Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!
O plástico se tornou muito presente em nosso dia a dia: o encontramos nas suas mais variadas formas, atendendo às mais diferentes necessidades de nossa vida cotidiana, de embalagens a peças automotivas. Um material versátil, barato e conveniente comercialmente pelo baixo custo de produção. No entanto, essa conveniência tem um preço – e ele não é só financeiro.
A maioria dos plásticos produzidos não é biodegradável, portanto os resíduos plásticos que estamos gerando nos acompanharão por séculos acarretando sérios impactos ambientais. Os impactos do plástico na natureza começam bem antes, na extração de matérias-primas e no seu processo de produção, uma vez que os plásticos são obtidos principalmente a partir do petróleo.
E a conta desse impacto só aumenta. Segundo o relatório Valuing Plastic das Nações Unidas (ONU), o custo financeiro dos prejuízos ambientais relacionados ao plástico ultrapassa os US$ 75 bilhões anuais. Mas é o ecossistema marinho que mais sofre com os plásticos.
Estima-se que 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos estão sendo descartados nos oceanos todos os anos. Sem ação imediata e sustentada, esse valor quase triplicará até 2040, para 29 milhões de toneladas por ano. É como se o mar recebesse 50 kg de plástico a cada metro de costa ao redor do mundo.
Como o plástico permanece no oceano por centenas de anos e pode nunca se biodegradar completamente, a quantidade acumulada de plástico nos oceanos em 2040 pode chegar a 600 milhões de toneladas.
Os dados alarmantes são de um dos estudos mais abrangentes e robustos já produzidos sobre plásticos nos oceanos: Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), publicado pela Pew Charitable Trusts e a SYSTEMIQ – junto com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas, seus parceiros de conhecimento.
O estudo também revelou que cerca de 95% das embalagens plásticas são usadas apenas uma vez antes de se tornarem resíduos e mostrou que o problema começa muito antes do plástico chegar aos nossos oceanos, rios e praias. A maior fonte de poluição por plásticos são os resíduos sólidos urbanos não coletados ou não descartados corretamente, muitos deles provenientes de residências.
A quantidade de resíduos plásticos produzidos anualmente vem aumentando rapidamente desde 1950. Em 2017, eram 348 milhões de toneladas, e essa quantidade deve voltar a dobrar até 2040, segundo o documento.
O que confirma o estudo de 2016, intitulado “The New Plastics Economy” do Fórum Econômico Mundial e da Ellen MacArthur Foundation, com apoio analítico da consultora McKinsey, que revelou que em 2050 poderá haver mais plástico do que peixes no oceano, se não diminuirmos nosso consumo de itens como garrafas plásticas, sacolas, pratos e talheres de plástico e copos descartáveis depois de um único uso.
Quais são os impactos causados pelos resíduos plásticos nos oceanos?
Estima-se que recifes de coral e ilhas remotas estão sendo afetados pelo volume de resíduos plásticos presentes no oceano. Além disso, mais de 800 espécies marinhas já são conhecidas por serem afetadas por poluição plástica. Isso inclui todas as espécies de tartarugas marinhas, que podem ingerir fragmentos do material ou se ferirem, mais de 40% das espécies de cetáceos e 44% das espécies de aves marinhas. Por ingestão, os macroplásticos podem causar asfixia, lesões, obstrução intestinal e impactos subletais, como desnutrição em animais marinhos.
Embora ainda faltem métodos para medir os danos causados pela absorção de microplásticos (fragmentos de plástico com menos de 5mm de diâmetro) e os nanoplásticos (com diâmetros inferiores a 0,001 mm), cientistas estão investigando se, em longo prazo, pode acarretar impactos no crescimento, na saúde, na fecundidade, na sobrevivência e na alimentação em uma variedade de espécies de invertebrados e peixes. O que pode afetar também a saúde humana.
A reciclagem e proibições resolvem?
Até agora, muitos esforços para combater a poluição por plásticos se concentraram em melhorar o gerenciamento de resíduos ou em limpezas de praias. Outros se concentraram apenas na proibição e redução do uso de plásticos. Segundo o relatório Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), aumentar os esforços em reciclar o plástico já não é o suficiente para resolver o problema da poluição por plásticos. Com a reciclagem, ainda seriam 18 milhões de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos.
O estudo identificou algumas medidas que, juntas, podem reduzir até 2040 cerca de 80% da poluição do plástico que flui para o oceano anualmente, usando tecnologia e soluções existente. Entre as medidas estão:
- Reduzir o crescimento da produção e do consumo de plástico;
- Aumentar o índice de reciclagem do plástico;
- Substituir alguns tipos de plástico por alternativas mais sustentáveis – como a produção de resinas plásticas a partir de fontes renováveis e compostáveis, como cana-de-açúcar, milho, mandioca, batata ou resíduos da agroindústria;
- Projetar produtos e embalagens para a reciclagem e;
- Ampliar as taxas de coleta de lixo, principalmente em países de média e baixa renda.
Apesar da boa redução, ainda restará mais de 5 milhões de toneladas indo para os oceanos anualmente até 2040.
E qual seria a solução?
Todas essas medidas apontam a necessidade de adaptarmos nossos processos em direção a um único caminho: a Economia Circular do plástico. Para o estudo, é necessário repensar todo o sistema de produção de novos materiais, além de aumentar rapidamente nossa capacidade de manter os materiais circulando após o uso.
Essa transição poderia gerar uma redução de custo anual estimada em US$ 200 bilhões, em comparação ao cenário atual, além dos benefícios ambientais e climáticos, como a redução de 80% da produção de lixo.
Para que isto aconteça são necessárias ações claras e urgentes, que incluem:
- Eliminar os plásticos de que não precisamos, indo além da remoção de canudos e sacolas, mas dar rapidamente escala a modelos de entrega inovadores, como embalagens reutilizáveis ou mesmo sem embalagem;
- Projetar todos os itens feitos de plástico para que sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Neste quesito, é essencial o financiamento de infraestrutura necessária com a finalidade de aumentar rapidamente a capacidade de recolher e circular estes itens;
- Inovar a uma velocidade e escala sem precedentes em direção a novos modelos de negócios, design de produtos, materiais, tecnologias e sistemas de coleta para acelerar a transição para uma economia circular.
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SOUZA, L. B. Leonardo. Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/poluicao-plastica-quando-apenas-reciclar-nao-resolve.html>.