MODA E SUSTENTABILIDADE: UM PARADOXO

Autossustentável: Ecologicamente correto?

A busca por alternativas sustentáveis tem crescido dentro de empresas e por parte de governos, que está tratando a temática como uma oportunidade de negócio e, simultaneamente, como caminho para a sobrevivência. Segundo matéria divulgada na Revista Veja (2010, edição especial de sustentabilidade), o assunto ganhou visibilidade no século XX, mas, somente agora, o problema tomou proporções maiores. Fato que corrobora para que o mundo se mobilize de forma a conciliar esse conceito com a produção e o consumo, processos que caracterizam o progresso e crescimento. As empresas têm papel importante nessa mudança, já que adotam, ou não, atitudes que possibilitam novos processos produtivos, resultando em novos produtos e, por último, nova relação de consumo.
Ao tratar da responsabilidade de empresas e indústrias na transição para uma sociedade sustentável, é imprescindível citar a indústria da moda.
Segundo Feghali e Dwyer (2004), a indústria têxtil é uma das atividades mais antigas e que emprega grande quantidade de mão-de-obra. Lee (2009) chama a atenção para os impactos dessa indústria que ficam ocultos nas extravagâncias das passarelas e nas novidades das vitrines. Esses impactos vão desde a exploração da mão-de-obra, à poluição consequente do uso de produtos químicos e tóxicos. Cabe, ainda, lembrar o uso de peles de animais para confecção de casacos e outros artigos de moda. A produção acelerada, com consumo desenfreado, transforma rapidamente esses produtos em artigos obsoletos, que serão destinados a outras pessoas ou então aos lixos e aterros. O surgimento das redes de moda fast-fashion e o processo resultante de encurtamento da vida útil das peças contrariam o contexto atual de preocupação ambiental. A oferta de uma moda mais acessível em termos de custo aumenta o consumo de peças e o consequente descarte, tudo em ritmo acelerado, funcionando como um círculo vicioso. O mercado fast-fashion pressiona a produção mais rápida para atender a demanda do consumidor por novidades. Essa produção, segundo Black (2008), se dá às custas da degradação ambiental e de condições de trabalho muitas vezes desfavoráveis, com salários injustos, para que o preço final do produto seja acessível. Enquanto a sustentabilidade sugere o ciclo de vida do produto prolongado, dentre outras definições, a moda caracteriza-se como novidade e mudança periódica.
Paralelamente a este cenário de moda rápida, poluente e exploradora, estamos vivendo em uma era na qual a indústria da moda, junto de outras instituições, direciona esforços para diminuir esses impactos causados no meio ambiente, seja através da reciclagem, de tecidos ecológicos ou de reaproveitamento. Os profissionais de moda têm procurado desenvolver produtos de forma sustentável, considerando a demanda de um consumidor consciente. Deve-se levar em conta o comportamento do consumidor, porque se não houver demanda e desejo pelo produto ou serviço, não há razão dos mesmos existirem. Assim, é fundamental que o consumidor tenha atração pelo produto ou serviço ecológico, pois é através da sua demanda que as empresas e governos irão direcionar esforços para conduzir suas atividades de maneira sustentável.
Feghali e Dwyer (2004) definem a Moda como um dos maiores negócios do mundo atualmente. Mas, esses negócios são pautados no aumento da produtividade e na oferta, cada vez mais rápida, de novos artifícios para atender a demanda do consumidor. Esse contexto se mostra contraditório aos critérios de sustentabilidade, já que estes pretendem aumentar a durabilidade do produto, conferindo-lhe maior tempo de vida, bem como pretendem promover o trabalho justo e economicamente viável.
Pensando em conciliar as duas realidades, de crescimento econômico e sustentabilidade, é preciso encontrar soluções promissoras que proporcionem este desenvolvimento através da indústria da moda. Para tal, é necessário mudar as formas de produzir, consumindo menos recursos, reaproveitando o que já existe, maximizando o tempo de vida dos produtos e consumindo menos energia. É fundamental dispor de criatividade, por isso a sustentabilidade é uma plataforma para inovação, já que exige a criação de novos processos, novos produtos e novas formas de consumo.
Alguns profissionais já têm seguido esse caminho sustentável, principalmente através do uso de tecidos ecológicos e pelo reaproveitamento de resíduos têxteis provenientes das indústrias. Hoje, a reciclagem de tecidos e a transformação de PET em fio, são alternativas sustentáveis da indústria têxtil. O estilista gaúcho Oskar Metsavaht é criador da Osklen, marca associada a projetos e parcerias sustentáveis com repercussão internacional e que utiliza tecidos ecológicos; a estilista gaúcha Anne Anicet tem o trabalho voltado ao desenvolvimento sustentável, reaproveitando resíduos têxteis das indústrias na confecção de novas peças; a Maxitex, indústria têxtil nacional, fabrica fios ecológicos, inclusive os reciclados de PET e algodão; o estilista Alexandre Herchovitch já fez uma parceria com a ONG Florescer reaproveitando roupas usadas, transformando-as em novas peças; a estilista Rita Wainer lançou uma coleção, também com o reaproveitamento de roupas usadas. Exemplos de iniciativas como essas têm crescido entre profissionais guiados pelo mesmo valor: sustentabilidade.

Para Schülte e Ferreira (2008, p.1): “A preocupação com a preservação do meio ambiente no desenvolvimento de produtos de moda ainda é muito incipiente, no que se refere ao Brasil e demais países.” Mesmo que a mídia venha apresentando casos de discussões referentes às ameaças da produção industrial, ainda é necessário, principalmente, conscientizar e educar o consumidor sobre a importância do consumo sustentável e as alternativas para tal.


Observações
PET – Politereftalato de etileno – Polímero termoplástico resistente, utilizado na fabricação de garrafas de refrigerantes e água. Este material tem produção em grande escala, e após o descarte podem permanecer por muitos anos na natureza. Por sua propriedade termoplástica, pode ser reciclado diversas vezes, resultando no mesmo produto – garrafas -, ou outro, como por exemplo, roupas. A reciclagem de PET é uma alternativa para evitar a permanência do material no meio – ambiente, já que a produção é acelerada, a quantidade demandada é grande, e o descarte rápido e excessivo. O material, quando reciclado, tem sido utilizado para confecção de peças de vestuário, a partir das suas fibras misturadas com algodão.

Para dar vazão ao trabalho de estilistas engajados com a sustentabilidade, alguns espaços têm sido cedidos a fim de expor as novas ideias. O FIT (Fashion Institute of Technology), em New York, apresentou acervo de peças na exposição denominada Eco-Fashion: GoingGreen

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