O Clima Pós-Trump
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No início desse mês, Donald Trump cumpriu mais uma promessa de sua campanha e anunciou a saída oficial dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
Sob alegação que o acordo não era bom para o seu país, que tirava empregos, que a mudança do clima não é comprovada cientificamente e tantas outras de suas conhecidas pós-verdades. Sem dúvida um baque forte nas pretensões da UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) e de seus países signatários na contenção da insistente elevação da temperatura média global.
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O Acordo de Paris é, na falta de um termo melhor, agridoce. Foi o melhor que se alcançou, dada a situação e a necessidade de consenso para que pudesse avançar. Se por um lado o acordo conseguiu fazer com que os principais emissores de gases de efeito estufa acordassem que é necessária a redução dos mesmos (fato que não aconteceu, por exemplo, no Protocolo de Quioto); por outro, o acordo se baseia no conceito das Contribuições Nacionalmente Determinadas, metas individuais auto-impostas e divulgadas pelos países que fazem parte do acordo. Em outras palavras, o Acordo de Paris, em sua essência, é a soma dos esforços voluntários individuais de todos os países.
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O Brasil, por exemplo, apontou que diminuiria suas emissões potenciais até 2030 em cerca de 40%. E o que acontece caso ele não cumpra essa meta? Nada. Não há sanções, não há nenhum tipo de punição, pois o acordo parte do espírito voluntário dos países.
Ainda assim, é o instrumento que temos. E notem que não coloco o verbo no plural: a saída dos EUA é um baque, mas não o fim do acordo e está longe de ser o fim do esforço sério dos países na diminuição de suas emissões e adaptações de mudanças climáticas vindouras.
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Imediatamente após o anúncio de Trump, diversos líderes globais reforçaram seu comprometimento ao que haviam acordado há 2 anos em Paris. Mesmo dentro dos Estados Unidos, diversos estados (que tem autonomia para legislar nesse sentido) minimizaram a saída de seu governo federal e reiteraram seus esforços e compromisso no tema.
A análise sóbria feita algumas semanas depois do anúncio do mandatário norte-americano é que os EUA parecem tão somente terem se isolado do resto do mundo. Unem-se à Síria e à Nicarágua como os únicos países dentro das Nações Unidas que estão fora do acordo. E a justificativa nicaraguense foi que eles não entraram no acordo porque o mesmo não era “sério o suficiente” justamente por partir de premissas voluntárias.
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Com Obama, os Estados Unidos eram claramente uma das lideranças no combate à mudança do clima, ante diversas ações multilaterais, bilaterais e unilaterais que o país tomou. Com Trump, isola-se de praticamente todo o resto do mundo. Aqueles que inacreditavelmente ainda negam a ação humana no clima aplaudirão a coragem do presidente norte-americano. Os demais lamentarão mais tempo perdido, porém, não devem desanimar, pois a humanidade certamente resistirá ao lapso de razão de poucos, mesmo que estes ocupem a presidência de potências.