Quando falamos de escola, todos temos referências que nos vem à mente que podem ser inspiradas nos modelos apresentados na mídia, mas que, geralmente, são baseadas nas lembranças que temos da(s) escola(s) que frequentamos.
Como professora, possuo referências a partir das escolas em que estudei e também daquelas em que trabalhei. Por isso, gostaria de compartilhar uma experiência única que tive como professora – que apenas a prática me possibilitou, já que, não estudei na faculdade sobre esse modelo de escola – a escola do campo.
Participei de um momento de atribuição de aulas para turmas de Educação Infantil e dentre as escolas com vagas disponíveis, havia uma que nos explicaram brevemente que era situada no campo. Fiz algumas perguntas, percebi que nenhuma das professoras manifestou interesse e não compreendi o porquê. Então escolhi a escola do campo.
Todos os dias, um ônibus disponibilizado pela prefeitura passava em diversos pontos da cidade para buscar todos os funcionários que iam para esta escola e, no trajeto, tínhamos o privilégio de conversar em igualdade com todos os funcionários – diretora, professores, merendeiras e encarregadas da limpeza – proporcionando trocas de experiências e visões muito relevantes.
A viagem era longa, pois após o trajeto na cidade, passávamos grande trecho em estrada de terra que nos rendeu muitas emoções, especialmente em época de chuva que dificultava muito a passagem do ônibus, causando atrasos e até atolamento. Finalmente quando chegávamos à escola, localizada em um assentamento, éramos sempre bem recebidos pelas crianças, seus responsáveis e os funcionários que moravam nas proximidades.
A escola não era muito grande, mas as instalações ficavam em um espaço com muita natureza preservada. Foi assim que conheci a escola do campo e acredito que eu tenha aprendido mais com eles do que o contrário.
Assim como em qualquer escola, havia conteúdos curriculares a serem trabalhados que professoras desenvolviam com bastante carinho. Porém, percebi que a escola do campo possuía particularidades e exigia adaptações. É importante ressaltar que, cabe às professoras e professores trabalhar os conteúdos obrigatórios, mas, para que as crianças aprendam, devem ensinar de forma interessante e significativa.
Sendo assim, era indispensável que conhecêssemos a vida e a realidade dessas crianças para desenvolver o conhecimento segundo seus interesses e necessidades, levando a uma prática para além do modelo de escola que conhecemos e estudamos. Os trabalhos eram desenvolvidos assegurando às crianças acesso aos conteúdos curriculares nacionais, todavia, somente nesta escola do campo pudemos aprender com a natureza tão viva ao nosso redor.
O lugar nos proporcionava experiências muito significativas como a possibilidade de estudar, por exemplo, sobre árvores, folhas ou flores, podendo olhar e tocar diversos tipos tanto nas próprias plantas como no chão. Além de, por vezes, pararmos atividades para observarmos algum animal que aparecesse como aves, macacos, lagartos, entre outros, gerando ainda mais conhecimento. Nos momentos adequados, as crianças podiam brincar e interagir com a natureza no grande espaço disponibilizado. Tais interações promoviam relação de respeito cuidado e valorização do meio ambiente.
Considerando os grandes problemas ambientais que estamos vivenciando, compreendo que a educação destas crianças foi muito privilegiada por esta oportunidade, pois elas, possivelmente, conseguem valorizar a natureza e compreender a importância dos cuidados e mudanças que necessitamos realizar urgentemente quanto às questões de preservação e sustentabilidade.
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MATTARA, Bianca. Escola do Campo: uma experiência transformadora. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/escola-do-campo-uma-experiencia-transformadora.html>.
Mercado da Cura e do Bem-Estar: a nova tendência da indústria
Paz interior é o novo sucesso. Ser saudável, comer bem, buscar terapias alternativas e medicinas naturais nunca esteve tão em alta. Cuidar é o novo cool. Mas será que estamos nos conectando com a cura do todo ou apenas criando estratégias de distração enquanto repetimos os mesmos padrões?
O questionamento pode parecer vago, ainda mais porque desde sempre existem ressalvas diante de todo tipo de crença, especialmente espirituais, ritualísticas e religiosas. Esses conflitos moldaram a história de como chegamos até o século XXI. Hoje são muitas outras razões que alienam ou convencem as pessoas a adotar certos tipos de práticas e comportamentos.
Vivemos afogados em uma enxurrada de informações. É a era das redes sociais e do mercado de influência. Aqui todo mundo é especialista em alguma coisa e vive uma eterna busca pela positividade, pela veneração da saúde e do corpo ideal, por uma vida equilibrada com relacionamentos sem defeitos.
A espiritualidade da nova era exige uma perfeição que não oferece troca ou acolhimento, mas apresenta soluções incríveis e para alcançá-las é “só arrastar a tela para cima”. Em um deslizar de dedo você pode acessar toda uma filosofia de autoajuda que conecta energias sutis, que cura traumas através de óleos essenciais puros e cristais mágicos.
Dos mesmos criadores do greenwashing, nasce o mercado da cura.
O ego social trouxe uma positividade tóxicanão só para as pessoas, mas também para o planeta. Os mesmos padrões de consumo seguem se repetindo a cada nova moda. No lento processo de conscientização diante da emergência climática que vivemos, de certa forma o consumidor acabou ficando mais exigente. Passou a ter algumas preocupações ao adquirir produtos ou serviços, levando em consideração o impacto que pode ter (principalmente) em si mesmo, mas também no todo. O mercado, no entanto, não perde oportunidade de se apropriar e participar de todos os discursos, buscando aquilo que é mais vantajoso para o mundo moderno, para as empresas e instituições: vender mais.
Tudo em excesso faz mal, inclusive extrair cristais do solo do planeta para se energizar e produzir monoculturas para destilação de óleos essenciais. Produtos que prometem bem-estar e beleza celestial, mas contém ingredientes tóxicos que contaminam nossas águas. Dietas que preservam os animais, mas vem embaladas em plástico ou embebidas em agrotóxicos.
Existe uma indústria que fatura bilhões de dólares anualmente promovendo cura e bem-estar em níveis físicos, emocionais e energéticos. A história se repete e o discurso continua centrado no ego da humanidade em mais uma das facetas do capitalismo destrutivo.
A série “A Indústria da Cura”, lançada em agosto pela Netflix, tem seis episódios que analisam tratamentos alternativos que se transformaram em tendência nos últimos tempos. Alguns inclusive são muito antigos, ancestrais, utilizados há anos por determinadas culturas. A série apresenta a versão da ciência e de pesquisadores, que alertam sobre os perigos e riscos do uso das terapias alternativas, a experiência de pessoas que utilizaram os métodos de cura apresentados e outros que se beneficiaram de maneira direta ou indireta dessas utilizações.
O que ninguém conta é a versão do planeta e dos recursos naturais necessários para sustentar mais este modismo. O primeiro episódio da série, por exemplo, traz a questão dos óleos essenciais. O aumento da demanda gera aumento da produção e esse é um assunto que não é abordado na série, nem no discurso das empresas e muito menos dos influenciadores que promovem sua utilização.
Os óleos essenciais são considerados a parte mais poderosa das plantas – o mecanismo de defesa ou de atração para polinizadores. As grandes indústrias da destilação cultivam ervas medicinais em enormes escalas de monocultura. Para se ter uma ideia, são necessárias de 1 a 3 toneladas de rosas para 1 litro de óleo essencial. Para aumentar a produtividade (e o lucro) existem diversas técnicas como, por exemplo, gerar distúrbios nas plantas para que, ao se sentirem ameaçadas, acionem seu sistema de defesa e produzam mais óleos essenciais nesse processo. Como pode algo que vem do incômodo do vegetal, que visa o lucro, que prejudica e explora o solo, ser ferramenta de cura?
Não são só as pessoas que influenciam e facilitam os ideais da perfeição e da cura os únicos responsáveis por essa alienação e pela falta de consciência do processo como um todo, mas também seus seguidores e admiradores que espalham experiências individuais como verdades absolutas.
Mas o fato é que pouca gente sabe como e porque essas gotinhas são tão especiais. Menos gente ainda conecta essas nuances de cura com a própria terra. Quando tratamos bem a natureza e deixamos que ela expresse toda sua potência e biodiversidade, podemos partilhar da sua medicina. Não é por acaso que as plantas medicinais mais comuns são também grandes enfermeiras para o solo e aparecem de forma espontânea contribuindo para a regeneração de áreas degradadas.
O processo da destilação para obtenção dos óleos essenciais é ancestral. Sob um ponto de vista mais sutil, as gotas dessa medicina carregam toda a energia da planta, a forma como foi cultivada, colhida e tratada. No líquido ainda estão as informações que corriam na seiva daquele vegetal. Mas o ego social foca apenas nos benefícios para si próprio, no consumo desenfreado de tudo o que pode lhe fazer melhor independente das consequências que isso traga para o todo.
A disseminação dessas novas modalidades de cura, seja através de plantas medicinais, cristais mágicos ou energias, faz com que, de alguma forma, as pessoas deixem de perceber problemas sociais da vida prática, gozando da good vibes enquanto tudo pega fogo ao redor, literalmente. Não associamos a realidade que vivemos aos nossos hábitos, ao nosso alimento, à nossa medicina, às nossas práticas e costumes mais corriqueiros.
Espiritualidade para quem? Esse problemática não é sobre desacreditar das experiências e da fé de cada indivíduo, mas sim sobre não silenciar os debates climáticos, coletivos e urgentes só para não furar a bolha da paz interior. Mas o fato é que a aceleração destes hábitos insustentáveis nessa altura do campeonato é a nossa espécie fazendo check out do paraíso planeta Terra. O que por um lado pode ser bom, pois a nossa diária é caríssima e acaba prejudicando todos os outros hóspedes.
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GRINSZTEJN, Camila. Mercado da Cura e do Bem-Estar: a nova tendência da indústria. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/mercado-da-cura-e-do-bem-estar-a-nova-tendencia-da-industria.html>.
Energia Eólica e os “Bons Ventos” no Mundo Pós-Pandemia
A retomada da economia no ambiente pós pandemia deve ser sustentável e, nessa medida, a transição para uma economia de baixo carbono e o incentivo do uso de energias renováveis são elementares nesse processo.
A Energia Eólica desponta como importante para o sistema elétrico brasileiro. Trata-se de uma fonte de energia limpa, renovável e cada vez mais tem adquirido preço competitivo no mercado.
No Brasil, a energia gerada pelos ventos ultrapassou a expressiva marca de 15 GW de capacidade instalada para produção nacional, em maio de 2019, sendo a maior parte desse total na região Nordeste [1].
Mesmo no cenário da pandemia, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, aponta que “vamos ter um forte papel, da fonte eólica, no segundo semestre, que é o período que a eólica gera mais e atingimos os chamados recordes de geração”[2].
Ora, a saída deve ser verde, sustentável e através de fontes energias renováveis. Nesse sentido, Elbia Gannoum complementa que “a retomada econômica, pós pandemia, será de forma sustentável com especial relevância das fontes de energia eólica.
Tais características são importantes para que o Brasil e seus representantes tenham-nas como norte em eventuais propostas de modernização do setor elétrico brasileiro.
Isso porque tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado nº. 232/2016, que visa modernizar o setor elétrico do Brasil, mas ainda precisa de ajustes para valorizar de forma significativa as fontes de energias renováveis como a energia eólica.
É, portanto, necessário que todos nós, cidadãos, estejamos atentos para que o governo brasileiro valorize essas fontes de energias renováveis como a eólica e, assim, favoreçam que os “bons ventos” continuem soprando no mundo pós pandemia.
Sugestão de Leitura:
Novo marco regulatório do setor elétrico é aprovado na Comissão de Infraestrutura. Clique aqui para acessar.
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PIRES, Felipe. Energia Eólica e os “Bons Ventos” no Mundo Pós-Pandemia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/energia-eolica-e-os-bons-ventos-no-mundo-pos-pandemia.html>.
Está na hora da Economia Circular!
Há dez anos falar em economia circular era tão inovador que para algumas pessoas poderia parecer algo muito distante. Para os entusiastas e os que acreditam em mudanças profundas na forma de se conduzir negócios, repensar comportamentos e desenvolvimento, a transformação já havia iniciado. O conceito tomou enormes proporções e diversos países na Europa já incluíram a economia circular em suas políticas públicas e universidades em todo mundo já possuem cadeiras e cursos de aprofundamento no tema.
A Ellen MacArthur Foundation se tornou a grande propagadora da transição para a economia circular e atualmente é, sem dúvida, uma das instituições mais respeitadas e com maior propriedade no assunto. Sem contar que a própria fundadora tem uma história fascinante e inspiradora, uma velejadora profissional que passou anos dando a volta ao mundo e analisando os impactos nos recursos naturais do modelo linear (‘extrair, produzir, desperdiçar’) que prevalece na economia mundial.
Pode-se definir a economia circular como uma nova forma de se produzir, consumir, relacionar e fazer negócios. Visa sim o crescimento econômico, contudo, sem ser fundamentado na extração desmedida de recursos naturais da terra que além de serem finitos, estão chegando aos seus limites físicos de regeneração e perpetuação. A economia circular é um modelo econômico que implica em não produzir resíduos e poluição por princípio, através de fontes renováveis de energia e com benefício para toda sociedade (EMF, 2020).
Em seu relatório Rumo à Economia Circular: o racional de negócio para acelerar a transição, a EMF (Ellen MacArthur Foundation), explica que “o objetivo é manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo, distinguindo entre ciclos técnicos e biológicos.” Se fossemos nos aprofundar nesses ciclos, isso renderia outro artigo, por isso o objetivo aqui é entender os conceitos e quem são os grandes pensadores que levantaram essa bandeira.
Existem algumas escolas de pensamento que impulsionam a propagação da economia circular, três delas, super interessantes, merecem destaque:
O Cradle to Cradle (Do Berço Ao Berço) que tem como princípio que o lixo é um erro de design, e que os materiais devem ser desenvolvidos de forma que ao final de sua vida útil se tornem insumos para novos materiais.
A Biomimicry (Biomimética) que imita as estratégias encontradas na natureza para os desafios de design, como, por exemplo, por que não aprender com os mosquitos como criar uma agulha que doa menos?!
E o Blue Economy que tem como um dos pilares, o desenvolvimento e consumo local, de forma a redefinir serviços, produção, consumo de forma equilibrada. Todos eles foram liderados por grandes figuras que merecem destaque em próximos artigos.
Não precisamos ir longe para buscarmos exemplos de economia circular. A cidade de Curitiba possui um modelo de sustentabilidade urbana que merece destaque no transporte público. Cadeiras da Ikea voltam a ser cadeiras ao final de sua vida útil; carpetes de umas das maiores marcas do mundo se transformam em carpetes novamente, gerando economia para o consumidor, que ao retornar o antigo carpete ganha desconto para adquirir um novo. Uma incrível cidade na China foi construída totalmente sob os pilares e preceitos da economia circular, ou seja, a mudança já começou.
Os benefícios de uma transição para economia circular são evidentes, desde fatores como criação de empregos e geração de renda até reduzir drasticamente os impactos ambientais. Os desafios são enormes, e no Brasil, especialmente, traduzidos em logística para que os resíduos retornem ao processo industrial; políticas públicas; P&D (pesquisa e desenvolvimento) para novos produtos; e profissionais que possam ocupar cargos nas mais diferentes empresas e indústrias, levando o conceito à prática. A grande sacada da economia circular é a transição para serviços, isso é, as pessoas não precisam ter um carro ou uma máquina de lavar louças. O que elas realmente precisam é se locomover e ter suas roupas limpas, certo? A ideia é a durabilidade dos bens materiais, através de serviços de manutenção, aluguel e leasing. Genial!
Os próximos artigos trarão oportunidades de aprofundamento em cada tema, pois a economia circular é interessante demais e muito ampla para entrar em cada detalhe. A sugestão aqui é esclarecer possíveis dúvidas e amplificar o conhecimento sobre o assunto. Não deixe de nos acompanhar nessa jornada!
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Saiba como colocá-lo nas referências:
LAZZAROTTO, Aline. Está na hora da Economia Circular!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/esta-na-hora-da-economia-circular.html>.
Brechós: do preconceito ao Consumo Consciente e Sustentável
Apesar de soarem antiquados e coisas do passado para alguns, brechós, sebos e topa-tudo estão mais na moda do que nunca, sobretudo entre os jovens e após a pandemia. A conscientização principalmente das gerações Y e Z a respeito do impacto ambiental negativo deste setor e a consolidação das mídias sociais como oportunidade de consumo transformaram o desapego em tendência fashion.
Com isso, o universo dos brechós se expandiu muito nos últimos tempos e pouco a pouco vem caindo no gosto das pessoas na hora de decidir comprar uma roupa nova, independente da classe social, e dos interesses que variam desde a procura por marcas famosas até a economia na aquisição de “novos” produtos.
Atualmente, não é preciso nem sair de casa para conseguir garimpar aquela peça atemporal com uma pegada mais vintage. Com a internet, estima-se que o segmento “second hand” cresça, atualmente, mais que a indústria do luxo. Levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que 6 em cada 10 consumidores compraram algum item de segunda mão entre 2018 e 2019.
Pesquisa Ibope também aponta que quase 70 milhões de brasileiros têm itens sem uso em casa e 84% deles desejariam vender esses objetos, o que poderia representar um potencial de venda de R$ 262 bilhões.
Além disso, a efemeridade da moda e o constante resgate de “antigas” tendências são alguns dos motivos que fazem do brechó um empreendimento atrativo também para empreendedores. De olho nessa lacuna, os brechós online com e-commerce e entrega via correio, a partir do Instagram, estão roubando a cena e se tornando mais uma ótima alternativa ao consumo consciente e sustentável.
A internet é, atualmente, o meio mais utilizado para comprar itens de segunda mão. Nos últimos 12 meses, 28% dos consumidores adquiriram um produto usando a rede – percentual que chega a 39% entre os mais jovens, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em setembro.
Comprar de forma consciente e apostar na sustentabilidade são hábitos que entraram na moda, no entanto, apesar da popularização dos brechós e bazares, e da ascensão desse estilo de comprar ainda há muito preconceito contra as roupas usadas. É comum encontrar quem tenha medo de usar roupas que pertenceram à outra pessoa, principalmente se for um desconhecido.
Garimpar é a palavra de ordem, é um gesto coletivo. Por isso, listamos aqui 10 motivos para vocês experimentar essa experiência:
Reduz seu impacto ambiental.
Não promove condições de trabalho exploradoras.
Economiza dinheiro.
Seu estilo vintage único parece mais autêntico.
É mais sustentável em longo prazo.
Pode ajudá-lo a explorar seu estilo ou descobrir novos.
Ajuda você a se concentrar nas coisas que realmente importam.
Movimenta a economia local.
Você estende o ciclo de vida de uma roupa.
Reduz a demanda da moda rápida (fast fashion).
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MATTOS, Litza. Brechós: do preconceito ao Consumo Consciente e Sustentável. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/brechos-do-preconceito-ao-consumo-consciente-e-sustentavel.html>.
Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!
O plástico se tornou muito presente em nosso dia a dia: o encontramos nas suas mais variadas formas, atendendo às mais diferentes necessidades de nossa vida cotidiana, de embalagens a peças automotivas. Um material versátil, barato e conveniente comercialmente pelo baixo custo de produção. No entanto, essa conveniência tem um preço – e ele não é só financeiro.
A maioria dos plásticos produzidos não é biodegradável, portanto os resíduos plásticos que estamos gerando nos acompanharão por séculos acarretando sérios impactos ambientais. Os impactos do plástico na natureza começam bem antes, na extração de matérias-primas e no seu processo de produção, uma vez que os plásticos são obtidos principalmente a partir do petróleo.
E a conta desse impacto só aumenta. Segundo o relatório Valuing Plastic das Nações Unidas (ONU), o custo financeiro dos prejuízos ambientais relacionados ao plástico ultrapassa os US$ 75 bilhões anuais. Mas é o ecossistema marinho que mais sofre com os plásticos.
Estima-se que 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos estão sendo descartados nos oceanos todos os anos. Sem ação imediata e sustentada, esse valor quase triplicará até 2040, para 29 milhões de toneladas por ano. É como se o mar recebesse 50 kg de plástico a cada metro de costa ao redor do mundo.
Como o plástico permanece no oceano por centenas de anos e pode nunca se biodegradar completamente, a quantidade acumulada de plástico nos oceanos em 2040 pode chegar a 600 milhões de toneladas.
Os dados alarmantes são de um dos estudos mais abrangentes e robustos já produzidos sobre plásticos nos oceanos: Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), publicado pela Pew Charitable Trusts e a SYSTEMIQ – junto com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas, seus parceiros de conhecimento.
O estudo também revelou que cerca de 95% das embalagens plásticas são usadas apenas uma vez antes de se tornarem resíduos e mostrou que o problema começa muito antes do plástico chegar aos nossos oceanos, rios e praias. A maior fonte de poluição por plásticos são os resíduos sólidos urbanos não coletados ou não descartados corretamente, muitos deles provenientes de residências.
A quantidade de resíduos plásticos produzidos anualmente vem aumentando rapidamente desde 1950. Em 2017, eram 348 milhões de toneladas, e essa quantidade deve voltar a dobrar até 2040, segundo o documento.
O que confirma o estudo de 2016, intitulado “The New Plastics Economy” do Fórum Econômico Mundial e da Ellen MacArthur Foundation, com apoio analítico da consultora McKinsey, que revelou que em 2050 poderá haver mais plástico do que peixes no oceano, se não diminuirmos nosso consumo de itens como garrafas plásticas, sacolas, pratos e talheres de plástico e copos descartáveis depois de um único uso.
Quais são os impactos causados pelos resíduos plásticos nos oceanos?
Estima-se que recifes de coral e ilhas remotas estão sendo afetados pelo volume de resíduos plásticos presentes no oceano. Além disso, mais de 800 espécies marinhas já são conhecidas por serem afetadas por poluição plástica. Isso inclui todas as espécies de tartarugas marinhas, que podem ingerir fragmentos do material ou se ferirem, mais de 40% das espécies de cetáceos e 44% das espécies de aves marinhas. Por ingestão, os macroplásticos podem causar asfixia, lesões, obstrução intestinal e impactos subletais, como desnutrição em animais marinhos.
Embora ainda faltem métodos para medir os danos causados pela absorção de microplásticos (fragmentos de plástico com menos de 5mm de diâmetro) e os nanoplásticos (com diâmetros inferiores a 0,001 mm), cientistas estão investigando se, em longo prazo, pode acarretar impactos no crescimento, na saúde, na fecundidade, na sobrevivência e na alimentação em uma variedade de espécies de invertebrados e peixes. O que pode afetar também a saúde humana.
A reciclagem e proibições resolvem?
Até agora, muitos esforços para combater a poluição por plásticos se concentraram em melhorar o gerenciamento de resíduos ou em limpezas de praias. Outros se concentraram apenas na proibição e redução do uso de plásticos. Segundo o relatório Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês – Breaking The Plastic Wave), aumentar os esforços em reciclar o plástico já não é o suficiente para resolver o problema da poluição por plásticos. Com a reciclagem, ainda seriam 18 milhões de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos.
O estudo identificou algumas medidas que, juntas, podem reduzir até 2040 cerca de 80% da poluição do plástico que flui para o oceano anualmente, usando tecnologia e soluções existente. Entre as medidas estão:
Reduzir o crescimento da produção e do consumo de plástico;
Aumentar o índice de reciclagem do plástico;
Substituir alguns tipos de plástico por alternativas mais sustentáveis – como a produção de resinas plásticas a partir de fontes renováveis e compostáveis, como cana-de-açúcar, milho, mandioca, batata ou resíduos da agroindústria;
Projetar produtos e embalagens para a reciclagem e;
Ampliar as taxas de coleta de lixo, principalmente em países de média e baixa renda.
Apesar da boa redução, ainda restará mais de 5 milhões de toneladas indo para os oceanos anualmente até 2040.
E qual seria a solução?
Todas essas medidas apontam a necessidade de adaptarmos nossos processos em direção a um único caminho: a Economia Circular do plástico. Para o estudo, é necessário repensar todo o sistema de produção de novos materiais, além de aumentar rapidamente nossa capacidade de manter os materiais circulando após o uso.
Essa transição poderia gerar uma redução de custo anual estimada em US$ 200 bilhões, em comparação ao cenário atual, além dos benefícios ambientais e climáticos, como a redução de 80% da produção de lixo.
Para que isto aconteça são necessárias ações claras e urgentes, que incluem:
Eliminar os plásticos de que não precisamos, indo além da remoção de canudos e sacolas, mas dar rapidamente escala a modelos de entrega inovadores, como embalagens reutilizáveis ou mesmo sem embalagem;
Projetar todos os itens feitos de plástico para que sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Neste quesito, é essencial o financiamento de infraestrutura necessária com a finalidade de aumentar rapidamente a capacidade de recolher e circular estes itens;
Inovar a uma velocidade e escala sem precedentes em direção a novos modelos de negócios, design de produtos, materiais, tecnologias e sistemas de coleta para acelerar a transição para uma economia circular.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
SOUZA, L. B. Leonardo. Poluição plástica: quando apenas reciclar não resolve!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/poluicao-plastica-quando-apenas-reciclar-nao-resolve.html>.
Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis
A Arborização Urbana no Brasil é uma atividade relativamente nova, com pouco mais de 100 anos, e tem fundamental importância na mitigação dos impactos ambientais resultantes da urbanização. A presença dos corredores verdes nas cidades, como se observa em grandes avenidas, além de melhorar o aspecto estético, tem função de minimizar as ilhas de calor, fornecer sombra para a população, diminuir a intensidade das pragas urbanas, manter abrigo e habitat para a avifauna (pássaros, urubus, beija-flores, tucanos, maritacas, pombos, entre outros) e para os insetos polinizadores, tem caráter psicológico (ao incentivar bons sentimentos como equilíbrio e harmonia em meio ao caos urbano) e, ainda, podem preservar os recursos genéticos vegetais.
Por isso as atividades do paisagismo buscam aliar sensibilidade e critério científico para reconstituir a paisagem natural dentro do cenário da frieza das construções. Normalmente, usam-se espécies de raízes pivotantes (que penetram verticalmente no solo) e porte menor para calçadas e, nos casos de áreas maiores, como praças e canteiros centrais (principalmente se não houver fiação aérea), espécies maiores e de raízes superficiais são permitidas.
A preferência é por plantas nativas, de forma que a chance de sucesso aumenta e o impacto ambiental é mais positivo. Entre as espécies mais usadas em Belo Horizonte, por exemplo, estão a sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), murta (Murraya paniculata), quaresmeira (Tibouchina granulosa), ipês (Handroanthus sp.), resedá (Lagerstroemia indica), pata-de-vaca (Bauhinia sp.) e a magnólia (Magnolia sp.). Essa relação vale para várias outras cidades do sudeste e centro-oeste do Brasil.
Outras espécies, de notável efeito ornamental, também são muito usadas no paisagismo urbano, como o pau-ferro (Caesalpinia ferrea), pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia), birosca (Schizolobium parahyba), flamboyant (Delonix regia), aroeira (Schinus molle), as palmeiras em geral (que, embora quase todas sejam exóticas, adaptam-se muito bem ao clima brasileiro), sapucaia (Lecythis pisonis), chichá (Sterculia chicha), paineira (Chorisia speciosa), entre várias outras.
Pra regiões frias, temos árvores que exibem cores em tons avermelhados no outono e algumas gimnospermas, como o bordo (Acer sp.), carvalho (Quercus sp.), plátano (Platanus acerifolia), álamo americano (Populos tremuloides) e o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). Como essas plantas dependem de condições climáticas pouco usuais no Brasil para florescerem, não representam riscos para a flora nativa brasileira.
Algumas têm intenso impacto visual, social ou mesmo histórico, como o baobá (Adansonia digitata, um verdadeiro monumento natural), a barriguda (Cavanillesia arborea, típica do sertão nordestino), a sumaúma (Ceiba pentandra, árvore símbolo da Amazônia) e a embaúba (Cecropia sp., “enfermeira do ambiente”).
Pelo site do IBGE, é possível saber o nível de domicílios urbanos localizados em vias arborizadas de qualquer cidade do Brasil (dados 2010) e, dessa forma, constatar absurdos como a muito deficiente arborização das ruas de cidades no bioma amazônico. Dentre as capitais, a maior porcentagem de domicílios urbanos em vias públicas arborizadas está em Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte (empatada com Porto Alegre), enquanto as mais desfavorecidas nesse sentido são Belém, Manaus e Rio Branco, todas localizadas na maior floresta tropical do planeta.
Vale lembrar que esse estudo não aponta as cidades com mais áreas verdes ou quantidade de árvores, mas aquelas com espécimes próximas dos moradores, ou seja, o que é importante para o dia-a-dia dos cidadãos, mas não relevante para a qualidade ambiental geral das populações de outros animais. Nessa perspectiva, de maneira alguma a arborização urbana substitui a presença de parques, praças, jardins, canteiros e as Unidades de Conservação, pois são esses espaços verdes mais amplos e contínuos que cumprem as funções ecológicas e garantem serviços ecossistêmicos como a diminuição das inundações e a preservação da biodiversidade.
Referências:
VITAL, A. F. M.; SOUSA, M. M. S. P. S.; SOUSA, J. B. de; ARRUDA, O. de A..Implementação de uma composteira e de um minhocário como prática da educação ambiental visando a gestão de resíduos sólidos do CDSA. Revista Didática Sistêmica, v. 14, n. 2, (2012). Disponível em: <https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/2975/1964>.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
PAIVA, Leonardo. Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/arborizacao-urbana-folego-e-inspiracao-para-cidades-mais-sustentaveis.html>.
Redes Sociais: estamos consumindo informação ou desinformação?
Imagem: Rawpixel
Nunca tivemos tanto acesso e tanta informação disponível. Basta ter uma conta em uma rede social que você pode ficar informado sobre milhares de pessoas e assuntos. Também pode assistir uma infinidade de vídeos divertidos e lives sobre qualquer assunto que você imaginar. O resultado é que estamos afogados em meio a tanta informação, acabamos desinformados.
Vocês têm essa sensação de que nunca estamos suficientemente informados, mesmo estando neste mar infinito de informações? Tenho pensado bastante a respeito disso e existem dois pontos que precisamos ter em mente: conhecimento e curadoria.
Conhecimento é diferente de informação. Conhecimento é justamente o que nos possibilita entender o contexto, as repercussões e as consequências. Informação é, por exemplo, você ter direito a pleitear determinada coisa na justiça. Conhecimento é, por exemplo, com base na lei ou no contrato, você ter direito a pleitear tal coisa na justiça. Podemos entender a diferença entre informação e conhecimento, realizando um paralelo com matérias jornalísticas, é como se a informação fosse a chamada (o título) da matéria, enquanto o conhecimento estaria relacionado ao conteúdo da matéria. A informação atrai a atenção, mas não diz tudo o que você precisa saber. E o que mais temos hoje são pessoas compartilhando informações e opiniões, na maioria das vezes, sem conhecimento de causa. E essa é a razão desse excesso ao qual chegamos.
Qual é a capacidade de processamento do nosso cérebro? Que efeitos isso gera na nossa saúde mental? É sustentável tudo isso? Penso que não.
Existem conselhos, inclusive com a finalidade de melhorar nosso posicionamento nas redes sociais, para que deixemos de seguir tantas pessoas. Para que façamos uma curadoria do que estamos realmente interessados em ver, ouvir e consumir. Essa também é uma forma de melhorar sua gestão de tempo e produtividade.
Outra proposta é desativar todas as notificações de aplicativos. Já que essa é uma forma de chamar nossa atenção para que voltemos nossa atenção novamente ao celular. E, sinceramente, eu não sinto que tenhamos muito claro o limite entre o aceitável e o excesso nessa questão também.
No último ano houve um movimento que buscava uma espécie de detox digital. E o objetivo era justamente a manutenção da saúde mental, principalmente em jovens. Utilizava-se como palavra de ordem: reconecte-se. Mas a ideia seria reconectar com as pessoas, com a sua vida.
Se formos refletir e ser coerentes, todos nós que estamos buscando uma vida mais sustentável, mais harmônica, estamos em busca desta reconexão com a vida e o ritmo natural das coisas. E tudo que gera um desequilíbrio parecer estar fora desta prioridade.
Trabalho com previdência social e nesta quarentena pude observar a quantidade de problemas psicológicos aumentar exponencialmente. Pessoas que tinham ansiedade passaram a ter pânico. Pessoas que estavam sob pressão, mas segurando as pontas, acabaram apresentando quadros de depressão. As notícias não abordam muito a questão, mas, muitos idosos têm cometido suicídio. Claro que o fato de estarmos isolados e consumindo informações como nunca não é o único motivo disso tudo, mas, certamente, que tem influência e precisa ser repensado.
Afinal, o que você acha que acontecerá depois de um dia sem a avalanche de notícias? Você terá realmente perdido algo importante? Que tipo de informações a sua profissão exige que você busque?
Como forma de desconectar, temos utilizado o tempo livre (em casa) para conviver. Descobrimos que após o almoço é uma delícia ficar com os gatos no tapete da sala tomando banho de sol. Também estamos montando quebra-cabeça. Já lemos muito (conhecimento). Estamos cozinhando juntos. Literalmente reconectando, pois nesse período eu re-conheci (conheci novamente) o meu marido.
Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo
Cada ser humano produz por dia cerca de 1,2 kg de resíduos. Isso significa que durante uma vida de 70 anos um indivíduo deixa no planeta um legado de, em média, 70 toneladas daquilo que ele considera “lixo”.
Somos mais de 7,8 bilhões de pessoas consumindo, muitas vezes de forma desenfreada, produtos como: sapatos, celulares, roupas, móveis, comida, produtos de beleza e tudo aquilo que surge em nosso campo de visão sem nos questionarmos sobre a destinação de tudo isso após a vida útil desses produtos.
A “Máquina do Consumismo” tem dominado nossos desejos e impulsos. Nós nos tornamos peças essenciais desta engenhoca que utiliza recursos naturais para produzir itens que são desenvolvidos tendo como base a obsolescência programada. Ou seja, itens criados para que, de maneira proposital, durem pouquíssimo tempo e precisem ser substituídos com frequência (como os celulares, por exemplo). Afinal, é esta renovação “imposta” e frenética que faz com que as engrenagens da máquina girem de forma eficiente e alimentem, devidamente, o atroz sistema capitalista.
Sabemos – ou pelo menos deveríamos saber – que todo e qualquer resíduo gerado pelo ser humano causa algum tipo de impacto no meio ambiente. Listamos aqui, alguns dos mais prejudiciais:
Isopor: Aquele copinho de café, aquela bandeja de frios, sabe? Pois é, eles são problema na certa! O isopor é um plástico expandido e leve, pois possui mais bolhas de ar do que petróleo em sua composição. Sendo assim, se torna um resíduo volumoso e sem valor comercial para os catadores. Mas ainda assim algumas empresas estão se especializando na reciclagem desse material, conforme abordamos no artigo “Isopor: é possível reciclar SIM!”, clique aquipara ler.
Plástico descartável: Este resíduo é apenas mais um dos que causam uma grande catástrofe ambiental: leve e barato, atrai pouco o interesse das cooperativas e catadores. Além disso, de acordo com estudo realizado pela Fundação Ellen MacArthur, em parceria com a McKinsey, até 2050 teremos mais plástico do que peixes nos mares e inúmeros estudos já apontam a presença de microplásticos em peixes, frutos do mar e na água doce.
Caixa longa vida: Esta embalagem possui películas prensadas de papelão, plástico e alumínio. A separação desses componentes é muito complexa e por isso, a reciclagem se torna inviável. Então, deve ser melhor consumir leite de garrafa PET, certo? Errado! O PET leitoso (como é conhecido) apresenta as mesmas – ou ainda maiores – dificuldades no processo de reciclagem. E a pior parte, é que o principal argumento utilizado por algumas das empresas que vêm adotando as garrafas é: “a embalagem é mais atrativa ao consumidor; é mais bonita”. Sim, você leu “bonita”!
Além da grande demanda por produtos contidos nestas embalagens, ainda enfrentamos a falta de conhecimento e disposição da população para realizar a gestão adequada dos resíduos. Segundo departamentos municipais de limpeza urbana, seis toneladas de lixo reciclável não são aproveitadas, diariamente, por não estarem limpas, secas e separadas corretamente.
Mas, afinal, qual é a forma correta do descarte? Se você acha muito difícil ter muitas lixeiras em casa ou decorar várias cores, aí vai uma dica prática. Separe seus resíduos da seguinte maneira:
Rejeito: é o único tipo de resíduo que deve ir para o aterro sanitário (que é bem diferente de lixão), pois não pode ser reaproveitado. Por exemplo: papel higiênico, fraldas, papéis de fritura, etc.
Reciclável: é todo resíduo seco, o qual deve ser devidamente lavado (com água de reuso de preferência) e destinado aos catadores e cooperativas.
Orgânico: é todo resíduo úmido, como restos de comida, frutas e verduras e que pode ser utilizado em composteiras, por exemplo.
E se, por acaso, você disser: “ah, mas no meu prédio/bairro/cidade não tem coleta seletiva, o caminhão de lixo mistura tudo”. Eis que o Cataki resolve isso. O aplicativo é responsável por conectar o morador aos catadores da região. Ele funciona como uma espécie de aplicativo de carros, apontando no mapa o catador mais próximo da sua residência. Para saber mais como funciona o aplicativo, leia nosso artigo “Cataki: o aplicativo que conecta catadores e gera renda”,clicando aqui.
Quanto à compostagem, você pode ter sua própria composteira caseira e deixar que as minhocas façam o trabalho de digerir o material orgânico, gerando um adubo de excelente qualidade, sem produzir mau cheiro.
Podemos – e devemos –, portanto, pensar em estratégias que reduzam o impacto que geramos no planeta. Pequenas mudanças de hábito e comportamento podem ser adotadas: não exige grandes esforços dar preferência às embalagens de papel e papelão, substituir o copo plástico do cafezinho por uma caneca, a garrafa plástica por uma reutilizável, as 50 sacolas de supermercado por meia dúzia de ecobags. Nem sempre é mais custoso fazer a ação correta. E, apesar de nenhuma dessas posturas isoladas causarem o “alívio” necessário à Terra, elas permitem, efetivamente, que a transformação seja iniciada.
De fato, as grandes marcas e indústrias, são as maiores responsáveis pela geração e destinação incorreta dos resíduos. Porém, um sistema econômico que se mostra insustentável e que tem como pilares a ganância, a desigualdade social, a exploração e a maximização dos lucros não pode ser ignorado, deve ser revisto, remodelado e combatido através das nossas “imperceptíveis” ações diárias de resistência e quebra de paradigmas.
É urgente que façamos a parte que nos cabe e que usemos nosso poder de consumo com sabedoria, espalhando o bom exemplo e cobrando medidas restritivas de órgãos públicos e privados, pois só assim, exercendo a Responsabilidade Compartilhada, veremos mudanças significativas no mundo em que habitamos. Tendo sempre em mente que “o melhor lixo é aquele que não é gerado”.
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SILVA, Pâmela. Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/gestao-de-residuos-lanca-luz-sobre-as-trincas-do-capitalismo.html>.
Decolonizar o olhar: a saída para proteção dos povos nativos
Imagine se a história que aprendemos na escola fosse contada do ponto de vista dos povos que aqui moravam antes da colonização. Quão diferentes seriam nossas percepções sobre os indígenas? Será que daríamos mais relevância para suas vidas?
Não sei responder a essas perguntas porque esta não é a realidade brasileira, já que, desde pequenos aprendemos que “índios” são aqueles seres atrasados na civilização, preguiçosos, que aprenderam a ser “humanos” com os europeus colonizadores. Aprendemos que eles foram catequizados e a partir daí ganharam “alma”. Aprendemos que eles permitiram a entrada dos colonizadores trocando os bens naturais por objetos simples, como espelhos ou pentes. Aprendemos que eles não foram bons o suficiente para o trabalho e, portanto, os europeus “precisaram” buscar negros no continente africano para escravizar.
A construção da imagem desumanizada dos povos indígenas tem um objetivo: a facilitação de sua aniquilação. Quando os primeiros colonizadores chegaram, havia milhões de indígenas aqui. Hoje, temos algumas centenas de milhares e este número vem caindo por causa de uma política de destruição (em vez de proteção) do meio ambiente nacional.
Doenças, invasão de terras, evangelização/catequização, agronegócio. Todos esses males (ainda) contribuem para a difícil luta pela sobrevivência dos vários povos. Em 1988, o Brasil deu início à construção de um projeto de proteção às terras indígenas com o artigo 231 da Constituição Federal que foi regulamentado pelo Decreto n.º1775/96. Essa é a base normativa que serve de guia para a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) decidir sobre a proteção às terras que são tão fundamentais para a sobrevivência dos mais diversos povos.
A consciência sobre a responsabilidade estatal de proteção aos indígenas veio tardiamente no Brasil. Apenas em 1910 foi criado um órgão que retirou das mãos da Igreja o papel assistencialista de cuidado aos indígenas. Em 1967 foi criada a FUNAI e apenas em 1988 a compreensão passou a ser desatrelada à ideia de assistencialismo para a ideia de proteção e certa independência dos povos.
Até que chegou 2019 e um novo governo que acredita que o tamanho das terras indígenas é “abusivo”, portanto, o trabalho da FUNAI tem sido dificultado e a destruição das florestas tem avançado. A Amazônia perdeu em média 2.110 hectares de floresta por dia em 2019, segundo Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas. A destruição da Amazônia está intrinsecamente ligada à destruição de terras indígenas, ao avanço de pessoas não-indígenas em áreas preservadas, ao avanço de doenças junto a elas e, consequentemente, à morte de brasileiros indígenas.
É preciso afirmar e reafirmar a humanidade dos brasileiros indígenas. Enquanto olharmos para este grupo como “outros”, não conseguiremos estabelecer empatia e continuará sendo fácil aceitar sua destruição. A ideia de que brasileiros e brasileiras estão sendo mortos para que a exploração econômica de terras seja possível talvez doa mais do que a ideia de que indígenas estão morrendo para que essa exploração aconteça.
Qual das duas manchetes dói mais em você? Qual você deixa passar na leitura diária das notícias? Apenas uma delas é real. Decolonizar a nossa visão de mundo é urgente para salvar o meio ambiente e nossos irmãos nativos deste projeto de destruição.
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OLIVEIRA, Tassi. Decolonizar o olhar: a saída para proteção dos povos nativos. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/decolonizar-o-olhar-a-saida-para-protecao-dos-povos-nativos.html>.
O quanto de Brasil nós preservamos?
O Brasil é um país com grande riqueza de ecossistemas que se distribuem em seis biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal, comportando uma grande variedade de espécies e de interações biológicas bem únicas. Devido a anos de exploração e expansão urbana, diversos ecossistemas ficaram comprometidos, levando a perda da biodiversidade e consequentemente de funcionalidade, até que no ano de 2000 foi aprovada a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9985/00) que prevê mecanismos de defesa de ecossistemas e de recursos naturais.
Atualmente existem dois tipos de Unidades de Conservação (UCs), as Unidades de Proteção Integral que possuem os mais altos graus de conservação, não permitindo o consumo, coleta ou danos aos recursos protegidos, sendo que algumas categorias desse tipo de UC sequer permitem visitação da sociedade. Já no segundo tipo de Unidades de Conservação, as Unidades de Uso Sustentável, é permitido o extrativismo, porém de forma regulada.
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil conta com cerca de 18,15% do seu território continental protegido, o que corresponde a uma área de 1.545.422 km². Dessa área, 6,03% são UCs de Proteção Integral contando com planos de manejo, porém sem gerar recursos que podem ser extraídos pelas populações locais para gerar renda. Os outros 11,81% dizem respeito a UCs de Uso Sustentável, que contam tanto com plano de manejo, como também geram recursos para as comunidades locais, permitindo sua exploração e geração de renda.
Já de área marinha, cerca de 27% das águas brasileiras são protegidas (o que equivale a 960.774 km²), 23,06% dessa área corresponde a UCs de Uso Sustentável, das quais muitas foram implementadas para promover o extrativismo sustentável de pescadores e marisqueiras.
Embora os números soem expressivos, dado o tamanho do Brasil, é importante destacar que muitas dessas UCs protegem pequenos fragmentos, muitas vezes não representando uma parte significativa do ecossistema. Tendo como exemplo a Mata Atlântica, que se estende de parte da costa do nordeste, pega todo o estado de Sergipe e se estende até alguns estados do sul, embora seja o segundo bioma brasileiro mais protegido é o que possui maior número de UCs – são 1.437 UCs que protegem cerca de 108.867 km² de Mata Atlântica. No entanto, a maior parte dessas UCs protegem apenas pequenos fragmentos que não necessariamente resguardam toda a biodiversidade presente nesse ecossistema, que atualmente conta com apenas cerca de 12% da sua cobertura original. Ou seja, desde o período de exploração do Brasil, perdemos cerca de 88% das informações e das riquezas naturais presentes nesse bioma, e desses 12% restantes, protegemos muito pouco dele.
As UCs da Amazônia também possuem suas peculiaridades, seguindo um caminho contrário à Mata Atlântica, a Amazônia conta com cerca de 352 UCs que protegem 1.180.382 km² do bioma. É 10 vezes mais do que o território protegido de Mata Atlântica, porém, mais da metade dessa área é destinada a UCs de Uso Sustentável.
Mesmo que a conservação do meio ambiente seja garantida por lei, muitas espécies e ecossistemas essenciais acabam ficando de fora, e até mesmo as áreas protegidas estão sujeitas a desastres que causam danos severos, como no caso do derramamento de óleo no litoral brasileiro em 2019 que atingiu diversas cerca de 55 UCs, como também os incêndios na Amazônia (2019-2020) e os incêndios no Pantanal (2020).
Todos nós somos dependentes da natureza, tanto pelos produtos que ela provém, como pelos serviços que ela nos presta. Assim, cabe a todos nós avaliar nossas ações para minimizar nossos impactos e cobrar do governo a criação de novas UCs, bem como a implementação de planos de gestão eficientes que assegurem a conservação e práticas sustentáveis a longo prazo, além de planos de contenção para que desastres como os citados acima tomem grandes proporções.
PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrinha; vida, 2011, 328 p.
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MIRANDA, Paulo Henrique. O quanto de Brasil nós preservamos?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/o-quanto-de-brasil-nos-preservamos.html>.
Projeto muda vida de pessoas com deficiência através da dança
Um projeto em que as pessoas vivenciam a descoberta de seus corpos, suas potencialidades e movimentos, aprendendo com suas diferenças a construir uma releitura de si mesmo, do outro e do mundo.
Esse é a “Companhia de Dança sobre Rodas”, um dos projetos da Associação Elos da Vida, uma ONG que desenvolve atividades de arte e qualificação profissional voltadas para pessoas com deficiência há 19 anos.
Sua missão é contribuir na inclusão social de crianças, jovens e adultos com deficiência e em situação de vulnerabilidade social, com projetos de educação, arte e cultura.
Em 2002, a Elos da Vida iniciou um processo de inclusão social através da dança com a “Companhia de Dança sobre Rodas”, constituída por bailarinos com e sem deficiência física, num exemplo concreto de que não existem limites para a construção do desenvolvimento humano. Nela os bailarinos experimentaram momentos de aprendizado, conquistam autonomia, ampliam sua consciência corporal e reconstroem a própria vida.
Além do projeto de dança sobre rodas, a associação desenvolve também, ações de qualificação profissional e social de jovens com deficiência, em parcerias com outras organizações; práticas de educação ambiental e, aulas de consciência corporal com alongamento e relaxamento.
Os programas contribuem para o desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social de jovens com deficiência e suas famílias. Além disso, a superação do preconceito social pelo fortalecimento de sua auto estima e potencialização de suas capacidades e experiências. Até o momento mais de 10 mil pessoas beneficiadas.
Vale lembrar que os projetos são mantidos por convênios com instituições privadas a nível nacional e local, aprovados em concursos e editais públicos.
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SOUZA, L. B. Leonardo. Projeto muda vida de pessoas com deficiência através da dança. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/elos-da-vida-companhia-danca-sobre-rodas.html>.
Feira Online de Emprego para Pessoas com Deficiência (PcD) – Oportunidade de Inclusão!
O desemprego vem assolando boa parte da população brasileira, segundo dados do IBGE publicados em 18 de setembro, já são 13,7 milhões de desempregados em todo país. Quando observamos os dados de empregabilidade para as pessoas com deficiência (PcD) – que correspondem a 24% da população brasileira, conforme dados do Censo 2010 – notamos que apenas 486.756 PcD estão empregados formalmente no país (ou seja, menos de 1%), de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2019.
Embora a inserção de Pessoas com Deficiência (PcD) no mercado de trabalho seja garantida por lei desde 1991 (Lei nº 8.213/1991), infelizmente, ainda é muito difícil que empresas cumpram o estabelecido pela lei, isto é, preencher parte do quadro de funcionários com pessoas com deficiência.
De acordo com o artigo 93 da referida lei, a empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. A empresa que tenha até 200 empregados é obrigada a preencher 2% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. Já a empresa que possua entre 201 a 500 funcionários precisa ocupar 3% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. A empresa que possuir entre 501 e 1000 funcionários deve ocupar 4% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. E empresas com mais de 1001 funcionários precisa ocupar 5% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.
Visando melhorar a situação de acesso a vagas e emprego para pessoas com deficiência (PcD), a Egalitê realizará um evento online nacional e gratuito.
Oportunidade de Emprego
A Inclui PcD é uma feira digital de emprego voltada exclusivamente para Pessoas com Deficiência (PcD) que acontecerá entre 21 e 28 de setembro de 2020. O evento online, devido ao cenário de pandemia que estamos atravessando, será gratuito tanto para as PcDs quanto para as empresas interessadas em ofertar vagas de emprego.
A data para o início do evento foi escolhida especialmente – o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência e representa o objetivo da organizadora do evento: conectar os profissionais com deficiência às empresas que pretendem contratar. Para isso, haverá um chat direto entre candidato e empresa para que haja troca, esclarecimento de dúvidas e alinhamento.
Organizada pela Egalitê, startup de HRtech especializada na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, a feira já conta com mais de mil vagas cadastradas por empresas como: Magalu, Natura, Mercado Livre, Oi, Loreal Brasil, P&G, EDP, Grupo Dimed, J.P. Morgan e CSN, conforme informado por Guilherme Braga – fundador e CEO da Egalitê.
Além disso, a feira contará com conteúdos selecionados para auxiliar na busca de oportunidades de emprego e desenvolvimento de carreira e com palestras de especialistas como Michael Stein, Diretor Executivo do Programa de Empregabilidade da Pessoa com Deficiência em Harvard, Djalma Scartezini, Senior Manager EY, Fernando Heiderich, do Instituto Meta Social, Dr. Kal, da Câmara Paulista de Inclusão, e a Luiza de Paula, do Instituto Rumo.
Se interessou? Saiba mais no site da Inclui PcD, clicando aqui. E acompanhe também pelas redes sociais:
História, Cultura e Educação: combatendo a intolerância e promovendo a inclusão social
O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais – é o quinto maior país em extensão territorial do mundo, possuindo dimensões continentais – e culturalmente muito diverso, sua população é resultante, em sua maioria, de miscigenação de várias raças. Essa diversidade faz com que sejamos conhecidos internacionalmente como um povo alegre, receptivo e que adora festejar (basta dar um “Google” e conferir). Porém, observando mais atentamente nossa sociedade é possível perceber que essa diversidade guarda muitas questões que precisam ser discutidas e debatidas para que se finde a exclusão social que alguns grupos étnico-raciais sofrem historicamente.
Nossa formação enquanto sociedade demonstra historicamente a necessidade de medidas mais específicas para a inclusão social desses grupos marginalizados, as chamadas ações afirmativas – que tem como objetivo promover a igualdade substancial de grupos que estejam em situação desfavorável, sendo vítimas de discriminação e estigma social (SARMENTO, 2007).
“O conceito de ações afirmativas é amplo e abarca um conjunto de políticas e práticas que têm por objetivo a concretização da ideia de justiça como forma de resposta às desigualdades econômicas e históricosociais. Segundo a perspectiva doutrinária estabelecida por Joaquim Barbosa, as ações afirmativas podem ser entendidas como ‘políticas públicas e privadas voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física’”(ARAÚJO, VIEGAS, 2016, p. 182).
Outra forma de alterar positivamente esse cenário é através da educação e conscientização dos cidadãos que estão em formação, isto é, as crianças e adolescentes. Nesse sentido é de extrema relevância a Lei nº 11.645/2008 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996) e torna obrigatória a inserção da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo oficial da rede de ensino. Dessa forma, busca-se integrar ao ensino diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos – negros e indígenas, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política para a constituição do Brasil.
O desenvolvimento da consciência sobre a importância de negros e indígenas para a formação do país, através do aprendizado e do entendimento da história e cultura desses grupos, é primordial para que tenhamos uma real magnitude dos grupos étnicos-raciais que foram a base para a sociedade brasileira atual. Durante muito tempo nossa história foi contada, escrita e ensinada apenas por um prisma dessa sociedade – a européia – relegando aos negros e indígenas o papel de escravizados, colonizados e conquistados, não levando em consideração a formação sociocultural desses grupos e a riqueza que toda sua história possui (línguas, religião, arte, costumes…). O não conhecimento sobre a importância de negros e indígenas gera concepções rasas e pré-estabelecidas por um ideário de viés europeu-colonizador onde esses grupos étnicos-raciais são entendidos como menos importantes e com pouca relevância em nossa história. Essa é a raiz para o preconceito e para o racismo em nossa sociedade.
No entanto, é perceptível que ainda existe um abismo entre o que é garantido por lei e o que de fato vem sendo aplicado ao ensino em nosso país. Falta de verba, não incentivo à qualificação de professores no campo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, pouca presença de professores negros e indígenas em salas de aula são alguns dos obstáculos que reduzem a perspectiva de ensino apenas à dimensão ética do não discriminar. De acordo com Rodrigues e Cardoso (2018), “ultrapassar a perspectiva da ética para trazer um enfoque conceitual possibilitaria aos estudantes compreenderem a relação histórica entre o continente africano e o brasileiro no passado e no presente”.
Pensando nisso, separamos algumas indicações de materiais que podem ajudar educadores, professores e responsáveis na missão de conhecer e se aprofundar nas culturas negra e indígena:
Coletânea História Geral da África
Essa coletânea é composta por oito volumes que trazem a história do continente africano desde a pré-história até a década de 1980: Metodologia e pré-história da África; África antiga; África do século VII ao XI; África do século XII ao XVI; África do século XVI ao XVIII; África do século XIX à década de 1880; África sob dominação colonial, 1880-1935; e África desde 1935. A coletânea foi criada e editada pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura e pode ser acessada gratuitamente, clicando aqui.
Segundo a Nova Escola, o conhecimento sobre as questões raciais é fundamental no processo de enfrentamento do racismo e das violências que ele reverbera e trazer esse conhecimento de maneira transversal no currículo de ensino e multidisciplinar engrandece o entendimento sobre a cultura e a realidade socioeconômica de negros e indígenas.
Curso de Cultura Afro-Brasileira na Educação
O Pensar Cursos está disponibilizando em seu site de forma gratuita o curso Cultura Afro-Brasileira na Educação. O objetivo do curso é capacitar profissionais de diversas áreas de conhecimento e estudantes que buscam atualização sobre o assunto. Além disso, ao final do curso é expedido pelo site um certificado de conclusão do curso que é válido em todo o território nacional. Para acessar o curso, basta clicar aqui.
Projeto Rede Mulherações
O Projeto Rede Mulherações foi idealizado pelas professoras Sulamita Rosa da Silva, Cláudia Marques de Oliveira e Beatriz Domingos da Silva, todas pesquisadoras do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre – Neabi/UFAC. O objetivo da Rede Mulherações é preparar mulheres negras, indígenas e afroindígenas para o ingresso em cursos de mestrado e doutorado.
Segundo Sulamita Rosa da Silva, esse movimento foi pensado para “uma maior representatividade de corpos negros e indígenas ocupando os espaços da pós-graduação, e posteriormente, da docência universitária, enegrecendo não apenas as fronteiras físicas, como também as narrativas, saberes e conhecimentos produzidos nas instituições educativas.”. Para acompanhar o Projeto Rede Mulherações, basta clicar aqui. E para acompanhar a Professora Mestra Sulamita Rosa da Silva, basta clicar aqui.
“Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Nelson Mandela
Gostou do nosso conteúdo e quer utilizar parte deste artigo? Não esqueça de nos citar! Saiba como colocá-lo nas referências:
ARAÚJO, Luis Claudio Martins; VIEGAS, Tiago Machado. Discriminação Positiva e as Ações Afirmativas: Equalização e Reparação Histórica das Minorias Estigmatizadas pelas Medidas Positivas de Inclusão no Serviço Público. Quaestio Iuris, vol. 09, nº. 01, Rio de Janeiro, 2016. p. 181-204. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/18102/15799>.
Um mar de inclusão: cadeiras anfíbias auxiliam cadeirantes a aproveitar a praia
Com um litoral de 7.367 km e mais de duas mil praias, o Brasil é um verdadeiro paraíso para os amantes do mar. De norte a sul do país há opções tanto para quem procura o descanso quanto para quem gosta de festas e diversão à beira-mar.
Quando o assunto é turismo, as praias são os passeios mais procurados por brasileiros e estrangeiros. No entanto, as belezas das orlas brasileiras, muitas vezes, possuem pouca ou nenhuma acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
A acessibilidade nos espaços turísticos é um direito de todos, que independe de ter ou não uma deficiência. Esse direito que deve contemplar todos os segmentos que envolvem o turismo, tornando-os acessíveis para que as pessoas possam desfrutar das mesmas possibilidades e quaisquer serviços de lazer, turismo e trabalho.
No Brasil, são raros as praias que permitem a circulação livre de pessoas com deficiência, além das próprias cadeiras de roda não serem próprias para enfrentar a areia e acessar o mar. Assim, uma simples ida à praia pode ser um grande desafio para quem utiliza cadeira de rodas.
Cabe lembrar que existem diversas legislações e políticas públicas para que essas questões sejam vistas na prática. Contudo, nem todas as leis são cumpridas de maneira adequada, além de não serem fiscalizadas corretamente.
Mas, em tempos de inclusão social, alguns estados já possuem projetos sociais voltados para tornar viável o acesso e o banho de mar a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
As esteiras acessíveis facilitam o acesso à praia e o deslocamento sobre a areia mais fofa e, as cadeiras anfíbias tornam o banho de mar seguro e inclusivo. As cadeiras anfíbias possuem pneus mais largos e de borracha e se assemelham a espreguiçadeiras com diferentes posições de encosto.
Para incluir os cadeirantes e ajudá-los a aproveitar a praia, o Praia para Todos, presente no Rio de Janeiro promove a acessibilidade nas praias cariocas, com uma equipe especializada em atividades esportivas e de lazer com pessoas com deficiência. São atividades como Handbike, Vôlei Sentado, Banho de Mar Assistido, Stand Up Paddle, Frescobol e Surf Adaptados.
Em Itanhaém, no estado de São Paulo, o projeto Praia Acessível, apoiado pela prefeitura, oferece cadeiras anfíbias para que pessoas com deficiência possam desfrutar das praias com autonomia e dignidade.
Outras cidades brasileiras que apresentam acessibilidade nas praias estão:
Bertioga, Guarujá, Santos, São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba, Mongaguá e Peruíbe, em São Paulo;
Maceió, em Alagoas;
Porto de Galinhas e a Praia da Boa Viagem, em Pernambuco;
Balneário Rincão, Balneário Camboriú, Itapema e São Francisco do Sul, em Santa Catarina;
Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paraná, no Paraná.
Além de promover a inclusão social, projetos sociais como estes, apoiados pelo poder público e/ou pela iniciativa privada, tornam a praia um local realmente democrático e inclusivo. Ganham as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida, o setor do turismo e a sociedade.
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SOUZA, L. B. Leonardo. Um mar de inclusão: cadeiras anfíbias auxiliam cadeirantes a aproveitar a praia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/um-mar-de-inclusao-cadeiras-anfibias-auxiliam-cadeirantes-a-aproveitar-a-praia.html>.
Mas afinal o que é Inclusão Social?
A Inclusão Social é o ato de dar a todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, os mesmos direitos e oportunidades. Integrar à sociedade grupos sociais historicamente à margem do processo de socialização, não tendo o devido acesso a direitos sociais mais básicos como educação, emprego digno, moradia, saúde e alimentação adequada.
Assim, a inclusão social é uma tentativa de corrigir a exclusão de alguns grupos como negros, indígenas, pessoas com deficiência, homossexuais, travestis e transgêneros, bem como aqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como pessoas em situação de rua e pessoas de baixa renda.
Ao falarmos sobre inclusão social, estamos também falando da Declaração Universal de Direitos Humanos que passou a estabelecer pela primeira vez, em 1948, a proteção universal dos direitos humanos, e conceitos como liberdade e a igualdade entre as pessoas passou a ganhar espaço no debate.Também estamos falando da nossa Constituição Federal de 1988, que assimilou a importância pela busca do direito à igualdade e, consequentemente, da inclusão social dos grupos sociais mais à margem, ao ordenar que nenhum cidadão pode ser submetido a qualquer forma de discriminação.
A inclusão social, nesse contexto, transformou-se em um objetivo e uma forma de luta. Assim, há atualmente inúmeros movimentos sociais – raciais, feministas, de grupos homossexuais, de religiões de matriz africana e outras, de portadores de necessidades especiais – que reivindicam do poder público e da sociedade de modo geral, políticas públicas efetivas que visam combater as diferenças históricas e sociais.
Nesse sentido, as políticas públicas amplas devem ser voltadas ao exercício da Inclusão Social, devendo superar as diversas formas de desigualdades sociais, culturais, educacionais e econômicas e, viabilizar a democratização de diversos espaços e serviços para aqueles que não possuem acesso a eles.
Abaixo, alguns exemplos de políticas públicas para inclusão social:
Cotas em universidades públicas e concursos públicos para negros e indígenas oriundos de escolas públicas e para estudantes de escolas públicas em geral;
Inclusão de pessoas com deficiência física ou de atrasos cognitivos em escolas regulares;
Programas de assistência social a pessoas de baixa renda e pessoas em situação de vulnerabilidade social, como pessoas em situação de rua;
Programas de profissionalização de jovens oriundos de famílias carentes;
Programas de assistência psicossocial e profissionalização de homossexuais, transexuais e travestis;
Acessibilidade para pessoas com deficiência, como cegos, surdos e cadeirantes, em espaços públicos ou espaços coletivos geridos pela iniciativa privada, além da acessibilidade em calçadas e passarelas do passeio público.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
SOUZA, L. B. Leonardo. Mas afinal o que é Inclusão Social?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/o-que-e-inclusao-social.html>.
Natureza como ferramenta de inclusão social
Mas desde quando natureza é ferramenta?
Eu não sei você, mas eu não resisto a um pé de amora, daquelas bem pretinhas, no caminho. Não importa para onde eu esteja indo ou de onde esteja vindo (a única diferença é que agora incluímos o álcool gel antes e/ou depois de qualquer contato), também pouco importa se vai manchar mão, boca e roupa. Parece sempre um chamado da natureza mostrando que ela está por toda parte, que está ali a um palmo de distância e tem um gostinho delicioso de conexão, de nutrientes, de saciedade, de vida!
Quantas vezes nos deparamos com quintais cheios de frutos caídos, calçadas e ruas cobertas com pedaços pisoteados de ameixas, mexericas (cada região tem um jeito de chamar essa fruta), cajus, mangas, etc. Com as estações mais quentes se aproximando, passamos a encontrar mais flores e frutos plantados e, por consequência, espalhados. E se eu dissesse que essa conta tem um coeficiente a mais para poder fechar? A vulnerabilidade social.
Como Max Ehrmann já dizia, em Desiderata, “você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino”. Enquanto seres vivos, somos parte da natureza assim como o solo, as águas, o ar e todos os outros elementos. E, se tudo é natureza, o natural é que todos sejam e se sintam parte disso, de fato.
Por isso, sempre digo que a natureza pode ser sim uma excelente ferramenta de inclusão social, em diferentes frentes, mas hoje o assunto é muito específico: alimentação natural, gratuita ou barata, compartilhada, inclusiva na socialização, na nutrição, no acesso, na cultura. Se plantarmos não só o que queremos colher, mas também o que podemos dividir, estamos utilizando a terra para cultivar temperos, alimentos, frutos e também o bem, o amor, a solidariedade, a humanidade.
Claro que não dá para sair rua afora plantando aleatoriamente. É necessário aprender um pouco sobre espécies, técnicas e solo, descobrir como funciona a questão no seu município, ver espaço apropriado, etc. Mas o poder que uma horta comunitária tem é transformador, é a comunidade pela comunidade, a natureza pela natureza. E, se o cultivo coletivo já é inclusivo, imagina a colheita!
Em Curitiba, este ano foi inaugurada a primeira Fazenda Urbana, um dos muitos exemplos de como podemos ressignificar espaços vazios ou improdutivos e transformá-los em ambientes de saúde, conhecimento e inclusão. Uma área que acumulava lixo a céu aberto, hoje concentra mais de 60 variedades de produtos orgânicos que são destinados a projetos sociais previamente cadastrados. Esses alimentos naturais, saudáveis, são transformados em refeições e entregues a pessoas em situação de vulnerabilidade.
Além da Fazenda, formalmente a cidade tem mais de 30 hortas comunitárias cultivadas pelos cidadãos, com supervisão e auxílio de órgãos ambientais e ONGs. E esse número é muito maior quando começamos a andar por aí, escolas, quintais, terrenos baldios, etc. Assim como sei que por outras cidades também seja assim.
Na Região Metropolitana, em Almirante Tamandaré, conheci um senhor que há mais de 20 anos levantava às 5 horas todos os dias para cuidar da horta que fez em um terreno abandonado na esquina de casa. Passei uma semana na comunidade e, diariamente, dezenas de pessoas passavam naquele lugar para pegar algum item. Milho, tomate, quiabo, pimentão, laranja, mamão, alface, temperos. E a cada entrega fazia sentido o acordar dele às 5 horas. Porque significava tornar um alimento acessível, partilhar o que a terra nos dá e viver melhor. Ele não precisava fazer aquilo, ele não era obrigado a estar lá todos os dias, ele não ganhava “nada” com isso, financeiramente falando. Mas aquilo dava a ele um retorno sem preço.
Quando descobri que uma horta comunitária pode ser feita por um só e mesmo assim beneficiar uma comunidade inteira, sonhei com uma horta global que incluísse a natureza em todo e cada prato (mesmo de quem nem prato tem). Se cada um pudesse semear uma única coisa no mundo, você comeria um prato de um só item por quanto tempo? Quanto tempo levaria até aprender a partilhar e deixar o prato multicolorido vivendo em sociedade? Agora me diz, você está partilhando com quem está vivendo com você ou comendo um único item?
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CARVALHO, Bruna. Natureza como ferramenta de inclusão social. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/natureza-como-ferramenta-de-inclusao-social.html>.
Ensinar Requer Alegria e Esperança
2020 está sendo e será um ano marcante para todos nós. A educação como conhecemos virou de cabeça para baixo, desigualdades foram escancaradas e estivemos de frente com nossos próprios reflexos por mais tempo do que estávamos acostumados.
Com tantos desafios, tragédias e bombardeios diários de catástrofes em forma de notícias, é inevitável que aflorem sentimentos como impotência, vulnerabilidade, cansaço, frustração e raiva.
Esbanjando um tempo extra e tendo o privilégio de ler mais enquanto estou em casa, me deparei com um trecho de um livro de Paulo Freire no qual ele fala sobre esses sentimentos negativos diante do mundo. Freire diz que o direito a ter raiva pressupõe que o futuro não é algo pré-determinado. Temos raiva porque nos incomodamos com a situação presente e temos amor pelo mundo, por nós mesmos e uns pelos outros. “O mundo não é, o mundo está sendo”.
Nós educadoras e educadores precisamos constantemente nos lembrar que não somos objetos, mas sim sujeitos da história e que ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Alguns nos chamam de “loucos” ou “ingênuos”, mas a loucura é seguir vivendo como estamos e a ingenuidade é acreditar que o planeta aguentará ser explorado sem limites por tanto tempo.
Revisitar a concepção de futuro como uma possibilidade e não como uma determinação começa com recuperar nossa capacidade de sonhar e de imaginar um mundo completamente diferente de como ele é hoje.
Meu convite é para que façamos individualmente e depois com nossos alunos o exercício de idealizar outros mundos possíveis:“O que acontecia antes da pandemia que não queremos mais que aconteça? O que precisamos que mude? O que queremos potencializar? Como a gente quer que seja nossa escola?” Caso se sinta esperançosa e alegre depois do exercício, compartilhe aqui seus sonhos nos comentários.
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Menstruação e sustentabilidade: alternativas aos absorventes descartáveis
A menstruação ainda é um tabu e raramente o tópico é discutido com naturalidade, principalmente quando falamos de sangue.
Você sabia que uma pessoa com vulva, durante sua vida fértil, utiliza entre 10 e 15 mil absorventes (externos e/ou internos), que equivale a cerca de 180 kg de lixo exclusivamente proveniente destes produtos descartáveis?
Além dos absorventes convencionais serem feitos de celulose (que muitas vezes, causa desmatamento para sua produção) e plástico (derivado do petróleo), no Brasil estes produtos não possuem destinação correta após o descarte e, nos aterros, demoram até 100 anos para se decompor.
Pensando nisso, trouxemos algumas alternativas ambientalmente sustentáveis para tornar o seu período menstrual mais leve (além de todos os benefícios e conforto para além de ajudar o ambiente) e para desafiar esse novo olhar.
Coletor Menstrual
Feito de silicone medicinal, o famoso “copinho” é produzido sem nenhum tipo de produto químico e deve ser encaixado dentro do canal vaginal, onde ele vai coletar o sangue (e não absorver). Dependendo do fluxo, o coletor pode ficar até 12 horas até ser esvaziado, limpo e reinserido no canal.
O uso do coletor elimina odores provenientes do contato do sangue com o ar e pode ser utilizado (dependendo do fabricante) de 5 a 10 anos antes do descarte.
Disco Menstrual
Muito similar ao coletor, o disco coletor também é feito de silicone e pode ficar até 12 horas inserido, porém posiciona-se mais fundo no canal vaginal. O grande ponto positivo do disco é a possibilidade de ter relações sexuais durante o seu uso!
O disco possui apenas um tamanho padrão e vale lembrar que não funciona como método contraceptivo.
Calcinhas Absorventes
As calcinhas absorventes são como calcinhas normais, mas que absorvem o sangue e podem ser lavadas e reutilizadas. Duram aproximadamente dois anos e existem em diversos modelos para fluxos diferentes.
É ideal para quem não se sente confortável em utilizar coletores internos, mas também pode ser utilizados juntos a eles, garantindo proteção extra em caso de vazamentos.
As calcinhas absorventes possuem o toque seco mesmo quando utilizadas e também são uma opção para pós-parto e incontinência.
Absorventes de Pano
Muito próximos à calcinha, os absorventes de pano também podem ser lavados e reutilizados, mas são uma opção mais barata e que pode se adaptar à calcinha da sua escolha.
Possibilitam a troca mais rápida e fácil no dia-a-dia (não é necessário trocar a calcinha quando chega a hora) e muitas marcas disponibilizam bolsas impermeáveis para maior conforto durante a troca.
O que você acha de uma menstruação mais sustentável e saudável? Que tal buscar novas formas de vivenciar o seu período menstrual?
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MOSS, Luana. Menstruação e sustentabilidade: alternativas aos absorventes descartáveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/menstruacao-e-sustentabilidade-alternativas-aos-absorventes-descartaveis.html>.
Uma receita vegana para reconexão com a natureza: Biscoitinho simples usando folha como molde e especiarias para colorir!
Setembro é o mês da primavera e de colocarmos no olhar a reconexão com a natureza que está a nossa volta. Muitas vezes, ser sustentável implica em ser simples, contemplativo e criativo com aquilo que temos em mãos.
Olhe para suas cantoneiras ou para seus vasos. Se você tiver um jardim, melhor ainda! Recolha algumas folhas secas que as plantas abandonaram em um lindo movimento de renovação, higienize bem e use como molde para cortar os biscoitinhos propostos nesta receita. A quantidade de biscoitos vai depender do tamanho deles, conforme as folhas que você escolheu.
Receita Biscoito Autossustentável
Ingredientes
½ xícara de chá de açúcar demerara
½ xícara de chá de farinha de casca de maracujá (Você até pode assar a casca em casa e processar, mas certifique-se de deixar bem fininha – O preço da farinha comprada a granel é bem acessível, só não esqueça de levar na compra seu próprio saquinho sustentável de tecido ou um potinho para evitar sacos plásticos!)
01 colher de sopa bem cheia (encha bem a colher) de óleo de coco em estado mais sólido
01 colher de sopa de farinha de linhaça dourada
Gengibre ralado ou em pó a gosto
Gergelim preto a gosto
Canela em pó também a gosto
02 colheres de sopa de farinha de trigo
02 colheres de sopa de amido de milho
Modo de Fazer
Vá colocando um pouco de água enquanto mistura todos os ingredientes. A massa fica firme, mas maleável e sem grudar nas mãos.
Fica maravilhoso acrescentar camomila, hibisco e outros tipos de chá na massinha do biscoito.
Moldando o Biscoito
Abra a massa numa superfície lisa com um pouco de farinha de trigo ou amido de milho. Não deixe muito fininha.
Coloque a folha escolhida por cima e com a ponta fina de uma faca ou outro utensílio, faça cortes contornando toda a folha. Tire com muito cuidado e leve para assar em assadeira untada com um pouco de óleo de coco ou forrada com papel manteiga.
Asse em forno baixo a 160ºC por 10 a 15 minutos – Observe seu forno, pois cada forno acaba funcionando com mais ou menos potência. Deve ficar um pouco douradinho. Não deixe muito para não ficar duro, pois quando esfria, vai se tornando mais rígido.
Colorindo o Biscoito
Misture páprica doce com um pouco de água e faça uma pastinha. Faça o mesmo com a cúrcuma e com a canela em pó. Pode usar o hibisco colocado num pilão com um pouco de água e óleo de coco também para soltar um rosa bonito.
Com o biscoitinho ainda meio quente, vá pintando. Passe nas bordas a cúrcuma, no centro a canela e depois a páprica. Fica saboroso e com uma cor que nos remete ao natural, ao que vem da terra.
Uma oportunidade para resgatar o artesanal e ocupar a mente com momentos de reconexão com a natureza e a sustentabilidade. Convide as crianças para esse momento. Decore a bandeja e sirva com um bom chá ou café!
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AMORES, Valéria. Uma receita vegana para reconexão com a natureza: Biscoitinho simples usando folha como molde e especiarias para colorir!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/uma-receita-vegana-para-reconexao-com-a-natureza.html>.