Os Desafios na Captação de Recursos para o Terceiro Setor

A história do terceiro setor e a atuação das ONG’s no Brasil são assuntos constantes, e aparecem tanto em artigos, quanto nas discussões e conversas das quais participo. Vale lembrar que a captação de recursos para os projetos desenvolvidos pelas ONG’s é tão importante quanto suas atividades e atribuições, e merecem igual atenção.
Existem mais de 300 mil organizações sociais sem fins lucrativos no Brasil (Fasfil, 2010), e existem poucos estudos e pesquisas sobre os resultados de suas ações, bem como o número de pessoas, comunidades e localidades beneficiadas por suas atuações. Neste contexto, surgem ainda questionamentos de como buscar recursos para a realização dos projetos e se o Estado consegue atender a toda demanda.
É certo que a iniciativa privada através de suas ações de responsabilidade social, tem uma participação muito importante na captação de recursos e parcerias de ONG´s e empresas, no que diz respeito ao desenvolvimento e realização de projetos socioambientais. Bem como o Estado, que através de ferramentas disponibiliza recursos para tais fins, ainda que muitos desconheçam.


Fato é que, não se deve esperar que estes recursos sejam empregados somente pela iniciativa pública, tampouco sair, de forma impensada, em busca de parceria com empresas e instituições. A grande dificuldade é saber onde buscar e como deve ser feito este processo, tanto para o conhecimento daqueles que buscam recursos para empregarem e desenvolverem seus projetos, bem como a falta de informação de financiadores na prospecção deles. 

Existe no Brasil um Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse, denominado SINCOV [saiba mais em SINCOV]. Esse sistema permite a liberação de recursos, o acompanhamento da execução dos projetos e a prestação de contas dos conveniados. Para se cadastrar, são necessários requisitos básicos referentes a documentos de qualificação jurídica e fiscal, bem como capacidade técnica e operacional. Contudo, para realizar o cadastro e o repasse, existe um longo e árduo caminho burocrático para a liberação dos recursos.


Há, porém, outros caminhos, muitas vezes desconhecidos, e que possuem grande capacidade de alocação de recursos e enorme interesse em projetos socioambientais no Brasil. Dentre eles, podemos citar as agências internacionais, na maioria ligada à ONU – Organização das Nações Unidas, como o PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio AmbienteUNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a CulturaUNICEF – Fundo das Nações Unidas para a InfânciaUNIFEM- Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher, dentre outros.

Contudo, gostaria de ressaltar também, não só a importância da existência e ciência dessas agências e fundações internacionais, mas a qualidade dos projetos que chegam até essas organizações. O consultor Ricardo Falcão (2014), especialista em captação de recursos, destaca que os recursos existem, mas faltam bons projetos.
Acredito que existam diversas dificuldades para chegar aos financiadores, principalmente no que diz respeito às exigências e características de quem pode ser beneficiado. O complexo mundo jurídico brasileiro aplicado ao terceiro setor dificulta este acesso e conhecimento. Em contrapartida, a legislação brasileira é muito bem estruturada e completa quando comparada aos demais países desenvolvidos e em desenvolvimento. Se na lei do terceiro setor, a transparência em gastos é obrigatória, este fator também deve ser levado em consideração.
O grande desafio é profissionalizar as ONG’s para a elaboração de projetos bem estruturados, com objetivos claros e específicos, capazes de apresentar justificativas convincentes na busca de parcerias e alocação de recursos, principalmente no que tange ao cronograma e orçamento do projeto.
                                                                  (Ricardo Falcão, 2014)


Precisamos, enfim, mudar a antiga visão assistencialista e voluntária do terceiro setor, e preparar os profissionais para um mercado cada vez mais exigente em formação e habilidades. Mas que apresentem a mesma garra e crença em fazer a diferença, pois o caminho é longo e tortuoso, porém, recompensador.

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