O acesso às áreas protegidas e o equilíbrio natural
Em época de férias todos buscam por locais que ajudem a espairecer, descansar e recarregar as energias. Um local em que se possa parar de pensar no dia-a-dia, colocar o pé no chão, ver um horizonte mais ao longe.
Para isso o contato com a natureza é uma opção das mais procuradas. Seja o mar, seja o campo, todos tendemos a buscar locais exuberantes em natureza.
Neste verão estivemos em diversas áreas de conservação na região sul do Brasil. Na sua maioria parques, abertos à visitação, alguns com taxa de turismo e outros não.
Mas o que chamou a atenção foram as condições de acesso a esses locais: via de regra uma estrada de chão batido, com cascalho solto, até o pórtico de entrada. Depois disso, tênis e muita disposição, pois os mirantes e locais em que podemos voar com os pensamentos são aqueles que requerem uma caminhada por meio de trilhas.
Muitos podem pensar que o acesso deveria ser melhorado, mas poucos pensam nos impactos que um melhor acesso teria no equilíbrio do ambiente protegido.
Áreas protegidas buscam em primeiro lugar a preservação. Há naquele local, exemplares únicos de fauna e flora que justificam a proteção e que precisam ser preservados. Quando estávamos deixando o Parque da Ferradura, no Município de Canela/RS, avistamos uma aranha grande atravessando a estrada. Fosse asfalto, não estaríamos em velocidade compatível para vê-la ou mesmo para impedir que causássemos dano a esse animal.
Já no Parque Nacional de Aparados da Serra, em Cambará do Sul/RS, podia-se ver, ao lado da trilha de subida para o mirante do Cânion Fortaleza, uma formação lindíssima (de seres vivos, que prefiro nem qualificar, pois meus conhecimentos de biologia são mínimos). São cenas que não combinam com a criação de uma forma mais acessível de turismo, sob pena de serem exterminadas.
A convivência entre espaço de conservação e visitação é muito bem pensada a fim de gerar o menor desequilíbrio possível. Em Santa Catarina, no Parque Interpraias, que fica na cidade de Camburiú/SC, duas cenas também chamam a atenção. A primeira é uma árvore, que se debruça sobre os degraus, na qual foi afixada uma placa com os dizeres: “Curve-se à natureza”. Para passar, é preciso abaixar-se. Em outro local, árvores que foram derrubadas pelo mau tempo continuam caídas em meio à mata, sendo que uma placa foi afixada informando que a gestão do parque procura não intervir nos processos naturais e que naquele local, uma nova forma harmônica de equilíbrio crescerá, sem necessidade de intervenção.
E num dos parques um turista estrangeiro, vendo os papeis de bala e garrafas de plástico espalhados pela trilha, toca o meu braço e com uma expressão de espanto pergunta: “Why?” Respondi que talvez as pessoas se sintam muito donas dessa terra, a ponto de fazer o que bem entenderem naquele espaço. Ou então não percebem o valor que tem uma unidade de conservação.
O que fica de reflexão, depois de encher os olhos e o coração com magníficas paisagens e experiências, é que as áreas de proteção nos abrem uma exceção de visitação, mas não de intervenção.
Em que medida estamos preparados para usufruir dessas maravilhas e mantê-las? Que tipo de relação temos com as unidades de conservação? Sabemos não intervir?
Para saber mais sobre os Parques citados:
Parque Nacional de Aparados da Serra – http://www.icmbio.gov.br/parnaaparadosdaserra/index.php
Parque Unipraias – Balneário Camboriú – http://www.unipraias.com.br/home
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