Ecologia da Liberdade

Estamos vivendo tempos antagônicos. Muitas vezes a sociedade serve mais para inibir do que para realizar nosso potencial humano. A marcha das mulheres em Janeiro de 2017 (e o movimento feminista dos anos 60) podem nos parecer distantes, mas ainda muito necessários frente aos desafios contemporâneos.

Imagem: Yahoo Tech

No entanto, o movimento mudou (assim como o mundo) e o argumento feminista atual abrange mais do que a questão do gênero. Em épocas de mudanças climáticas é preciso entender como a justiça social deve advogar por uma ecojustiça.

O ecofeminismo, uma das vertentes tratadas pelo movimento feminista moderno, se baseia no conceito fundamental de uma interconexão entre a dominação da natureza pelo ser humano e a subjugação da mulher em relação aos homens, estabelecida e mantida através de formas patriarcais.

Imagem: Modefica

A teóloga Ivone Gebara eloquentemente expressou essa ideia ao afirmar que, hoje em dia, as tentativas de introduzir o ecofeminismo é revelar que o futuro dos oprimidos (as mulheres) está intimamente ligado ao destino da Terra. Embora existam diferentes tendências, o ecofeminismo afirma que todas as formas de opressão devem ser conectadas e que as estruturas de opressão devem ser tratadas na sua totalidade.

Quanto mais reflito sobre o assunto, observo que sistemas de opressão e dominação são os propulsores para a desarmonia e desrespeito, com o outro e com a Terra. A natureza e a mulher são vistos pelas sociedades patriarcais como uma “coisa útil”, como objeto de consumo ou como meio de produção e exploração. De acordo com Murray Bookchin em The Ecology of Freedom, a dominação da natureza decorre da dominação das mulheres pelo poder patriarcal.

Imagem: Gregory Colbert 

Nesse sentido, quando as relações sociais se baseavam em laços de solidariedade e diversidade, essas qualidades se estendiam em sua relação com a natureza, embora, quando as relações de dominação se desenvolvem em sociedades hierárquicas, inevitavelmente elas se manifestam também na relação com o mundo natural. Em outras palavras, foi somente quando essa solidariedade começou a mostrar sinais de deterioração que as primeiras formas de dominação se manifestaram.

O ecofeminismo propõe que o movimento feminista e o movimento ambientalista tenham objetivos comuns (o desmantelamento dos sistemas de opressão e domínio) e trabalhem juntos na construção de alternativas teóricas e práticas.

O ecofeminismo não pretende dizer que a opressão de gênero é mais importante do que outras formas de opressão, mas o foco na opressão das mulheres revela que as características importantes dos sistemas de dominação estão interligadas. Como a ecofeminista Ynestra Kingaponta, devemos superar a discussão sobre qual é a contradição fundamental (desigualdade social ou crise ecológica) e entender os dois em seu relacionamento.

Construímos um sistema que nos persuade a gastar o dinheiro que não temos, em coisas que não precisamos, para criar impressões que não duram em pessoas que não importam. Imagem: Pinterest

É importante acrescentar que o ecofeminismo (ou feminismo) não é só importante para as mulheres, mas também para os homens. Precisamos ultrapassar a separação/discussão de gêneros e investigar o princípio feminino e masculino presente em todos nós. Este é, sem dúvida, um grande desafio para o século XXI.

 

Fontes:

Bookchin, M. (1982) The ecology of freedom: The emergence and dissolution of hierarchy. Palo Alto, CA: Cheshire Books.

Gebara, I. e Ware, A.P. (2002) Out of the depths: Women’s experience of evil and salvation. Minneapolis: Augsburg Fortress, Publishers.

Kaplan, J., Hobgood-Oster, L., Ivakhiv, A. e York, M. (2008) Encyclopaedia of religion and nature. Editado por Bron Taylor. New York: Continuum International Publishing Group.

King, Y. (1981a) «Feminism and the revolt of Nature», Heresies Collection, 4(13).

Plumwood, V. (1993) Feminism and the mastery of nature. London: Taylor & Francis.

 

 

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