Relaxamento e autocuidado na cozinha: nutrindo a Ecologia Interior!

Não é mais segredo para ninguém que nosso estado interno determina nosso comportamento de consumo e hábitos. Os tipos de pensamentos, de sentimentos, a qualidade das emoções… tudo isso compõe o que chamamos de ecologia interior.

Todo pensamento cria um tipo de fala, que gera um tipo de sentimento, de ação e de hábito. E cada um de nossos hábitos impacta o mundo. É sempre um movimento de dentro para fora, por isso ser sustentável tem muito de autocuidado. Não dá mais para fugir desse ponto de partida!

Imagem: Creative Commons.

No cenário atual e ainda pandêmico, sabemos bem os níveis de escassez interna e os níveis de excessos que movimentamos dia a dia a ponto de nos tornarmos frios, mecânicos e desatentos a tudo e todos que nos cercam. Parece que ligamos nosso piloto automático e as “lives” que tanto assistimos, de certa forma, minaram o “ao vivo” que podemos e devemos ter.

Fragmentamos nossa existência mas nunca é tarde para praticar atividades que tragam de volta o entendimento de que há vida brotando em todo canto e que somos cocriadores de uma realidade. Vamos juntos? Comece despertando sua criança interior. Ela sabe das coisas.

Estamos em um grande exercício para reconexão com uma ideia de “teia”. Todo movimento que fazemos promove ou não ambientes sustentáveis. Tudo depende do olhar que se expressa a partir de nós.

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Sinto que aos poucos estamos reaprendendo a olhar para o lado de dentro, e nos percebendo como integrados ao meio ambiente externo. Muitos de nós, inclusive, voltaram a buscar atividades mais orgânicas e artesanais para manter a chama verdejante da vida. Atividades criativas, diferentes e sem que precisemos mutar o microfone ou ligar a câmera.

Um bom espaço para isso é a cozinha de nossas casas.

Monte um caderno de registros orgânicos na sua cozinha e se conecte com a vida!

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  1. Observe os alimentos – Ao cortar um tomate orgânico, como ele é por dentro? Compare com um tomate produzido em larga escala, envolto em agrotóxicos. O que percebe de diferente? O tamanho? A cor? Escreva com um lápis, desenhe o alimento, pinte mostrando as diferenças…
  2. Ao cortar uma abóbora, o que você nota? A teia, as ligações que mantém as sementes ali, unidas e prontas para germinarem. Novamente registre! Faça colagens com revistas velhas, folhas secas.
  3. Cores! Veja e se encante com as cores. Pinte as folhas de seu caderno de registros com elas. Beterraba, cenoura, couve etc. Tudo isso expressa vivacidade e pinta. Faça suas tintas naturais.
  4. O pimentão e seu cheiro. A pimenta e sua ardência. A laranja e o sol que ela mostra quando cortada na metade. Registre também os sabores, os sentimentos que eles despertaram em você, as boas memórias… Por exemplo, o bolo de laranja de alguém especial.
  5. As linhas da vida na folha da couve. A árvore no repolho quando você corta vertical e a mandala quando corta horizontal. As linhas da sua mão… Trace poemas em linhas, reproduza o desenho dos alimentos.
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Esses são apenas alguns exemplos de como, o tempo todo, somos convidados a estar unidos com a vida, de forma criativa, lúdica, relaxante e mesmo amorosa.

Quando vamos para a cozinha nem percebemos os desenhos naturais que cada alimento tem. Se compararmos com o nosso desenho interno, podemos nos surpreender ainda mais! Nosso pulmão e a copa das árvores. Nossos vasos sanguíneos e a raiz da árvore. Tão semelhantes!

Poderia exemplificar muito mais para afirmar que somos parte de um mesmo meio ambiente.  O fato é que precisamos refinar o olhar. Precisamos estar presentes de uma maneira diferente e menos egóica, menos mecânica, menos consumista e focada em outros sentidos para além do paladar. Podemos nos nutrir da beleza da vida e aprender com a observação, saudando a arte natural e precisa que existe.

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Vivemos um período propício para isso. Podemos sim deixar de um pouco de lado as telas e nos entregarmos a momentos para a leitura das entrelinhas, para desbravar os aromas e sabores de uma forma mais atenciosa e experimental.

Já dizia Guimarães Rosa, “Felicidade se encontra nas horinhas de descuido.” Já eu, apenas lhes digo: Divirtam-se um pouco sem teclados.

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AMORES, Valéria. Relaxamento e autocuidado na cozinha: nutrindo a Ecologia Interior!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/relaxamento-e-autocuidado-na-cozinha-nutrindo-a-ecologia-interior.html>.

O custo de ser saudável e o custo de adoecer: a importância do equilíbrio

Como a qualidade de vida impacta diretamente na saúde do planeta e os custos disso são incalculáveis

Se há um mito que me entristece é o de que para ter uma vida saudável é preciso ter muito dinheiro. Se você acha financeiramente mais caro ter uma vida mais saudável, precisamos falar sobre os custos de adoecer. E estou falando de dinheiro porque é o que mais se destaca quando falamos de custos. Mas também precisamos considerar outros custos, como: qual o custo de ser doente ou saudável no seu tempo, na qualidade de vida, no ecossistema em que vivemos.

Entre as doenças que mais matam no mundo, os índices do câncer sempre me chamam atenção. Primeiro porque a prevenção consiste em hábitos saudáveis básicos: alimentação adequada, exercício físico regular, baixa ingestão de bebida alcoólica, etc. E esses mesmos cuidados evitam, inclusive, várias outras doenças. Mas também porque casos diagnosticados precocemente têm um índice de cura de 90%, o que significa que a maioria das mortes poderia ser evitada e isso é muito triste de se pensar.

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Raramente pensamos na origem dos ditados populares, eles estão enraizados em nós, para o bem e para o mal. Sempre ouvi que prevenir é melhor que remediar, mesmo sem saber o que isso, de fato, significava. Aos poucos, quando precisei remediar muitas coisas, fui entendendo melhor.

Aos 17 anos, tomava nove comprimidos por dia. A cada seis meses, tinha que repetir exames de sangue e de imagem para verificar se o tratamento estava adequado ou precisava ser ajustado. Nessa época, somando o valor do plano de saúde (não vou negar, sinto saudade dele às vezes), dos medicamentos e dos deslocamentos já passaria fácil de um salário mínimo por mês.

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Foram 3.285 comprimidos ao ano, com cartelas descartadas (para coleta seletiva), com algumas sobras vencidas/inutilizadas jogadas fora, da maneira como minha consciência permitia no momento: o lixo comum. Além de causar contaminação do solo e da água e colocar em risco a saúde de outras pessoas e de animais, que podem encontrar os remédios no lixo e fazer o uso indevido, os medicamentos e suas embalagens podem levar anos para se decompor. E vale lembrar que cada quilo de medicamento descartado na rede de saneamento pode contaminar até 450 mil litros de água. Olha quantos custos estão se somando a essa conta.

Mas vamos nos ater ao foco do alto custo financeiro de ser saudável. Sim, um litro de leite de amêndoas custa em torno de três vezes mais que um litro de leite integral pasteurizado. Um queijo vegano custa mais que um queijo “tradicional” (o vegcheddar então, inalcançável), mas o quilo da carne e das hortaliças nos põe de volta ao páreo. Se um bife de patinho bovino custa quase R$ 30/kg, com o mesmo valor é possível comprar brócolis, um quilo de feijão, couve e umas laranjas pra espremer suco na hora. Dei esse exemplo porque me peguei refletindo no mercado justamente essa questão: “Quanto de outros alimentos eu posso comprar com o dinheiro que eu compraria um quilo carne?”.

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“Bruna, mas viver saudável é ser vegetariano ou vegano? Eu quero comer carne”. Está tudo bem querer carne, lembre-se sempre você pode comer o que você quiser, desde que de maneira consciente e equilibrada, pensando em tudo que isso envolve. Escolhas mais saudáveis passam por questionamento de hábitos alimentares e de novas rotinas. Inclusive, reforço a dica do movimento Segunda Sem Carne, clique aqui para saber mais.

Ser saudável não é fácil, mas é simples: aquilo que a terra nos dá tende a ser mais barato do que aquilo que passa por industrialização. E vale essa pequena reflexão para o dia a dia:

  • Por R$ 2, um chocolate da fila do caixa ou uma maçã?
  • Por R$ 5, uma lata de refrigerante de 350 ml (que contribui para o aumento de peso, enfraquecimento de ossos e dentes, pedra nos rins, aumento da pressão arterial) ou um suco natural de 200 ml?
  • Por R$ 30, um lanche fast food que acaba em 10 minutos e gera consequências negativas para seu organismo ou uma macarronada com molho de tomate caseiro que além de ser boa, geralmente serve duas refeições (almoço e janta)?
  • Por R$ 200, um jogo de videogame ou um tênis para caminhar que não prejudique sua coluna?
  • Por R$ 300, uma calça de uma marca famosa ou algo que realmente faça sentido para seu bolso, para seu coração, para sua saúde e para o bem-estar do planeta?
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Então quer dizer que jogar videogame é errado? Que não pode tomar refrigerante e comer um cachorro quente? Calma! Essa conversa não é sobre extremismo, é um alerta. Ontem mesmo eu comi um cachorro quente com meu refrigerante favorito, por isso não seria hipócrita em tentar limitar a vida alheia. Mas o alerta é para antes de agir avaliar quais custos você prefere arcar em cada momento. E não somente custos relacionados ao campo financeiros ou da saúde, é sobre o todo ao seu redor. O consumo consciente passa pela qualidade de vida que buscamos e desenvolvemos.

Nossas escolhas custam caro sim, sejam elas saudáveis ou não. Pelo que você está pagando e o que têm colocado na conta do planeta?

Referências:

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CARVALHO, Bruna. O custo de ser saudável e o custo de adoecer: a importância do equilíbrio. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/o-custo-de-ser-saudavel-e-o-custo-de-adoecer-a-importancia-do-equilibrio.html>.

Tecnologia e inovação podem ajudar o meio ambiente? Conheça a indústria 4.0!

Desde a época da escola, quando temos aula sobre Revolução Industrial, percebemos o quanto é complicado equilibrar a balança entre o desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente. Forma-se em nossa mente o conceito do “ou”: OU avançamos tecnologicamente OU cuidamos da natureza.

De fato, no início da industrialização, nossas possibilidades e nosso pensamento ainda eram muito limitados. O desejo desenfreado por lucro e por inovações, que tornassem a vida mais fácil, aliado ao total desconhecimento do potencial destrutivo de nossas ações fomentou o crescimento desordenado das indústrias durante décadas. Hoje, devido ao surgimento de mais alternativas de processos e dados históricos sobre os impactos que causamos ao planeta por gerações, existe um movimento crescente no meio industrial de busca por soluções mais verdes.

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Durante estes anos na Engenharia Química, pude observar e ter um contato direto com esse movimento. Cada vez mais empresas investem em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos menos poluentes e mais sustentáveis. Quatro contatos com estes esforços foram marcantes na minha vida universitária. O primeiro deles aconteceu bem no início da graduação, no Núcleo de Pesquisas em Lubrificantes, um dos laboratórios do Grupo de Pesquisas em Separação por Adsorção em parceria com a Petrobras. Nesse laboratório, tive a oportunidade de pesquisar e desenvolver, junto com a equipe, biolubrificantes fabricados a partir de óleos vegetais. Algo importantíssimo na aplicação em máquinas agrícolas, já que a utilização de óleos minerais implica o risco de contaminação da lavoura em casos de vazamento.

A segunda experiência se deu durante o intercâmbio na Alemanha. Na Technische Universität Kaiserslautern, onde participei de um grupo de pesquisa em biotecnologia industrial. Um de nossos vários objetivos era otimizar a extração de um corante a partir de cianobactérias. Ao obter o corante desta fonte alternativa, o processo seria barateado e ainda preservaria árvores (no caso da fonte natural) e diminuiria a utilização de produtos químicos poluentes (rota sintética).

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Já de volta ao Brasil, participei de uma competição universitária incrível realizada pela Scania. Nessa competição, fomos estimulados a buscar soluções que aliassem o uso de tecnologia de ponta e metodologias sustentáveis (do ponto de vista econômico, social e ambiental) para resolver problemas de mobilidade na cidade de São Paulo. Lá, durante o desafio, aprendemos sobre as inovações que são feitas pela Scania para melhorar a performance de seus caminhões e motores para reduzir os danos ao meio ambiente. Eles utilizam desde fontes renováveis de energia até softwares e outros mecanismos tecnológicos que aumentam a vida útil e a eficiência dos produtos.

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Por fim, uma das experiências mais marcantes quando falo sobre indústria e sustentabilidade ocorreu durante uma palestra inesquecível do CEO da BASF no Brasil que tive o prazer e a honra de assistir aqui mesmo em Fortaleza. Dentre inúmeros tópicos abordados, algo sedimentou no mais profundo de minha memória. Aquele senhor, que falava ainda com um forte sotaque alemão, traduziu o que eu pensava em palavras. Segundo ele, não existe inovação verdadeira se esta não for sustentável. Não há mais tempo nem espaço para a humanidade ser tecnológica OU sustentável. É preciso pensar os avanços na indústria em conjunto com a preservação ambiental para que consigamos salvar não o planeta, mas nossa própria espécie. Segundo ele, a BASF abandonou o OU e agora trabalha com o E. Inovação tecnológica E sustentabilidade. Esse é o caminho da indústria 4.0

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LOPES, Jéssica. Tecnologia e inovação podem ajudar o meio ambiente? Conheça a indústria 4.0!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/tecnologia-e-inovacao-podem-ajudar-o-meio-ambiente-conheca-a-industria-4-0.html>.

Não jogue sua esponja de limpeza fora! Você pode reciclar!

A reciclagem doméstica tem se tornado uma realidade cada vez mais necessária em um mundo em dívida ambiental, principalmente quando falamos daqueles resíduos que não sabemos como descartar. Você sabia que alguns materiais, como a esponja de louça e cápsulas de café, demandam cuidados especiais?

Estes materiais de difícil reciclabilidade são os protagonistas da TerraCycle, uma empresa criada em 2001, presente em 21 países e responsável por engajar mais de 80 milhões de pessoas em programas de coleta, envio e reciclagem de lixo. Apesar das limitações quanto ao tipo de resíduo, a empresa disponibiliza soluções super interessantes às lacunas existentes no processo da reciclagem.

A empresa conta com a ajuda de pessoas em ações espalhadas ao redor do globo e, através de milhões de envios, já conseguiu reciclar, apenas no Brasil, quase 2 milhões de esponjas e arrecadar mais de 100 mil reais em doações.

Como funciona?

O processo é bastante simples! Primeiro é preciso cadastrar-se no site individualmente ou em grupo. O cadastro possibilita a contagem do sistema de pontos e de recompensas.

Print do site da TerraCycle

Depois é necessário coletar os materiais conforme as orientações no site. Independente do material em questão, é importante seguir as diretrizes para armazenamento e envio gratuito.

Para postagem do material nos Correios é necessário imprimir uma etiqueta (disponibilizada no site da TerraCycle), colocar todo o material em uma caixa e enviar sem custos. O pacote é então recebido, os pontos computados e o material reciclado.

No site é possível também monitorar os programas disponíveis, encontrar pontos de coleta já existentes na sua cidade e, até mesmo, acessar todo o material de apoio necessário caso você queira ser um ponto de coleta.

Imagem: Print do site da TerraCycle.

Incrível, não é? Que tal então impulsionar o seu entorno e criar um ponto de coleta no seu prédio, bairro ou trabalho e ainda arrecadar pontos para doar à escola pública ou instituição de caridade de sua preferência?

Entre no site da TerraCycle para conhecer mais sobre o programa!  #nãoépubli

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MOSS, Luana. Não jogue sua esponja de limpeza fora! Você pode reciclar!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/nao-jogue-sua-esponja-fora-voce-pode-reciclar.html>.

Ecopsicologia como Despertar da Consciência Ecológica

Ao longo dos anos, é possível observar, sem muita dificuldade, a falta de equilíbrio existente na relação do ser humano com a natureza ao redor. Nota-se também a perpetuação de inúmeras ações desmedidas em prol do lucro sem levar em consideração as consequências, muitas vezes negativas, para o meio ambiente natural, como queimadas, poluição de rios e mares, desmatamento e invasões de terras preservadas.

A partir disso, gostaria de introduzir a vocês uma nova maneira de pensar e de se relacionar com a vida: a Ecopsicologia, uma área do saber que se estende tanto às relações humanas e globais quanto à saúde científica. Trarei algumas contribuições em prol de ações para construir um modo de vida mais saudável, harmônico e integral – conosco, com os outros e com o planeta sob a ótica do cuidado e do conceito de regeneração.

Imagem: Creative Commons.

A Ecopsicologia busca promover o resgate da relação ser humano-natureza, revelando sua indissociabilidade. Ela possibilita o diálogo entre ecologia e psicologia, e investiga o papel do sujeito contemporâneo em relação às questões ambientais. Uma vez que considera a saúde desse sujeito como bem-estar biopsicossocial-espiritual-ecológico, ou seja: bem-estar físico, psicológico (mental e emocional), social (status socioeconômico, cultura e relações sociais), espiritual (sentido para a vida) e ecológico (ambiental).

Tal vertente sugere uma nova produção de subjetividade/visão de mundo: o ego ecológico, que em poucas palavras, é um conceito que aponta para o modo de ser, de pensar e agir do indivíduo em sintonia com um futuro sustentável. Propõe enxergar o indivíduo de modo holístico: como parte integrante e ativa da “teia da vida”, não algo exterior a ela. Ou seja, almeja provocar uma possível transformação comportamental e subjetiva do modo que o indivíduo lida com o seu entorno, ao sair de uma visão antropocêntrica (ser humano como centro do Universo) e fomentar uma visão de mundo ecocêntrica (ser humano como membro da natureza, tendo sua vida, diante do meio natural o mesmo peso que de qualquer outro ser vivo).

Imagem: Creative Commons.

Levando-se em consideração esses aspectos, a questão central é fomentar a visão sistêmica da vida e a noção da interdependência para aproximar as práticas sociais e condutas individuais à sustentabilidade e regeneração da Terra; considerando o caráter espiritual, os desafios e mudanças a serem implementadas.

Neste campo de atuação, busca-se tratar com profundidade a questão da crise ecológica tão urgente e necessária atualmente. Ao questionar: “Por que o ser humano é o único animal que insiste em destruir seu habitat?”, faz-se necessário instigar e inspirar a efetivação de comportamentos pró-ambientais para que não nos escape a condição de perpetuação da vida, e impulsionar a reflexão sobre o impacto que causamos no planeta.

Imagem: Creative Commons.

Em virtude do que foi mencionado, acredito que promover saúde e resgatar o contato harmonioso/equilibrado com a Natureza (nossa primordial fonte de vida) se torna essencial e urgente, tanto para nós, quanto para gerações futuras. Em outras palavras, na visão da Ecopsicologia promover saúde é quando o sujeito ao cuidar de si (psicologia) consegue ampliar o cuidado com ambiente que o rodeia (ecologia) e assim se sentir parte/pertencente deste todo (planeta). De fato, é um tema que necessita maior visibilidade, pois precisa ultrapassar o campo exclusivo daqueles que sentem empatia com as questões socioambientais e gerar uma noção global de que é um assunto de todos.

Ainda convém lembrar que a sabedoria ancestral de povos tradicionais também é considerada como parte fundamental do campo de saberes que contribuem a uma cosmovisão holística, ou seja, é a união entre a sabedoria antiga e as novas tecnologias e descobertas da ciência, que permite avançarmos em uma direção que honra e respeita todos os seres da Terra. Assim como é fundamental respeitar e abrir espaço e o diálogo à diversidade de conhecimentos, modos de vida, e culturas ao redor.

Comunidade Quilombola Mocambo, em Porto da Folha/Sergipe. / Fonte: TV Sergipe/ Reprodução: Gshow.

Desta maneira, ao sair da visão de mundo egóica e narcísica, onde prevalecem as próprias convicções de mundo de forma totalitária e verdadeira, podemos alcançar uma visão mais ampla que permite coabitar com variados modos de ser sem pressupor a eliminação do diferente, daquele que não se encaixa em tal visão estruturada e pré-concebida da existência. Pois a própria natureza predispõe diversidade para se manter viva, sem diversidade seu ecossistema não se sustenta! Logo, a humanidade como parte integrante desse sistema também se revela como múltipla e plural. Portanto, sistemas que induzem mentalidades a serem padronizados em seu modo de viver, é um perigo para a preservação das multiplicidades.

Diante disso, a normalização e a banalização da vida chegaram a um ponto crítico, ao invés de nos levar a questionar, nos faz aceitar condições de destruição e captação de recursos desmedidos da Terra como ações inatas da vida. Como contraponto, torna-se fundamental fomentar a mudança de paradigma da Terra como tal fonte inesgotável de recursos, para um organismo vivo capaz de se autorregular/regenerar, mas que necessita de tempo adequado para isso.

Logo, como seres humanos, pensantes e conscientes, temos a responsabilidade ética de observar criticamente o modo de vida que está em curso, nos posicionando diante desta crise ecológica. Olhar para qual direção iremos conduzir as próximas ações: se será à uma existência que preserva/cuida do próprio habitat e dos outros seres que aqui coabitam, ou apenas destrói de forma abusiva toda teia da vida.

Imagem: Creative Commons.

De todo modo, você pode está se perguntando: “Como consigo mudar isso?”. Então aqui vão algumas dicas: comece observando aquilo que consome, quais tipo de empresas você investe seu dinheiro, quais são seus hábitos alimentares, qual a origem daquilo que come e para onde vai aquilo que descarta. Sair das grandes cadeias de produção para começar a reduzir, reciclar, reutilizar aquilo que já existe. Exercite a criatividade e reinvente novas formas de habitar o mundo de maneira sustentável e ecológica. A gente muda o mundo na mudança da mente! Comece como e onde puder… pode ser mais simples do que imagina!

Faz sentido pra você? Compartilhe suas reflexões!

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MUNIZ, Isabella. Ecopsicologia como Despertar da Consciência Ecológica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/ecopsicologia-como-despertar-da-consciencia-ecologica.html>.

Urbanização e Acesso à Água

Nos últimos sete anos, a frase “verão chegando e com ele, a falta de água” tem se tornado costumeira para a maioria dos cidadãos brasileiros, principalmente após 2014, quando o maior centro urbano do país foi fortemente afetado por uma crise hídrica.

Inicialmente pode parecer contraditório uma crise hídrica no Brasil, já que o país apresenta a maior reserva de água doce do planeta. No entanto, conforme já exposto por aqui no artigo “Qual a situação da água no Brasil? Como funciona a gestão de recursos hídricos no país?”, a água doce superficial não se distribui de forma igual no país: 68% localiza-se na região Norte, 16% na região Centro-Oeste, 7% na região Sul, 6% na região Sudeste e 3% na região Nordeste.

Fonte: ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

Junto a esse fato ainda observamos o aumento do processo de urbanização das cidades, que traz consigo alguns problemas característicos que, vinculados à gestão pública e à pressão sobre o ambiente natural, ocasionam, vários problemas, dentre os quais: a escassez hídrica e a falta de tratamento de esgoto, presentes principalmente em regiões de periferia.

Em países desenvolvidos, de forma geral, a urbanização ocorreu de maneira gradual e planejada. Já em países em desenvolvimento como o Brasil, a atração da população para centros urbanos se deu via processo de êxodo rural promovido pela chegada da industrialização ao país e de garantias trabalhistas (promovidas pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho). Assim, devido à busca de melhor qualidade de vida em grandes cidades, foi possível verificar a aceleração do processo de urbanização, cuja velocidade desconsiderou a importância do planejamento da cidade, focando mais no crescimento econômico do território.

Para exemplificar a importante relação da urbanização com o acesso aos recursos hídricos vamos analisar a cidade de São Paulo, que possui um histórico de enchentes e alagamentos e que sofreu o rigoroso racionamento de água mencionado anteriormente. E vem a questão: Por que uma cidade, que foi inundada inúmeras vezes durante anos, sofreu e ainda sofre com a falta de água? E por que os Rios Tietê e Pinheiros, que são tão extensos e abundantes, não resolvem o problema do fornecimento de água?

Enchente em São Paulo após fortes chuvas em março de 2019. / Fonte: Bruno Rocha/ Estadão/ Reprodução: R7.

No mesmo ano (2014), a relatora da ONU, Catarina Albuquerque, ironizou: “O culpado parece ser sempre São Pedro”. Na verdade as respostas para a crise hídrica possuem raiz tanto no processo frenético de urbanização que a metrópole de São Paulo sofreu durante seu crescimento quanto na falta de investimentos por parte da prestadora de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário – a Sabesp.

Os Rios Tietê e Pinheiros estão contaminados pela poluição urbana e a cidade de São Paulo abastecida por vários sistemas, dentre eles, o Cantareira – que se destaca como principal produtor de água potável. O Sistema Cantareira abrange 12 municípios e é responsável metade da água consumida pelos 19 milhões de habitantes da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Sistema Cantareira durante crise hídrica. / Fonte: Divulgação Sabesp / Reprodução: Agência Brasil.

De maneira geral, a lógica econômica da urbanização é vender a cidade, ou seja, dispor lotes para vendas. Em casos de presença de rios sinuosos, como Rio Pinheiros, a solução utilizada é retificar e/ou canalizar seu curso para que facilite a impermeabilização de suas margens, de forma que a oferta de terrenos e solos urbanos seja maior.

Além da impermeabilização do solo, a alteração do curso d’água promove a retirada das matas ciliares e ocupação das margens dos rios, impedindo que a água proveniente das chuvas, seja absorvida pelo solo e armazenada nas reservas de águas subterrâneas (como lençóis freáticos e aquíferos). Isso faz com que as águas pluviais não sejam aproveitadas, pois a ausência da vegetação nas margens dos rios e a constante degradação do solo impedem a infiltração da água.

Todos esses processos alteram o ciclo hidrológico – que compreende o regime de chuvas, o armazenamento e a disponibilidade de água – afetando o abastecimento público de água. É extremamente importante ressaltar que a preservação das matas ciliares, a criação de áreas verdes no meio urbano e soluções de bioengenharia para a proteção dos recursos hídricos não envolvem somente ideais ambientalistas, envolve também ideais econômicos e sociais que apontam para um direito previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (sancionada pela Lei nº 9.433/1997) que, considera a água como bem de domínio público.

Infelizmente, a cidade de São Paulo é apenas uma das muitas cidades que sofrem com o acelerado processo de urbanização, comumente não planejado, e com a escassez hídrica. O foco do problema não é a urbanização, mas sim a gestão multisetorial, principalmente dos recursos hídricos e do zoneamento do território.

Vista da Cidade de São Paulo a partir da Marginal Tietê. / Fonte: Wikimedia.

É preciso aliar os planos de uso e ocupação do solo, medidas de preservação dos recursos hídricos com os planos de saneamento básico visando um planejamento urbano sustentável, e nós, como sociedade civil, repensar na nossa participação através das nossas escolhas políticas (principalmente em ano de eleições municipais) para evitar que, num futuro não tão distante, a falta não seja de água, mas sim de água potável.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

ARTIJA, Maria Vitória. Urbanização e Acesso à Água. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/urbanizacao-e-acesso-a-agua.html>.

4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro

Começar esse artigo falando sobre a necessidade urgente de modificar a maneira como estamos produzindo roupas pode soar redundante e confesso que o meu desejo aqui não é esse. Meu interesse é relembrar alguns pontos importantes dessa jornada para que possamos construir um raciocínio juntos.

Já debatemos sobre o impacto da indústria têxtil no meio ambiente e sobre a importância de se buscar alternativas mais ecológicas para confecção de roupas [1]. Porém, o futuro da indústria da moda não depende apenas de peças com materiais mais sustentáveis. Principalmente se essa etapa da concepção permanece inserida dentro de uma produção acelerada e de uma lógica de descarte (fast fashion).

Segundo Elena Salcedo, autora do livro ‘Moda Ética para um Futuro Sustentável’, o nosso verdadeiro desafio é redefinir todo o ciclo da produção de vestuário. Desde a forma de desenhar, passando pela produção, até a distribuição e utilização dessas peças. Quando partimos do momento em que o designer insere processos de produção mais sustentáveis e incentiva uma mudança de comportamento no consumidor, substituímos o discurso do design sustentável e o convertemos em design para a sustentabilidade.

Imagem: Creative Commons.

Então, esse artigo deseja convidar marcas e consumidores a repensar esses processos. Sua intenção não é ser um guia prático ou verdade absoluta, e sim, uma ferramenta de reflexão para a busca de um futuro mais sustentável dentro da moda.

Quando sua peça é desmontada, o que temos?

Dentro do processo acelerado de produção de moda, nos deparamos com itens com uma mistura cada vez mais complexa de materiais. Isso inclui tecidos mistos, forros, enfeites e demais acessórios, o que dificulta consideravelmente a reciclagem quando terminada a fase de consumo.

Imagem: Portal Dia Online.

Uma alternativa sugerida por Elena Salcedo é o de desenvolver um “design para a reciclagem”, onde o estilista deve refletir ainda durante o processo de criação na desmontagem da peça e na destinação de cada material que compõe esse vestuário.

Pensar no bem-estar social

Uma marca de roupas não é feita sozinha. Dentro de cada processo existem muitas mãos envolvidas. Pensar no bem-estar de cada um desses envolvidos da cadeia de produção é essencial para um futuro sustentável. E isso inclui condições e pagamentos justos pelo trabalho.

Imagem: Creative Commons.

Segundo Kate Fletcher em ‘Moda & Sustentabilidade, Design para a Mudança’, “os designers podem contribuir para que esse esforço ganhe impulso – por exemplo, conscientizando-se dos efeitos que as decisões de um design têm sobre a velocidade e os custos da cadeia de fornecimento”, além de desenvolver estratégias de monitoramento de produção que garantam o acolhimento de todos os envolvidos.

Minimize os desperdícios

Quando falamos de resíduos têxteis derivado de uma roupa, não falamos somente da peça de roupa descartada em seu pós-consumo. Durante o corte, muitos pedaços de tecido que não são incorporados a essa peça são descartados – geralmente em formatos complexos por causa da modelagem. É o que chamamos de resíduos pré-consumo. Segundo Elena, cerca 15% do tecido utilizado pela indústria vira resíduos que acabam sendo descartados e, em sua grande maioria, terminam em aterros sanitários.

Imagem: Noctula Consultores em Ambiente.

Um design de moda sem resíduo tem como objetivo reduzir a quantidade desses retalhos ou eliminá-la por completo. Investir em modelagens que contribuam para a diminuição de resíduos é uma boa opção. Outra alternativa é incorporar esses retalhos a novos designs, ou reaproveitá-los transformando-os em forros ou entretelas. Um ponto positivo dessa prática é a facilitação da reciclagem da peça, pois assim diminuímos a mistura de materiais.

Quanto vai durar a sua roupa?

Colocar a durabilidade como um pilar na hora de desenvolver um design é pensar em como é possível prolongar o tempo de vida de uma peça sem que ela tenha a necessidade de ser consertada – ou em como facilitar o processo de repará-la.

Para isso, é necessário pensar com cuidado na escolha dos materiais e investir numa boa confecção. Ambas as alternativas exercem uma influência visual e física na peça, fazendo com que o consumidor diminua o seu consumo por não precisar de novas aquisições.

Imagem: Creative Commons.

É preciso reforçar que, dentro desses quatro questionamentos, o usuário também desempenhará um papel essencial nesse processo, pois ele se tornará responsável pelo uso e manutenção. As marcas têm como responsabilidade informar sobre as melhores práticas de cuidado e mostrar que isso também faz parte de um comportamento mais sustentável.

Acredito que o design pode não só funcionar como um meio para se produzir coisas bonitas, mas também como uma ferramenta de transformações que nos ajuda a romper barreiras para melhorar o futuro.

 

[1] O que a etiqueta não mostra! Os impactos socioambientais da moda tradicional, clique aqui para acessar o artigo.

Referências:

  • SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. Editorial Gustavo Gili, SlL, Barcelona, 2014.
  • FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & Sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

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AURELIANO, Bruna. 4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/4-praticas-para-marcas-de-moda-do-futuro.html>.

Alimentação saudável e o consumo de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais)

As plantas alimentícias não convencionais, conhecidas pelo acrônimo PANC, são facilmente encontradas na natureza. São frutos, folhas, flores, rizomas e sementes que podem estar nos quintais, em canteiros ou entre as frestas das calçadas, nos terrenos baldios, na beira de estradas, sendo, por isso, confundidas com inços ou mato. Para Kinupp e Lorenzi (2014), as PANC são plantas que têm uma ou mais partes ou porções que podem ser consumidas na alimentação humana sendo elas exóticas, nativas, silvestres, espontâneas ou cultivadas.

Essa definição de não convencionais pode variar de acordo com a região e/ou com a cultura de um povo, aquilo que é não convencional no sul do Brasil pode ser corriqueiro no Norte e vice-versa. Como no caso do pinhão, da vitória régia ou também, da banana e do mamão, que podem ser considerados não convencionais se utilizadas partes diferentes destas plantas para alimentar, como a casca da banana e o “pé” do mamão (KINUPP e LORENZI, 2014).

Degustação de Patê de Inhame. / Imagem: Letícia Mairesse – Autossustentável.

Algumas pessoas confundem as PANC com folhas, inços, matos, em função disso, é preciso informá-las para que explorem, identifiquem e conheçam suas potencialidades e usos, experimentando novos sabores. Tais plantas podem ser consumidas in natura ou após preparo culinário, sendo que, seu consumo traz vários benefícios, por serem ricas em nutrientes.

É possível adquiri-las em feiras, mercados locais ou direto dos agricultores. Diante disso, ao visitar uma feira, deve-se perguntar ao feirante ou vendedor sobre essas variedades. Caso não encontre, tente encomendar, pois as PANC ainda não estão organizadas em cadeias produtivas e por isso são mais difíceis de estarem disponíveis nos locais de consumo habituais.

O livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil” de Kinupp e Lorenzi (2014) é um guia de identificação com 351 espécies catalogadas, que aborda aspectos nutricionais e traz diversas receitas ilustradas, sendo uma sugestão para conhecer mais sobre as referidas plantas. As PANC são simples de cultivar e de grande adaptabilidade e rusticidade.

Imagem: FAPEAM – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas.

Destaca-se aqui a importância da sua identificação correta a fim de evitar confusões, pois, em cada região pode ser conhecida por termos diferentes. Alguns exemplos de PANC mais conhecidos e divulgados são espécies como: Capuchinha (Tropaeolum majus L), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Cará-moela (Dioscorea bulbifera), Inhame (Colocasia esculenta), Peixinho-da-horta (Stachys byzantina), Physalis (Physalis angulata) entre muitas outras.

Folhas de Peixinho-da-horta empanadas. / Imagem: Letícia Mairesse – Autossustentável.

Com as espécies acima citadas é possível inovar nos pratos do dia a dia, com preparações como, panquecas de Capuchinha; nhoque de Cará-moela acompanhado de molho pesto com Ora-pro-nóbis; folhas de Peixinho-da-horta empanadas (à milanesa); pasta de inhame; frango com Ora-pro-nóbis, enriquecendo assim, as refeições com nutrientes adequados para uma boa nutrição e rompendo com a monotonia alimentar imposta atualmente.

Preparo de Panquecas com Flores. / Imagem: Letícia Mairesse – Autossustentável.

Já existe um movimento significativo de resgate da biodiversidade, mas ainda é necessário divulgar o potencial alimentar, nutricional e de uso na produção de base ecológica das PANC, a fim de permitir às comunidades e populações, escolhas alimentares adequadas, com diversificação alimentar e a confiança na produção sustentável que possibilita a conservação e o uso dessas espécies nos sistemas de produção.

Escolhas e decisões alimentares são também um ato político, cabendo a nós, melhorar a qualidade da alimentação, reduzir custos e utilizar espécies da época e da região. Desta forma estaremos valorizando o nosso patrimônio sociocultural por meio da introdução ou resgate das espécies de PANC e estabelecendo uma relação harmônica com o meio ambiente.

Referências:

KINNUP, V. F.; LORENZI H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.

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MAIRESSE, Letícia. Alimentação saudável e o consumo de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/alimentacao-saudavel-e-o-consumo-de-panc-plantas-alimenticias-nao-convencionais.html>.

São Paulo ganha mural artístico com tinta que purifica o ar – Conheça a City Forests

A poluição do ar é uma questão crítica tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana e grandes cidades, com adensamento populacional e grande circulação de veículos, são espaços tendem a possuir a qualidade do ar comprometida pela alta emissão de gases poluentes.

Pensando nisso, a City Forests, iniciativa elaborada pela empresa Converse criadora do icônico All Star, resolveu transformar o problema da poluição do ar em uma oportunidade de unir arte, cultura e tecnologia com meio ambiente para gerar melhoria da qualidade do ar em grandes cidades mundo afora. E tudo isso através da criação de murais com tinta especial elaborados por artistas locais. No Brasil, foi a cidade de São Paulo que ganhou um mural que purifica o ar.

Sim! Isso mesmo que você leu. Um mural que ajuda a purificar o ar!

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

E como isso é feito? Como funciona esse processo?

Os murais são criados com uma tinta fotocatalítica que contém pigmentos especiais – dióxido de titânio.  Ela atrai poluentes atmosféricos nocivos e os converte em nitratos inofensivos por meio de um processo químico ativado pela luz solar. Assim, qualquer superfície revestida com esta tinta torna-se uma superfície purificadora de ar ativa.

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

Por que a cidade de São Paulo?

São Paulo é atualmente a maior cidade da América Latina em termos populacionais, o que significa que todos os dias circulam pela cidade um grande número de pessoas, gerando, consequentemente, trânsito devido à grande frota de veículos. Esse fato aliado a pouca presença de vegetação na região fez com que São Paulo fosse a cidade escolhida pela iniciativa City Forests.

O local selecionado para receber o mural que ajuda a purificar o ar foi a fachada de um prédio próximo ao Minhocão, na região central da cidade, devido justamente ao grande fluxo de pessoas e veículos e também a pouca presença de verde na área. O processo de criação do mural levou 11 dias e agora a região possui uma grande obra de arte que celebra a cultura nacional, destaca a importância da preservação ambiental e purifica o ar circundante, já que, o mural equivale a 750 árvores, ou mais de 15 campos de futebol.

Sobre o mural e a conscientização socioambiental

O mural foi assinado por Rimon Guimarães, artista autodidata e multidisciplinar de Curitiba, que já criou murais em 27 países e atualmente está envolvido em vários projetos sociais que buscam integrar à sociedade grupos marginalizados através da arte. Inspirado pelos povos indígenas originários, o mural foi pensado para celebrar e destacar a importância das raízes culturais, e teve a colaboração de Nazura, artista multidisciplinar da zona leste de São Paulo formada em artes visuais e pesquisadora do afrofuturismo.

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

Intitulado de “Pindorama”, que era como os nossos povos originários chamavam a terra antes da chegada dos europeus, o mural faz referência aos quatro elementos reverenciados pelos índios: terra, vento, água e fogo, além do pássaro, onça pintada e a cobra, considerados animais de poder. Já a figura feminina indígena teve seu traje inspirado na tribo Jurupixuna, que viveu na região amazônica até o século XVIII e, sua máscara é inspirada em pinturas faciais de tribos como Kayapó e Xikrin.

“Este mural celebra a diversidade das tribos indígenas brasileiras originais e nossa flora e fauna distintas. Podemos aprender muito com essas pessoas sobre como nos conectar e viver em harmonia com a natureza”. Rimon Guimarães.

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

E tudo isso pode ser visto e admirado a partir de um viaduto que se transformou em uma galeria de arte a céu aberto, bem no centro de São Paulo. Esse envolvimento e possibilidade de unir grandes questões na criação desse mural são também expressados por Nazura: “Trabalhar com essa tinta foi incrível porque funciona como qualquer outra tinta, mas o mais importante, o fato de o mural dialogar com o aspecto ambiental, favorece o desenvolvimento de mais materiais assim. Eu nunca tinha trabalhado em um mural desta altura e adorei, especialmente porque havia muito sentimento envolvido e fazia muito tempo que não sentia essa luz e viva, com pessoas se reunindo para criar incríveis trabalhos.”

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

City Forests  

O trabalho faz parte da iniciativa City Forests (Cidade-Florestas, em tradução livre) elaborada pela Converse, criadora do icônico All Star, com o propósito de unir arte, cultura e meio ambiente. As instalações transformam fachadas em galerias de arte, dando vida nova aos espaços urbanos e trazendo a sustentabilidade para o nosso cotidiano, ao devolver ar puro para as cidades.

O objetivo da iniciativa Converse City Forests é, até o final deste ano, instalar murais em 13 áreas urbanas ao redor do mundo, pintando mais de 14.000 m2, que juntos equivalem ao plantio de aproximadamente 40.000 árvores, purificando o ar das emissões poluentes produzidas pelos veículos automotores.

Imagem: Divulgação Converse Brasil.

A Converse acredita que manifestações artísticas podem proporcionar muitas reflexões sobre como transformar o ambiente ao redor, seja visual ou ecologicamente. Antes de São Paulo, cidades como Bangkok na Tailândia, Varsóvia na Polônia, Belgrado na Sérvia, Santiago no Chile, e Sydney na Austrália, também já receberam instalações semelhantes.

Para saber mais sobre a iniciativa, acesse: https://conversecityforests.com/

 

 

Conservação da Água: uma emergência atual

Como a água é elemento fundamental para a vida, a sua escassez pode causar (em alguns casos já causa) um colapso de ordem não somente ambiental, mas também econômica e social no mundo. Porém, mesmo sendo essencial para a manutenção da vida, a água ainda é vista de maneira utilitarista por grande parte dos seres humanos. Todos esses fatores geram a necessidade inadiável do cuidado com as águas em sua totalidade.

O paradigma do uso da água de forma utilitarista e instrumental é característico das sociedades capitalistas que defendem avanços econômicos pautados na produtividade contínua e na máxima utilização dos recursos naturais. Esse pensamento contribuiu para a crise ambiental que engloba a problemática da água.

Imagem: Creative Commons.

Ao longo dos séculos o ser humano vem se desconectando cada vez mais da natureza, o que levou a uma distorção da relação que temos com a água. Isso se torna perceptível quando verificamos o descaso por parte das sociedades com os rios, nascentes e aquíferos. Diante do quadro atual, não restam dúvidas de que é preciso resgatar aspectos não somente educacionais e ecológicos a respeito da água, mas também, culturais e simbólicos. Por isso é preciso entender que a água não é somente um recurso natural. Ela desempenha inúmeros papéis na vida dos seres vivos, assim como também possui inúmeras abordagens a respeito de um uso mais consciente para sua proteção.

Por esse motivo, discutir um novo olhar para a água é fundamental. Trabalhar a questão da conservação desse bem na atualidade, requer que olhemos para a natureza de maneira holística, isso quer dizer que precisamos compreender os fenômenos naturais em sua totalidade. Isto porque pertencemos todos a uma comunidade biótica, onde cada sujeito tem o seu lugar, sem negar uma incontestável hierarquização. Essa comunidade ainda abrange os solos, as águas, a flora (plantas) e a fauna (animais), ou seja, a terra como um todo. Nesse sentido, essa interpretação da natureza de forma holística também nos convida a compreender as políticas e as formas de gestão dos recursos naturais.

Imagem: Creative Commons.

Superar a crise ambiental envolvendo a problemática da água é fundamental e para que isso aconteça são necessárias novas formas de pensar e agir. Isso envolve a mudança de valores na vida das pessoas, ou seja, considerar a questão ambiental segundo uma ética da sustentabilidade e do cuidado. Essa ética inclui a responsabilidade da humanidade sobre os problemas ambientais, trazendo à tona uma reflexão sobre como nós somos coletivamente responsáveis. Diante disso, há uma emergência na mudança de pensamento e principalmente de atitudes na relação do ser humano com a água. Pensar em uma corresponsabilidade e cooperação em seus cuidados pode ser uma alternativa.

Segundo Muñoz, essa cooperação para a conservação da água, envolvendo várias vertentes (como as de ordem educacional, cultural, científica, ética, política, social) pode ser muito mais eficaz. Pois, além de representar uma governança sensível da água (mais inclusiva e participativa), também se constitui como essencial nas discussões sobre a conservação e preservação. É válido ressaltar que não é possível pensar nessa questão sem se considerar os conflitos gerados pelo acesso à água e desigualdades sociais ocasionadas pela falta desse acesso.

Imagem: Creative Commons.

Já que todos somos responsáveis pela situação atual, precisamos nos conscientizar para uma ética para a água, na tentativa de nos relacionar com ela de uma outra forma. E para que esse “todo” envolvendo a natureza seja resgatado, é preciso alinhar produção, consumo e modo de viver. Ou seja, adotar modos de produção mais sustentáveis, adequando hábitos de consumo mais conscientes e voltados para a sustentabilidade. Desta forma, poderemos estabelecer uma relação harmônica entre ser humano e o meio ambiente.

Referências:

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MARIA, Flávia. Conservação da Água: uma emergência atual. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/conservacao-da-agua-uma-emergencia-atual.html>.

Escola do Campo: uma experiência transformadora

Imagem: Meiry Santos/Prefeitura de Porto Velho.

Quando falamos de escola, todos temos referências que nos vem à mente que podem ser inspiradas nos modelos apresentados na mídia, mas que, geralmente, são baseadas nas lembranças que temos da(s) escola(s) que frequentamos.

Como professora, possuo referências a partir das escolas em que estudei e também daquelas em que trabalhei. Por isso, gostaria de compartilhar uma experiência única que tive como professora – que apenas a prática me possibilitou, já que, não estudei na faculdade sobre esse modelo de escola – a escola do campo.

Participei de um momento de atribuição de aulas para turmas de Educação Infantil e dentre as escolas com vagas disponíveis, havia uma que nos explicaram brevemente que era situada no campo. Fiz algumas perguntas, percebi que nenhuma das professoras manifestou interesse e não compreendi o porquê. Então escolhi a escola do campo.

Escola Estadual Rural Taylor Egídio, escola rural localizada em Jaguaquara – BA. / Imagem: Jequié Repórter.

Todos os dias, um ônibus disponibilizado pela prefeitura passava em diversos pontos da cidade para buscar todos os funcionários que iam para esta escola e, no trajeto, tínhamos o privilégio de conversar em igualdade com todos os funcionários – diretora, professores, merendeiras e encarregadas da limpeza – proporcionando trocas de experiências e visões muito relevantes.

A viagem era longa, pois após o trajeto na cidade, passávamos grande trecho em estrada de terra que nos rendeu muitas emoções, especialmente em época de chuva que dificultava muito a passagem do ônibus, causando atrasos e até atolamento. Finalmente quando chegávamos à escola, localizada em um assentamento, éramos sempre bem recebidos pelas crianças, seus responsáveis e os funcionários que moravam nas proximidades.

A escola não era muito grande, mas as instalações ficavam em um espaço com muita natureza preservada. Foi assim que conheci a escola do campo e acredito que eu tenha aprendido mais com eles do que o contrário.

Escola dos Sonhos, escola rural localizada em Vargem Grande, Florianópolis (SC). / Imagem: Divulgação Escola dos Sonhos/ Reprodução Porvir.

Assim como em qualquer escola, havia conteúdos curriculares a serem trabalhados que professoras desenvolviam com bastante carinho. Porém, percebi que a escola do campo possuía particularidades e exigia adaptações. É importante ressaltar que, cabe às professoras e professores trabalhar os conteúdos obrigatórios, mas, para que as crianças aprendam, devem ensinar de forma interessante e significativa.

Sendo assim, era indispensável que conhecêssemos a vida e a realidade dessas crianças para desenvolver o conhecimento segundo seus interesses e necessidades, levando a uma prática para além do modelo de escola que conhecemos e estudamos. Os trabalhos eram desenvolvidos assegurando às crianças acesso aos conteúdos curriculares nacionais, todavia, somente nesta escola do campo pudemos aprender com a natureza tão viva ao nosso redor.

O lugar nos proporcionava experiências muito significativas como a possibilidade de estudar, por exemplo, sobre árvores, folhas ou flores, podendo olhar e tocar diversos tipos tanto nas próprias plantas como no chão. Além de, por vezes, pararmos atividades para observarmos algum animal que aparecesse como aves, macacos, lagartos, entre outros, gerando ainda mais conhecimento. Nos momentos adequados, as crianças podiam brincar e interagir com a natureza no grande espaço disponibilizado. Tais interações promoviam relação de respeito cuidado e valorização do meio ambiente.

Escola de Ensino Fundamental Benjamim Felisberto da Silva, escola rural localizada em Arapiraca – AL. / Imagem: Reprodução Portal Aprendiz – UOL.

Considerando os grandes problemas ambientais que estamos vivenciando, compreendo que a educação destas crianças foi muito privilegiada por esta oportunidade, pois elas, possivelmente, conseguem valorizar a natureza e compreender a importância dos cuidados e mudanças que necessitamos realizar urgentemente quanto às questões de preservação e sustentabilidade.

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MATTARA, Bianca. Escola do Campo: uma experiência transformadora. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/escola-do-campo-uma-experiencia-transformadora.html>.

Mercado da Cura e do Bem-Estar: a nova tendência da indústria

Paz interior é o novo sucesso. Ser saudável, comer bem, buscar terapias alternativas e medicinas naturais nunca esteve tão em alta. Cuidar é o novo cool. Mas será que estamos nos conectando com a cura do todo ou apenas criando estratégias de distração enquanto repetimos os mesmos padrões?

O questionamento pode parecer vago, ainda mais porque desde sempre existem ressalvas diante de todo tipo de crença, especialmente espirituais, ritualísticas e religiosas. Esses conflitos moldaram a história de como chegamos até o século XXI. Hoje são muitas outras razões que alienam ou convencem as pessoas a adotar certos tipos de práticas e comportamentos.

Vivemos afogados em uma enxurrada de informações. É a era das redes sociais e do mercado de influência. Aqui todo mundo é especialista em alguma coisa e vive uma eterna busca pela positividade, pela veneração da saúde e do corpo ideal, por uma vida equilibrada com relacionamentos sem defeitos.

Imagem: Creative Commons.

A espiritualidade da nova era exige uma perfeição que não oferece troca ou acolhimento, mas apresenta soluções incríveis e para alcançá-las é “só arrastar a tela para cima”. Em um deslizar de dedo você pode acessar toda uma filosofia de autoajuda que conecta energias sutis, que cura traumas através de óleos essenciais puros e cristais mágicos.

Dos mesmos criadores do greenwashing, nasce o mercado da cura.

O ego social trouxe uma positividade tóxica não só para as pessoas, mas também para o planeta. Os mesmos padrões de consumo seguem se repetindo a cada nova moda. No lento processo de conscientização diante da emergência climática que vivemos, de certa forma o consumidor acabou ficando mais exigente. Passou a ter algumas preocupações ao adquirir produtos ou serviços, levando em consideração o impacto que pode ter (principalmente) em si mesmo, mas também no todo. O mercado, no entanto, não perde oportunidade de se apropriar e participar de todos os discursos, buscando aquilo que é mais vantajoso para o mundo moderno, para as empresas e instituições: vender mais.

Tudo em excesso faz mal, inclusive extrair cristais do solo do planeta para se energizar e produzir monoculturas para destilação de óleos essenciais. Produtos que prometem bem-estar e beleza celestial, mas contém ingredientes tóxicos que contaminam nossas águas. Dietas que preservam os animais, mas vem embaladas em plástico ou embebidas em agrotóxicos.

Existe uma indústria que fatura bilhões de dólares anualmente promovendo cura e bem-estar em níveis físicos, emocionais e energéticos. A história se repete e o discurso continua centrado no ego da humanidade em mais uma das facetas do capitalismo destrutivo.

A série “A Indústria da Cura”, lançada em agosto pela Netflix, tem seis episódios que analisam tratamentos alternativos que se transformaram em tendência nos últimos tempos. Alguns inclusive são muito antigos, ancestrais, utilizados há anos por determinadas culturas. A série apresenta a versão da ciência e de pesquisadores, que alertam sobre os perigos e riscos do uso das terapias alternativas, a experiência de pessoas que utilizaram os métodos de cura apresentados e outros que se beneficiaram de maneira direta ou indireta dessas utilizações.

Imagem de divulgação da série “A Indústria da Cura”. / Fonte: Reprodução Netflix.

O que ninguém conta é a versão do planeta e dos recursos naturais necessários para sustentar mais este modismo. O primeiro episódio da série, por exemplo, traz a questão dos óleos essenciais. O aumento da demanda gera aumento da produção e esse é um assunto que não é abordado na série, nem no discurso das empresas e muito menos dos influenciadores que promovem sua utilização.

Os óleos essenciais são considerados a parte mais poderosa das plantas – o mecanismo de defesa ou de atração para polinizadores. As grandes indústrias da destilação cultivam ervas medicinais em enormes escalas de monocultura. Para se ter uma ideia, são necessárias de 1 a 3  toneladas de rosas para 1 litro de óleo essencial. Para aumentar a produtividade (e o lucro) existem diversas técnicas como, por exemplo, gerar distúrbios nas plantas para que, ao se sentirem ameaçadas, acionem seu sistema de defesa e produzam mais óleos essenciais nesse processo. Como pode algo que vem do incômodo do vegetal, que visa o lucro, que prejudica e explora o solo, ser ferramenta de cura?

Atração de abelhas pelos óleos essenciais./ Imagem: Camila Grinsztejn/Autossustentável.

Não são só as pessoas que influenciam e facilitam os ideais da perfeição e da cura os únicos responsáveis por essa alienação e pela falta de consciência do processo como um todo, mas também seus seguidores e admiradores que espalham experiências individuais como verdades absolutas.

Mas o fato é que pouca gente sabe como e porque essas gotinhas são tão especiais. Menos gente ainda conecta essas nuances de cura com a própria terra. Quando tratamos bem a natureza e deixamos que ela expresse toda sua potência e biodiversidade, podemos partilhar da sua medicina. Não é por acaso que as plantas medicinais mais comuns são também grandes enfermeiras para o solo e aparecem de forma espontânea contribuindo para a regeneração de áreas degradadas.

Processo da destilação para obtenção de óleos essenciais. / Imagem: Camila Grinsztejn/Autossustentável.

O processo da destilação para obtenção dos óleos essenciais é ancestral. Sob um ponto de vista mais sutil, as gotas dessa medicina carregam toda a energia da planta, a forma como foi cultivada, colhida e tratada. No líquido ainda estão as informações que corriam na seiva daquele vegetal. Mas o ego social foca apenas nos benefícios para si próprio, no consumo desenfreado de tudo o que pode lhe fazer melhor independente das consequências que isso traga para o todo.

A disseminação dessas novas modalidades de cura, seja através de plantas medicinais, cristais mágicos ou energias, faz com que, de alguma forma, as pessoas deixem de perceber problemas sociais da vida prática, gozando da good vibes enquanto tudo pega fogo ao redor, literalmente. Não associamos a realidade que vivemos aos nossos hábitos, ao nosso alimento, à nossa medicina, às nossas práticas e costumes mais corriqueiros.

Foto: Marco Terranova.

Espiritualidade para quem? Esse problemática não é sobre desacreditar das experiências e da fé de cada indivíduo, mas sim sobre não silenciar os debates climáticos, coletivos e urgentes só para não furar a bolha da paz interior. Mas o fato é que a aceleração destes hábitos insustentáveis nessa altura do campeonato é a nossa espécie fazendo check out do paraíso planeta Terra. O que por um lado pode ser bom, pois a nossa diária é caríssima e acaba prejudicando todos os outros hóspedes.

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GRINSZTEJN, Camila. Mercado da Cura e do Bem-Estar: a nova tendência da indústria. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/mercado-da-cura-e-do-bem-estar-a-nova-tendencia-da-industria.html>.

Energia Eólica e os “Bons Ventos” no Mundo Pós-Pandemia

A retomada da economia no ambiente pós pandemia deve ser sustentável e, nessa medida, a transição para uma economia de baixo carbono e o incentivo do uso de energias renováveis são elementares nesse processo.

A Energia Eólica desponta como importante para o sistema elétrico brasileiro. Trata-se de uma fonte de energia limpa, renovável e cada vez mais tem adquirido preço competitivo no mercado.

No Brasil, a energia gerada pelos ventos ultrapassou a expressiva marca de 15 GW de capacidade instalada para produção nacional, em maio de 2019, sendo a maior parte desse total na região Nordeste [1].

Mesmo no cenário da pandemia, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, aponta que “vamos ter um forte papel, da fonte eólica, no segundo semestre, que é o período que a eólica gera mais e atingimos os chamados recordes de geração”[2].

Ora, a saída deve ser verde, sustentável e através de fontes energias renováveis. Nesse sentido, Elbia Gannoum complementa que “a retomada econômica, pós pandemia, será de forma sustentável com especial relevância das fontes de energia eólica.

Tais características são importantes para que o Brasil e seus representantes tenham-nas como norte em eventuais propostas de modernização do setor elétrico brasileiro.

Isso porque tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado nº. 232/2016, que visa modernizar o setor elétrico do Brasil, mas ainda precisa de ajustes para valorizar de forma significativa as fontes de energias renováveis como a energia eólica.

É, portanto, necessário que todos nós, cidadãos, estejamos atentos para que o governo brasileiro valorize essas fontes de energias renováveis como a eólica e, assim, favoreçam que os “bons ventos” continuem soprando no mundo pós pandemia.

Imagem: Creative Commons.

Sugestão de Leitura:

Novo marco regulatório do setor elétrico é aprovado na Comissão de Infraestrutura. Clique aqui para acessar.

Referências:

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PIRES, Felipe. Energia Eólica e os “Bons Ventos” no Mundo Pós-Pandemia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/energia-eolica-e-os-bons-ventos-no-mundo-pos-pandemia.html>.

Está na hora da Economia Circular!

Há dez anos falar em economia circular era tão inovador que para algumas pessoas poderia parecer algo muito distante. Para os entusiastas e os que acreditam em mudanças profundas na forma de se conduzir negócios, repensar comportamentos e desenvolvimento, a transformação já havia iniciado. O conceito tomou enormes proporções e diversos países na Europa já incluíram a economia circular em suas políticas públicas e universidades em todo mundo já possuem cadeiras e cursos de aprofundamento no tema.

A Ellen MacArthur Foundation se tornou a grande propagadora da transição para a economia circular e atualmente é, sem dúvida, uma das instituições mais respeitadas e com maior propriedade no assunto. Sem contar que a própria fundadora tem uma história fascinante e inspiradora, uma velejadora profissional que passou anos dando a volta ao mundo e analisando os impactos nos recursos naturais do modelo linear (‘extrair, produzir, desperdiçar’) que prevalece na economia mundial.

Imagem: Autossustentável.

Pode-se definir a economia circular como uma nova forma de se produzir, consumir, relacionar e fazer negócios. Visa sim o crescimento econômico, contudo, sem ser fundamentado na extração desmedida de recursos naturais da terra que além de serem finitos, estão chegando aos seus limites físicos de regeneração e perpetuação. A economia circular é um modelo econômico que implica em não produzir resíduos e poluição por princípio, através de fontes renováveis de energia e com benefício para toda sociedade (EMF, 2020).

Em seu relatório Rumo à Economia Circular: o racional de negócio para acelerar a transição, a EMF (Ellen MacArthur Foundation), explica que “o objetivo é manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo, distinguindo entre ciclos técnicos e biológicos.” Se fossemos nos aprofundar nesses ciclos, isso renderia outro artigo, por isso o objetivo aqui é entender os conceitos e quem são os grandes pensadores que levantaram essa bandeira.

Fonte: UNIDO (The United Nations Industrial Development Organization).

Existem algumas escolas de pensamento que impulsionam a propagação da economia circular, três delas, super interessantes, merecem destaque:

  1. O Cradle to Cradle (Do Berço Ao Berço) que tem como princípio que o lixo é um erro de design, e que os materiais devem ser desenvolvidos de forma que ao final de sua vida útil se tornem insumos para novos materiais.
  2. A Biomimicry (Biomimética) que imita as estratégias encontradas na natureza para os desafios de design, como, por exemplo, por que não aprender com os mosquitos como criar uma agulha que doa menos?!
  3. E o Blue Economy que tem como um dos pilares, o desenvolvimento e consumo local, de forma a redefinir serviços, produção, consumo de forma equilibrada. Todos eles foram liderados por grandes figuras que merecem destaque em próximos artigos.

Não precisamos ir longe para buscarmos exemplos de economia circular. A cidade de Curitiba possui um modelo de sustentabilidade urbana que merece destaque no transporte público. Cadeiras da Ikea voltam a ser cadeiras ao final de sua vida útil; carpetes de umas das maiores marcas do mundo se transformam em carpetes novamente, gerando economia para o consumidor, que ao retornar o antigo carpete ganha desconto para adquirir um novo. Uma incrível cidade na China foi construída totalmente sob os pilares e preceitos da economia circular, ou seja, a mudança já começou.

Imagem: Renova Energías.

Os benefícios de uma transição para economia circular são evidentes, desde fatores como criação de empregos e geração de renda até reduzir drasticamente os impactos ambientais. Os desafios são enormes, e no Brasil, especialmente, traduzidos em logística para que os resíduos retornem ao processo industrial; políticas públicas; P&D (pesquisa e desenvolvimento) para novos produtos; e profissionais que possam ocupar cargos nas mais diferentes empresas e indústrias, levando o conceito à prática. A grande sacada da economia circular é a transição para serviços, isso é, as pessoas não precisam ter um carro ou uma máquina de lavar louças. O que elas realmente precisam é se locomover e ter suas roupas limpas, certo? A ideia é a durabilidade dos bens materiais, através de serviços de manutenção, aluguel e leasing. Genial!

Os próximos artigos trarão oportunidades de aprofundamento em cada tema, pois a economia circular é interessante demais e muito ampla para entrar em cada detalhe. A sugestão aqui é esclarecer possíveis dúvidas e amplificar o conhecimento sobre o assunto. Não deixe de nos acompanhar nessa jornada!

Referências:

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Saiba como colocá-lo nas referências:

LAZZAROTTO, Aline. Está na hora da Economia Circular!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/esta-na-hora-da-economia-circular.html>.

Brechós: do preconceito ao Consumo Consciente e Sustentável

Há tempos a indústria da moda tem sido criticada por seu alto impacto ambiental, tanto pelo descarte da chamada fast fashion (moda rápida) que se acumula em toneladas nos aterros, trabalho escravo e por sua pegada de carbono (índice que mede a quantidade total das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE)), que se estima ser maior do que a de dois setores bastante poluidores juntos: transporte marítimo e aéreo.

Apesar de soarem antiquados e coisas do passado para alguns, brechós, sebos e topa-tudo estão mais na moda do que nunca, sobretudo entre os jovens e após a pandemia. A conscientização principalmente das gerações Y e Z a respeito do impacto ambiental negativo deste setor e a consolidação das mídias sociais como oportunidade de consumo transformaram o desapego em tendência fashion.

Com isso, o universo dos brechós se expandiu muito nos últimos tempos e pouco a pouco vem caindo no gosto das pessoas na hora de decidir comprar uma roupa nova, independente da classe social, e dos interesses que variam desde a procura por marcas famosas até a economia na aquisição de “novos” produtos.

Foto: Matthew Henry/ StockSnap

Atualmente, não é preciso nem sair de casa para conseguir garimpar aquela peça atemporal com uma pegada mais vintage. Com a internet, estima-se que o segmento “second hand” cresça, atualmente, mais que a indústria do luxo. Levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que 6 em cada 10 consumidores compraram algum item de segunda mão entre 2018 e 2019.

Pesquisa Ibope também aponta que quase 70 milhões de brasileiros têm itens sem uso em casa e 84% deles desejariam vender esses objetos, o que poderia representar um potencial de venda de R$ 262 bilhões.

Além disso, a efemeridade da moda e o constante resgate de “antigas” tendências são alguns dos motivos que fazem do brechó um empreendimento atrativo também para empreendedores. De olho nessa lacuna, os brechós online com e-commerce e entrega via correio, a partir do Instagram, estão roubando a cena e se tornando mais uma ótima alternativa ao consumo consciente e sustentável.

Imagem: Creative Commons.

A internet é, atualmente, o meio mais utilizado para comprar itens de segunda mão. Nos últimos 12 meses, 28% dos consumidores adquiriram um produto usando a rede – percentual que chega a 39% entre os mais jovens, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em setembro.

Comprar de forma consciente e apostar na sustentabilidade são hábitos que entraram na moda, no entanto, apesar da popularização dos brechós e bazares, e da ascensão desse estilo de comprar ainda há muito preconceito contra as roupas usadas. É comum encontrar quem tenha medo de usar roupas que pertenceram à outra pessoa, principalmente se for um desconhecido.

Foto: Artificial Photography/ StockSnap.

Garimpar é a palavra de ordem, é um gesto coletivo. Por isso, listamos aqui 10 motivos para vocês experimentar essa experiência:

  • Reduz seu impacto ambiental.
  • Não promove condições de trabalho exploradoras.
  • Economiza dinheiro.
  • Seu estilo vintage único parece mais autêntico.
  • É mais sustentável em longo prazo.
  • Pode ajudá-lo a explorar seu estilo ou descobrir novos.
  • Ajuda você a se concentrar nas coisas que realmente importam.
  • Movimenta a economia local.
  • Você estende o ciclo de vida de uma roupa.
  • Reduz a demanda da moda rápida (fast fashion).

 

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Saiba como colocá-lo nas referências:

MATTOS, Litza. Brechós: do preconceito ao Consumo Consciente e Sustentável. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/brechos-do-preconceito-ao-consumo-consciente-e-sustentavel.html>.

Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!

O plástico se tornou muito presente em nosso dia a dia: o encontramos nas suas mais variadas formas, atendendo às mais diferentes necessidades de nossa vida cotidiana, de embalagens a peças automotivas. Um material versátil, barato e conveniente comercialmente pelo baixo custo de produção. No entanto, essa conveniência tem um preço – e ele não é só financeiro.

A maioria dos plásticos produzidos não é biodegradável, portanto os resíduos plásticos que estamos gerando nos acompanharão por séculos acarretando sérios impactos ambientais. Os impactos do plástico na natureza começam bem antes, na extração de matérias-primas e no seu processo de produção, uma vez que os plásticos são obtidos principalmente a  partir do petróleo.

E a conta desse impacto só aumenta. Segundo o relatório Valuing Plastic das Nações Unidas (ONU), o custo financeiro dos prejuízos ambientais relacionados ao plástico ultrapassa os US$ 75 bilhões anuais. Mas é o ecossistema marinho que mais sofre com os plásticos.

Imagem: Creative Commons

Estima-se que 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos estão sendo descartados nos oceanos todos os anos. Sem ação imediata e sustentada, esse valor quase triplicará até 2040, para 29 milhões de toneladas por ano. É como se o mar recebesse 50 kg de plástico a cada metro de costa ao redor do mundo.

Como o plástico permanece no oceano por centenas de anos e pode nunca se biodegradar completamente, a quantidade acumulada de plástico nos oceanos em 2040 pode chegar a 600 milhões de toneladas.

Os dados alarmantes são de um dos estudos mais abrangentes e robustos já produzidos sobre plásticos nos oceanos: Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), publicado pela Pew Charitable Trusts e a SYSTEMIQ – junto com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas, seus parceiros de conhecimento.

O estudo também revelou que cerca de 95% das embalagens plásticas são usadas apenas uma vez antes de se tornarem resíduos e mostrou que o problema começa muito antes do plástico chegar aos nossos oceanos, rios e praias. A maior fonte de poluição por plásticos são os resíduos sólidos urbanos não coletados ou não descartados corretamente, muitos deles provenientes de residências.

Imagem: Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (FAACI)

A quantidade de resíduos plásticos produzidos anualmente vem aumentando rapidamente desde 1950. Em 2017, eram 348 milhões de toneladas, e essa quantidade deve voltar a dobrar até 2040, segundo o documento.

O que confirma o estudo de 2016, intitulado “The New Plastics Economy” do Fórum Econômico Mundial e da Ellen MacArthur Foundation, com apoio analítico da consultora McKinsey, que revelou que em 2050 poderá haver mais plástico do que peixes no oceano, se não diminuirmos nosso consumo de itens como garrafas plásticas, sacolas, pratos e talheres de plástico e copos descartáveis depois de um único uso.

Imagem: Creative Commons

Quais são os impactos causados pelos resíduos plásticos nos oceanos?

Estima-se que recifes de coral e ilhas remotas estão sendo afetados pelo volume de resíduos plásticos presentes no oceano. Além disso, mais de 800 espécies marinhas já são conhecidas por serem afetadas por poluição plástica. Isso inclui todas as espécies de tartarugas marinhas, que podem ingerir fragmentos do material ou se ferirem, mais de 40% das espécies de cetáceos e 44% das espécies de aves marinhas. Por ingestão, os macroplásticos podem causar asfixia, lesões, obstrução intestinal e impactos subletais, como desnutrição em animais marinhos.

Imagem: Creative Commons

Embora ainda faltem métodos para medir os danos causados pela absorção de microplásticos (fragmentos de plástico com menos de 5mm de diâmetro) e os nanoplásticos (com diâmetros inferiores a 0,001 mm), cientistas estão investigando se, em longo prazo, pode acarretar impactos no crescimento, na saúde, na fecundidade, na sobrevivência e na alimentação em uma variedade de espécies de invertebrados e peixes. O que pode afetar também a saúde humana.

A reciclagem e proibições resolvem?

Até agora, muitos esforços para combater a poluição por plásticos se concentraram em melhorar o gerenciamento de resíduos ou em limpezas de praias. Outros se concentraram apenas na proibição e redução do uso de plásticos. Segundo o relatório Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), aumentar os esforços em reciclar o plástico já não é o suficiente para resolver o problema da poluição por plásticos. Com a reciclagem, ainda seriam 18 milhões de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos.

Imagem: Creative Commons

O estudo identificou algumas medidas que, juntas, podem reduzir até 2040 cerca de 80% da poluição do plástico que flui para o oceano anualmente, usando tecnologia e soluções existente. Entre as medidas estão:

  • Reduzir o crescimento da produção e do consumo de plástico;
  • Aumentar o índice de reciclagem do plástico;
  • Substituir alguns tipos de plástico por alternativas mais sustentáveis – como a produção de resinas plásticas a partir de fontes renováveis e compostáveis, como cana-de-açúcar, milho, mandioca, batata ou resíduos da agroindústria;
  • Projetar produtos e embalagens para a reciclagem e;
  • Ampliar as taxas de coleta de lixo, principalmente em países de média e baixa renda.

Apesar da boa redução, ainda restará mais de 5 milhões de toneladas indo para os oceanos anualmente até 2040.

E qual seria a solução?

Todas essas medidas apontam a necessidade de adaptarmos nossos processos em direção a um único caminho: a Economia Circular do plástico. Para o estudo, é necessário repensar todo o sistema de produção de novos materiais, além de aumentar rapidamente nossa capacidade de manter os materiais circulando após o uso.

Economia Circular
Imagem: Autossustentável

Essa transição poderia gerar uma redução de custo anual estimada em US$ 200 bilhões, em comparação ao cenário atual, além dos benefícios ambientais e climáticos, como a redução de 80% da produção de lixo.

Para que isto aconteça são necessárias ações claras e urgentes, que incluem:

  • Eliminar os plásticos de que não precisamos, indo além da remoção de canudos e sacolas, mas dar rapidamente escala a modelos de entrega inovadores, como embalagens reutilizáveis ou mesmo sem embalagem;
  • Projetar todos os itens feitos de plástico para que sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Neste quesito, é essencial o financiamento de infraestrutura necessária com a finalidade de aumentar rapidamente a capacidade de recolher e circular estes itens;
  • Inovar a uma velocidade e escala sem precedentes em direção a novos modelos de negócios, design de produtos, materiais, tecnologias e sistemas de coleta para acelerar a transição para uma economia circular.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/poluicao-plastica-quando-apenas-reciclar-nao-resolve.html>.

Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis

A Arborização Urbana no Brasil é uma atividade relativamente nova, com pouco mais de 100 anos, e tem fundamental importância na mitigação dos impactos ambientais resultantes da urbanização. A presença dos corredores verdes nas cidades, como se observa em grandes avenidas, além de melhorar o aspecto estético, tem função de minimizar as ilhas de calor, fornecer sombra para a população, diminuir a intensidade das pragas urbanas, manter abrigo e habitat para a avifauna (pássaros, urubus, beija-flores, tucanos, maritacas, pombos, entre outros) e para os insetos polinizadores, tem caráter psicológico (ao incentivar bons sentimentos como equilíbrio e harmonia em meio ao caos urbano) e, ainda, podem preservar os recursos genéticos vegetais.

Imagem: Creative Commons.

Por isso as atividades do paisagismo buscam aliar sensibilidade e critério científico para reconstituir a paisagem natural dentro do cenário da frieza das construções. Normalmente, usam-se espécies de raízes pivotantes (que penetram verticalmente no solo) e porte menor para calçadas e, nos casos de áreas maiores, como praças e canteiros centrais (principalmente se não houver fiação aérea), espécies maiores e de raízes superficiais são permitidas.

Arborização Urbana na região da Pampulha – MG. / Imagem: Leonardo Paiva/Autossustentável.

A preferência é por plantas nativas, de forma que a chance de sucesso aumenta e o impacto ambiental é mais positivo. Entre as espécies mais usadas em Belo Horizonte, por exemplo, estão a sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), murta (Murraya paniculata), quaresmeira (Tibouchina granulosa), ipês (Handroanthus sp.), resedá (Lagerstroemia indica), pata-de-vaca (Bauhinia sp.) e a magnólia (Magnolia sp.). Essa relação vale para várias outras cidades do sudeste e centro-oeste do Brasil.

Outras espécies, de notável efeito ornamental, também são muito usadas no paisagismo urbano, como o pau-ferro (Caesalpinia ferrea), pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia), birosca (Schizolobium parahyba), flamboyant (Delonix regia), aroeira (Schinus molle), as palmeiras em geral (que, embora quase todas sejam exóticas, adaptam-se muito bem ao clima brasileiro), sapucaia (Lecythis pisonis), chichá (Sterculia chicha), paineira (Chorisia speciosa), entre várias outras.

Jacarandás floridos da Avenida João Pinheiro em Poços de Caldas/MG. / Imagem: Marcos Corrêa / Reprodução: Jornal Impacto Online.

Pra regiões frias, temos árvores que exibem cores em tons avermelhados no outono e algumas gimnospermas, como o bordo (Acer sp.), carvalho (Quercus sp.), plátano (Platanus acerifolia), álamo americano (Populos tremuloides) e o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). Como essas plantas dependem de condições climáticas pouco usuais no Brasil para florescerem, não representam riscos para a flora nativa brasileira.

Algumas têm intenso impacto visual, social ou mesmo histórico, como o baobá (Adansonia digitata, um verdadeiro monumento natural), a barriguda (Cavanillesia arborea, típica do sertão nordestino), a sumaúma (Ceiba pentandra, árvore símbolo da Amazônia) e a embaúba (Cecropia sp., “enfermeira do ambiente”).

Baobá do Poeta, localizado em Natal – RN, é uma espécie rara no Brasil e tem 19 metros de altura e 6 metros de diâmetro. / Foto: Ricardo Araújo/G1.

Pelo site do IBGE, é possível saber o nível de domicílios urbanos localizados em vias arborizadas de qualquer cidade do Brasil (dados 2010) e, dessa forma, constatar absurdos como a muito deficiente arborização das ruas de cidades no bioma amazônico. Dentre as capitais, a maior porcentagem de domicílios urbanos em vias públicas arborizadas está em Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte (empatada com Porto Alegre), enquanto as mais desfavorecidas nesse sentido são Belém, Manaus e Rio Branco, todas localizadas na maior floresta tropical do planeta.

Vale lembrar que esse estudo não aponta as cidades com mais áreas verdes ou quantidade de árvores, mas aquelas com espécimes próximas dos moradores, ou seja, o que é importante para o dia-a-dia dos cidadãos, mas não relevante para a qualidade ambiental geral das populações de outros animais. Nessa perspectiva, de maneira alguma a arborização urbana substitui a presença de parques, praças, jardins, canteiros e as Unidades de Conservação, pois são esses espaços verdes mais amplos e contínuos que cumprem as funções ecológicas e garantem serviços ecossistêmicos como a diminuição das inundações e a preservação da biodiversidade.

O Parque Estadual do Jalapão é uma Unidade de Conservação Integral localizada no Tocantins. Criado em 2001, abrange uma área de quase 160 mil hectares no município de Mateiros. / Fonte Imagem: Mundo Viajar.

Referências:

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PAIVA, Leonardo. Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/arborizacao-urbana-folego-e-inspiracao-para-cidades-mais-sustentaveis.html>.

Redes Sociais: estamos consumindo informação ou desinformação?

Imagem: Rawpixel

Nunca tivemos tanto acesso e tanta informação disponível. Basta ter uma conta em uma rede social que você pode ficar informado sobre milhares de pessoas e assuntos. Também pode assistir uma infinidade de vídeos divertidos e lives sobre qualquer assunto que você imaginar. O resultado é que estamos afogados em meio a tanta informação, acabamos desinformados.

Vocês têm essa sensação de que nunca estamos suficientemente informados, mesmo estando neste mar infinito de informações? Tenho pensado bastante a respeito disso e existem dois pontos que precisamos ter em mente: conhecimento e curadoria.

Conhecimento é diferente de informação. Conhecimento é justamente o que nos possibilita entender o contexto, as repercussões e as consequências. Informação é, por exemplo, você ter direito a pleitear determinada coisa na justiça. Conhecimento é, por exemplo, com base na lei ou no contrato, você ter direito a pleitear tal coisa na justiça. Podemos entender a diferença entre informação e conhecimento, realizando um paralelo com matérias jornalísticas, é como se a informação fosse a chamada (o título) da matéria, enquanto o conhecimento estaria relacionado ao conteúdo da matéria. A informação atrai a atenção, mas não diz tudo o que você precisa saber. E o que mais temos hoje são pessoas compartilhando informações e opiniões, na maioria das vezes, sem conhecimento de causa. E essa é a razão desse excesso ao qual chegamos.

Fonte: Reddit

Qual é a capacidade de processamento do nosso cérebro? Que efeitos isso gera na nossa saúde mental? É sustentável tudo isso? Penso que não.

Existem conselhos, inclusive com a finalidade de melhorar nosso posicionamento nas redes sociais, para que deixemos de seguir tantas pessoas. Para que façamos uma curadoria do que estamos realmente interessados em ver, ouvir e consumir. Essa também é uma forma de melhorar sua gestão de tempo e produtividade.

Outra proposta é desativar todas as notificações de aplicativos. Já que essa é uma forma de chamar nossa atenção para que voltemos nossa atenção novamente ao celular. E, sinceramente, eu não sinto que tenhamos muito claro o limite entre o aceitável e o excesso nessa questão também.

No último ano houve um movimento que buscava uma espécie de detox digital. E o objetivo era justamente a manutenção da saúde mental, principalmente em jovens. Utilizava-se como palavra de ordem: reconecte-se. Mas a ideia seria reconectar com as pessoas, com a sua vida.

Imagem: Creative Commons.

Se formos refletir e ser coerentes, todos nós que estamos buscando uma vida mais sustentável, mais harmônica, estamos em busca desta reconexão com a vida e o ritmo natural das coisas. E tudo que gera um desequilíbrio parecer estar fora desta prioridade.

Trabalho com previdência social e nesta quarentena pude observar a quantidade de problemas psicológicos aumentar exponencialmente. Pessoas que tinham ansiedade passaram a ter pânico. Pessoas que estavam sob pressão, mas segurando as pontas, acabaram apresentando quadros de depressão. As notícias não abordam muito a questão, mas, muitos idosos têm cometido suicídio. Claro que o fato de estarmos isolados e consumindo informações como nunca não é o único motivo disso tudo, mas, certamente, que tem influência e precisa ser repensado.

Afinal, o que você acha que acontecerá depois de um dia sem a avalanche de notícias? Você terá realmente perdido algo importante? Que tipo de informações a sua profissão exige que você busque?

Imagem: Creative Commons.

Como forma de desconectar, temos utilizado o tempo livre (em casa) para conviver. Descobrimos que após o almoço é uma delícia ficar com os gatos no tapete da sala tomando banho de sol. Também estamos montando quebra-cabeça. Já lemos muito (conhecimento). Estamos cozinhando juntos. Literalmente reconectando, pois nesse período eu re-conheci (conheci novamente) o meu marido.

Quer pensar mais sobre o assunto?

Ted Talks: As Redes Sociais e A Saúde Mental com Flavio Milman Shansis (Mestre em Bioquímica e Doutor em Ciências Médicas). Link: https://www.youtube.com/watch?v=FId-rZHdP7s&feature=youtu.be

Imagem: Creative Commons.

Netflix: O dilema das Redes (The Social Dilemma), A Rede Social (The Social Network) e a série Black Mirror (episódio “Smithereens”).

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STEFFEN, Janaína. Redes Sociais: estamos consumindo informação ou desinformação?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/redes-sociais-informacao-desinformacao.html>.

Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo

Cada ser humano produz por dia cerca de 1,2 kg de resíduos. Isso significa que durante uma vida de 70 anos um indivíduo deixa no planeta um legado de, em média, 70 toneladas daquilo que ele considera “lixo”.

Somos mais de 7,8 bilhões de pessoas consumindo, muitas vezes de forma desenfreada, produtos como: sapatos, celulares, roupas, móveis, comida, produtos de beleza e tudo aquilo que surge em nosso campo de visão sem nos questionarmos sobre a destinação de tudo isso após a vida útil desses produtos.

A “Máquina do Consumismo” tem dominado nossos desejos e impulsos. Nós nos tornamos peças essenciais desta engenhoca que utiliza recursos naturais para produzir itens que são desenvolvidos tendo como base a obsolescência programada. Ou seja, itens criados para que, de maneira proposital, durem pouquíssimo tempo e precisem ser substituídos com frequência (como os celulares, por exemplo). Afinal, é esta renovação “imposta” e frenética que faz com que as engrenagens da máquina girem de forma eficiente e alimentem, devidamente, o atroz sistema capitalista.

Imagem: John Atkinson.

Sabemos – ou pelo menos deveríamos saber – que todo e qualquer resíduo gerado pelo ser humano causa algum tipo de impacto no meio ambiente. Listamos aqui, alguns dos mais prejudiciais:

  • Isopor: Aquele copinho de café, aquela bandeja de frios, sabe? Pois é, eles são problema na certa!  O isopor é um plástico expandido e leve, pois possui mais bolhas de ar do que petróleo em sua composição. Sendo assim, se torna um resíduo volumoso e sem valor comercial para os catadores. Mas ainda assim algumas empresas estão se especializando na reciclagem desse material, conforme abordamos no artigo “Isopor: é possível reciclar SIM!”, clique aqui para ler.
  • Plástico descartável: Este resíduo é apenas mais um dos que causam uma grande catástrofe ambiental: leve e barato, atrai pouco o interesse das cooperativas e catadores. Além disso, de acordo com estudo realizado pela Fundação Ellen MacArthur, em parceria com a McKinsey, até 2050 teremos mais plástico do que peixes nos mares e inúmeros estudos já apontam a presença de microplásticos em peixes, frutos do mar e na água doce.
  • Caixa longa vida: Esta embalagem possui películas prensadas de papelão, plástico e alumínio. A separação desses componentes é muito complexa e por isso, a reciclagem se torna inviável. Então, deve ser melhor consumir leite de garrafa PET, certo? Errado! O PET leitoso (como é conhecido) apresenta as mesmas – ou ainda maiores – dificuldades no processo de reciclagem. E a pior parte, é que o principal argumento utilizado por algumas das empresas que vêm adotando as garrafas é: “a embalagem é mais atrativa ao consumidor; é mais bonita”. Sim, você leu “bonita”!

Imagem: Creative Commons.

Além da grande demanda por produtos contidos nestas embalagens, ainda enfrentamos a falta de conhecimento e disposição da população para realizar a gestão adequada dos resíduos. Segundo departamentos municipais de limpeza urbana, seis toneladas de lixo reciclável não são aproveitadas, diariamente, por não estarem limpas, secas e separadas corretamente.

Mas, afinal, qual é a forma correta do descarte? Se você acha muito difícil ter muitas lixeiras em casa ou decorar várias cores, aí vai uma dica prática. Separe seus resíduos da seguinte maneira:

  1. Rejeito: é o único tipo de resíduo que deve ir para o aterro sanitário (que é bem diferente de lixão), pois não pode ser reaproveitado. Por exemplo: papel higiênico, fraldas, papéis de fritura, etc.
  2. Reciclável: é todo resíduo seco, o qual deve ser devidamente lavado (com água de reuso de preferência) e destinado aos catadores e cooperativas.
  3. Orgânico: é todo resíduo úmido, como restos de comida, frutas e verduras e que pode ser utilizado em composteiras, por exemplo.

Para saber como descartar corretamente seus resíduos, acesse nosso artigo Não existe jogar fora! Saiba como descartar corretamente seu lixo, clique aqui para ler.

E se, por acaso, você disser: “ah, mas no meu prédio/bairro/cidade não tem coleta seletiva, o caminhão de lixo mistura tudo”. Eis que o Cataki resolve isso. O aplicativo é responsável por conectar o morador aos catadores da região. Ele funciona como uma espécie de aplicativo de carros, apontando no mapa o catador mais próximo da sua residência. Para saber mais como funciona o aplicativo, leia nosso artigo “Cataki: o aplicativo que conecta catadores e gera renda”, clicando aqui.

Quanto à compostagem, você pode ter sua própria composteira caseira e deixar que as minhocas façam o trabalho de digerir o material orgânico, gerando um adubo de excelente qualidade, sem produzir mau cheiro.

Imagem: Creative Commons.

Podemos – e devemos –, portanto, pensar em estratégias que reduzam o impacto que geramos no planeta. Pequenas mudanças de hábito e comportamento podem ser adotadas: não exige grandes esforços dar preferência às embalagens de papel e papelão, substituir o copo plástico do cafezinho por uma caneca, a garrafa plástica por uma reutilizável, as 50 sacolas de supermercado por meia dúzia de ecobags. Nem sempre é mais custoso fazer a ação correta. E, apesar de nenhuma dessas posturas isoladas causarem o “alívio” necessário à Terra, elas permitem, efetivamente, que a transformação seja iniciada.

De fato, as grandes marcas e indústrias, são as maiores responsáveis pela geração e destinação incorreta dos resíduos. Porém, um sistema econômico que se mostra insustentável e que tem como pilares a ganância, a desigualdade social, a exploração e a maximização dos lucros não pode ser ignorado, deve ser revisto, remodelado e combatido através das nossas “imperceptíveis” ações diárias de resistência e quebra de paradigmas.

É urgente que façamos a parte que nos cabe e que usemos nosso poder de consumo com sabedoria, espalhando o bom exemplo e cobrando medidas restritivas de órgãos públicos e privados, pois só assim, exercendo a Responsabilidade Compartilhada, veremos mudanças significativas no mundo em que habitamos. Tendo sempre em mente que “o melhor lixo é aquele que não é gerado”.

Referências:

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SILVA, Pâmela. Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/gestao-de-residuos-lanca-luz-sobre-as-trincas-do-capitalismo.html>.

Decolonizar o olhar: a saída para proteção dos povos nativos

Imagine se a história que aprendemos na escola fosse contada do ponto de vista dos povos que aqui moravam antes da colonização. Quão diferentes seriam nossas percepções sobre os indígenas? Será que daríamos mais relevância para suas vidas?

Não sei responder a essas perguntas porque esta não é a realidade brasileira, já que, desde pequenos aprendemos que “índios” são aqueles seres atrasados na civilização, preguiçosos, que aprenderam a ser “humanos” com os europeus colonizadores. Aprendemos que eles foram catequizados e a partir daí ganharam “alma”. Aprendemos que eles permitiram a entrada dos colonizadores trocando os bens naturais por objetos simples, como espelhos ou pentes. Aprendemos que eles não foram bons o suficiente para o trabalho e, portanto, os europeus “precisaram” buscar negros no continente africano para escravizar.

Chocalho indígena. / Imagem: Creative Commons.

A construção da imagem desumanizada dos povos indígenas tem um objetivo: a facilitação de sua aniquilação. Quando os primeiros colonizadores chegaram, havia milhões de indígenas aqui. Hoje, temos algumas centenas de milhares e este número vem caindo por causa de uma política de destruição (em vez de proteção) do meio ambiente nacional.

Doenças, invasão de terras, evangelização/catequização, agronegócio. Todos esses males (ainda) contribuem para a difícil luta pela sobrevivência dos vários povos. Em 1988, o Brasil deu início à construção de um projeto de proteção às terras indígenas com o artigo 231 da Constituição Federal que foi regulamentado pelo Decreto n.º1775/96. Essa é a base normativa que serve de guia para a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) decidir sobre a proteção às terras que são tão fundamentais para a sobrevivência dos mais diversos povos.

Imagem: Creative Commons.

A consciência sobre a responsabilidade estatal de proteção aos indígenas veio tardiamente no Brasil. Apenas em 1910 foi criado um órgão que retirou das mãos da Igreja o papel assistencialista de cuidado aos indígenas. Em 1967 foi criada a FUNAI e apenas em 1988 a compreensão passou a ser desatrelada à ideia de assistencialismo para a ideia de proteção e certa independência dos povos.

Até que chegou 2019 e um novo governo que acredita que o tamanho das terras indígenas é “abusivo”, portanto, o trabalho da FUNAI tem sido dificultado e a destruição das florestas tem avançado. A Amazônia perdeu em média 2.110 hectares de floresta por dia em 2019, segundo Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas. A destruição da Amazônia está intrinsecamente ligada à destruição de terras indígenas, ao avanço de pessoas não-indígenas em áreas preservadas, ao avanço de doenças junto a elas e, consequentemente, à morte de brasileiros indígenas.

É preciso afirmar e reafirmar a humanidade dos brasileiros indígenas. Enquanto olharmos para este grupo como “outros”, não conseguiremos estabelecer empatia e continuará sendo fácil aceitar sua destruição. A ideia de que brasileiros e brasileiras estão sendo mortos para que a exploração econômica de terras seja possível talvez doa mais do que a ideia de que indígenas estão morrendo para que essa exploração aconteça.

Imagem: Creative Commons.

A minha provocação é: como você reagiria se a manchete fosse “Prédios em Copacabana estão sendo derrubados com pessoas dentro para que usinas sejam construídas” em vez de: “Número de mortes de lideranças indígenas em 2019 é o maior em pelo menos 11 anos, diz Pastoral da Terra (por G1, 10/12/2019)”?

Qual das duas manchetes dói mais em você? Qual você deixa passar na leitura diária das notícias? Apenas uma delas é real. Decolonizar a nossa visão de mundo é urgente para salvar o meio ambiente e nossos irmãos nativos deste projeto de destruição.

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OLIVEIRA, Tassi. Decolonizar o olhar: a saída para proteção dos povos nativos. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/decolonizar-o-olhar-a-saida-para-protecao-dos-povos-nativos.html>.