Transparência na Moda

Sustentabilidade, hoje, é oportunidade de bons negócios, já que é uma tendência de comportamento do mercado e um diferencial do produto. Desta forma, empresas estão dedicando esforços para a produção sustentável, valorizando as questões ambientais, porém, sem excluir objetivos financeiros que visam o lucro. A demanda tem crescido, ainda que timidamente, por parte de consumidores que representam um nicho específico e que exigem roupas e outros artigos de moda produzidos de forma ecologicamente correta, e socialmente justa. Diversos autores (KAZAZIAN, 2005; MANZINI & VEZZOLI, 2005; MANZINI; 2008; LEE, 2009) argumentam que é possível e também necessário, conciliar sustentabilidade com crescimento econômico e competitividade, que é o objetivo de qualquer empresa, inclusive as engajadas com princípios sustentáveis.
Autossustentável: A Moda é Preservar
O sistema de produção e consumo, tal qual como é, está longe de ser sustentável, mas, como sugere Kazazian (2005), não existe impacto zero, sendo importante, então, a busca de alternativas que contribuam para a conservação ambiental e social. No que diz respeito ao requisito ambiental, são as matérias-primas renováveis, reaproveitadas ou recicladas; processos menos poluentes, entre outros; e, no âmbito social, são condições mais favoráveis de trabalho. Lee (2009) relata em sua obra o caso de um trabalhador que recebia R$ 0,05 ao dia, a cada 100 peças produzidas. Mesmo com condições injustas, as pessoas que vivem em países com altas taxas de desemprego consideram-se empregadas e, então, submetem-se ao sistema.
Seguindo o exemplo de empresas que tomam iniciativas sustentáveis ao longo da cadeia produtiva, a indústria de moda tem buscado novas formas de produção, a fim de reduzir seus impactos ambientais e melhorar as condições de trabalho.  As alternativas que variam entre artigos produzidos com matéria prima natural renovável como, por exemplo, artigos de lã e algodão orgânico; produtos confeccionados com o objetivo de ter longevidade e durabilidade (onde se faz necessária a qualidade), ou até mesmo produtos atemporais, que não seguem à risca tendências efêmeras; produtos reaproveitados, como roupas de segunda mão, ou produzidos com material reaproveitado (câmara de pneu, PET, entre outras possibilidades). Devem-se explorar essas alternativas que não ocasionam tantos impactos negativos, ou seja, com processos produtivos que cumpram com critérios ecológicos e sociais, mas que ao mesmo tempo, exigem uma gestão diferenciada.  Sabe-se que a cadeia produtiva de um artigo de moda, ou outro qualquer, que se apóia em requisitos sustentáveis, apresenta peculiaridades em cada etapa, e se faz especial.
Um trabalho incrível e revolucionário que vem sendo feito no exterior e que (espera-se) ainda deve chegar por aqui, é da marca Honest By. Alinhada com as alternativas em busca de um trabalho ecologicamente correto e socialmente justo, a Honest é transparente e, como já diz o nome, honesta. Criada em 2012, pelo belga Bruno Pieters, ex diretor criativo da grife Hugo Boss,  a marca informa detalhadamente toda a cadeia de produção das peças, inclusive os custos envolvidos e sua margem de lucro. Pieters, que já foi designer premiado, quis mudar seu estilo de vida e se afastou da indústria da moda pautada em tendências e efemeridades. Viajou para a Índia, onde passou a observar que as pessoas usavam roupas feitas com tecidos costurados a partir de matéria-prima que podiam identificar à sua volta, e aí teve o insight de adaptar essa transparência em escala internacional.  Assim, nasceu a Honest By, empresa que visa uma política de transparência total. A marca possui uma plataforma pública, onde compartilha informações sobre o processo produtivo, como, por exemplo, onde o produto foi feito, por quem, quantas horas de trabalho foram envolvidas, a pegada total de carbono, quantos funcionários envolvidos, preço de cada etapa, e inclusive pesquisas feitas com os materiais orgânicos.  Na hora de comprar, o cliente tem acesso às informações detalhadas e especificadas e pode filtrar por categorias: orgânicos (matéria-prima certificada), vegan (sem testes em animais), reciclado ou europeu (100% fabricado na Europa). A Honesttrabalha ao máximo com produtos locais, e aqueles de origem animal são apenas lã e seda, orgânicas e certificadas.
Autossustentável: Filtro por categoria
Filtro por categoria

Autossustentável: Informações detalhadas do produto
Informações detalhadas sobre o produto
Com toda essa informação exposta, o consumidor pode se posicionar quanto a comprar determinado produto, bem como fica ciente (e consciente) das razões pelas quais um produto tem determinado valor. A Honest Byaproxima o cliente de todo processo envolvido por trás de um artigo de moda e propõe um consumo consciente. E uma moda transparente.
Conheça mais sobre a marca no site, onde estão à venda os produtos de vanguarda: http://www.honestby.com/

Autossustentável: Vestido feminino lã e algodão orgânicos
Vestido feminino lã e algodão orgânicos
Autossustentável: Camisa masculina algodão orgânico
Camisa masculina algodão orgânico
Autossustentável: Vestido seda orgânicaAutossustentável: Vestido seda orgânica costas
Vestido de seda orgânica
__________________________

KAZAZIAN, Thierry. Haverá a Idade das Coisas Leves. São Paulo:  Senac São Paulo, 2005. 194p
LEE, Matilda. Ecochic: o guia de moda ética para a consumidora consciente. São Paulo: Larousse do Brasil, 2209. 224p
MANZINI, Ezio. Design para Inovação Social e Sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 103p
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002. 366p

http://www.honestby.com/, acesso em 25 de março de 2014

Clique aqui para ler outros artigos de Luciana Della Mea

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *