Soberania Ecológica
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O movimento ambientalista é assunto recente, pois a maneira como nós tratamos nosso planeta nunca foi colocada em questão até Rachel Carson publicar o livro “Silent Spring” em 1962, através de sua pesquisa Carson nos educou sobre pesticidas químicos e seus efeitos.
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Até antes disso, o pensamento moderno nunca refletiu sobre os danos ecológicos que até então produzia ou a forma desenfreada na qual exploravam ‘recursos naturais’.
De 1962 até hoje, 55 anos depois, ainda precisamos nos educar sobre a urgência de uma transição para um relacionamento sustentável com a Terra. Natureza não é recurso. Na minha cosmologia, todo o mundo natural tem valor intrínseco (Arne Naess, 2010). Isso quer dizer que o mundo natural deve ser visto como “outro”, independentemente da sua utilidade para os seres humanos. Este pensamento originou do filósofo norueguês Arne Naess.
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Naess cunhou o termo Ecologia Profunda em 1973 para determinar uma ética de respeito a vida enfatizando a biosfera como uma todo. A Ecologia Profunda, portanto, se refere não apenas à vida (espécies), mas também a coisas inanimadas – seres como rios, ventos, mares e ecossistemas.
A igualdade biocêntrica é assumida, isto é, na biosfera, todas as coisas – seres têm o mesmo direito de viver e florescer como partes de um todo interligado. Todos os organismos e todas as entidades são iguais em termos de seu valor intrínseco. Portanto, Ecologia Profunda acredita em preservar a natureza e a integridade da biosfera por si só, independentemente dos possíveis benefícios que podem resultar para os seres humanos.
Claro que desde Carson e Naess até os dias de hoje não se passou muito tempo, especialmente se avaliarmos a partir dos milhares de anos que nós estamos aqui. Porém foi o suficiente para que o ‘desenvolvimento’ humano acelerasse a ponto de destruir e degradar absolutamente todas as regiões do planeta. Hoje, não existe uma única região intocada e quase todas as áreas selvagens estão sendo depreciadas diariamente.
Navio quebra-gelo canadense navega pela baía Resolute, em Nunavut, território autônomo do Canadá. Reprodução: El País. Imagem: Reuters |
Sei que não é justo (ou realista) esperar que todos tenhamos a mesma visão da natureza. No entanto, nós temos uma quantidade angustiante de informações (através de livros, jornais, revistas, televisão, redes sociais) esta cada vez mais claro como é irrefutável a verdade científica sobre mudanças climáticas.
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Reprodução: G1. Imagem: AFP |
Se você tem acesso a este conteúdo como é que ainda estamos adormecidos? O que falta para uma transição individual? Entendo que os processos coletivos requerem mudanças substanciais e organizadas. Porém, em centros urbanos, é possível fazer escolhas mais conscientes e sustentáveis no cotidiano.
É preciso lembrar que não existe uma única pessoa cuja sobrevivência não está intimamente conectada aos complexos sistemas ecológicos da Terra. Mesmo dependendo profundamente do mundo natural, ainda me surpreendo quando encontro alguém que não tem nenhum senso de sustentabilidade. Como pode? Em épocas de mudanças climáticas, você não está preocupado? Será que você sabe o que isso significa?
Imagem: Ecovila Kanobia |
Alguns renomados cientistas, como James Lovelock (criador da Teoria de Gaia), acreditam que o sistema climático da Terra já ultrapassou o ponto de retorno e agora inexoravelmente está em um espiral em direção a um equilíbrio em que a vida humana não poderá sobreviver. Eu não sou tão pessimista como Lovelock, acredito na resiliência humana e na sua capacidade de transformação. Mas sei que é urgente a necessidade de uma visão comum e coerente para o futuro.
Outro assunto a ser considerado é a relação entre devastação ecológica e o seu reflexo nos âmbitos sociais. A depreciação da natureza afeta a todos, principalmente aos menos privilegiados. Hoje pensar em justiça ambiental e sustentabilidade é também advogar por um movimento de justiça social.
A reflexão é um tanto esmagadora, no entanto não podemos fraquejar frente aos desafios contemporâneos. Hoje, cada um de nós precisa tomar responsabilidade e orientar nossas vidas e nossas comunidades em direção a um futuro que é ecologicamente e socialmente sustentável.
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O desafio é profundo, mas não deve ser dispensado pelo seu grau de complexidade. Não tenho as respostas, mas busco encontrar pessoas que também questionam nosso atual paradigma e juntos criamos pequenos modelos para transição. Como um grão de areia, toda atitude é válida.
Referências:
Carson, Rachel. Silent Spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962.
Leopold, Aldo. (1948). A Sand County Almanac. New York: Oxford University Press.
Lovelock, J. (2005). Gaia. 1st ed. London: Gaia Books.
Nhất Hạnh (2013). Love letter to the Earth. 1st ed. New York: Parallax Press.
Wilber, K. and Palmer, M. (2004). The simple feeling of being. Boston: Shambhala.