Como a Bioconstrução impacta o planeta? – Construção civil aliada à sustentabilidade
O setor da construção civil vem sendo apontado como um grande vilão do meio ambiente há algum tempo. Afinal, ele é responsável por cerca de 50% a 75% do consumo dos recursos naturais do mundo. Além disso, a indústria é a que mais gera resíduos no planeta.
Diante desta problemática, alternativas sustentáveis surgem e ganham destaque. A bioconstrução, por exemplo, aparece neste contexto como uma forma de reduzir custos e ajudar a população de baixa renda a ter uma moradia digna. E, tudo isso, sem causar danos estratosféricos ao meio ambiente.
Este conceito construtivo utiliza materiais de baixo impacto ambiental – como terra, madeira, areia e bambu – e aproveita da melhor forma possível as condições naturais do local. E apesar de ser um método que conta com recursos baratos e técnicas ancestrais, a bioconstrução pode ser encontrada em obras nada associadas à escassez econômica, como na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em hotéis cinco estrelas em Sydney, em bairros franceses e até mesmo em restaurantes nobres da capital de São Paulo.
No entanto, uma edificação não deve se rotular como “bioconstruída” tendo como critério, única e exclusivamente, a escolha dos materiais básicos. É preciso que outros aspectos sejam considerados, como o conforto térmico, a iluminação, a ventilação, os revestimentos e o sistema de água e de esgoto da obra.
Segundo o arquiteto Gugu Costa, de São Paulo: “Uma casa de tijolo convencional, no verão amanhece com temperatura de 17º C em seu interior e à noite pode chegar a 34º C. Já uma parede de terra crua (técnica bioconstrutiva) fará com que essa casa acorde com 22º C e durma com 28º C, o que é praticamente a temperatura de conforto térmico do ser humano”.
Quanto às aberturas das portas e janelas, elas devem ser projetadas de modo a permitir ao máximo possível a entrada de luz natural nos ambientes internos. E o pé direito (altura livre interna) deve ser ampliado, a fim de gerar uma maior circulação de ar nos cômodos.
Já no lugar da cerâmica, um revestimento comumente utilizado sobre o piso, assim como em toda a área molhada da edificação (cozinha e banheiros), pode ser aplicada resina 100% vegetal, tendo como objetivo a impermeabilização das superfícies.
Por sua vez, a implantação de sistemas ecoeficientes de esgoto (como BETs e Fossas Verdes, por exemplo), captação e armazenamento da água de chuva, também é de extrema relevância quando a intenção é bioconstruir.
Os imóveis edificados a partir do modelo bioconstruído dispensam vigas e colunas, pois a estrutura é sustentada pelas próprias paredes (autoportante), as quais não costumam contar com tijolos comuns, aço e cimento para serem erguidas. Alguns dos métodos mais utilizados para isso são:
1.Adobe
Bloco feito de terra, areia e palha, que ao contrário do tijolo convencional, não passa pela etapa da queima, evitando o desmatamento (já que não há necessidade de lenha para os fornos) e a liberação de gás carbônico.
2.Taipa de pilão
Sistema em que a terra é comprimida dentro de formas de madeira – denominadas taipais – e disposta em camadas de 15 centímetros de altura. No Norte da Europa, existem construções de até 7 andares feitas com essa técnica.
3. Superadobe
Sacos de polipropileno são preenchidos com uma mistura de cal e terra e empilhados uns sobre os outros, compondo paredes com aproximadamente 40 centímetros de espessura. Após o terremoto de magnitude 7,2 no Nepal em 2015 e o furacão Maria em Porto Rico, os edifícios de superadobe continuavam de pé.
Obviamente que, para que a bioconstrução seja executada de modo adequado, é preciso contar com profissionais qualificados e especializados. E é aí que o aspecto negativo surge: por não ser a escolha mais tradicional do mercado, nem todos os engenheiros e arquitetos estão habituados a utilizar esse tipo de construção. Desta forma, o sistema construtivo mais caro e mais danoso ao meio ambiente acaba sendo escolhido e tido como “convencional”, já que os profissionais tendem a seguir aquilo que a maioria diz ser “melhor”. Contudo, ficam os questionamentos: Melhor para quem? Vantajoso até que ponto?
Vale ressaltar a importância das tecnologias construtivas, dos avanços nas pesquisas de materiais como concreto e aço, que representam, sem dúvida alguma, um papel fundamental na Engenharia Civil. Entretanto, não é mais possível permanecermos presos a uma única forma de construir que causa tanto impacto negativo ao planeta. Já temos conhecimento suficiente para trabalharmos com consciência, aplicando técnicas socialmente justas, economicamente viáveis e ambientalmente corretas.
Em suma, é passada a hora de ampliar os horizontes e agir conforme a orientação do arquiteto Gugu Costa: “em vez de utilizar o cimento como se fosse arroz, eu uso como se fosse sal.”
Referências:
- CASA ABRIL. Casas e Apartamentos. Kátia Stringueto e Keila Bis (2013). Adobe, matéria prima tão antiga pode ser alternativa para o futuro. Disponível em: <https://casa.abril.com.br/casas-apartamentos/adobe-materia-prima-tao-antiga-pode-ser-alternativa-para-o-futuro/>.
- GREEN ME. Morar bioarquitetura. Alice Branco. Casas de Superadobe –Baratas, Fáceis de Fazer e Ecológicas. Disponível em: <https://www.greenme.com.br/morar/bioarquitetura/5524-casas-de-superadobe/>.
- KWOK, Alison; GRONDZIK, Walter. Manual de Arquitetura Ecológica. Tradução de Alexandre Salvaterra. Porto Alegre, RS. Bookman, 2013.
- TEIXEIRA, Anelizabete Alves. Desempenho de painéis de bambus argamassados para habitações econômicas: aplicação na arquitetura e ensaios de durabilidade. 2013. 137 f. Tese (Doutorado) – Universidade de Brasília, 2013.
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SILVA, Pâmela. Como a Bioconstrução impacta o planeta? – Construção civil aliada à sustentabilidade. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/como-a-bioconstrucao-impacta-o-planeta.html>.