Viajar de avião é sustentável?
Já abordamos a temática de turismo sustentável em várias matérias em nosso site, todas elas mostrando, de alguma forma, como ser um turista consciente de suas responsabilidades com os locais visitados, seja em relação aos impactos causados ao meio ambiente ou às comunidades locais.
No entanto, é necessário abordar uma dimensão do setor de turismo, muito utilizada para chegar aos nossos destinos, que é grandemente responsável pela emissão de dióxido de carbono (CO2) (o gás de efeito estufa (GEE) mais presente na atmosfera e grande responsável pelo aquecimento global) [1], e indiscutível colaborador das mudanças climáticas, a aviação civil.
A previsão para os próximos anos é que o setor de aviação civil sofra um aumento considerável das emissões de GEE, fator preocupante tendo em vista os efeitos já em curso das mudanças climáticas. E o que fazer diante deste cenário? Para viagens de curtas distâncias, o ideal seria optar por outros meios de transporte menos poluentes que os aviões como trens e ônibus. No entanto, no Brasil esbarramos em vários obstáculos quando consideramos essa substituição, a falta de infraestrutura, e mesmo a quase inexistência do modal ferroviário.
A nível internacional, a preocupação com as emissões de carbono no setor da aviação civil vem suscitando a busca por biocombustíveis e combustíveis não poluentes. Além disso, desde outubro de 2016, que a ICAO – International Civil Aviation Organization (em português: Organização de Aviação Civil Internacional (OACI)) [2] aprovou resolução que define as diretrizes regulatórias para um esquema global de compensação de emissões de carbono (CO2) para o transporte aéreo internacional. A GMBM (Global Market-Based Measure) é uma iniciativa que tem por finalidade promover o crescimento neutro de CO2 da aviação civil internacional a partir de 2020 [3].
Segundo a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, principal órgão técnico responsável pelo desenvolvimento das SARPs (Standard and Recommended Practices) no âmbito da ICAO, a iniciativa do GMBM [4] será dividida em duas fases tendo duração de 15 anos. A primeira fase entrará em vigor em 2021 e se findará em 2026 e possui caráter voluntário. Já a segunda fase que se iniciará em 2027 será compulsória para todos os países cuja indústria de transporte aéreo internacional esteja acima do limite mínimo estabelecido (0,5% RTK global). Infelizmente, já foi anunciado que o Brasil pretende aderir ao acordo apenas a partir de 2027.
Apesar deste último fato, o Brasil vem investindo no mercado de biocombustíveis para a aviação buscando além de soluções para descarbonizar o setor, sair na vanguarda garantindo a posição de grande player e o consequente retorno econômico. De olho nessa promissora oportunidade Embraer e Boeing estabeleceram parceria para o estabelecimento de uma cadeia de biocombustíveis sustentáveis para a aviação. Em 2015 foi criado o Centro Conjunto de Pesquisa em Biocombustíveis Sustentáveis de Aviação, que juntamente com o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), desenvolvem estudo para a criação de biorrefinarias a partir de usinas de cana-de-açúcar [5].
É louvável a iniciativa brasileira para a produção de biocombustíveis, apenas devemos ficar atentos ao caráter do uso de terras para essa finalidade, uma vez que, para o cultivo de cana-de-açúcar são necessárias vastas extensões de terra, o que acaba gerando custos ambientais. Outro fato que é necessária atenção é o desenvolvimento de outros tecnologias de produção de combustíveis não poluentes como os combustíveis power-to-liquid (eletricidade para líquido – PtL), que apesar de ainda caros se apresentam como possível solução para os custos ambientais gerados pelos biocombustíveis.
[1] ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Biocombustíveis de Aviação. Para acessar a matéria, clique aqui.
[2] A ICAO é a agência especializada das Nações Unidas responsável pela promoção do desenvolvimento seguro e ordenado da aviação civil mundial, por meio do estabelecimento de normas e regulamentos necessários para a segurança, eficiência e regularidade aéreas, bem como para a proteção ambiental da aviação. Com sede em Montreal, Canadá, a ICAO é a principal organização governamental de aviação civil, sendo formada por 191 Estados-contratantes e representantes da indústria e de profissionais da aviação. Para saber mais, clique aqui.
[3] ANAC, Agência Nacioal de Aviação Civil. Brasil apoia aprovação de resolução para redução de emissões de CO2 na aviação. Para acessar a matéria, clique aqui.
[4] O acordo aprovado na ICAO prevê uma ‘abordagem dinâmica’ (chamada de dynamic approach) para a forma de cálculo das compensações que terão que ser pagas pelas empresas aéreas dos países participantes. As obrigações de compensações serão inicialmente calculadas a partir do percentual global de crescimento da indústria de transporte aéreo internacional. Nesse caso, por exemplo, será calculado o percentual de emissões das que partem ou chegam do Brasil no mercado internacional e esse valor será dividido pelas empresas aéreas de acordo com a participação de mercado de cada empresa. A partir de 2029, as obrigações de compensação serão computadas por meio de um indicador que considera a taxa global de crescimento da indústria dividida de acordo com o percentual de crescimento individual de cada empresa.
[5] G1. Boeing destaca parceria com Embraer para desenvolver biocombustível. Para acessar a matéria, clique aqui.
Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:
ABREU, Nathália. Viajar de avião é sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2018/12/viajar-de-aviao-e-sustentavel.html>.