Educação Ambiental Relacional
Em todo posto de saúde ou hospital existe uma hierarquia para os atendimentos. Os casos que merecem prioridade são as urgências e as emergências, sendo que essa última requer atendimento imediato, pois existe risco de vida.
Estabelecendo um paralelo, a literatura que trata dos principais desafios socioambientais contemporâneos trata-os como urgentes, quando, na verdade, são emergenciais. Casos urgentes merecem atendimento rápido, mas não imediato, o que não parece sensato para casos como as mudanças climáticas globais, por exemplo.
Apesar de estarmos, já há muitas décadas, vivendo diferentes estados de emergência socioambiental, a velocidade com que são criadas e implementadas políticas que visam a mitigação (ou idealmente extinção) desses impactos é extremamente lenta. Esse descompasso requer uma análise complexa, pois envolve inúmeros fatores econômicos, políticos, sociais, culturais e educacionais.
Da mesma forma que temos escutado sobre a urgência da crise socioambiental, também ouvimos frequentemente que as pessoas estão cada vez mais conscientizadas sobre esses desafios. Entretanto, parece que consciência não tem gerado movimentação suficiente para o enfrentamento em escala desses problemas e, fruto dessa realidade, os impactos ao ambiente nunca foram tão grandes e frequentes.
Imagem: Exame |
Por que vivemos nessa contradição?
Um dos motivos tem relação com a ideia de justiça ambiental. Os problemas decorrentes dos impactos ambientais são vividos e sentidos de diferentes maneiras por diferentes partes da sociedade. Basta ver nos noticiários quem são as pessoas que, nessa época do ano, estão tendo suas casas alagadas ou quem são aqueles que enfrentam filas intermináveis nos postos de saúde para fazer uma inalação em épocas de inversão térmica.
Populações chamadas de vulneráveis têm pouca ou nenhuma voz e representatividade, e são elas que pagam pelas externalidades ambientais que sustentam as escolhas das camadas mais abastadas das sociedades. Enfim, a justiça (ou injustiça) ambiental tem total relação com a desigualdade.
Imagem: Exame |
Olhando para essa realidade, do ponto de vista educacional, é fundamental que a Educação Ambiental (realizada em espaços formais ou não-formais) traga à luz essas e outras questões relacionadas, questionando a raiz das emergências socioambientais e estimulando a busca por soluções viáveis e duradouras.
Imagem: Agência de Notícias do Paraná |
Nessa nova fase do Autossustentável, procurarei focar em uma vertente da Educação Ambiental que tenho chamado de relacional. Esta vertente procura tirar o foco da necessidade de compreensão de aspectos técnicos [dos impactos ambientais] e da busca por medidas de mitigação e comportamentais, buscando valorizar e ampliar a compreensão sobre como esses desafios ambientais são fruto de desconexão e indiferença entre nós mesmos e com o ambiente.
Imagem: Reconectta |
Ao examinarmos as relações estabelecidas entre as pessoas, e dessas com o ambiente, acredito que seremos capazes de compreender melhor o papel do individual e do coletivo, do meu e do nosso, da ética e do respeito na busca por soluções dentro de uma perspectiva mais humanizada e inclusiva.
Ótimo 2017 para todos.