Mudanças Climáticas não são um problema para daqui a 500 anos. Já estamos sofrendo as consequências!

Agora é oficial. 2018 é o 4° ano mais quente que temos registro, de acordo com a NASA.

É verdade, nossos registros oficiais não são tão antigos se compararmos com a quantidade de tempo de nossa espécie (aproximadamente 200 mil anos), muito menos da Terra como um todo (aproximadamente 4,5 bilhões de anos). Mas ainda assim, essa é uma marca impressionante – principalmente se levarmos em conta que os 5 anos mais quentes registrados são os 5 últimos anos – 2016, 2017, 2015, 2018 e 2014, na ordem. Na verdade, o que é ainda mais impressionante é que 18 dos 19 anos mais quentes já registrados aconteceram nesse século!

Gráfico 1
Figura – O quão mais frio ou quente cada ano é comparado com a temperatura média da Terra no fim do século XIX./ Fonte: NY Times.

Lembro que quando comecei a estudar as mudanças do clima, a despeito dos cenários aterradores futuros, as consequências eram colocadas sempre no longo ou longuíssimo prazo – ano de 2050, 2100 e coisas do gênero. Era a mais maldita das heranças, mas que se abateria somente a nossos filhos, caso tivéssemos sorte afetaria apenas nossos netos ou bisnetos. Lembro de entender conceitos como o princípio da precaução, das responsabilidades históricas (e comuns, porém diferenciadas) e, principalmente, da própria lógica do desenvolvimento sustentável – promover o desenvolvimento atual sem colocar em perigo o desenvolvimento das gerações futuras. O movimento ambientalista (ou mesmo “ecologista”, como era chamado no século passado) que bradava em alerta aos perigos do aquecimento global era, essencialmente, um movimento preocupado com o futuro de nossa espécie no planeta.

Mas os dados da NASA são um primeiro indício que nos mostram que as previsões de um futuro distante podem ter sido por demais otimistas. Contudo, estes são apenas um dos indicadores. Somente nos últimos meses, já passamos por incêndios florestais incontroláveis, aumento no número e intensidade de furacões, ondas de calor excepcionais e os primeiros indícios concretos de aumento no nível médio dos mares. E cito aqui apenas as consequências físicas. Os efeitos indiretos na saúde pública, nos fluxos migratórios, na produção de alimentos, na disponibilidade de água e energia, no transporte e logística e em tantas, tantas outras esferas da sociedade global. As causas e efeitos decorrentes do aquecimento médio da temperatura global são tão complexos, desconexos e ainda a se conhecer plenamente que mesmo todos os pontos levantados nesse parágrafo podem ou não ter explicação exclusiva ou majoritária pela mudança do clima.

Refugiados Climáticos
Dezenas de milhares de refugiados somalis fogem das enchentes em Dadaab, no Quênia. O campo de refugiados de Dadaab localiza-se em uma área passível tanto de inundações quanto de secas, tornando desafiadora a vida dos refugiados e a prestação de assistência do ACNUR. / Imagem: ACNUR/B.Bannon

E é bom que se frise isso: os efeitos individuais citados acima não podem facilmente ter causa-consequência definida a partir da mudança do clima, mas o conjunto dos mesmos, sim, já pode. E é esse o ponto desse artigo: o que era para ser para as próximas gerações já está acontecendo agora. Lembro imediatamente da excepcional fala do governador de Washington, Jay Inslee, repetida e ecoada por Barack Obama:

Nós somos a primeira geração a sentir o impacto da mudança do clima – e a última geração que pode fazer algo sobre isso.

O relatório especial lançado no ano passado pelo IPCC (a nata da ciência climática global) aborda justamente esses impactos, atuais, num futuro próximo e no fim do século. O nível de confiança científica no tema é, hoje, muito mais um subsídio para políticas públicas assertivas do que motivos para desconfianças e teorias da conspiração (afinal você não acredita que o aquecimento global possa ser uma invenção americana/chinesa/reptiliana para dominação global junto aos Iluminati… né?).

Figura – 5 razões para preocupação ilustram os impactos e riscos de diferentes níveis de aquecimento global para pessoas, economias e ecossistemas por setores e regiões. / Fonte: IPCC.

Mas passamos por um momento em que, por vezes, o óbvio deve ser repetido, bradado, sob o risco de não nos perdermos em argumentações polarizadas e, claro, pseudocientíficas. E é justamente por isso que, quando o Ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, afirma que temos coisas mais tangíveis com que nos preocupar, pois as mudanças do clima são uma discussão “acadêmica” sobre como estará a Terra “daqui a 500 anos”… bem, precisamos reforçar, relembrar e pontuar quais devem ser as reais prioridades que devemos ter, seja como brasileiros, seja como membros da espécie humana.

Se o clima fosse um banco, ele já teria sido salvo. / Imagem: Creative Commons

Não, Ministro Salles, as mudanças climáticas definitivamente não são um problema só para daqui a meio milênio. Nem somente um grande problema que estamos legando também a nossos filhos e netos. As mudanças do clima estão aqui. Já estão impactando – em alguns casos de forma cada vez mais irreversível – nossa sociedade, nossa economia, nosso ecossistema.

Fechar os olhos para o que está acontecendo já deixou há muito de ser apenas uma opção político-ideológica, um posicionamento antissistêmico, ou seja lá o que quiserem justificar.

É apenas tolice.

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MALTA, Fernando. Mudanças Climáticas não são um problema para daqui a 500 anos. Já estamos sofrendo as consequências!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2019/02/mudancas-climaticas-nao-e-problema-para-daqui-a-500-anos.html>.

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