Estamos preparados para viver mais?
O progresso da ciência trouxe consigo um desafio para a humanidade: aprender a ser um longevo. É uma grande conquista, sem dúvidas. Mas será que estamos preparados para viver até os 100 anos?
O ritmo da vida segue um roteiro a que já tínhamos acostumado. Nosso tempo de trabalho, geralmente, vai até os 60 anos (dependendo do sexo e da regra de aposentadoria), depois aposentamos e vamos descansar. Mas nem sempre é assim…
Muitos já estão vivenciando uma diferença nessa rota: continuar trabalhando, já que, o valor da aposentadoria não mantém o padrão de vida. E a tendência é que essa realidade se expanda muito mais. Até porque, como fica o senso de utilidade daquela pessoa que vai passar os “últimos anos” de vida “sem fazer nada”? Não basta viver mais, precisamos ter saúde e qualidade de vida para aproveitar o tempo extra que conquistamos.
Se vamos nos manter no mercado de trabalho por mais tempo, muitas outras variáveis aparecem. Em algumas profissões, o cabelo branco é sinônimo de experiência e credibilidade. Mas será necessário que tenhamos mais espaço de trabalho, voluntário ou remunerado, para aqueles com mais de 60 anos.
E a sustentabilidade financeira? Se vamos viver até 100 anos e aposentar por volta dos 60 anos, poupamos o suficiente durante a vida laborativa para sustentar 40 anos de inatividade? Os planos de saúde e a previdência social precisarão adequar seus cálculos, pois manter o amparo para cidadãos por muito mais tempo terá suas implicações.
Em vários países, as aposentadorias já acontecem em idades mais avançadas (70, 75 anos). No entanto, já sabemos que dependendo da qualidade de vida, um paulista, por exemplo, pode ter uma expectativa de vida de 59 anos (em áreas mais pobres, com menos acesso à saúde preventiva) ou de 82 anos (em áreas mais abastadas) [1].
São muitas as variáveis que são afetadas pelo aumento da longevidade. Todos teremos que nos preparar para a possibilidade de viver além do que programamos. É uma mudança de visão, pois o nosso consumo gera falta de reservas para o futuro. E o futuro será um momento de colheita dos nossos investimentos na nossa saúde física e mental, na nossa segurança financeira, no nosso roteiro de vida.
[1] Idade média ao morrer na cidade de São Paulo, segundo Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo: Itaim Bibi e Jardim Paulista são os distritos que têm o melhor indicador (82 anos). Anhanguera, no extremo da Região Norte, o pior (59 anos). A diferença entre eles é de 23 anos.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
STEFFEN, Janaína. Estamos preparados para viver mais?. Autossustentável. Disponível em: < >.
Referências e Sugestões de Leitura:
GRATTON, Lynda; SCOTT, Andrew J. The 100-Year Life: Living and Working in an Age of Longevity. Londres: Bloomsbury Publishing, 2016.
REDE NOSSA SÃO PAULO. Idade média ao morrer em São Paulo e capitais. Mapa da Desigualdade, 2024. Disponível em: <https://www.nossasaopaulo.org.br/2024/08/20/idade-media-ao-morrer-em-sao-paulo-e-capitais/>.
TAVARES, Mariza. ‘A primeira onda foi envelhecer; a segunda é envelhecer bem’, diz economista, 2024. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2024/05/09/a-primeira-onda-foi-envelhecer-a-segunda-e-envelhecer-bem-diz-economista.ghtml>.