Antes de iniciarmos essa conversa, gostaria de convidá-los a terem uma nova perspectiva sobre a relação com saúde mental e autocuidado, evidenciando a profunda relação entre as duas, já que, uma está intrinsecamente ligada à outra.
Nos tempos de quarentena observamos uma grande necessidade por equilíbrio que nos foi sentenciado, sem ter para onde fugir, apenas encarando a nós mesmos e aquelas relações mais íntimas. Famílias inteiras reconfiguraram suas rotinas, trazendo o desafio da convivência direta com todos os membros. Além disso, há também os desafios pessoais, situações como: lidar com a nova configuração de trabalho, finalizar ou dar o passo inicial em projetos que já estavam há muito tempo no papel. Observe que podemos tirar algo positivo em todas as situações da vida. Aqui quero lhes trazer uma nova visão, que pode ser mais aconchegante e acolhedora diante das situações de crise, mudança drástica, incertezas…
O mais importante é saber respirar, em todos os sentidos, tanto fisicamente quanto mentalmente. A mente é o seu próprio lar, lembre-se disso! Logo, você é seu próprio lar. Portanto, como você tem cultivado sua casa interna? Aproveitou para organizar as emoções em seus devidos lugares? Os afetos, ansiedades… Você se permitiu sentir cada uma sem julgamentos ou repressão, apenas deixando o corpo se expressar, gritar, chorar, correr, dançar, pular? Você se permitiu também se aproximar mais de si mesmo, reestabelecendo uma rotina de autocuidado, presença, firmeza e liderança da sua própria vida?
A maré pode muitas vezes parecer uma tempestade, porém quem consegue firmar e conduzir o leme é você mesmo! Não delegue a gestão de sua própria vidaa ninguém a não ser você mesmo! Confie na sua experiência, reflita e faça escolhas conscientes.
Nesse sentido, também é necessário destacar a importância da natureza em nosso bem-estar, saúde mental e ritmo de viver. Em outras palavras, o quanto a conexão com os ciclos naturais da vida pode ser benéfico para uma vida mais leve e assertiva, criativa, inspiradora e com entusiasmo pelo viver – sem tabus ou neuroses excessivas. Assim passamos a observar a sutileza da vida.
Não é necessário você morar cercado pela natureza para conseguir resgatar o fluxo saudável do seu ser. A dica é fazer caminhadas ao ar livre, quando possível, estando na presença de elementos naturais como floresta, mar, rio, pássaros. Ao fazer isso, observe como seu corpo começa a reagir, é algo simples e palpável de constatar: o nível de estresse baixa, a respiração se acalma gerando uma sensação de bem-estar gigante, elevando a serotonina e dopamina do próprio corpo. Isso também é uma prática de autocuidado!
Esses fatos afetam drasticamente a capacidade de regeneração dos recursos naturais, dos ecossistemas e da Terra. Tudo vem sofrendo transformações, nada será como antes. A dúvida que paira é até quando iremos, como sociedade, suportar o agravamento da situação socioambiental?
Perceba que assim como nas mais íntimas relações em que enfrentamos nossos próprios desafios, também precisamos nos debruçar pelas causas coletivas. Caminhando nesse sentido torna-se possível promover e sustentar uma vida mais saudável com todo planeta. Para concluir, é sempre bom lembrar: Cuide de Si, Cuide do Outro, Cuide do Planeta!
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
MUNIZ, Isabella. Autocuidado e Saúde Mental. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/autocuidado-e-saude-mental.html>.
Salvando o Planeta com sua Skincare (+ Receitinha de Tônico Facial)
A indústria de cosméticos convencionais é uma das poucas que cresce mesmo em meio às diversas crises financeiras que o mundo atravessou. O Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, movimentando mais de US$ 30 bilhões em 2018 nas vendas do varejo. “Maravilhoso!”, você pode pensar, “As pessoas estão se cuidando mais, mesmo com a crise.”. No entanto, sinto dizer que essa notícia não é tão boa assim.
Os impactos da indústria cosmética na saúde e no meio ambiente conseguem ser muito maiores que seus lucros estratosféricos. Começamos com o uso indiscriminado de embalagens plásticas descartáveis (xampu, condicionador, cremes, maquiagens…). Junto com as garrafinhas pet de água, essas embalagens são algumas das mais presentes nas “ilhas de poluição”. Elas são usadas por pouquíssimo tempo e não possuem um plano de reutilização ou reciclagem. Nos oceanos, facilmente são transformadas em microplástico, aderindo a tecidos corporais de diversas formas de vida. Os microplásticos já podem ser encontrados até mesmo no sal de cozinha, em órgãos humanos e, pasmem, no gelo da Antártida.
Além da poluição ambiental, os cosméticos convencionais também possuem o potencial de prejudicar a saúde humana diretamente. Várias substâncias com nomes quase impronunciáveis na lista de composição são derivadas de petróleo, possuem metais, conservantes e outros compostos sintéticos que podem estar ligados, em casos mais extremos, ao câncer de mama, por exemplo. Muitos são bioacumulativos, ou seja, o corpo não consegue metabolizar ou eliminar, então eles permanecem no corpo, obstruindo poros, prejudicando o desenvolvimento das células, gerando doenças.
Mas é possível cuidar dos cabelos, da pele, dos dentes e ficar com cheirinho bom sem precisar encher o planeta e o nosso corpo de poluição. A cosmetologia natural vem ganhando um espaço cada vez maior entre as pessoas mais conscientes e que buscam uma forma mais sustentável de viver. Ela resgata saberes e produtos conhecidos por nossas avós, mas com um toque de tecnologia e inovação.
A saboaria artesanal, os perfumes botânicos, xampus e condicionadores sólidos, maquiagens com corantes vindos de frutas, sementes e raízes. Todos eles oferecem soluções naturais e criativas para reduzir o uso de plástico e de matérias-primas sintéticas e poluentes. Embalagens de tecido (algodão), papel, celofane biodegradável ou a fabricação de produtos sólidos, inclusive, hidratante e desodorante, são alternativas inovadoras e que têm o potencial para diminuir o descarte.
Mas nem tudo são flores! A manipulação de produtos naturais exige bastante conhecimento teórico e técnica. Não é porque algo é natural que não pode trazer malefícios, como reações alérgicas. O uso de ervas e, principalmente, óleos essenciais deve ser sempre acompanhado por um especialista (fitoterapeuta, aromaterapeuta, etc) que saiba a posologia ideal para cada caso. Por exemplo: boa parte dos óleos essenciais é contra indicada para gestantes e bebês. São substâncias extremamente concentradas, que devem ser diluídas de forma apropriada para não se tornarem tóxicas em vez de benéficas.
Também deve-se observar que produtos naturais possuem validade bastante reduzida quando comparados aos sintéticos. Isso é algo bom, mas muitas vezes é visto como ponto negativo. O verdadeiro “ponto negativo” da cosmetologia natural de ponta é ser ainda pouco acessível financeiramente. Seus produtos, na maioria das vezes, são formulados com ativos em concentrações bem mais elevadas que os industrializados. Isso aumenta os efeitos benéficos, mas encarece a produção. É preciso ter a mentalidade de que optar por cosméticos mais naturais, que nutrem o corpo e contribuem para a saúde humana e ambiental são, antes de tudo, um investimento numa vida melhor, assim como escolher uma alimentação mais saudável.
Esta que vos escreve embarcou nesse mundo desde 2017 e posso dizer que foi uma das melhores escolhas que tomei em prol do meu futuro e do planeta. Além de utilizar, também faço minhas próprias fórmulas (engenharia química também pode ser verde, olha só!). Vou deixar uma de presente aqui para vocês. Aproveitem!
Receita Caseira de Tônico Facial Calmante e Clareador Sem Álcool
150 ml de chá de camomila concentrado
80 ml de água
1 pepino
10 ml de vinagre de maçã orgânico
10 ml de glicerina vegetal (fácil de encontrar em farmácias)
25 gotas de óleo essencial (sugestão: copaíba, palmarosa, melaleuca, vetiver, olíbano). Obs: Lembrando que os óleos essenciais não devem ser usados por gestantes e lactantes.
Bata o pepino com os 80 ml de água no liquidificador até obter uma textura homogênea. Espere o chá de camomila esfriar e misture com o vinagre de maçã. Adicione os óleos essenciais à glicerina e então junte ao restante da mistura. Guarde em recipiente limpo e fechado, preferencialmente na geladeira.
Como não pode ser utilizado por mais de uma semana, já que não possui conservantes, uma boa dica é dividir com as amigas e os amigos para não desperdiçar e deixar todo mundo com a pele bonita. Aplique com sua ecopad (disco de algodão reutilizável) para diminuir a geração de lixo.
Lembra do alerta sobre os óleos essenciais? Se você é gestante ou lactante, aproveite o tônico, mas sem adicioná-los. Eles não são aconselhados para esse momento.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
LOPES, Jéssica. Salvando o Planeta com sua Skincare (+ Receitinha de Tônico Facial). Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/salvando-o-planeta-com-sua-skincare-receitinha-de-tonico-facial.html>.
Você sabe o que é Justiça Climática?
Já não é mais novidade que as ações antrópicas, isto é, as atividades humanas, são responsáveis pela crise climática que estamos vivendo. Queima de combustíveis fósseis para a geração de energia, atividades industriais, desmatamento e agropecuária são exemplos clássicos sobre isso.
A justiça climática nasce a partir da transformação da narrativa de que as mudanças climáticas não possuem apenas como impactos o derretimento de gelo na Antártida ou a morte de ursos polares, mas que vai muito além desses impactos. É um movimento que luta por direitos humanos, e mostra que os países que menos contribuem para as mudanças climáticas, são os que mais sofrem com os impactos das mesmas. “Alguns casos de injustiça climática encontram relação aos efeitos de processo de desertificação, de eventos climáticos extremos (chuvas intensas, ondas de calor, etc.), do aumento do nível do mar, entre outros.” (MILANEZ, FONSECA, 2010).
Não podemos falar sobre justiça climática sem abordar as questões de racismo ambiental, de defesa de territórios e de grupos marginalizados na sociedade como negros, indígenas, periféricos e população de comunidades tradicionais. Esses grupos são mais expostos a situações de enchentes, secas prolongadas e déficit de saneamento básico devido a sua maior vulnerabilidade social e econômica. Tais situações são ainda agravadas por conta da maior frequência de eventos climáticos resultantes das mudanças climáticas. É claro que os impactos causados pela as mudanças climáticas afetam a todos, porém esses efeitos são maiores em grupos marginalizados devido à desigualdade socioeconômica. Tais desigualdades estão diretamente relacionadas com fatores como o território no qual moram esses grupos, a disponibilidade de recursos naturais, o acesso a serviços básicos de infraestrutura e cidadania (educação, saúde, segurança, saneamento básico).
Segundo o Mapa da Desigualdadedesenvolvido pela a Casa Fluminense, os desastres ambientais ocorridos no Brasil – que contemplam eventos como deslizamentos de terra, tempestades e chuvas torrenciais, e inundações – foram responsáveis por 1774 mortes no Brasil entre os anos de 2010 e 2018. Mais de dois terços dessas mortes, o que equivale a 1263 vítimas, ocorreram no estado do Rio de Janeiro. Esses dados comprovam que os eventos climáticos resultantes das mudanças climáticas, infelizmente, já fazem parte da rotina dos brasileiros.
Em março de 2018, a sueca Greta Thunberg iniciou o movimento Fridays for Future em que todas às sextas-feiras ela ia protestar em frente ao Parlamento da Suécia cobrando do governo a redução das emissões de carbono propostas pelo Acordo de Paris. Após essa iniciativa, ela inspirou jovens de todo o mundo a cobrarem ações de seus governantes para combater a crise climática. Com isso, Greta Thunberg ganhou holofotes da mídia mundial, participando de Conferências Internacionais da ONU, cobrando justiça climática e ações efetivas para o enfrentamento do colapso ambiental e climático que passamos.
No entanto, não podemos deixar de pontuar que parte desse reconhecimento é fruto do seu privilégio de ser uma mulher branca e europeia, pois, há muito tempo, outras ativistas já lutavam pela defesa de seus territórios, mas sem ganharem espaço na mídia ou “reconhecimento”. É importante destacar a relevância de Greta para mobilização da juventude pela causa climática, mas não se pode deixar de notar que, infelizmente, o racismo invisibiliza outras potentes lideranças que estão na linha de frente no combate dessa crise.
Um exemplo recente desse racismo foi durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, quando ativista climática de Uganda Vanessa Nakate, foi cortada em uma foto, com quem aparecia junto a Greta Thunberg e mais três ativistas, pela agência de notícias Associated Press.
Assim como Greta, Vanessa Nakate é uma importante ativista que durante vários meses protestou em frente ao Parlamento de Uganda cobrando dos tomadores de decisão ações concretas para o combate às mudanças climáticas, e se tornou, por isso, referência no movimento Juventude pela África do Futuro. “Curiosamente só os maiores emissores de gases do nosso país (Uganda) serão ricos o suficiente para sobreviver à crise alimentar, enquanto a maioria das pessoas, que vivem em povos e comunidades rurais, enfrentarão problemas para obter alimentos devido aos altos preços e ao desabastecimento” disse a ativista Vanessa Nakate, em entrevista recente.
Quantas ativistas em nosso país estão sendo silenciadas pelo o racismo?
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
SANTOS, Paulo. Você sabe o que é Justiça Climática?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/voce-sabe-o-que-e-justica-climatica.html>.
Os Vazios Urbanos e o Planejamento de Cidades Sustentáveis
Todos os dias quando saímos pelos nossos bairros, seja para uma simples caminhada ou para ir até um determinado local, é comum nos depararmos com vários terrenos sem ocupação e até mesmo várias construções fechadas ou inutilizadas. Chegamos até a pensar que esses espaços inutilizados são características inerentes às cidades, sejam elas interioranas ou grandes capitais do país. Mas, não são! Com o passar dos anos os “vazios urbanos” se tornaram uma característica das cidades. Por quê? Basicamente, especulação imobiliária e ausência de um bom planejamento urbano.
Por definição, os vazios urbanos são espaços que não cumprem nenhuma função, ou seja, são inúteis. Eles geralmente são presentes nas áreas centrais das cidades, onde os valores de um imóvel ou de um terreno são altos, o que dificulta sua compra ou locação.
E qual a relevância disso na minha, na sua, nas nossas vidas? Dependendo de onde ocorre a rotina do nosso dia-a-dia, pode ser muito relevante. Pare e pense, quanto tempo você gasta de casa até o trabalho, faculdade, academia e supermercado? Não seria melhor se você morasse perto dos locais que freqüenta com freqüência? Não seria melhor não depender de transportes privados ou públicos para se locomover (pense na economia de tempo e de dinheiro que distâncias menores proporcionam)?
Esses espaços vazios das cidades poderiam ser geradores de novas centralidades ou novas ideias voltadas para habitação e/ou até mesmo para infraestruturas de alcance de toda a população. Poderiam ser parte de uma estratégia do poder público no desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, onde fosse primordial o bem-estar da população de maneira a facilitar a vivência das pessoas nos centros urbanos. Seria um prazer a mais viver em cidades assim.
A socióloga Saskia Sassen afirma que “um espaço vazio, é um espaço crítico” por estar sempre destruindo e reconstruindo como forma de substituir a história de determinado lugar. Além disso, um vazio urbano se torna um problema por muitas vezes pertencer ao poder privado, ocorrendo a famosa especulação imobiliária e transformando um espaço com alta capacidade funcional em um “nada”.
A relação entre o aproveitamento dos vazios urbanos e o desenvolvimento de cidades sustentáveis se encontra na finalidade de promover um ambiente urbano com moradia de qualidade, segurança, mobilidade e bem-estar de maneira a suprir a demanda atual e não prejudicar o desenvolvimento da cidade. E isso é possível? Sim! Com um bom planejamento urbano atrelado ao desenvolvimento da cidade e somado a projetos voltados para os cidadãos que sejam executados de maneira contínua.
O Estatuto da Cidade e os Planos Diretores Municipais têm o poder e o dever de manejar a distribuição dos espaços de uma cidade de maneira a promover seu desenvolvimento equitativo e sustentável, evitando a carência de moradia e de infraestruturas voltadas às necessidades básicas dos cidadãos. E da mesma maneira que o poder público é responsável por isso, a sociedade civil também usufrui do direito e do dever de exigir cidades que priorizem os cidadãos e seu bem-estar através de processos e projetos participativos, como audiências públicas e movimentos estratégicos de articulação que reivindiquem o direito à cidade.
Há muitos exemplos de requalificação de vazios urbanos, como a recente inauguração da Fazenda Urbana em Curitiba – PR, através da qual a Prefeitura promoverá atividades e práticas de agricultura sustentável. Outros exemplos são parques urbanos, corredores verdes, hortas urbanas e moradias sociais. Ou seja, é possível evitar a especulação imobiliária dos vazios urbanos e é possível a requalificação desses espaços.
“Falta espaço para mais gente? Não! O que falta é pensar em qualidade de vida, justiça social e desenvolvimento. O que falta é ocuparmos os espaços que já existem.” Maria Paula Fontana, Arquiteta, Urbanista e Pesquisadora
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
ARTIJA, Maria Vitória. Os Vazios Urbanos e o Planejamento de Cidades Sustentáveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/os-vazios-urbanos-e-o-planejamento-de-cidades-sustentaveis.html>.
Cinema Ambiental: um importante recurso para despertar a consciência
O cinema ambiental surgiu, na década de 1980, como forma de representar a veiculação das questões ambientais nos festivais. O termo ainda é muito recente quando comparado ao cinema em si, e é enquadrado na categoria temática e não estética, o que o torna bem complexo, porque há a possibilidade de trabalhar outros assuntos no mesmo filme.
Não é que antes da década de 1980 não tenha se falado sobre questões ambientais, porém, elas eram introduzidas de outra forma. No Brasil, por exemplo, o cinema ambiental contou com três fases: dos primeiros filmes nacionais até o começo da década de 1930, as abordagens eram centradas nas belezas naturais brasileiras e nas florestas quase inexploradas; da década de 1930 até a década de 1950, abordavam o exotismo das regiões e exaltavam o progresso urbano que estava latente; já a partir da década de 1960, com o surgimento do cinema socioambiental, o cinema ecologicamente engajado, as abordagens apareceram com tom de denúncia, envolvendo questões de sobrevivência do homem em seu habitat.
Na atualidade, o cinema com temática ambiental tem assumido um status muito importante, envolvendo ambientalistas, educadores, produtoras, e muitos outros profissionais de diferentes áreas. O cinema ambiental compreende tanto filmes e vídeos selecionados e premiados em festivais de cinema ambiental, quanto filmes utilizados por educadores em atividades de educação ambiental, e também vídeos utilizados como veículo de divulgação de projetos ambientais institucionais e ações ambientalistas.
O caráter ambiental de alguns vídeos sempre foi muito ligado às concepções de meio ambiente como natureza imóvel, para ser observada e preservada, ou então da natureza vista como recurso, onde o homem gerencia esse processo, e ainda, como problema que necessita ser resolvido. Pode-se dizer então, que grande parte desses vídeos é utilizada para difundir que os problemas ambientais advêm da relação desequilibrada entre os seres humanos, a natureza, e outras espécies. E também que as soluções dependem da mudança de hábitos e comportamentos da população, apresentando, muitas vezes, práticas mais adequadas a serem seguidas para que o equilíbrio seja restaurado.
Mas como a discussão voltada para temática ambiental no cinema pode trazer benefícios para a sociedade? E por que essa discussão é tão importante?
O cinema pode ser considerado como uma fonte de informação, como qualquer outra mídia, podendo influenciar diretamente as percepções e concepções do público, e tem se mostrado muito importante no debate ambiental desde sua criação.
A linguagem cinematográfica utilizada como recurso na construção de conhecimentos, se torna eficaz porque pode integrar a realidade individual com o meio natural, e desta forma, desenvolver no sujeito a sensibilidade e a percepção do universo. Essa linguagem, que acaba se tornando acessível, possibilita a integração do indivíduo com o meio, fazendo com que o espectador tenha a sensação de reconhecimento e possa se identificar, e mais do que isso, possa identificar todo o processo de degradação pelo qual o planeta vem passado.
O cinema pode proporcionar uma perspectiva que está situada no presente, mas que a interliga com o passado e o futuro, ele parte do concreto, do próximo e até real e desperta todos os sentidos – a imagem apoia a fala, a narrativa, as histórias que são contadas. Todos os elementos de um filme se unem para gerar uma sensibilização no espectador que pode, de alguma forma, repensar nas suas atitudes e práticas.
São esses alguns dos motivos, que tornam o cinema tão significativo no campo dos debates ambientais, auxiliando nos processos educacionais e de sensibilização, para tomada de consciência e formação de pensamento crítico de todos nós, que são tão necessários nesse momento, na tentativa de transformação social e ambiental.
Referências:
FERREIRA, Thais Arruda. Reflexões sobre o cinema ambiental: uma abordagem multidisciplinar. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas/ UNICAMP. São Paulo: Limeira, 2013. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000905790>.
SERRA, Glades M. Debei; ARROIO, Agnaldo. O meio ambiente retratado em filme: uma análise comparativa entre ficção e documentário. Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ), Universidade Federaldo Paraná – Curitiba/PR, 21 a 24 de julho de 2008. Disponível em: <http://bohr.quimica.ufpr.br/eduquim/eneq2008/resumos/R0385-1.pdf>.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
MARIA, Flávia. Cinema Ambiental: um importante recurso para despertar a consciência. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/cinema-ambiental-um-importante-recurso-para-despertar-a-consciencia.html>.
Uma Vida Sustentável Através do Sentir
Foto: Helena Cooper
Esse não é um texto para te dar o passo a passo de como levar uma vida mais sustentável. É para ativar sensações que te despertem para uma conexão mais profunda em todos os momentos da vida.
Talvez um dos grandes erros da humanidade tenha sido enxergar a si própria como algo externo e, muitas vezes, superior a todas as demais espécies que habitam a Terra. Provavelmente veio daí a nossa desconexão, pois somos frutos de um sistema que promove o des-envolvimento, de não se envolver mesmo, de se ver de fora. Mas, aos poucos, com o despertar, vamos nos surpreendendo com tantas sincronias e similaridades entre nós e o mundo natural. Parece coincidência, mas não é.
Tudo o que somos e todas as nossas escolhas fazem parte de um único macroorganismo. O que acontece fora apresenta padrões que se repetem em nós. É clichê, mas é a mais pura verdade: nós somos a própria natureza.
Reconectar vai muito além de proteger e passar mais tempo na floresta. Sem descartar a importância da companhia do mundo natural na nossa vida nem os estudos que comprovam o quanto isso é positivo para o nosso bem estar e o do planeta, o que realmente está em pauta aqui é como essa natureza se manifesta dentro de nós e como sentimos essa ligação no nosso dia a dia.
Quando nos perguntamos como levar uma vida mais sustentável precisamos ter em mente que a mudança vem de atitudes muito singelas, que começa no sentir. Sentir que as coisas não estão como deveriam estar, sentir-se perdido sobre como agir e sobre o que fazer. Essa inquietude é uma das chaves para abrir as portas da reconexão.
A palavra sustentabilidade tomou proporções que extrapolam seu significado e, algumas vezes, não fazem jus à sua importância. Sua semântica foi há tempos usurpada pelo mercado verde, por tudo aquilo que parece, mas nem sempre é. Precisamos fazer uma releitura desse termo e a regeneração se apresenta como uma alternativa à altura da sustentabilidade.
Regenerar é revisitar as relações, compreender a conexão entre as partes para que seja possível perceber o todo com mais clareza. Se relacionar traz à tona sentimentos, está ligado diretamente ao campo emocional e, por isso, diz o ditado: quem ama cuida. Uma relação afetiva com o mundo natural faz com que as pessoas passem a cuidar, respeitar e perceber as necessidades de mudanças no paradigma sob o qual nossa sociedade e os nossos hábitos foram consolidados.
Seguindo o fluxo energético da vida no planeta, que vai do simples para o complexo, começamos, então, a fazer aquilo que está ao nosso alcance e, aos poucos, vamos complexificando as transformações e adotando atitudes que favorecem cada vez mais a vida e a manutenção dos recursos. É preciso uma dose extra de autocuidado nesse início para evitar frustrações.
A regeneração traz a responsabilidade para a humanidade de participar daquilo que sustenta a vida, por exemplo: se não estamos em uma situação de vulnerabilidade, todos os dias realizamos pelo menos uma refeição. O que nutre aquilo que nos nutre? Para alimentar a regeneração é fundamental valorizar os pequenos produtores e agricultores locais, realizar compras a granel e com o mínimo de embalagens possíveis, evitar o consumo de carnes e derivados de animais. É preciso compostar resíduos orgânicos, descartar corretamente os recicláveis e incentivar a coleta seletiva e cultivar uma horta em casa. Todos esses são passos práticos e quase óbvios para serem tomados depois que a inquietude chega.
“Descascar mais e desembalar menos” é uma máxima que nunca falha. Sentir é estar alerta e perceber que durante todo o ano encontramos as mesmas espécies de legumes, folhas e frutas nas prateleiras do mercado como se a natureza não fosse cíclica, como se a comida surgisse dali. O globalismo nos afastou das nossas raízes. Literalmente! Pois ainda existem pessoas nos centros urbanos que não conhecem a planta da mandioca, que não conectam a farofa da sua feijoada ou a tapioca da feira com a macaxeira tão importante na história desse país e com tantas comunidades que até hoje mantém suas casas de farinha em pleno funcionamento, esbanjando tradição e ancestralidade.
A cada refeição temos a oportunidade de consumir mais espécies nativas. Enquanto vivemos em uma das áreas mais biodiversas do planeta, a grande maioria das hortaliças e ervas medicinais que consumimos diariamente no Brasil tem origem euroasiática. A monotonia nos nossos pratos reflete a monocultura dos nossos campos. Precisamos sentir e saber que até mesmo diante da destruição do mundo natural seja pelo agronegócio, seja pelas queimadas, geleiras derretendo ou até pandemias, a mudança começa sempre nas coisas mais simples.
Na grande maioria das vezes, além de fazer bem para o planeta, essas mudanças também fazem bem para nós mesmos. Escolher alimentos locais, respeitando a sazonalidade, é muito mais saudável porque eles são compostos justamente daqueles nutrientes e medicinas que precisamos naquela estação. A natureza é sábia, só falta mesmo nos conectarmos com todo esse conhecimento.
Ouvi da minha amiga engenheira ambiental, Aline Matulja, que o melhor indicador para saber se a sua ação no mundo está fazendo a diferença é a transformação que acontece em você mesmo. “Se algo te tocou, já transformou o mundo”, ela disse. Essa revolução é silenciosa e individual e tem a ver com a percepção e sensibilidade. Ocorre dentro de cada um até que reverbera no mundo externo e caminha para uma sociedade mais feliz e mais harmônica, coerente com os fluxos da vida. Olhe para dentro de si, pegue na mão de quem estiver ao seu lado e seguimos!
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
GRINSZTEJN, Camila. Uma Vida Sustentável Através do Sentir. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/uma-vida-sustentavel-atraves-do-sentir.html>.
Como a família pode contribuir para a assimilação da Educação Ambiental?
A educação ambiental pode ser entendida como a construção de conhecimentos sobre questões socioambientais e, principalmente, o desenvolvimento de atitudes e valores para a preservação e manutenção de qualidade de vida, e a família tem papel fundamental neste processo.
Respeitar e preservar todas as formas de vida, não é um aprendizado que se consolida apenas em conhecimentos teóricos, mas também com adaptações das práticas cotidianas que promovam efetivamente estes valores.
As crianças, em geral, se empenham em atividades práticas, quando isso é proposto de maneira interessante, divertida e incorporando atitudes coerentes com a Educação Ambiental no cotidiano, pode estimular a assimilação e o aprendizado das crianças. Quando a criança vê em sua família exemplos de referência sobre Educação Ambiental, o aprendizado se torna mais espontâneo e acessível.
Estes modelos de inspiração e aprendizagem podem ser encontrados nas famílias, reforçados pelos vínculos afetivos que geralmente se estabelecem. Para continuarmos essa reflexão, iremos adotar aqui a família em seus mais diversos formatos, entendendo-a como a instituição de afeto e cuidado entre seus membros, sendo estes: pai, mãe e filhos, como também famílias monoparentais (apenas a mãe ou apenas o pai), com filhos adotados, recomposta, homoparental ou qualquer grupo que se entenda como família.
Sendo assim, a família é a instituição que irá colaborar intensamente nos processos de aprendizagem e desenvolvimento infantil, pois, por meio das relações estabelecidas, as crianças aprendem valores e vivências, nos diálogos e nos exemplos.
Lembre-se, portanto, que você é fonte de inspiração para a criança e ela estará constantemente observando e aprendendo com seus passos. Então, é importante ficar atento às suas próprias práticas, além de demonstrar interesse e estimular essa criança, por meio de diálogos, atitudes e pequenos exemplos. Isso tudo colabora muito para o desenvolvimento da criança, inclusive, quanto às questões de educação ambiental que promovam mais respeito, solidariedade e valorização ambiental.
Assim, é relevante desenvolver um olhar atento para se autoavaliar e perceber possíveis mudanças para colaborar com questões de sustentabilidade, buscando informações e estimulando a criança a participar das atividades já exercidas e das simples transformações desenvolvidas.
Neste aspecto, você pode, por exemplo, convidar a criança para ajudar a cozinhar, porque este momento proporcionará conhecimento e valorização dos alimentos, desenvolvendo o cuidado e evitando desperdícios. Inclusive pode ser uma ótima forma de passar o tempo juntos, além de estimular a boa alimentação.
Outro exemplo é referente ao uso da água, uma vez que, você deve mostrar à criança a importância de manter as torneiras fechadas quando não estiver usando a água efetivamente, enquanto escova os dentes ou lava louças. É importante não apenas dizer para fechar a torneira, mas sim estabelecer diálogo, explicando a importância de ter esses cuidados. Fazendo isso, você está contribuindo para o desenvolvimento dessa criança, não havendo necessidade de estabelecer longos discursos, pois conversar e realizar as atividades em conjunto será bastante relevante para consolidar práticas e valores socioambientais.
Outra prática bastante interessante é estimular a criança a separar os resíduos (lixo) junto com você, lembre-se de explicar a importância de fazê-lo, converse sobre os destinos dos lixos gerados, sobre os processos de reciclagem, desenvolvam juntos a reutilização de materiais, promovendo agradáveis momentos de aprendizagem e de convivência.
Estes são alguns pequenos exemplos de práticas que estimularão a criança a desenvolver valores da Educação Ambiental permitindo-nos, assim, almejar e construir um mundo melhor para vivermos.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
MATTARA, Bianca. Como a família pode contribuir para a assimilação da Educação Ambiental?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/como-a-familia-pode-contribuir-para-a-assimilacao-da-educacao-ambiental.html>.
Slow Living: Por que precisamos diminuir o ritmo?
Nunca se falou tanto sobre desacelerar quanto durante esse período de isolamento social. Muitas hipóteses consideraram que o estilo de vida slow seria o “novo normal” e que esse movimento ganharia cada vez mais adeptos com o decorrer do tempo. Se você nunca ouviu falar de slow living, quero te apresentar esse conceito – e pedir licença para retratá-lo também a partir da minha ótica, de quem pratica e de quem se interessa profundamente pelo assunto. Espero que, ao final desse artigo, você também se sinta entusiasmado em vivenciá-lo.
O conceito do viver de maneira slow surgiu por volta dos anos 1980, e tem uma conexão significativa com a alimentação. O jornalista Carlo Petrini iniciou o movimento Slow Food[1] na Itália, após organizar um protesto contra a abertura de uma franquia do Mc Donald’s próximo à Piazza di Spagna. Em 1989, o movimento Slow Food foi consolidado e em mais de vinte anos de história, dialoga sobre a importância das conexões entre comida, pessoas, política, cultura e planeta.
A partir do movimento Slow Food, outros questionamentos surgiram a respeito da velocidade das coisas – que muitas vezes aceleram e atropelam nossas conexões com experiências que exigem tempo e calma. Alguns exemplos são o slow reading, slow medicine e slow fashion.
Segundo Wendy Parkins [2], em seu artigo Out Of Time: Fast Subjects And Slow Living, “O slow living é uma resposta – ou melhor, um conjunto de respostas em várias manifestações – a este desejo de “tempo para coisas significativas”. Não significa uma versão em câmera lenta da vida na pós-modernidade, a fim de nos isolar do resto da cultura; e sim, a negociação consciente de que temos diferentes temporalidades no nosso cotidiano.
Entendemos que o conceito de “ter tempo” implica em investir em algo por meio da atenção, envolvendo-se de maneira consciente ao invés de supérflua e criando conexão em cada tarefa. O slow living rejeita a cultura da velocidade, que tomou proporções enormes em vista dos avanços de certos processos – de produção, comunicação e transporte – e que colocaram qualquer outro processo “lento” como algo ultrapassado e que nos gera atraso.
É preciso ressaltar aqui as consequências dessa aceleração pós-moderna. Com a velocidade dos meios de produção, temos como resultado o Dia da Sobrecarga da Terra, que foi retardado três semanas em 2020 comparando-se ao ano anterior, por conta da “desaceleração” ocasionada pela pandemia [3]. E quando abrimos parênteses para falar sobre saúde mental dentro da cultura do fast, é possível ver cada vez mais pessoas sofrendo de burnout[4].
Entendido que viver o fast (fast living, fast food, fast fashion…) repercute não apenas no macro, como também no micro, te convido também a refletir sobre esse ritmo. Talvez o novo normal não chegue a existir, mas a necessidade de diminuir o ritmo tem se tornado cada vez mais urgente.
A escolha de desacelerar vem quando ponderamos sobre quem somos e quais são as nossas prioridades no presente. Ela não significa apenas a quantidade de tempo que gastamos utilizando o celular ou dizer não para o excesso de atividades. Implica em identificar com serenidade qual mensagem que chega pelo Whatsapp precisa ser respondida com urgência e quais podem ser vistas depois. Qual o ritmo que você tem vivenciado nos últimos tempos?
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
AURELIANO, Bruna. Slow Living: Por que precisamos diminuir o ritmo?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/slow-living-por-que-precisamos-diminuir-o-ritmo.html>.
Doenças Sem Fronteiras
Alguma vez na vida, você teve o serviço de abastecimento de água da sua casa interrompido? Imagine se isso ocorresse hoje, durante uma pandemia, que a prevenção ocorre também através da higiene frequente das mãos com água e sabão. Você recorda de algum momento que teve que saltar poças ou ficar ilhado depois de um dia chuvoso? Já acelerou as passadas, enquanto passava por um local com odor desagradável de lixo ou esgoto?
Alguma dessas situações foi agradável? Acredito que não. Essa ilustração contrapõe o jargão político de não fazer “obras que ninguém vê”. O saneamento é obra visível, presente, necessária e instrumento promotor de saúde em nossas vidas, assim como consta no Art. 3º da Lei nº 8.080/1990.
Ouso dizer que o saneamento representa a base de todo o sistema de saúde de um país. O conceito de saúde não se resume, apenas, a ausência de doença através de prevenção ou assistência médica, mas também a um estado de bem-estar físico, mental e social. Portanto, um dos fatores determinantes da saúde são as condições ambientais.
Normalmente, associamos o saneamento básico, somente, ao esgotamento sanitário, mas, segundo a Lei 11.445/07, ele compreende um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais (chuva e drenagem), limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. O verbo sanear significa tornar são, habitável e, o básico para que isso ocorra corresponde a manutenção dos serviços citados acima. Já tratamos de forma mais específica sobre saneamento básico no artigo “O que é Saneamento Básico? Entenda como funciona essa importante ferramenta de proteção à saúde humana e ambiental”, clique aqui para ler.
Como a falta de saneamento impacta a saúde pública?
Somente no primeiro trimestre de 2020, o Brasil teve mais de 40 mil internações por causa de doenças relacionadas a falhas de saneamento básico, segundo estudo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. São consideradas Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI): diarreias, febres entéricas, hepatite A, verminoses, doenças de pele, conjuntivite, micoses superficiais, dengue, zika, chikungunya, leishmanioses, malária, doença de Chagas, leptospirose e esquistossomose.
Você ou algum conhecido já foi acometido por alguma delas? Elas são mais comuns do que imaginávamos, não é mesmo? Todas essas doenças são consideradas evitáveis, portanto, uma pessoa que tem uma doença devido à falta de saneamento disputa um leito com uma pessoa com doença “inevitável”.
Como podemos colaborar para a universalização do saneamento?
Em ano eleitoral, devemos observar se os candidatos mencionaram a elaboração ou atualização do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Esse documento é pré-requisito à liberação das verbas federais para o saneamento básico.
A saúde é um direito fundamental do ser humano e as consequências da falta de saneamento básico aliadas à atual situação de emergência sanitária, provocada pela pandemia de Covid-19, trazem implicações que desconhecem limitações geográficas.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
BRITO, Suan Lima. Doenças Sem Fronteiras. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/doencas-sem-fronteiras.html>.
Educação Ambiental: Educação e conscientização para garantia do futuro
De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/1999), conceitua-se Educação Ambiental como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem, de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
Consoante às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (2012), Art. 2°, “A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental”.
A educação ambiental, já está fortemente fundamentada na Constituição Federal (Art. 225), garantindo que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A garantia legal da Educação Ambiental no Brasil está respaldada por princípios éticos, ressaltando a relevância da Política Nacional de Educação Ambiental, que surgiu a partir de importantes debates sobre o tema em conferências internacionais, considerando uma série de questionamentos sobre o futuro da humanidade (BONN et al, 2020).
Nas escolas, a Educação Ambiental está inserida nas disciplinas de Ciências ou Biologia e também de forma interdisciplinar, com atividades extracurriculares, mas, não como um conteúdo disciplinar, como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (2012). Para profissionais da área, a Educação Ambiental deve ser trabalhada como tema transversal e interdisciplinar, principalmente, através de projetos, também como política pública, sendo uma perspectiva para o futuro.
Bonn et al (2020), afirma que a educação ambiental está cada vez mais inserida no cotidiano da sociedade. Em análise a jornais de circulação local, apontam a necessidade de haver a publicação de conteúdos sobre a Educação Ambiental que tenham caráter, não apenas informativo, mas pedagógico, que incentivem a mudança de atitudes e consciência para a preservação e conservação do meio ambiente, e que se amplie o espaço de discussão sobre o tema.
Nesses espaços, ações práticas do cotidiano que parecem tão pequenas perto da dimensão das ações ambientais, podem ser sugeridas e incentivadas. Como a questão dos resíduos sólidos, sendo um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso. Sem esquecer o compromisso socioambiental das empresas, que devem demonstrar na prática, ações e incentivos no pós-consumo de seus produtos.
Outra pauta atual é a alimentação saudável, a qual contribui muito para um futuro mais sustentável. Ao adotar uma dieta mais saudável e sustentável, optar por produtos locais e orgânicos com mais frutas e vegetais, com menos embalagens, na lógica do “descascar mais e desembalar menos”, são medidas que concretizam a causa.
De acordo com (SEBRAE, 2020), ao analisar “as tendências pós-pandemia”, observaram que as preferências mudaram. Os costumes estão se transformando, e tal adaptação pode se estender por um longo período. Há uma transformação ocorrendo, tanto nos produtos e serviços, quanto na ideologia de status postado nas redes sociais. Percebe-se uma maior consciência nas ações do cotidiano e estas devem ser refletidas no futuro.
Para SEBRAE (2020), a opção por bens essenciais, a busca por segurança e o aumento da consciência ambiental e social, farão parte dos fatores de tomada de decisão. A cada dia a redução na renda de muitas famílias, as incertezas em relação ao futuro e, também a questões ligadas a um maior cuidado com a saúde e o meio em que vivem, levam as pessoas a tomar atitudes mais sustentáveis e economicamente viáveis.
A ONU em sua Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que contém os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, contempla uma série de objetivos e metas que precisam ser efetivados até 2030. Entre eles está a necessidade de assegurar a proteção duradoura do planeta e seus recursos naturais. Toda sociedade precisa estar informada e comprometida para alcançar os ODS.
O mundo hoje passa por grandes problemas que desafiam o alcance do desenvolvimento sustentável, como a pobreza e as desigualdades. Sem falar das ameaças globais de saúde que incluem a atual pandemia de Covid-19, o esgotamento dos recursos naturais, os impactos negativos da degradação ambiental e as mudanças climáticas.
Devem ser atitudes contínuas para o futuro: desenvolver maior conhecimento sobre o meio ambiente, educar adultos e crianças sobre a necessidade de ações diárias de cuidado com a natureza, melhorar as relações com o meio em que se vive, inserir a temática da sustentabilidade num contexto mais amplo que o cuidado com o planeta.
A Educação Ambiental deve ser entendida como prioridade no Brasil e no mundo. Todos precisamos estar cientes disso: sociedade, empresas e representantes políticos. A sociedade entendendo seu papel de cidadãos e consumidores; as empresas comprometidas com ações sustentáveis e estabilizadoras; os políticos e policy makers, responsáveis por fazer, aprovar e fiscalizar leis, devem estar bem informados sobre o assunto, sendo necessário que compreendam a importância da Educação Ambiental. A sociedade deve exigir que seus candidatos tenham o mínimo entendimento sobre essa pauta, afinal, a causa ambiental é urgente!
Referências:
Bonn et al. Educação ambiental não-formal em jornais da Região Celeiro do Rio Grande do Sul. Rev. Elet. Cient. da UERGS (2020) v. 6, n. 01, p. 72-82.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. (*) Resolução CNE/CP 2/2012. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de junho de 2012 – Seção 1 – p. 70.
Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável – Traduzido pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), última edição em 13 de outubro de 2015. Disponível em: <https://sustainabledevelopment.un.org>.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
MAIRESSE, Letícia. Educação Ambiental: Educação e conscientização para garantia do futuro. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/educacao-ambiental-educacao-e-conscientizacao-para-garantia-do-futuro.html>.
Proteção Ambiental no Brasil e Mudanças Climáticas
O Brasil é um país essencial para o combate às mudanças climáticas e a efetividade dos acordos internacionais sobre o clima por conta de toda a biodiversidade existente, além da presença de grande parte da floresta Amazônica. Há, porém, necessidade de que tais características sejam acompanhadas por políticas públicas ambientais e estratégicas de um sistema de proteção mais eficiente.
O sistema de proteção ambiental, por sua vez, é orientado atualmente pelo Acordo de Paris, assinado em 2015 e que entrou em vigor em 2016 – o Brasil ratificou o mesmo em 2016. Nessa medida, os Estados-Partes do acordo estabeleceram a manutenção do aumento da temperatura média global abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e esforços para limitação do aumento da temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, “reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas” (art. 2.1. do Acordo de Paris).
Nesses termos, as metas nacionalmente determinadas pelo Brasil foram até mais ousadas ao indicar o dever de “reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025” [1], “reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030” [2], além de empregar “esforços para uma transição para sistemas de energia baseados em fontes renováveis e descarbonização*[3] da economia mundial até o final deste século, no contexto do desenvolvimento sustentável e do acesso aos meios financeiros e tecnológicos necessários para essa transição” [4].
Assim, o Brasil se comprometeu através das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) a fortalecer o cumprimento do Código Florestal, fortalecer políticas, aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% até 2030, alcançar a participação estimada em 45% de energias renováveis, alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030, promover novos padrões de tecnologias limpas e ampliar medidas de eficiência energética e de infraestrutura de baixo carbono e fortalecer o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC).
Internamente, a legislação brasileira ambiental tem se consolidado no tempo como a Lei de Crimes Ambientais, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Política Nacional de Mudanças Climáticas e outros.
Outro ponto relevante a se ter em mente quando se trata de mudanças climáticas são os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas) que buscam atingir as seguintes metas:
Há, portanto, sólidos caminhos para proteção do meio ambiente no mundo e especialmente no Brasil, mas é preciso maior efetividade das medidas a serem implementas no tema. Cabe, nesse sentido, a todos nós cidadãos cobrar mais medidas em prol do meio ambiente de nossos representantes eleitos, além de buscar cada vez mais engajar pessoas sobre a importância de questões ambientais e climáticas. As eleições municipais são uma excelente oportunidade para dar enfoque a tais questões nos debates eleitorais.
* Descarbonizar se refere a eliminar o consumo de combustíveis fósseis que possuem carbono em sua estrutura molecular a fim de reduzir as emissões de carbono na atmosfera.
[3] “Descarbonizar se refiere a eliminar el consumo de combustibles fósiles que tienen carbono em su estructura molecular com el fin de reducir las emisiones de ese carbono a la atmosfera”. GALLARDO, Laura; OSSES, Mauricio. Cápsula climática: ¿Qué es ladescarbonización? Publicado em 03 set. 2019. Disponível em: <http://leycambioclimatico.cl/capsula-climatica-que-es-la-descarbonizacion/>.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
PIRES, Felipe. Proteção Ambiental no Brasil e Mudanças Climáticas. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/protecao-ambiental-no-brasil-e-mudancas-climaticas.html>.
Como o esgoto é tratado? Saiba como funciona uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto
O esgotamento sanitário envolve tanto as estruturas quanto os serviços necessários para coletar, transportar (até uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto), tratar e devolver de forma adequada o esgoto ao meio ambiente. Assim, o esgotamento sanitário se subdivide em dois serviços: a coleta e o tratamento de esgoto. O que significa dizer que nem todo esgoto que é coletado recebe tratamento antes de ser lançado em corpos hídricos.
Por essa razão essa componente do saneamento básico é um tema de grande preocupação no país, já que mais da metade da população não possui acesso aos serviços de coleta de esgoto, segundo dados do Instituto Trata Brasil essa parcela equivale 53%. E quando consideramos os serviços de tratamento de esgoto, a situação se complica ainda mais, pois dos 53% da população que tem o esgoto coletado, apenas 54% tem o esgoto tratado.
Essa insuficiência de atendimento gera impactos perniciosos para a saúde humana e para o meio ambiente. A saúde humana é ameaçada por doenças causadas pela exposição ao esgoto a céu aberto, fossas rudimentares e também pelo consumo de água não tratada. O meio ambiente é posto em xeque pelo alto grau de poluição e contaminação de rios, córregos, lagoas, lençóis freáticos e demais corpos hídricos em todo o país.
Como vimos, a coleta e o tratamento de esgoto são fatores fundamentais para um planejamento urbano que considere a constituição de cidades sustentáveis do ponto de vista socioambiental. Nesse contexto, as ETEs – Estações de Tratamento de Esgoto são estruturas fundamentais para garantir cidades mais sustentáveis.
ETEs – Estações de Tratamento de Esgoto
O caminho para o tratamento de esgoto se inicia com a coleta do mesmo em residências, comércio e indústria, através de redes coletoras, seguindo para as ETEs, onde receberá o tratamento adequado antes de ser lançado ao meio ambiente. É importante ressaltar que há ETEs onde é realizado apenas o tratamento primário do esgoto, ETEs em que são feitos tanto o tratamento primário quanto o secundário, e ETEs que além desses tratamentos também realiza o tratamento terciário do esgoto.
O tratamento primário de esgoto corresponde à remoção de sólidos em suspensão sedimentável, sólidos flutuantes e reduzida parcela de matéria orgânica. Enquanto que o tratamento secundário, por remover grande parcela de matéria orgânica e em alguns casos também parcelas de nutrientes como nitrogênio e fósforo, é mais eficaz. Já o tratamento terciário remove de forma complementar matéria orgânica, nutrientes e poluentes, realizando, assim, a desinfecção dos esgotos tratados (FEC – Unicamp). Considerando a conservação dos recursos hídricos para usos futuros, é recomendável que as ETEs e por isso mais recomendada para o tratamento adequado e manutenção dos corpos hídricos.
Etapas do Tratamento de Esgoto
Gradeamento:
O esgoto domiciliar é composto geralmente de 99% de material líquido e 1% de material sólido, ao chegar à ETE é iniciada a etapa onde são retidos, através de barreiras formadas por grades, os resíduos sólidos. Há estações onde esse gradeamento é realizado de forma dupla: gradeamento grosso para retenção de resíduos sólidos maiores e gradeamento fino que objetiva a retenção de resíduos sólidos menores. Essa primeira etapa serve para separar a parte líquida do esgoto da parte sólida, muitas vezes descartada de forma incorreta como é o caso do lixo.
Desarenação:
Nessa etapa através da sedimentação é realizada a separação dos organismos menores, dos organismos maiores, em outras palavras, são removidos todos os detritos sólidos presentes que podem ter escapado na etapa anterior. Assim areia, cascalhos e outros elementos presentes no esgoto vão para o fundo do tanque, enquanto os materiais orgânicos ficam nas camadas superiores. A parte líquida que permanece na superfície segue para a próxima etapa do tratamento.
Decantador Primário:
Essa etapa representa a primeira etapa de decantação, onde em tanques o material orgânico sólido é misturado a fim de sedimentá-lo no fundo do tanque até assumir a forma de lodo. Já existem pesquisas que indicam que essa matéria orgânica decantada na forma de lodo pode ser utilizada como insumo agrícola.
Peneira Rotativa:
O lodo formado por decantação é submetido a um processo de centrifugação que separa a parte sólida da mistura em uma espécie de peneira que serve como uma nova fase de filtragem e separação. Desta forma, o líquido pode ser armazenado em tanques.
Decantador Secundário:
Uma nova fase de decantação em tanques que separam os sólidos restantes através de sedimentação e reduzem mais matéria sólida em lodo.
Adensamento do Lodo:
Nesta etapa o lodo é filtrado, reduzindo o volume de água, para que seja retirada mais uma parte da matéria sólida, que é submetida a outros processos de filtragem.
Digestão Anaeróbica:
O objetivo dessa etapa é estabilizar a mistura através de processos químicos no lodo remanescente, neutralizando bactérias e gases nocivos. Após essa etapa o esgoto já está sem sólidos visíveis e pode seguir para o tanque de aeração.
Tanque de Aeração:
Nesse tanque um processo bioquímico onde os resíduos orgânicos são transformados em gás carbônico, condensando a matéria orgânica que estava dissolvida no esgoto em flocos de lodo.
Condicionamento Químico do Lodo:
O lodo passa então por um processo de coagulação e desidratação, filtrando o lodo e retirando as partes sólidas do composto.
Filtro Prensa de Placas:
Novamente o lodo é filtrado por um processo de compressão mecânica, onde placas prensadas fazem todo o restante do líquido ser eliminado.
Secador Térmico:
Nesta última etapa o lodo restante é exposto a altas temperaturas, evaporando, desta forma, qualquer líquido ainda presente no material.
Esse lodo gerado nas ETEs – Estações de Tratamento de Esgoto deve ser encaminhado para aterros sanitários, onde serão armazenados de forma adequada. A água resultante do processo de tratamento de esgoto pode passar por uma nova etapa de tratamento para que seja convertida em água de reuso.
Gostou do nosso conteúdo e quer utilizar parte deste artigo? Não esqueça de nos citar! Saiba como colocá-lo nas referências:
FEC/UNICAMP. Tecnologias para Tratamento de Esgotos Sanitários. Biblioteca Didática de Tecnologias Ambientais da FEC – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~bdta/esgoto/sisttrat.html>.
Não existe jogar fora! Saiba como descartar corretamente seu lixo
Nos últimos meses, devido ao contexto que estamos atravessando, podemos perceber, de forma impactante, como a geração de lixo doméstico aumentou. E essa percepção realmente converge com a realidade em todo país. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduo domiciliar cresceu 10% no período de isolamento, devendo crescer ainda a 15% ou 20%.
Essa situação é bem preocupante tendo em vista que grande parte dos resíduos que geramos são descartados de maneira indevida. Por várias falhas – que começam desde a origem do produto, passando pelo consumidor e pelas esferas governamentais – ainda vemos resíduos que poderiam ser reciclados, reutilizados e compostados tendo a mesma destinação que o lixo.
As falhas se iniciam com a pouca adesão à logística reversa por parte das empresas. <Se formos considerar a economia circular, a falha começa ainda antes, quando os produtos não são projetados visando a reutilização de seus componentes.> Ainda é bem reduzida a quantidade de empresas que trabalham com logística reversa de todos os componentes dos produtos comercializados. Nós, os consumidores, também precisamos expandir nossa consciência em relação ao descarte de resíduos: não adianta pensar que o problema e a responsabilidade sobre a destinação final dos produtos consumidos terminada ao se “jogar o lixo fora”. Com relação às esferas governamentais, pode-se verificar que o problema se encontra nos poucos avanços percebidos desde a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) sancionada pela Lei 12.305/2010.
E o que podemos fazer para mudar esse cenário?
O primeiro passo seria buscar informações, nos educarmos ambientalmente a fim de termos maior consciência sobre o ciclo de consumo. O produto que adquirimos possui uma história e, não rara as vezes, percorre um longo caminho até chegar às nossas mãos. Ter essa percepção já nos ajuda a pesquisar melhor sobre o produto, a empresa e nos questionarmos se vale à pena – economicamente, socialmente e ambientalmente – adquirir tal produto. Pensando nos R’s da sustentabilidade: repensar, recusar e reduzir, consumindo apenas o essencial. Para saber mais sobre os “7 R’s da Sustentabilidade”,clique aqui.
O segundo passo é entender que o lixo doméstico, os resíduos sólidos que geramos, na verdade é composto de vários tipos de materiais que precisam ter a destinação adequada. E isso não apenas pela questão da preservação ambiental, mas também pela promoção e proteção da saúde, e pelos ganhos econômicos e sociais. O que entendemos como lixo é na verdade formado por diversos tipos de resíduos: matéria orgânica, material reciclável, resíduos eletrônicos e rejeitos.
Matéria Orgânica
A matéria orgânica é formada por tudo aquilo que tem origem biológica, ou seja, restos de alimentos (de origem vegetal, animal ou industrial), cascas, sementes, saches de chá e café, folhas de árvores.
Descarte adequado: a compostagem é o mais recomendado para esse tipo de resíduo, uma vez que, quando destinados a aterros (muitos ainda funcionam sem a estrutura adequada) podem se transformar em vetores para atração de animais e doenças. Mas o que seria a compostagem? A compostagem é a decomposição da matéria orgânica por microorganismos e animais invertebrados, como a minhoca, que ao se alimentarem desses resíduos geram adubo que pode ser usado para nutrir a terra e ajudar sua horta caseira a crescer ainda mais forte.
Material Reciclável
Essa parte dos resíduos domésticos é formada geralmente por embalagens: plástico, alumínio (refrigerante, cerveja, enlatados em geral), vidro (garrafas), papel (cadernos, cartas, correspondências), e isopor (embalagens). São facilmente reconhecidos pelo símbolo da reciclagem contido nas embalagens.
Descarte adequado: reciclagem! A reciclagem evita que esses materiais se acumulem em aterros levando décadas ou mesmo séculos para se decomporem (alguns tipos de plástico levam 400 anos para se decomporem no meio ambiente). Além disso, existe uma grande parcela desses materiais que são descartados em locais inapropriados, seja por falha de determinado estado que não desenvolveu seu Plano Estadual de Resíduos Sólidos – PERS, seja pela inexistência de coleta seletiva em determinados municípios, seja pelo desconhecimento da população sobre os perigos causados pelo descarte inadequado.
Resíduos Eletrônicos
Os resíduos eletrônicos são na verdade os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE), em outras palavras, são os produtos eletro-eletrônicos que utilizamos normalmente, como: computadores, celulares, TVs, geladeiras, carregadores, lâmpadas, máquinas de lavar, dentre outros.
Descarte adequado: Infelizmente, o descarte correto fica por conta unicamente do consumidor, já que, não há políticas voltadas para a coleta desses resíduos por parte de municípios e estados. Também não são todas as empresas que trabalham com a reciclagem e com a logística reversa de seus produtos. Então a dica é verificar se a marca da qual você adquiriu seu eletroeletrônico possui nos canais de comunicação com o cliente – SAC, site, aplicativos – programas voltados para a logística reversa e/ou reciclagem.
Rejeitos
Os rejeitos são formados pela parcela dos resíduos que não pode ser compostada, reciclada ou reutilizada, ou seja, esse é realmente o lixo que produzimos. É o que realmente deve ser destinado aos aterros sanitários, são exemplos: papel higiênico, fraldas descartáveis e absorventes.
Descarte adequado: os rejeitos devem ser destinados à coleta de lixo municipal, que encaminhará esse lixo aos aterros sanitários, onde o material será devidamente armazenado.
Dicas de leitura para você se informar melhor sobre a destinação adequada do lixo dos resíduos produzidos.
Drenagem pluvial: saneamento básico e controle de enchentes
Eventos climáticos extremos – como as enchentes – não são novidade, sempre existiram. Mas o que a comunidade científica vem evidenciando é que a maior regularidade tem relação muito próxima com as mudanças climáticas e as ações antrópicas, isto é, as ações causadas pela homem.
O impacto da mudança do clima aumentou a frequência tais eventos, tanto em termos de quantidade quanto de intensidade, afetando principalmente o regime de chuvas.
Aliado às mudanças climáticas, o planejamento urbano defasado e desordenado agrava ainda mais as enchentes. Há, nos grandes centros urbanos, uma excessiva impermeabilização do solo e a destruição de áreas verdes que são importantes para o equilíbrio do microclima local e por reter parte da chuva que cai no solo, evitando deslizamentos de terra, erosão e enchentes.
Por esta razão, é importante que os serviços de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas sejam implantados de maneira adequada e eficiente.
Apesar do sistema drenagem pluvial urbana passar despercebido pelos olhos da população e ficar à margem quando falamos de saneamento básico, ela desempenha papel fundamental para o bom funcionamento da cidade, principalmente em períodos com grandes quantidades de chuvas. Sua principal função é minimizar os problemas, como enchentes e deslizamentos de encostas – causados pelo excesso no nível de circulação da água.
O sistema de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas (DMAPU) é compostos por estruturas e instalações nas vias urbanas destinadas ao escoamento das águas das chuvas, tais como: sarjetas, bueiros (também chamados de bocas de lobo), galerias, dentre outras.
Esse sistema canaliza a água de modo a reaproveitar e redirecionar o fluxo para tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas, principalmente nas localidades em que possam ocorrer enxurradas e inundações.
Os serviços de DMAPU também abrangem os sistemas de alerta de riscos hidrológicos e os programas de educação ambiental. A combinação de todos esses serviços permite reduzir os impactos desencadeados pela ocorrência de eventos hidrológicos, como as precipitações.
O descarte irregular de lixo é um dos principais fatores que potencializam o agravamento da situação. Os resíduos que estão nas vias públicas acabam sendo levados pelas chuvas para as bocas de lobo e se acumulam na entrada do sistema, bloqueando o escoamento da chuva pela rede de drenagem. Desta forma, com os bueiros entupidos, a água se acumula e provoca alagamentos, sendo esse um dos principais fatores causadores de enchentes.
Por isto, é importante que se evite obstruir os bueiros através de boas práticas: não descarte lixo nas ruas, nem mesmo uma bituca de cigarro ou um pequeno pedaço de papel, pois em algum momento esses resíduos chegarão nas bocas de lobo, unir-se a outros resíduos maiores e menores e contribuir para o entupimento do sistema de drenagem.
Outro fator que amplia o problema é colocar os sacos de resíduos nas ruas fora do horário de coleta. Quando os sacos são colocados nas calçadas em horários irregulares, eles podem ser arrastados pelas chuvas. E aí, podem entupir bueiros e outras saídas para escoamento da água. Assim, consulte o serviço de coleta da sua cidade para saber os dias e horários em que deve retirar o lixo de casa.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
SOUZA, L. B. Leonardo. Drenagem pluvial: saneamento básico e controle de enchentes. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/drenagem-pluvial-saneamento-basico-e-controle-de-enchentes.html>.
Startup de SP cria sistema que “combate” perdas hídricas através de Inteligência Artificial
O saneamento básico enfrenta dificuldades diversas e que vão além dos quase 35 milhões de brasileiros sem o acesso ao abastecimento de água ou aos quase 100 milhões de brasileiros que não têm acesso à coleta de esgoto.
As perdas hídricas são um dos graves problemas de eficiência no setor, que compromete a qualidade dos serviços para o cidadão e a própria sustentabilidade financeira dos operadores. Seu combate nos sistemas de distribuição é uma das ações menos priorizadas no setor de saneamento, mesmo após as sucessivas crises hídricas que enfrentamos nos últimos anos.
Podemos dividir as perdas hídricas em duas categorias:
As perdas físicas ou reais: correspondem aos volumes de água que não são consumidos, por serem perdidos através de vazamentos em seu percurso, desde as estações de tratamento de água até os pontos de entrega nos imóveis dos clientes. Esses vazamentos ocorrem, principalmente, devido ao desgaste das tubulações;
As perdas não físicas ou aparentes: correspondem aos volumes de água que são consumidos, mas não são contabilizados pela empresa, principalmente devido às irregularidades (com fraudes e ligações clandestinas, os chamados “gatos”), e à submedição dos hidrômetros.
Segundo o Instituto Trata Brasil, em 2018, de toda a água tratada distribuída no Brasil para garantir o consumo, 38,45%, em média, não chegaram de forma oficial a ninguém. Se perdeu em vazamentos, roubos (“gatos”), fraudes, erros de leitura dos hidrômetros, entre outros problemas. Isto significou perda de 6,5 bilhões de metros cúbicos, equivalente a 7,1 mil piscinas olímpicas de água potável por dia.
Pensando nisso, uma startup paulista, a Stattus4, desenvolveu um sistema de monitoramento da rede de abastecimento em tempo real para detectar vazamentos e reduzir estas perdas físicas ou reais de água potável.
Mas como o sistema funciona?
O projeto funciona a base de sensores fixos e móveis que identificam pontos suspeitos de vazamento e enviam em tempo real os dados para um software. O resultado é apresentado em um painel do software com inteligência artificial e integrado ao Google Maps.
Ao cruzar os dados como histórico de pontos, dados de pressão e leitura de consumo, são emitidos alarmes e dando suporte à tomada de decisão, para que o tempo de envio da equipe de campo aos locais de vazamento seja otimizado.
A Stattus4 nasceu na incubadora do Parque Tecnológico de Sorocaba e já opera em mais de 28 cidades do Brasil, atendendo mais de 6 milhões de habitantes e ajudando as empresas distribuidoras de água a reduzirem suas perdas.
Seu case de maior sucesso é a redução de 41% de perda de água para 18% na rede de distribuição da cidade de Santa Barbara D’Oeste, no interior de São Paulo.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
SOUZA, L. B. Leonardo. Startup de SP cria sistema que “combate” perdas hídricas através de Inteligência Artificial. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/startup-sp-perdas-hidricas.html>.
O que é Saneamento Básico? Entenda como funciona essa importante ferramenta de proteção à saúde humana e ambiental
O saneamento básico, como a própria denominação já expõe, é a infraestrutura básica para a garantia de qualidade de vida e de desenvolvimento social e econômico da população. E mais que isso, desde 2010 no cenário supranacional, o acesso à água potável e ao saneamento básico são entendidos como parte integrante dos direitos humanos pela Assembléia Geral da ONU. E em 2015 essa relevância foi reafirmada através da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU, onde o assunto ganhou um ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) totalmente dedicado ao tema, o ODS 6 – Água Potável e Saneamento, que visa assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.
No Brasil, o saneamento básico é entendido como parte do setor de infraestrutura, tendo em vista, principalmente, as obras envolvidas para implantação de estruturas que possibilitam a prestação desses serviços, como por exemplo, a construção e implantação de redes adutoras, redes de abastecimento, redes coletoras e coletores troncos. Além disso, a área de saneamento, fruto da engenharia sanitária, também cumpre o papel de política social tendo em vista a garantia da saúde da população e o consequente desenvolvimento social e econômico.
Já entendemos a importância do saneamento básico, mas será que sabemos realmente o que ele engloba? É comum associarmos saneamento básico ao abastecimento de água potável e ao esgotamento sanitário. Mas o saneamento vai além, incluindo também a drenagem e manejo de águas pluviais, e a limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos. Tudo isso normalizado e garantido pela Lei nº 11.445/2007, também conhecida como Lei de Diretrizes Nacionais de para o Saneamento Básico (LDNSB). Esta lei é considerada o Marco Legal do Saneamento no país, pois estabeleceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico.
Então quando falamos em Saneamento Básico estamos falando de:
1. Abastecimento de água potável:
Que é constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição.
Que corresponde às atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente.
Ou seja, o esgotamento sanitário envolve as estruturas e os serviços necessários para coletar, transportar (até uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto), tratar e devolver de forma adequada o esgoto ao meio ambiente. Essa componente do saneamento básico é a que mais traz preocupação, tendo em vista o grau de poluição e contaminação de rios, córregos, lagoas, lençóis freáticos e demais corpos hídricos em todo o país. Para saber mais sobre o assunto, acesse nosso artigo “Você sabe quais os perigos do esgoto não tratado para o consumo de água?”, clicando aqui.
3. Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos:
Envolve o conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.
Isto é, essa componente do saneamento básico diz respeito à coleta, tratamento e destinação correta daquilo que comumente denominamos como lixo. Mas não se engane! Apenas uma parcela muito pequena dos resíduos que geramos é realmente lixo, ou seja, resíduos que não são recicláveis, a maior parte desses resíduos é composta por matéria orgânica e resíduos recicláveis. Isso significa dizer que a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos corresponde à reutilização, à reciclagem, à compostagem, à recuperação e ao aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes, tudo isso previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Para entender melhor, acesse nosso artigo “Você sabe o que é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e como ela impacta diretamente na reciclagem?”, clicando aqui.
4. Drenagem e Manejo das Águas Pluviais:
Que engloba também a limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas. Corresponde ao conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.
Em outras palavras essa componente corresponde a toda estrutura para a adequada coleta e drenagem de águas originárias de precipitações (chuvas). A existência de redes de águas pluviais separadas das redes de esgoto é essencial para evitar a contaminação dos corpos hídricos, além de evitar recorrentes problemas como as enchentes. Em um contexto de agravamento de mudanças climáticas que dentre outros efeitos em nosso país, afeta severamente o regime de chuvas, é importante que a drenagem e o manejo de águas pluviais sejam implantados e desenvolvidos de forma adequada, evitando assim quadros de enchentes com perdas materiais e de vidas.
Todas essas componentes se comunicam e fazem parte de um grande ciclo de proteção à saúde humana e ambiental. Explicando mais detalhadamente: quando são garantidos a coleta e o tratamento de esgoto, os efluentes que chegam aos corpos d’água não causam degradação dos recursos hídricos, o que garante o futuro uso dos mesmos para consumo humano e demais usos, como na agropecuária e indústrias. O mesmo raciocínio acontece com os resíduos sólidos urbanos, que tendo a devida destinação e tratamento não se acumularam em locais inapropriados como lixões clandestinos ou bueiros urbanos ou margens e cursos de rios, córregos e baías, por exemplo. Evitando, neste caso, além da contaminação da água, também a contaminação do solo e o entupimento de bueiros, este último inviabiliza o escoamento das águas pluviais. E a drenagem de águas pluviais é essencial para o escoamento da chuva evitando enchentes e garantindo a segurança das populações nas situações de grande volume de precipitações.
E o que garante o saneamento básico no país?
Além da Lei de Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico (LDNSB), há também o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) – eixo central da política federal de saneamento básico – que são importantes instrumentos para a viabilização da universalização do saneamento básico no país.
Mas como o saneamento básico é feito na prática?
Através de políticas públicas desenvolvidas pelos governos estaduais, pelos governos municipais ou por empresas que detém, através de concessão, a outorga dos serviços de saneamento (em outras palavras, essas empresas recebem dos municípios a permissão e o direito para gerirem o saneamento desses municípios). Assim, através de políticas públicas, os governos e empresas criam – de forma isolada ou coordenada – projetos, planos e ações que visam ao atendimento dos serviços de saneamento básico.
Geralmente essas políticas públicas aproximam componentes que tratam de serviços que se ligam de maneira direta, como por exemplo, abastecimento de água e esgotamento sanitário. No entanto, também existem as políticas públicas direcionadas diretamente a uma das componentes, sendo comum projetos e planos voltados exclusivamente para melhoria do abastecimento de água, do manejo de resíduos sólidos, por exemplo.
É importante entender que cada política pública é única e que em um município pode haver várias políticas públicas em execução simultaneamente, visando diferentes territórios para execução, assim como temáticas distintas sobre saneamento básico. E como saber o que está sendo feito na minha cidade? Acessando os sites da prefeitura municipal, do governo estadual e das empresas responsáveis pelos serviços de saneamento. É essencial buscar esse tipo de informações para que possamos melhorar o atendimento desses serviços através da cobrança e pressão popular sobre as instituições responsáveis pelos serviços de saneamento na nossa cidade, no nosso estado e em todo país.
E um lembrete fundamental: estamos em ano de eleições municipais. Pesquise, se envolva, procure buscar o máximo de informações possíveis sobre as propostas de seu candidato. Um país melhor e mais sustentável depende de cada um de nós.
Gostou do nosso conteúdo e quer utilizar parte deste artigo? Não esqueça de nos citar! Saiba como colocá-lo nas referências:
Em tempos de degradação de ambientes naturais, como o desmatamento e as queimadas que estão ocorrendo no Brasil, é cada vez mais necessário pensar em formas de recuperar os ecossistemas. A revitalização ambiental não se resume a encher determinado local com árvores e algumas plantas menores. Até porque, se fosse assim, os imensos eucaliptais, bosques de acácia e pinus que encontramos na beira das estradas seriam áreas recuperadas, certo? Na verdade, essas monoculturas arbóreas são verdadeirosdesertos verdes, já que não permitem o desenvolvimento de complexidade na vegetação, de forma que poucos nichos ecológicos são possíveis e a diversidade biológica é muito baixa.
O excesso de árvores, especialmente se essas são sempre das mesmas espécies, e o ambiente seco (ou marcado por uma estação seca pronunciada), além de consumir muita água do solo da região, praticamente inviabiliza o crescimento de plantas arbustivas e herbáceas em quantidade apreciável, que são habitat da fauna de pequeno porte, como insetos polinizadores. Também não há abundância de anfíbios, répteis e pequenos mamíferos, já que a estrutura vegetal não fornece abrigo e recursos para a sobrevivência desses animais. O resultado é uma imensidão verde, com pouquíssimos animais e sem relevância ecológica.
Quando falamos de restauração ou recuperação ambiental, temos que nos preocupar com a qualidade do processo. Então, como saber se determinada área está bem recuperada ou restaurada? Primeiramente, essa avaliação só deve ser feita oficialmente por um profissional habilitado (biólogo e engenheiro florestal, por exemplo), uma vez que, envolve conhecimentos específicos e complexos e a tomada de decisão técnica. Mas todos, como cidadãos, devemos ter opinião e embasamento para fazer julgamentos.
Um ponto muito importante é se essa revitalização foi feita com espécies nativas. Arborizar um ambiente com muitas árvores exóticas pode cumprir funções estéticas e de redução do fenômeno das ilhas de calor, por exemplo, mas não são relevantes para a saúde do bioma da região, uma vez que, além de não cumprirem vários serviços ecossistêmicos, podem se tornar invasoras, como ocorre com as leucenas no arquipélago de Fernando de Noronha. Neste caso, especificamente, a intenção inicial não era estética, mas como fonte de alimentação para os animais da região. No entanto, a planta se espalhou por áreas não previstas e, por se tratar de ilhas oceânicas, o impacto é ainda maior e de proporções altamente destrutivas para a flora nativa.
É importante, também, a preocupação com o sub-bosque das florestas, que é abrigo e fonte de alimentação de boa parte dos animais do ambiente. Uma área recuperada ou restaurada deve ter, via de regra, plantas lenhosas abaixo do dossel e outras herbáceas mais abaixo, configurando os estratos da vegetação. Essa diferenciação altimétrica, junto com florações e frutificações diversas, permite que o ambiente abrigue maior riqueza de espécies e a ocorrência dos processos ecológicos necessários para sua manutenção. Essas características são mais aplicadas a fitofisionomias florestais, mas é possível adaptar para as savanas e campos.
Especialmente nos últimos anos, em que os temas ambientais ganharam grande destaque na agenda política, é importante a população ter noções básicas desse assunto para embasar suas opiniões e escolhas e serem menos reféns de especialistas enviesados. Quando tiverem contato com notícias ou, principalmente, com a área revitalizada propriamente dita, algumas considerações podem ser feitas como primeira impressão e o julgamento consciente contribui para o poder de fiscalização de todos.
SILVEIRA, Evanildo. Antes vista como ‘milagrosa’, planta invasora e perigosa se espalha por Fernando de Noronha. BBC Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-50951141>.
Sugestão de Leitura:
Mazer, G. P; Christoffoli, P. I.. Impactos do agronegócio florestal no Guilherme Pedrollo Mazer território caminhos do Tibagi – PR. In: Campo Território: Revista de Geografia Agrária, v. 15 n. 35 Abr. (2020). Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/index>.
Oliveira, Caroline Barbosa Souza de. A ECOLOGIA É “IN LOCO” E NÃO INTERNACIONAL: A participação das empresas de papel-celulose na promoção de um Desenvolvimento Sustentável em Três Lagoas. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). 2020 – Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2020. Disponível em: <http://clyde.dr.ufu.br/bitstream/123456789/29190/3/EcologiaInLoco.pdf>.
VIEIRA, Camila Alves. Impactos da monocultura do eucalipto sobre o ambiente no Território Barra Velha na visão do povo Pataxó. TCC (Licenciatura em Ciências da Vida e da Natureza). 2019 – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, 2019. Disponível em: <https://www.biblio.fae.ufmg.br/monografias/2019/TCC-Camila.pdf>.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
Paiva, Leonardo. Florestas ou Desertos Verdes?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/florestas-ou-desertos-verdes.html>.
Educação e Sustentabilidade Financeira: entenda a importância do Planejamento
Estamos em um momento perfeito para falar sobre dinheiro, você não acha? O momento da prova dos nove, do teste. Você estava preparado para enfrentar este momento? Seu financeiro tinha sustentabilidade para suportar um momento como este? Pois é, sustentabilidade não tem a ver apenas com o nosso habitat, mas também com a forma como vivemos nele. Cada decisão afeta o todo de algum modo e por isso, quando dizemos que buscamos uma vida sustentável, estamos falando de todos os aspectos, inclusive do financeiro.
As placas de venda em porta de estabelecimentos comerciais estão pipocando em todas as cidades. Muitos comerciantes que, antes da Covid-19, já estavam pensando em como resolver sua situação financeira, perceberam que esta se tornou inviável. Os profissionais liberais que dependiam de atendimento presencial ficaram sem chão. Famílias estão optando por mudar para um apartamento mais barato. Estamos passando por uma crise sanitária com sérias consequências financeiras.
O momento mexeu no cerne dos orçamentos de todos, mesmo aqueles que possuíam um controle financeiro tiveram que fazer adequações. Ninguém esperava um momento como este. Mas há pessoas que estão conseguindo se reinventar e outras que se mantiveram estáveis neste momento. O que elas têm de diferente? O que fizeram para conseguir? Sorte? Muito dinheiro em caixa? Nestas horas somos pegos facilmente pela raiva e deixamos de prestar atenção nos exemplos que poderiam nos inspirar.
O dinheiro simboliza para muitos o suor e esforço de um mês todo de trabalho. É algo que precisamos respeitar, cuidar, guardar. Depois de tanto esforço, desperdiçar meu rico dinheirinho? Não! Por outro lado, ele também se tornou nossa compensação: já que nos esforçamos tanto, agora merecemos algo muito bom, ainda que custe caro.
Os problemas que ele traz são, na verdade, uma consequência do modo como o utilizamos (com ou sem sustentabilidade). É comum a falta de controle, a confusão entre dinheiro pessoal e dinheiro do negócio próprio (ao não separar vida financeira pessoal da vida financeira de negócios) e as concessões em favor do nosso bem estar. Nesse momento de reavaliação e “mea culpa”, percebemos exatamente onde estava o furo da nossa contabilidade. Faltou planejamento, faltou visão de longo alcance, faltou acreditar que poderia acontecer algo inesperado. Ou seja, tínhamos uma vida financeira insustentável a longo prazo. Ponto.
Uma ferramenta importantíssima que nos auxilia a ter controle e a garantir a sustentabilidade de nossa vida financeira é o planejamento. Colocar na ponta do lápis, sabe? Está valendo aplicativo e planilha de Excel. Também ainda vale um bom e velho livro caixa. Você deve estar se perguntando: “Tem certeza que isto é necessário?”. Sim, afinal, quem não é visto não é lembrado, e isso serve para os seus gastos e também para os seus sonhos.
O planejamento não é apenas anotar suas entradas e saídas e ter seu fluxo de caixa. Planejar é entender suas decisões, como, por exemplo, “Por quais motivos eu mantenho um gasto elevado com um escritório próprio?”; “Qual razão me fez comprar aquele presente caro?”; “O que me faz gastar uma parcela do dinheiro que eu sei que não deveria?”.
Planejamento é perceber como você:
gerencia seus recursos financeiros;
fixa metas de gastos;
pensa sobre as entradas e se elas se manterão;
imagina cenários futuros: se tudo correr bem e também se não correr bem (se você conseguirá manter meu salário, mas também, se planejará para o caso de perder o emprego);
pensa em seus sonhos, ou seja, como você programa os passos que precisará dar até alcançá-los, criando as condições para que eles aconteçam.
Planejar ajuda a ter um relativo controle e segurança nestes momentos. Afinal, todos já sabem o que farão quando o primeiro milhão chegar. Mas quantos planejaram o que fazerem momentos de crise? Planejar significar ter uma preparação em algum nível. E mesmo que não tivéssemos condições de prever algo da magnitude que ocorreu com a economia, ao menos já teríamos pensado em como resolver uma situação de desemprego, por exemplo. Já podemos sentar com a família e pensar o que é realmente importante e o que pode ser cortado nesse momento. Além da nossa responsabilidade pessoal, muitas vezes ainda somos responsáveis pela vida de familiares, empregados e suas famílias. Quanto mais planejarmos, menos pesada a carga da responsabilidade se tornará.
Conta pra gente como você percebe a sustentabilidade financeira. Dinheiro e sustentabilidade fazem sentido para você?
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
STEFFEN, Janaína. Educação e Sustentabilidade Financeira: entenda a importância do Planejamento. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/educacao-e-sustentabilidade-financeira-entenda-a-importancia-do-planejamento.html>.
9ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental exibe de graça e online 98 filmes de 24 países
Começa hoje a 9ª Mostra Ecofalante de Cinema – são mais de 98 títulos de 24 países diferentes. Todas as atividades serão totalmente online e gratuitas e, acontecem de 12 de agosto a 20 de setembro.
A grade de programação (https://ecofalante.org.br/programacao) prevê novidades diárias, com até 11 diferentes sessões por dia. Ao longo das seis semanas do evento, os títulos ficam disponíveis sempre às 15h00, por períodos de 24 horas, com até cinco dias de exibições cada um.
Todas as exibições e entrevistas poderão ser acessadas na plataforma Ecofalante pelo site www.ecofalante.org.br e os debates serão transmitidos ao vivo na página da Mostra no Facebook (facebook.com/mostraecofalante) e no seu canal do Youtube (youtube.com/mostraecofalante). Os filmes também poderão ser acessados pela Videocamp e pela Spcine Play.
Além dos tradicionais programas, serão realizados debates virtuais sempre às quartas-feiras e sábados, reunindo ativistas, cientistas e especialistas que discutem, entre outros temas, ativismo, consumo, economia, emergência climática, povos e lugares, tecnologia e trabalho.
Entre os convidados estão a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, a ativista Preta Ferreira (MTST), Rodrigo Agostinho (Frente Parlamentar Ambientalista), Malu Ribeiro (Coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Ailton Krenak (liderança indígena), Ricardo Abramovay, professor de ciência ambiental na USP e sociólogo, Fabiana Alves (especialista de mudanças climáticas do Greenpeace Brasil), a ativista e jornalista Rebeca Lerer, Mário Mantovani (SOS Mata Atlântica), Paloma Costa Oliveira (Coordenadora do Engajamundo e assessora do ISA), o sociólogo Ricardo Antunes, Eduardo Santos, ativista vegano (Vegano Periférico), Rita von Hunty (do canal YouTube Tempero Drag) e Fábio Malini (professor e pesquisador sobre ciência de dados da Universidade Federal do Espírito Santo).
Panorama Internacional Contemporâneo
Com 31 produções, sendo 16 obras inéditas no pais, o “Panorama Internacional Contemporâneo” traz representantes de 16 países. Sua programação é organizada em sete eixos temáticos: Ativismo, Consumo, Economia, Emergência Climática, Povos e Lugares, Tecnologia e Trabalho.
Competição Latino-Americana
Com um total de 25 títulos com temática socioambiental, produzidos na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia e Peru, a Competição Latino-Americana reúne sete obras inéditas no Brasil e outras três nunca exibidas em festivais. O melhor longa-metragem é premiado com R$ 15 mil e o melhor curta ou média-metragem com R$ 5 mil, categorias que recebem também o prêmio do público.
Concurso Curta Ecofalante
O Concurso Curta Ecofalante reúne curtas-metragens produzidos por estudantes. Concorrem ao prêmio de melhor filme, no valor de R$ 4 mil, além do prêmio do público, 24 produções. Nesta edição, que tem apoio do WWF-Brasil, os filmes inscritos precisavam abordar temáticas relacionadas a pelo menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU na Agenda 2030 – são 17 objetivos que abrangem temas como erradicação da pobreza, saúde de qualidade, combate às mudanças climáticas e igualdade de gênero.
Clássicos e Premiados
Programa novo da Mostra, o Clássico e Premiados traz 18 filmes considerados clássicos do cinema socioambiental brasileiro ou que foram premiados em eventos no Brasil e no exterior. São documentários e longas-metragens de ficção produzidos entre 1974 e 2018.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
SOUZA, L. B. Leonardo. 9ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental exibe de graça e online 98 filmes de 24 países. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/9-mostra-ecofalante-de-cinema-ambiental.html>.
Iniciativa leva energia elétrica e qualidade de vida para comunidades da Amazônia a partir de energia solar
Entre os habitantes da região amazônica, se encontram as comunidades tradicionais e rurais, que se dispersam ao longo das florestas, principalmente na calha de rios que propiciam aos habitantes possibilidade de locomoção e alimentação. Muitas dessas comunidades, por conta de seu isolamento geográfico, encontram-se, também, isoladas do ponto de vista do abastecimento elétrico. A baixa demanda por energia para fins de produção e uso residencial faz com que o atendimento se torne pouco atrativo para as concessionárias de energia, o que inviabiliza o atendimento, já que, há elevado custo para novas linhas de transmissão de energia.
Embora o Governo Federal tenha lançado em novembro de 2003 o “Programa Luz para Todos”, a realidade dessa população continua quase inalterada em muitas questões.
O Brasil ainda está longe de alcançar a universalização do acesso à energia elétrica, apresentando grandes entraves para alcançar o ODS 7 – Energia Acessível e Limpa proposto pela Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) [1]. Em 2019, a estimativa é que o número de pessoas fora do Sistema Interligado Nacional (SIN) na Amazônia Legal [2] é de 990 mil habitantes. Neste mesmo ano, o Ministério de Minas e Energia anunciou que será necessário de 7 a 10 anos para o atendimento de 72 mil famílias nessa região e que desde o início do programa, apenas 3 mil famílias dessas áreas foram atendidas por meio do programa Reserva Extrativista Verde para Sempre no Pará.
Buscando mudar essa realidade organizações não-governamentais (ONGs) sem fins lucrativos vêm promovendo projetos visando à melhoria da qualidade de vida das populações tradicionais ali existentes através do uso de energia solar. Essa fonte de energia limpa e renovável é usada para bombeamento de água para abastecimento doméstico, iluminação pública, eletrificação de escolas, postos de saúde e centros comunitários.
Dentre essas ONGs está o Projeto Saúde & Alegria que já executou junto a essas comunidades diversos projetos de energias renováveis, dentre os quais se destaca a eletrificação rural de sistemas domiciliares.
Projeto piloto com energia solar
O projeto de eletrificação rural ocorreu na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Resex) – as instalações foram iniciadas em 2017 e a inauguração ocorreu em 2018. O território em questão apresenta área de quase 650 mil hectares [3]e está localizado entre dois municípios do oeste paraense – Santarém e Aveiro. É a reserva mais populosa do Brasil, com cerca de 22 mil habitantes distribuídos em 74 comunidades, em sua maioria, compostas por populações tradicionais que vivem em geral do extrativismo e da agricultura de subsistência.
O projeto piloto foi pensado no sistema de eletrificação rural isolado que garantisse os padrões mínimos de atendimento estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), ou seja, Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes – SIGFI 13 (consumo diário de referência 435 Wh/dia, autonomia mínima 2 dias, potência mínima disponibilizada 250 W, disponibilidade mensal garantida 13 KWh).
A comunidade de Carão antes de receber o projeto de energia solar contava apenas com a disponibilidade de um grupo gerador a diesel que fornecia energia aos comunitários entre os horários de 19 às 22h. Porém o grupo gerador apresentava muitos problemas funcionais por se tratar de equipamentos com tecnologias defasadas, com difícil acesso à assistência técnica, alto preço de combustível, condições inadequadas para o transporte do diesel (solução inflamável) em embarcações com contato direto com pessoas, entre outros.
Com a implantação do projeto piloto de energia solar para eletrificação rural das comunidades, os 21 domicílios da comunidade de Carão receberam kits com dois painéis solares de 150W e armazenador de energia para garantir o acesso a eletricidade durante o dia e a noite. Dessa forma, a implantação desses sistemas colaborou para o desenvolvimento socioambiental local promovendo a melhoria da qualidade de vida dessas populações.
[1] O ODS 7 – Energia Acessível e Limpa se propõe a assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.
[2] A Amazônia Legal, conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é formada por 52 municípios de Rondônia, 22 municípios do Acre, 62 do Amazonas, 15 de Roraima, 144 do Pará, 16 do Amapá, 139 do Tocantins, 141 do Mato Grosso, bem como, por 181 Municípios do Estado do Maranhão situados ao oeste do Meridiano 44º, dos quais, 21 deles, estão parcialmente integrados à Amazônia Legal. Possui uma superfície aproximada de 5.015.067,749 km², correspondente a cerca de 58,9% do território brasileiro.
[3] 1 ha (hectare) equivale a uma área de 10.000m².
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
COSTA, Tatiane. Iniciativa leva energia elétrica e qualidade de vida para comunidades da Amazônia a partir de energia solar. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/iniciativa-leva-energia-eletrica-e-qualidade-de-vida-para-comunidades-da-amazonia-a-partir-de-energia-solar.html>.