Como no caso do pinhão, da vitória régia ou também, da banana e do mamão, que podem ser considerados não convencionais se utilizadas partes diferentes destas plantas para alimentar, como a casca da banana e o “pé” do mamão (KINUPP e LORENZI, 2014).
Algumas pessoas confundem as PANC com folhas, inços, matos, em função disso, é preciso informá-las para que explorem, identifiquem e conheçam suas potencialidades e usos, experimentando novos sabores. Tais plantas podem ser consumidas in natura ou após preparo culinário, sendo que, seu consumo traz vários benefícios, por serem ricas em nutrientes.
É possível adquiri-las em feiras, mercados locais ou direto dos agricultores. Diante disso, ao visitar uma feira, deve-se perguntar ao feirante ou vendedor sobre essas variedades. Caso não encontre, tente encomendar, pois as PANC ainda não estão organizadas em cadeias produtivas e por isso são mais difíceis de estarem disponíveis nos locais de consumo habituais.
O livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil” de Kinupp e Lorenzi (2014) é um guia de identificação com 351 espécies catalogadas, que aborda aspectos nutricionais e traz diversas receitas ilustradas, sendo uma sugestão para conhecer mais sobre as referidas plantas. As PANC são simples de cultivar e de grande adaptabilidade e rusticidade.
Destaca-se aqui a importância da sua identificação correta a fim de evitar confusões, pois, em cada região pode ser conhecida por termos diferentes. Alguns exemplos de PANC mais conhecidos e divulgados são espécies como: Capuchinha (Tropaeolum majus L), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Cará-moela (Dioscorea bulbifera), Inhame (Colocasia esculenta), Peixinho-da-horta (Stachys byzantina), Physalis (Physalis angulata) entre muitas outras.
Com as espécies acima citadas é possível inovar nos pratos do dia a dia, com preparações como, panquecas de Capuchinha; nhoque de Cará-moela acompanhado de molho pesto com Ora-pro-nóbis; folhas de Peixinho-da-horta empanadas (à milanesa); pasta de inhame; frango com Ora-pro-nóbis, enriquecendo assim, as refeições com nutrientes adequados para uma boa nutrição e rompendo com a monotonia alimentar imposta atualmente.
Já existe um movimento significativo de resgate da biodiversidade, mas ainda é necessário divulgar o potencial alimentar, nutricional e de uso na produção de base ecológica das PANC, a fim de permitir às comunidades e populações, escolhas alimentares adequadas, com diversificação alimentar e a confiança na produção sustentável que possibilita a conservação e o uso dessas espécies nos sistemas de produção.
Escolhas e decisões alimentares são também um ato político, cabendo a nós, melhorar a qualidade da alimentação, reduzir custos e utilizar espécies da época e da região. Desta forma estaremos valorizando o nosso patrimônio sociocultural por meio da introdução ou resgate das espécies de PANC e estabelecendo uma relação harmônica com o meio ambiente.
Referências:
KINNUP, V. F.; LORENZI H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.
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MAIRESSE, Letícia. Alimentação saudável e o consumo de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/alimentacao-saudavel-e-o-consumo-de-panc-plantas-alimenticias-nao-convencionais.html>.
São Paulo ganha mural artístico com tinta que purifica o ar – Conheça a City Forests
A poluição do ar é uma questão crítica tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana e grandes cidades, com adensamento populacional e grande circulação de veículos, são espaços tendem a possuir a qualidade do ar comprometida pela alta emissão de gases poluentes.
Pensando nisso, a City Forests, iniciativa elaborada pela empresa Converse criadora do icônico All Star, resolveu transformar o problema da poluição do ar em uma oportunidade de unir arte, cultura e tecnologia com meio ambiente para gerar melhoria da qualidade do ar em grandes cidades mundo afora. E tudo isso através da criação de murais com tinta especial elaborados por artistas locais. No Brasil, foi a cidade de São Paulo que ganhou um mural que purifica o ar.
Sim! Isso mesmo que você leu. Um mural que ajuda a purificar o ar!
E como isso é feito? Como funciona esse processo?
Os murais são criados com uma tinta fotocatalítica que contém pigmentos especiais – dióxido de titânio. Ela atrai poluentes atmosféricos nocivos e os converte em nitratos inofensivos por meio de um processo químico ativado pela luz solar. Assim, qualquer superfície revestida com esta tinta torna-se uma superfície purificadora de ar ativa.
Por que a cidade de São Paulo?
São Paulo é atualmente a maior cidade da América Latina em termos populacionais, o que significa que todos os dias circulam pela cidade um grande número de pessoas, gerando, consequentemente, trânsito devido à grande frota de veículos. Esse fato aliado a pouca presença de vegetação na região fez com que São Paulo fosse a cidade escolhida pela iniciativa City Forests.
O local selecionado para receber o mural que ajuda a purificar o ar foi a fachada de um prédio próximo ao Minhocão, na região central da cidade, devido justamente ao grande fluxo de pessoas e veículos e também a pouca presença de verde na área. O processo de criação do mural levou 11 dias e agora a região possui uma grande obra de arte que celebra a cultura nacional, destaca a importância da preservação ambiental e purifica o ar circundante, já que, o mural equivale a 750 árvores, ou mais de 15 campos de futebol.
Sobre o mural e a conscientização socioambiental
O mural foi assinado por Rimon Guimarães, artista autodidata e multidisciplinar de Curitiba, que já criou murais em 27 países e atualmente está envolvido em vários projetos sociais que buscam integrar à sociedade grupos marginalizados através da arte. Inspirado pelos povos indígenas originários, o mural foi pensado para celebrar e destacar a importância das raízes culturais, e teve a colaboração de Nazura, artista multidisciplinar da zona leste de São Paulo formada em artes visuais e pesquisadora do afrofuturismo.
Intitulado de “Pindorama”, que era como os nossos povos originários chamavam a terra antes da chegada dos europeus, o mural faz referência aos quatro elementos reverenciados pelos índios: terra, vento, água e fogo, além do pássaro, onça pintada e a cobra, considerados animais de poder. Já a figura feminina indígena teve seu traje inspirado na tribo Jurupixuna, que viveu na região amazônica até o século XVIII e, sua máscara é inspirada em pinturas faciais de tribos como Kayapó e Xikrin.
“Este mural celebra a diversidade das tribos indígenas brasileiras originais e nossa flora e fauna distintas. Podemos aprender muito com essas pessoas sobre como nos conectar e viver em harmonia com a natureza”. Rimon Guimarães.
E tudo isso pode ser visto e admirado a partir de um viaduto que se transformou em uma galeria de arte a céu aberto, bem no centro de São Paulo. Esse envolvimento e possibilidade de unir grandes questões na criação desse mural são também expressados por Nazura: “Trabalhar com essa tinta foi incrível porque funciona como qualquer outra tinta, mas o mais importante, o fato de o mural dialogar com o aspecto ambiental, favorece o desenvolvimento de mais materiais assim. Eu nunca tinha trabalhado em um mural desta altura e adorei, especialmente porque havia muito sentimento envolvido e fazia muito tempo que não sentia essa luz e viva, com pessoas se reunindo para criar incríveis trabalhos.”
City Forests
O trabalho faz parte da iniciativa City Forests (Cidade-Florestas, em tradução livre) elaborada pela Converse, criadora do icônico All Star, com o propósito de unir arte, cultura e meio ambiente. As instalações transformam fachadas em galerias de arte, dando vida nova aos espaços urbanos e trazendo a sustentabilidade para o nosso cotidiano, ao devolver ar puro para as cidades.
O objetivo da iniciativa Converse City Forests é, até o final deste ano, instalar murais em 13 áreas urbanas ao redor do mundo, pintando mais de 14.000 m2, que juntos equivalem ao plantio de aproximadamente 40.000 árvores, purificando o ar das emissões poluentes produzidas pelos veículos automotores.
A Converse acredita que manifestações artísticas podem proporcionar muitas reflexões sobre como transformar o ambiente ao redor, seja visual ou ecologicamente. Antes de São Paulo, cidades como Bangkok na Tailândia, Varsóvia na Polônia, Belgrado na Sérvia, Santiago no Chile, e Sydney na Austrália, também já receberam instalações semelhantes.
Como a água é elemento fundamental para a vida, a sua escassez pode causar (em alguns casos já causa) um colapso de ordem não somente ambiental, mas também econômica e social no mundo. Porém, mesmo sendo essencial para a manutenção da vida, a água ainda é vista de maneira utilitarista por grande parte dos seres humanos. Todos esses fatores geram a necessidade inadiável do cuidado com as águas em sua totalidade.
O paradigma do uso da água de forma utilitarista e instrumental é característico das sociedades capitalistas que defendem avanços econômicos pautados na produtividade contínua e na máxima utilização dos recursos naturais. Esse pensamento contribuiu para a crise ambiental que engloba a problemática da água.
Ao longo dos séculos o ser humano vem se desconectando cada vez mais da natureza, o que levou a uma distorção da relação que temos com a água. Isso se torna perceptível quando verificamos o descaso por parte das sociedades com os rios, nascentes e aquíferos. Diante do quadro atual, não restam dúvidas de que é preciso resgatar aspectos não somente educacionais e ecológicos a respeito da água, mas também, culturais e simbólicos. Por isso é preciso entender que a água não é somente um recurso natural. Ela desempenha inúmeros papéis na vida dos seres vivos, assim como também possui inúmeras abordagens a respeito de um uso mais consciente para sua proteção.
Por esse motivo, discutir um novo olhar para a água é fundamental. Trabalhar a questão da conservação desse bem na atualidade, requer que olhemos para a natureza de maneira holística, isso quer dizer que precisamos compreender os fenômenos naturais em sua totalidade. Isto porque pertencemos todos a uma comunidade biótica, onde cada sujeito tem o seu lugar, sem negar uma incontestável hierarquização. Essa comunidade ainda abrange os solos, as águas, a flora (plantas) e a fauna (animais), ou seja, a terra como um todo. Nesse sentido, essa interpretação da natureza de forma holística também nos convida a compreender as políticas e as formas de gestão dos recursos naturais.
Superar a crise ambiental envolvendo a problemática da água é fundamental e para que isso aconteça são necessárias novas formas de pensar e agir. Isso envolve a mudança de valores na vida das pessoas, ou seja, considerar a questão ambiental segundo uma ética da sustentabilidade e do cuidado. Essa ética inclui a responsabilidade da humanidade sobre os problemas ambientais, trazendo à tona uma reflexão sobre como nós somos coletivamente responsáveis. Diante disso, há uma emergência na mudança de pensamento e principalmente de atitudes na relação do ser humano com a água. Pensar em uma corresponsabilidade e cooperação em seus cuidados pode ser uma alternativa.
Segundo Muñoz, essa cooperação para a conservação da água, envolvendo várias vertentes (como as de ordem educacional, cultural, científica, ética, política, social) pode ser muito mais eficaz. Pois, além de representar uma governança sensível da água (mais inclusiva e participativa), também se constitui como essencial nas discussões sobre a conservação e preservação. É válido ressaltar que não é possível pensar nessa questão sem se considerar os conflitos gerados pelo acesso à água e desigualdades sociais ocasionadas pela falta desse acesso.
Já que todos somos responsáveis pela situação atual, precisamos nos conscientizar para uma ética para a água, na tentativa de nos relacionar com ela de uma outra forma. E para que esse “todo” envolvendo a natureza seja resgatado, é preciso alinhar produção, consumo e modo de viver. Ou seja, adotar modos de produção mais sustentáveis, adequando hábitos de consumo mais conscientes e voltados para a sustentabilidade. Desta forma, poderemos estabelecer uma relação harmônica entre ser humano e o meio ambiente.
Referências:
FERREIRO, M. F. Direito de propriedade e ética da Terra: o contributo de Aldo Leopold. Revista eletrônica e-cadernos CES. Coimbra, v. 5, p. 8-20, 2009 (a). Disponível em: <https://journals.openedition.org/eces/260#text>.
RIBEIRO, S. A. M. Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade na mudança do paradigma instrumental do uso da água. 2012, 179 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade Federal de Brasília, Brasília, 2012. Disponível em: < http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11427/1/2012_SergioAugustodeMendon%C3%A7aRibeiro.pdf>.