Sustenta Habilidade
Neste meu primeiro artigo do ano, decidi citar duas pessoas que recentemente me proporcionaram boas reflexões internas. O primeiro é um colega de trabalho, Pedro Figueiredo, que escreveu um livro sobre suas experiências durante anos com catadores de rua. O segundo é meu sogro, Newton Campos, que como um bom geógrafo possui um olhar bastante interessante sobre o meio ambiente e dividirei um pouco com vocês também.
Em seu livro, Pedro nos faz enxergar a diferença entre os catadores que trabalham nos galpões e que tem uma vida minimamente digna, com casa, comida e roupa lavada (literalmente), daqueles trabalhadores, homens e mulheres, que acabando suas atividades não tem onde dormir, e dali se entregam ao mundo das drogas, álcool e prostituição. Passei instantaneamente a me interessar ainda mais sobre os desafios e dificuldades desses grupos, e como efetivamente desenvolver e alavancá-los através dos recursos disponíveis.
Suas palavras e vivencias me tocaram profundamente, e fiquei feliz por ter a oportunidade de conviver e aprender com essas pessoas que enfrentam diariamente o preconceito, as doenças, o medo e a solidão. Pedro acredita que todo mundo devia passar um dia num galpão ou pelo menos visitar uma cooperativa ou associação de catadores. Eu também nisto. As pessoas não têm noção do que acontece e para onde vai o lixo que colocam para fora de suas casas, terceirizando e se livrando de suas responsabilidades. Nas montanhas de lixo, é possível encontrar das coisas mais óbvias, como uma sacola que antes guardava um produto de consumo e agora vazia, foi descartada e virou lixo, até celulares em perfeito estado de uso, perfumes e outras coisas que nem vale citar aqui. Nesses barracões encontramos a resposta para grande parte dos dilemas cotidianos. Descartam-se licores e livros, mas também descartam-se amores, respeito, gente, para amanhã consumir novamente outras coisas, outras pessoas.
Newton compartilhou comigo uma visão positiva sobre o caminho que estamos trilhando no sentido de nos harmonizar cada vez mais com o ambiente que nos cerca. Isso me animou sobre a perspectiva da reciclagem e resíduos sólidos de um modo geral. Segundo ele, usamos o fogo para queimar casas e plantações, mas também aprendemos a usá-lo para cozinhar, para siderurgia, para purificação de água. Desenvolvemos armas químicas e biológicas, e aprendemos a desenvolver fármacos para prolongar a vida, ou para aumentar a produtividade do cultivo agrícola. Fizemos armas atômicas, mas aprendemos a usar essa energia para fins pacíficos, ou até para diminuir tumores cancerígenos. Desenvolvemos embalagens metálicas e plásticas que sujam as praias, mas estamos aprendendo a reciclar os materiais. Poluímos os rios, mas aprendemos a dessalinizar a água do mar com uso de energia eólica – inesgotáveis.
Processo de beneficiamento do plástico reciclável
Concluiu seu pensamento dizendo que só erra quem faz. E estou totalmente de acordo com seu raciocínio. Ressaltou que temos feito e errado, mas os conhecimentos acumulados e globalmente difundidos vão progredindo em termos de corrigir nossos erros. Somos muitos errando, mas também somos muitos consertando os erros. Nós somos a humanidade, imbatível em termos de capacidade de aprendizagem. Sabemos aprender, e estamos aprendendo a evitar poluir, aprendendo a reciclar. Somos muitos tentando e errando. Precisamos ser muitos nos esforçando pelo desenvolvimento sustentável. Muitos criando problemas, mas muitos mais resolvendo.
Somos uma diversidade de indivíduos, mas buscamos uma unidade de tendências: uma cultura humana. Cada um, com um pouquinho, e contribuindo com suas habilidades, vamos construindo um futuro melhor. Uma cultura sustentável.