O Rio De Janeiro e o Planejamento Urbano Mercadológico

Fonte: REUTERS/Ricardo Moraes

A cidade do Rio de Janeiro passa por significativas transformações urbanas por conta da realização de megaeventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Trata-se do conceito de cidade-empresa em que o planejamento urbanístico segue a lógica do mercado e de empresários.
Não se trata de fato novo. Cidades como Londres, Paris e Barcelona também foram redimensionadas sob o fundamento da preparação de eventos [1].
Na cidade maravilhosa, a década de 1990 marca ponto inicial desse processo, tendo Barcelona como exemplo através da revitalização da zona portuária e o reaquecimento do turismo local em função das Olimpíadas de 1992. Anos mais tarde, a confirmação do Rio de Janeiro como sede do evento esportivo concretizou a estratégia.
Fonte: Rio2016. Para visualizar melhor: clique aqui
Dentre as principais medidas tomadas pela Prefeitura, a implosão do Elevado da Perimetral, a implantação do modelo de VLT e a criação da Parceria Público-Privada “Porto Maravilha” mudaram a rotina da região central do Rio de Janeiro. Em comum, todas elas foram objeto de disputa e negociações do setor privado com limitada participação da sociedade.
Do outro lado da cidade, o Parque Olímpico ultrapassa os limites do muro do antigo Autódromo que foi desativado para construção de grandes edificações e à consequente demolição das casas dos moradores da Vila Autódromo. Mais uma vez, interesses privados são sobrepostos ao público e um hotel de luxo já desponta na paisagem. Próximo ao local, ainda foi construído o questionado Campo de Golfe que reduziu ainda mais as espécies de Mata Atlântica.
Fonte: Urbe CaRioca
E não para por aí. Em entrevista para o Jornal Folha de São Paulo [2], o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que poderia “colocar tudo na conta das Olimpíadas”. Dito e feito. O Poder Executivo Municipal apresentou diversos Projetos de Lei para a Câmara Municipal, visando alterar, por exemplo, o regramento sobre uso, ocupação e parcelamento do solo, licenciamento e fiscalização ambiental e o Código de Obras e Edificações da capital fluminense [3].
“A cidade negocial produz e reproduz a desigualdade”, nas palavras de Carlos Veiner. É preciso, portanto, compreender que qualquer política de planejamento urbano passa pela construção de espaços colaborativos de participação da sociedade nas principais tomadas de decisão.
Publicado originalmente em UrbeCaRioca.


Clique aqui para ler mais artigos de Felipe Pires


[1] FORTUNA, Vânia Oliveira. Cidade-empresa e megaeventos, uma construção discursiva sobre as cidades. Disponível em
[2] Disponível em
[3] PLC nº 29/2013 – Parcelamento do Solo; PLC nº 30/2013 – Código Ambiental; PLC nº 31/2013 – Código de Obras e Edificações; PLC nº 32 /2013 – Licenciamento e Fiscalização de Obras Públicas e Privadas; e PLC nº 33/2013 – Uso e Ocupação do Solo e PLC nº. 96/2015. 

Para mais informações:

http://urbecarioca.blogspot.com.br/2013/06/pacote-de-novas-ou-velhas-leis.htmle http://urbecarioca.blogspot.com.br/2014/06/artigo-analise-do-projeto-de-lei.html

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *