Mas afinal de contas, o que é sustentabilidade?

Imagem: Desarrollo Sustentable. Adaptações: Autossustentável

Tenho atuado como formador de professores dos Ensinos Básico e Universitário em Educação para a Sustentabilidade há um tempinho. Uma das questões recorrentes durante esse período é: “o que é sustentabilidade?”.

Já tive a oportunidade de escrever aqui no Autossustentável sobre a importância de não permitir que a busca de uma definição formal seja imobilizadora. De um jeito ou de outro, temos nossas visões do que é ou não sustentável. No fundo, é isso que importa.

Mas enfim, se a definição se faz tão necessária, acho que eu definiria sustentabilidade como “a busca permanente da manutenção dos processos tipicamente humanos (culturais, políticos, econômicos, sociais, etc.) sem que estes prejudiquem e, idealmente, melhorem, os processos biogeoquímicos, garantindo a manutenção e aumento da diversidade e da biodiversidade”.

Imagem: Generate Land

Toda definição, por definição, engessa as possibilidades, por isso, tenho seguido a linha de que sustentabilidade é um valor, e não um conceito.

Ao ler essa definição, a contra-argumentação lógica está ligada à utopia. Ou seja, não conseguiremos manter os processos humanos e, ao mesmo tempo, melhorar, os demais ligados a terra e manutenção da vida em todas as suas formas. Pelo menos não dentro do modelo civilizatório em curso.

Imagem: Cultura Mix

Se considerarmos essa visão de sustentabilidade utópica, o que estamos buscando, afinal? Muitos autores têm sugerido a substituição de sustentabilidade por resiliência, por ser um conceito mais bem compreendido e advinda da reconhecida Ecologia, ou das Ciências Biológicas, de maneira mais ampla.

A ideia parece boa a princípio, mas autores conceituados como Arjen Wals, só para citar um, tem criticado duramente essa substituição, afinal, ser resiliente diz respeito, grosso modo, à capacidade de restauração frente a um impacto.

Entretanto, o ideal é que o impacto não ocorra. Resiliência, portanto, abre a porta para uma possibilidade que não gostaríamos de considerar em sociedades realmente sustentáveis.

Para continuar, e finalizar a lista de jargões e conceitos, apresento um que me agrada: regeneração. Estamos vivendo um momento de transição, que gera conflitos e, ao mesmo tempo, alternativas.

Talvez precisemos primeiro buscar a regeneração daquilo que já está prejudicado, incluindo o ambiente e muitos de seus processos biogeoquímicos e, para além do exterior, regenerar a nós mesmos, nossos laços de confiança e cooperação na busca por um novo sentido à existência.

Imagem: Campos de Boaz

As inúmeras crises são humanas, nascem conosco e precisam ser regeneradas antes de evoluírem e gerarem um novo estado mais equilibrado, equitativo e harmônico. Talvez nesse momento poderemos, sem culpa ou dúvida, falar em sustentabilidade.

PS. Gratidão ao Monge Jorge Koho pela inspiração.

 

 

 

 

1 comment

  1. Na realidade o conceito de sustentabilidade é utópico, inviável. Os processos “tipicamente humanos (culturais, políticos, ECONÔMICOS, sociais, etc.)” são totalmente antagônicos aos sistemas naturais (biogeoquímicos) – um não pode prosperar sem destruir o outro. Neste sentido vejamos como começou: Até 10.000 anos atrás, a espécie natural “homo” era nômade, colhedora, caçadora. A partir dai, a espécie – pós-natural – “humana”, estabeleceu – fixo à terra – o sistema PRODUTOR. plantador, criador … agressivo, desde a origem, ao sistema natural. Neste sentido devemos reconhecer essa “Artificialização Existencial” (Sobre o Natural) como uma verdadeira doença na Biosfera (no conceito de Gaia) que evoluiu muito rapidamente no tempo geológico, e vem evoluindo cada vez mais exponencialmente nas últimas décadas. Vejamos um resumo: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1608732059183823&set=g.1255894271103501&type=1&theater&ifg=1

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