Entrevista: Alexey Magnavita – Amazônia: um outro olhar
Entrevistamos Alexey Dodsworth Magnavita, um dos participantes semifinalistas do reality “Amazônia” da Rede Record.
Ele conta ao Autossustentável quais foram suas impressões e um pouco da experiência vivida na Floresta Amazônica durante sua passagem pelo programa.
Foto: Arquivo pessoal |
Alexey é membro da MENSA, graduado em Filosofia e atualmente desenvolve pesquisa de mestrado em Política e Ética na Universidade de São Paulo, com foco em Direitos Humanos e grupos marginalizados. É também aluno de graduação do primeiro curso de Astronomia e Astrofísica da USP, onde desenvolve pesquisa em Astrobiologia (pesquisa de vida no contexto extraterreno). Astrólogo há mais de 20 anos, autor de livros do gênero e também autor das interpretações de Astrologia, Tarô e Runas do Personare.
Como sua formação contribuiu para defesa e preservação do meio ambiente durante o reality?
Sou formado em Filosofia, e estou concluindo um mestrado em Filosofia Política na USP. Houve um momento específico em que esta orientação para a política me foi especialmente útil: falo da última prova, realizada na cidade de Manaus, quando tínhamos que comunicar para a cidade a importância da preservação da floresta. O fato de ser bem experiente em coisas como organização de passeatas, comunicação pública e ativismo suprapartidário foi um diferencial e tanto para cumprir bem o desafio.
Também curso a graduação em Astronomia na USP. Isto me ajudou a saber como fazer coisas tais quais saber que horas eram, mesmo sem poder usar relógios (não podíamos usar tecnologia no acampamento). É muito fácil perder totalmente a noção do tempo na floresta, e saber ver as horas através da projeção das sombras ou por conta da posição das estrelas foi importante. Ajudou muito também ter o conhecimento teórico de ciências da natureza, especialmente num dos desafios, em que tínhamos que guiar turistas na Amazônia. Decidi que o diferencial de minha equipe seria oferecer um turismo educativo e científico, não apenas mostrando os lugares, mas agregando informação que estimulasse a consciência da importância da preservação da floresta. Terminamos vencendo esta prova, justamente por conta do meu projeto e do excelente trabalho em equipe.
Como foi a experiência de participar de um reality show sobre sustentabilidade?
Foi sensacional. Provavelmente uma das experiências mais incríveis da minha vida. Só topei porque sabia que não se tratava de um reality show como os outros, pois havia uma proposta educacional envolvida. Foi muito impactante perceber todas as pessoas tão sinceramente envolvidas, desde o apresentador (Victor Fasano, um ambientalista de mão cheia) até os câmeras.
Quais foram as suas maiores dificuldades durante o programa?
Por mais estranho que possa parecer, as condições ambientais (como o calor intenso e a umidade) e as limitações impostas pelo acampamento (tínhamos pouquíssimo tempo para tomar banho) pouco me incomodaram. Estes desconfortos podem ser grandes para muita gente, mas pra mim não constituíram grande problema. Tive também a sorte de estar na mesma equipe que o surfista Picuruta Salazar, mais experiente que eu em situações assim, e ele fazia de tudo para tornar o acampamento mais confortável, e Mateus Verdelho também colaborava demais na arrumação do acampamento e em coisas simples, porém importantes, como o racionamento da água.
Acho que meu momento mais difícil foi quando descobri que teria que subir numa árvore de mais de 45 metros de altura. Eu não chego a ter pânico de altura, mas s
ubir montanhas ou árvores é coisa que não me deixa confortável, e cheguei a “travar” quando descobri que teria que subir. Mas a segurança proporcionada pela equipe do consultor ambiental Marcelo Skaf fez com que eu me sentisse tranquilo e conseguisse passar a noite toda em cima da árvore sem nenhum problema.
ubir montanhas ou árvores é coisa que não me deixa confortável, e cheguei a “travar” quando descobri que teria que subir. Mas a segurança proporcionada pela equipe do consultor ambiental Marcelo Skaf fez com que eu me sentisse tranquilo e conseguisse passar a noite toda em cima da árvore sem nenhum problema.
Foto: Divulgação – Rede Record |
Também tive um pequeno problema médico: cortei a perna, e as condições da selva não são nada propícias para o processo de cicatrização. Demorou muito para o corte cicatrizar, se eu me descuidasse um pouquinho com as pomadas ele voltava a infeccionar. Felizmente, os médicos da equipe foram muito competentes e me orientaram direito sobre o que fazer, e o corte terminou cicatrizando. Mas foi assustador ver aquilo. Se você se corta e não cuida, as bactérias proliferam na selva com mais voracidade do que estamos acostumados.
Em algum momento, você ficou comovido com a realidade de algumas comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas?
Fiquei sim, e muito! Mas por razões diferentes. No caso do contato com os índios, fiquei bastante emocionado com o pouco que eles nos ensinaram sobre a cultura deles. Eu descendo de europeus e índios, mas não sei nada sobre a cultura indígena de meus ancestrais. Achei lindas as histórias, a hospitalidade e a comida deles que é deliciosa e saudável. Eles me contaram seus mitos sobre a criação do mundo, e me ensinaram algumas palavras do idioma tukano. Eu nem imaginava que a língua tukana é considerada uma língua oficial em nosso país, a aposto que quase ninguém sabe! O “muito obrigado” deles é ayu.
Foto: Divulgação – Rede Record |
Na comunidade ribeirinha, me emocionei por outra razão: eles têm tão pouco, e são tão felizes! A gente costuma fazer tanto drama por conta de coisas pequenas, chega a ser algo vergonhoso. Fiquei triste ao constatar que eles não tinham fossas sépticas, mas apenas fossas negras, péssimas para o saneamento básico. Num dos desafios, tivemos que construir fossas sépticas para a comunidade, e acho que é praticamente um consenso entre o pessoal que participou do reality, que esta foi a prova mais emocionante.
Outra coisa que me deixou muito impactado foi constatar como tanto os ribeirinhos quanto os índios são hospitaleiros e receptivos, colaborando uns com os outros de modo tão amistoso. No contexto da cidade grande, vemos muita falta de educação e má vontade, desconfiança.
Qual foi o seu maior aprendizado?
Primeiro: aprender a trabalhar em equipe, sem dúvida. Sempre trabalhei sozinho, nunca gostei de perder tempo tendo que consultar os que os outros achavam ou deixavam de achar sobre meus projetos. No reality, agir assim era impossível. Eu tinha que consultar a todos e considerar o que eles diziam.
Em segundo lugar: aprender a não ser líder sempre, mesmo tendo sido eleito líder de minha equipe. Percebi rapidamente que o melhor tipo de liderança naquele contexto envolvia delegar o comando para quem fosse mais adequado de acordo com o desafio. Por exemplo: num desafio que envolvia fazer um resgate de barco, sem dúvida Picuruta era o comandante mais adequado, por sua experiência com o mundo das águas. Em outra prova sobre articulação estratégica de venda de farinha de mandioca, saquei rápido que Carolina Magalhães era a pessoa com maior poder de persuasão em meu grupo. Não ter que liderar sempre foi difícil pra mim, mas foi meu melhor e mais delicioso aprendizado.
Qual é a importância da preservação da Floresta Amazônica nos dias de hoje?
Bem, primeiro temos o ponto mais divulgado: ela representa mais de 20% de todo o carbono do planeta Terra. Se a floresta é destruída, queimada, este carbono é liberado na atmosfera, o que termina causando um desequilíbrio absurdo e estimula o aquecimento global.
Mas eu também não conseguia deixar de olhar para aquilo tudo e ver uma grande farmácia a céu aberto. Muitos medicamentos saíram de fontes vegetais e animais da Amazônia. Creio que não temos a menor ideia da extensão das descobertas científicas que podemos fazer na floresta. Estou certo de que o lugar mer
ecia melhor investigação científica.
ecia melhor investigação científica.
Por isso, sou pelo desmatamento zero. Não acho que seja suficiente diminuir o desmatamento. A Amazônia deveria ser declarada intocável, permitindo no máximo inserções turísticas guiadas por gente treinada, de preferencia ribeirinhos ou indígenas que conheçam muito o local.
Para você, o que é sustentabilidade?
Sustentabilidade, para mim, é viver de acordo com o necessário. Darei um exemplo: um dos índios me explicou que eles tiram leite do Amapazeiro, mas sempre apenas o suficiente para alimentar a família. Pouco tempo depois, a árvore tem mais leite para dar. Em compensação, comerciantes chegam a tirar todo o leite do Amapazeiro de uma só vez com o objetivo de obter lucro, o que implica num tempo de recuperação maior para a árvore e, em muitos casos, num encurtamento da vida da planta.
Saí da Amazônia ciente de que reciclar não basta, é preciso consumir menos. Agora, sempre que olho para um objeto, penso duas vezes: preciso disto? Isto é necessário em minha vida? Além de economizar dinheiro, passo a ter menos impacto sobre o mundo, consumindo o que preciso, evitando luxos perigosos.
Qual mensagem você deixaria para nossos leitores?
Vão para o mato! Tenham esta experiência pelo menos uma vez na vida. Uma coisa é você saber teoricamente sobre a importância da sustentabilidade e da preservação das florestas. Outra é você se inserir na realidade disto e passar um tempo acampado. Você sai completamente diferente, revendo suas prioridades e se sentindo privilegiado por estar no planeta Terra num momento como este, em que as questões ambientais assumiram tanta importância. Mas se vocês decidirem fazer isto procurem a ajuda de um guia experiente. A floresta, ao contrário do que muita gente romântica pensa, não é uma “mãe amorosa”. A selva é, como o nome diz, uma selva. Se você vacila, ela te destrói.
Saiba mais sobre o reality show “Amazônia” acessando: http://entretenimento.r7.com/amazonia