O Sinônimo da Resiliência
Alguma vez você já viu um carrinheiro na rua e desviou o caminho ou andou mais rápido com medo de ser abordado? Você sabe quem são eles e o bem que eles fazem para sua cidade?
A reciclagem no Brasil é marcada pela presença de catadores de materiais recicláveis que desempenham um papel fundamental na cadeia produtiva. A inclusão social dos catadores vem sendo bastante discutida e é objeto de diversas medidas na forma de leis e projetos que visam melhorar suas condições trabalho, gerando renda e qualidade de vida.
O que é ser resiliente? O conceito de resiliência remete a capacidade de um corpo de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica ou fora do comum. Pois bem, ainda estou pra conhecer pessoas com tanta capacidade de lidar com diversos problemas e vencer obstáculos quanto os catadores de materiais recicláveis. Existem algumas pesquisas que buscam conhecer o perfil do catador, e quando abordados se gostariam de trabalhar com outras coisas na vida, a grande maioria responde que não, e que está feliz desenvolvendo suas atividades de catador de materiais recicláveis.
Resiliência: Capacidade do ser humano de enfrentar as adversidades da vida, superá-las e inclusive, ser transformado por elas. Fonte: Fundacion CADAH |
O trabalho realizado por estes trabalhadores vai desde catar, separar, transportar, guardar e em alguns casos, beneficiar os resíduos sólidos para reutilização ou inserção na cadeia de reciclagem. Eles são os grandes transformadores do que antes era considerado lixo em mercadoria novamente.
Historicamente esses trabalhadores atuaram na informalidade, e ainda é muito comum encontrarmos catadores atuando em lixões e aterros controlados sem nenhuma condição de higiene e segurança, totalmente marginalizados e excluídos da sociedade onde vivem. Apesar de ser uma profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, muitos catadores ainda convivem com essa realidade, sendo considerada uma profissão de mais alto índice de insalubridade.
Fonte: UOL Notícias |
No intuito de fortalecer os catadores, é cada vez mais comum a formalização de organizações de catadores de materiais recicláveis, que buscam unir esforços na venda e triagem do material. Elas foram criadas no intuito de destinar a essas organizações os resíduos sólidos da coleta seletiva dos municípios, que infelizmente ainda é muito incipiente no Brasil. Desta forma, eles atuam basicamente recebendo material doado pelo responsável pela limpeza urbana, por empresas e grandes geradores, e grande parte destina um espaço para os catadores individuais triarem seus materiais e receberem pelo material coletado.
Segundo dados do Ipea (2010), o percentual de trabalhadores ligadosa cooperativas e associações nesse setor está em torno de apenas 10%. Estima-se que no Brasil existam cerca de 1.175 cooperativas ou associações de catadores, distribuídas em 684 municípios brasileiros e totalizando 30.390 trabalhadores (Ipea, 2011). Essas organizações est
ão em diferentes níveis de desenvolvimento, e podemos encontrar uma cooperativa extremamente desenvolvida no que se refere à gestão e operação, e outras em estágio muito inicial de formalização e profissionalização.
ão em diferentes níveis de desenvolvimento, e podemos encontrar uma cooperativa extremamente desenvolvida no que se refere à gestão e operação, e outras em estágio muito inicial de formalização e profissionalização.
As cooperativas e associações de catadores acabam se tornando um gargalo na cadeia de reciclagem, especialmente quando ela é composta na sua maioria por catadores individuais, e se tornam dependentes dos conhecidos “atravessadores”, profissionais que conseguem vender os materiais em maior quantidade e escala diretamente para a indústria de beneficiamento.
Existe ainda um indicador importantíssimo de gênero e inclusão social que não posso deixar de citar. Dentre as organizações que já visitei, percebo que o universo feminino é predominante, ou seja, as mulheres são maioria dentro das organizações. Elas são responsáveis pelos cargos administrativos e triagem basicamente, sendo que os homens acabam por realizar as atividades que exigem maior esforço físico, como prensagem do material, por exemplo.
As organizações de catadores de materiais recicláveis ainda tem que lutar contra o preconceito das comunidades do entorno, que não enxergam os benefícios ambientais que esses trabalhadores trazem para a cidade, no que diz respeito à economia dos recursos naturais e dos serviços de utilidade pública, evitando o envio de centenas de toneladas de resíduos aos aterros e lixões.
Quando digo que esses trabalhadores são resilientes, lembro muito dessas mulheres, que ainda exercem atividades domésticas e outros subempregos. Me refiro também as dezenas de pessoas que já conheci que vivem com menos de um salário por mês, que tem filhos para alimentar (sem contar os outros parentes que vivem juntos) que lidam com resíduos contaminados diariamente, e que ainda assim, são pessoas alegres e sorridentes. E acreditem, elas adoram um abraço! Adoram contar suas próprias histórias e ver como são vencedores na vida.
Fonte: Valor Ambiental |
Por isso, se no seu bairro ainda não tem coleta seletiva, pergunte a um catador de rua que tipo de material ele coleta, se está vinculado a alguma cooperativa ou associação de catadores e se podem receber seu material reciclável. Ainda que não queira destinar a um carrinheiro, separe seu material adequadamente. É muito provável que outra pessoa entrará em contato com esse resíduo e vai tirar dali o seu sustento diário.
Se todas classes fossem unidas teríamos um mundo melhor infelizmente nos dias de hoje ainda existe muito preconceito quando se trata trabalho com reciclagem.
Ótima matéria.
Num contexto atual de tanto descarte e de obsolescência de produtos aliados ao desperdício e a falta de uma educação e consciência ambiental, o trabalho dos recicladores é de suma importância para o minimo de equilíbrio sustentável ás comunidades urbanas.