4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro
Começar esse artigo falando sobre a necessidade urgente de modificar a maneira como estamos produzindo roupas pode soar redundante e confesso que o meu desejo aqui não é esse. Meu interesse é relembrar alguns pontos importantes dessa jornada para que possamos construir um raciocínio juntos.
Já debatemos sobre o impacto da indústria têxtil no meio ambiente e sobre a importância de se buscar alternativas mais ecológicas para confecção de roupas [1]. Porém, o futuro da indústria da moda não depende apenas de peças com materiais mais sustentáveis. Principalmente se essa etapa da concepção permanece inserida dentro de uma produção acelerada e de uma lógica de descarte (fast fashion).
Segundo Elena Salcedo, autora do livro ‘Moda Ética para um Futuro Sustentável’, o nosso verdadeiro desafio é redefinir todo o ciclo da produção de vestuário. Desde a forma de desenhar, passando pela produção, até a distribuição e utilização dessas peças. Quando partimos do momento em que o designer insere processos de produção mais sustentáveis e incentiva uma mudança de comportamento no consumidor, substituímos o discurso do design sustentável e o convertemos em design para a sustentabilidade.
Então, esse artigo deseja convidar marcas e consumidores a repensar esses processos. Sua intenção não é ser um guia prático ou verdade absoluta, e sim, uma ferramenta de reflexão para a busca de um futuro mais sustentável dentro da moda.
Quando sua peça é desmontada, o que temos?
Dentro do processo acelerado de produção de moda, nos deparamos com itens com uma mistura cada vez mais complexa de materiais. Isso inclui tecidos mistos, forros, enfeites e demais acessórios, o que dificulta consideravelmente a reciclagem quando terminada a fase de consumo.
Uma alternativa sugerida por Elena Salcedo é o de desenvolver um “design para a reciclagem”, onde o estilista deve refletir ainda durante o processo de criação na desmontagem da peça e na destinação de cada material que compõe esse vestuário.
Pensar no bem-estar social
Uma marca de roupas não é feita sozinha. Dentro de cada processo existem muitas mãos envolvidas. Pensar no bem-estar de cada um desses envolvidos da cadeia de produção é essencial para um futuro sustentável. E isso inclui condições e pagamentos justos pelo trabalho.
Segundo Kate Fletcher em ‘Moda & Sustentabilidade, Design para a Mudança’, “os designers podem contribuir para que esse esforço ganhe impulso – por exemplo, conscientizando-se dos efeitos que as decisões de um design têm sobre a velocidade e os custos da cadeia de fornecimento”, além de desenvolver estratégias de monitoramento de produção que garantam o acolhimento de todos os envolvidos.
Minimize os desperdícios
Quando falamos de resíduos têxteis derivado de uma roupa, não falamos somente da peça de roupa descartada em seu pós-consumo. Durante o corte, muitos pedaços de tecido que não são incorporados a essa peça são descartados – geralmente em formatos complexos por causa da modelagem. É o que chamamos de resíduos pré-consumo. Segundo Elena, cerca 15% do tecido utilizado pela indústria vira resíduos que acabam sendo descartados e, em sua grande maioria, terminam em aterros sanitários.
Um design de moda sem resíduo tem como objetivo reduzir a quantidade desses retalhos ou eliminá-la por completo. Investir em modelagens que contribuam para a diminuição de resíduos é uma boa opção. Outra alternativa é incorporar esses retalhos a novos designs, ou reaproveitá-los transformando-os em forros ou entretelas. Um ponto positivo dessa prática é a facilitação da reciclagem da peça, pois assim diminuímos a mistura de materiais.
Quanto vai durar a sua roupa?
Colocar a durabilidade como um pilar na hora de desenvolver um design é pensar em como é possível prolongar o tempo de vida de uma peça sem que ela tenha a necessidade de ser consertada – ou em como facilitar o processo de repará-la.
Para isso, é necessário pensar com cuidado na escolha dos materiais e investir numa boa confecção. Ambas as alternativas exercem uma influência visual e física na peça, fazendo com que o consumidor diminua o seu consumo por não precisar de novas aquisições.
É preciso reforçar que, dentro desses quatro questionamentos, o usuário também desempenhará um papel essencial nesse processo, pois ele se tornará responsável pelo uso e manutenção. As marcas têm como responsabilidade informar sobre as melhores práticas de cuidado e mostrar que isso também faz parte de um comportamento mais sustentável.
Acredito que o design pode não só funcionar como um meio para se produzir coisas bonitas, mas também como uma ferramenta de transformações que nos ajuda a romper barreiras para melhorar o futuro.
[1] O que a etiqueta não mostra! Os impactos socioambientais da moda tradicional, clique aqui para acessar o artigo.
Referências:
- SALCEDO, Elena. Moda ética para um futuro sustentável. Editorial Gustavo Gili, SlL, Barcelona, 2014.
- FLETCHER, Kate; GROSE, Lynda. Moda & Sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
AURELIANO, Bruna. 4 Práticas para Marcas de Moda do Futuro. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/4-praticas-para-marcas-de-moda-do-futuro.html>.