O Amanhã tem Preço?

Depois de muito relutar, acabei cedendo às pressões das reprises intermináveis na TV a cabo e assisti ao filme “O Preço do Amanhã” (2011).
A trama mostra uma sociedade que sofre com os problemas ambientais e sociais. Nessa versão do futuro, todos possuem um relógio digital no antebraço – por baixo da pele -, em constante contagem regressiva, representando quanto tempo a pessoa ainda tem de vida.
Autossustentável: O Preço do Amanhã

Ao trabalhar, produzir, os indivíduos ganham como salário mais tempo de vida e, em contrapartida, ao comprar qualquer produto ou serviço, seu tempo de vida é utilizado como moeda corrente, ou seja, quanto mais consomem, menos tempo têm de vida. Nessa sociedade, literalmente, tempo é dinheiro.
Além do tempo-moeda, tal sociedade também possui as chamadas “time zones” (zonas de tempo). Ricos, que possuem centenas de anos de vida, podem consumir sem se preocupar muito com o futuro e vivem em uma região luxuosa cheia de regalias. As regiões mais pobres concentram pessoas com menos horas de vida, as quais trabalham e barganham por mais tempo para continuarem no mundo.

Desigualdade social, impactos ambientais, consumo… Tudo nesse filme conspira e inspira para uma boa conversa sobre nosso futuro e o futuro que queremos para as próximas gerações.

Autossustentável: Poluição

Os paralelos entre o filme e o mundo real são óbvios, com a diferença marcante de que ainda não temos indicadores suficientes e confiáveis que nos mostrem o verdadeiro impacto de nossas ações sobre o planeta, sobre os outros e sobre nós mesmos.
Em um mundo globalizado como o nosso, é consenso entre diferentes especialistas que muitos dos impactos socioambientais, frutos de nossos comportamentos insustentáveis, dificilmente se fazem sentir no dia a dia. Deixar uma torneira pingando ou optar pelo transporte individual altamente poluidor, até aplicar seu dinheiro em ações de empresas irresponsáveis do ponto de vista socioambiental, são opções que podem gerar consequências negativas sobre continentes distantes e pessoas que nunca ouvimos falar. Escolha e consequência estão perigosamente isolados no mundo globalizado e, assim, ninguém se sente responsável por absolutamente nada, nem ninguém.

Autossustentável: O Sonho da Igualdade social

Na década de 1970, concomitantemente à criação do PNUMA (Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente), o slogan “pense globalmente, aja localmente” emergiu frente à necessidade urgente de mitigar os problemas socioambientais que já afetavam há décadas comunidades com alta vulnerabilidade, e que começavam a afetar mais claramente os meios de produção e a parcela mais abastada da sociedade.
Apesar de todo o esforço das grandes entidades mundiais como a ONU e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), ainda estamos nos digladiando com praticamente os mesmos desafios socioambientais identificados nos últimos 40, 50 anos ou mais. Em contrapartida, afirma-se que as pessoas estão muito mais conscientes sobre os problemas socioambientais. Isso é bom, mas consciência e comportamento não costumam andar de mãos dadas.
Saber o que é melhor para todos (e para nós mesmos) e não fazer me parece burrice, mas é assim que tem sido.
Autossustentável: Hoje em dia as pessoas sabem o preço de tudo, mas não sabem o valor de nada.
Por outro lado, não saber é mais um problema. Nesse ponto, entra como linha de frente a Educação, seja ela formal (nas escolas), não formal (projetos de ONGs, por exemplo) ou informal (do dia a dia).
Pensando na escola (meu campo de atuação mais intenso), mais que informar, ela deveria servir como modelo e local de cocriação de uma sociedade mais sustentável. Por meio do exemplo, da criatividade e da coerência entre discurso e prática estaremos, de verdade, ensinando como e porque fazer o que se considera “certo” e “bom” para todos, sempre dentro das particularidades culturais e sociais de cada local e comunidade. Considero essa mudança de paradigma na área educacional tão desafiadora e urgente quanto qualquer outra.
Autossustentável: Sociedade Sustentável

Após assistir a “O Preço do Amanhã”, fiquei imaginando como seria se cada um de nós possuísse um relógio que marcasse o tempo de vida restante, e que ele fosse vinculado não somente ao consumo, mas a todas as nossas escolhas do ponto de vista da manutenção da sustentabilidade social e ambiental. Como será que seu relógio estaria andando? Para trás, rapidamente? Estacionado em um ponto de equilíbrio? Ou idealmente ganhando tempo de vida para você, para todos e para o planeta?

PS. Essa é minha primeira contribuição ao Autossustentável como colunista. Nesse espaço gentilmente cedido, procurarei abordar temas relacionados à Educação para a Sustentabilidade, tema ao qual tenho me dedicado nos últimos anos por meio do desenvolvimento e implementação de cursos curriculares e extra-curriculares na Educação Básica e Superior. Espero que o tema, dessa forma, ganhe espaço e força nas instituições de ensino e inspire novos modelos de Educação. Receberei com alegria críticas, contribuições e comentários para construirmos juntos uma sociedade mais sustentável e feliz.

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