Por que a maioria das pessoas não se importa com problemas ambientais?

As pessoas se importam com questões de sustentabilidade? Como educadora e engenheira ambiental, essa é uma pergunta recorrente em minha cabeça. E tenho certeza que se você está lendo este artigo, já se perguntou isso também.

Fazendo uma rápida busca por pesquisas realizadas sobre o tema, vemos indícios que sim, as pessoas se importam com questões relacionadas ao meio ambiente no Brasil.  Uma pesquisa realizada em 2012 pelo Ministério do Meio Ambiente aponta, por exemplo, que 82% das pessoas discordam da seguinte frase: “O conforto que o progresso traz para as pessoas é mais importante do que preservar a natureza” e esse índice veio crescendo desde 1997, quando eram apenas 67%. Em 2018, o “meio ambiente e riquezas naturais” apareceu como maior orgulho nacional para o brasileiro em pesquisa realizada pelo IBOPE e WWF.

Porém, existe uma diferença clara entre o discurso e a prática. Falar que se importa é uma coisa, mas de fato ter uma mudança de comportamento é outra história. Somos um dos países com maiores índices de desmatamento, reciclamos menos de 5% dos nossos resíduos e elegemos governos com claro descaso por questões ambientais.

Desmatamento
Desmatamento na Amazônia. / Imagem: Agência Brasil

Se as pessoas dizem se importar, por que não agem e cobram devidamente?

O ser humano prioriza problemas imediatos.

As mudanças climáticas, por exemplo, parecem algo muito distante do presente e acabam não representando uma ameaça factível para muitos.

Desconexão com a natureza.

Cuidamos apenas daquilo que conhecemos e temos vínculo. Quanto mais distantes do meio natural, menos as pessoas se importam com sua preservação e conservação.

As pessoas têm cada vez menos contato com a natureza. / Imagem: Creative Commons

A população não tem conhecimento suficiente.

Conhecimento é diferente de informação. Enquanto a informação está cada vez mais acessível, ainda não está claro para muitos os reais desafios, causas, consequências e possibilidades de soluções.

Muitos não sofrem ou percebem diretamente as consequências.

O problema do plástico no oceano, por exemplo, despertou incômodo nas pessoas quando começaram a literalmente ver o lixo na praia e nas ruas de sua cidade.

Poluição praia
Poluição em praia. / Imagem: Creative Commons.

É mais trabalhoso sair da zona de conforto.

Como seres vivos otimizamos ao máximo nosso gasto de energia e por isso priorizamos aquilo que nos é mais fácil e cômodo.

Sistema baseado em crenças e valores insustentáveis.

Ganância, individualismo, egoísmo, medo, impotência e desconexão ainda são valores presentes em nossa sociedade e base para nosso modo de vida, gerando crenças, comportamentos e culturas insustentáveis.

Consumismo
Imagem: Creative Commons

O desafio é complexo, mas um dos principais papéis da educação para sustentabilidade é, justamente, compreender as causas da distância entre o discurso e a prática e traçar estratégias para minimizá-las. Também é papel da educação para sustentabilidade aproximar as pessoas da natureza; facilitar práticas e soluções para que as pessoas se desafiem a sair de sua zona de conforto; fortalecer valores humanos como cooperação, respeito e solidariedade; levar a informação de maneira mais clara e convidativa; e gerar mais empatia e conexão entre aqueles que causam e os que hoje começam a sofrer as consequências.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

RIBEIRO, Livia. Por que a maioria das pessoas não se importa com problemas ambientais?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2019/02/por-que-a-maioria-das-pessoas-nao-se-importa-com-problemas-ambientais.html>.

41 comments

  1. Bela matéria. Acredito que a educação seja o berço de tudo e o resultado é no longo prazo, por isso a necessidade de resiliência em manter estes temas sempre em evidência. De imediato: o problema não é o canudo de plástico e sim o descarte incorreto que se faz dele – isso parece óbvio, mas a criação do canudo de papel como “a solução dos problemas”, mostra que essa afirmação não é nada óbvia par muitos. É preciso aflorar nas pessoas o senso de propriedade e de coletividade com as coisas e lugares – não devo jogar lixo na rua ou na praia porque elas fazem parte do meu dia-a-dia e das pessoas que estão ao meu redor – e os beneficiados somos nós mesmos e nossos descendentes. Não faz sentido falarmos em redução de emissões de carbono enquanto não fazemos o mínimo – por exemplo, reciclar plástico do dia-a-dia, que é o início do processo de otimização de matérias-primas e racionalização do uso de energia, cujo processo é gerador de resíduos.

  2. Acredito que falta interesse, mudança de pensamentos e educação. Hoje vemos pessoas fechando os olhos e ouvidos sobre sustentabilidade quando convém, um exemplo a ultra fash fashion como a SHEIN, mesmo após várias polêmicas e problemas escancarados, as pessoas preferem defender porque é barato e convém a um desejo momentâneo. Influenciadores também trazendo opiniões confusas (defender o uso de canudinho de papel/metal mas consomem ultra fast fashion com força), e opiniões que levam à massa a desacreditar da sustentabilidade.

  3. Nas prais a máquina passa limpando o lixo da areia, isso é um absurdo! Somente cedo pela manhã a máquina passa, e a noite toda o mar leva as tampinhas de garrafas, plásticos, e toda a lixarada. Acredito que nas prais deveria ter uns telões mostrando os animais marinhos engasgados com o lixo, quem sabe sensibilizasse a população.

    1. *praias, digo. Complementando- as pessoas acham que as máquinas farão o serviço de limpeza sem causar nenhum dano (isso ainda nas prais que passam a máquina), mas não é verdade. Deveria haver uma conscientização da população bem impactante. As pessoas acham que vão a praia, relaxar, e que o problema fica por ali, voltam para casa como se aquele problema não fizesse parte da sua vida, estivesse longe se alcançá-las. As pessoas tem problemas e ao viajarem querem esquecê-los, mas não poderá haver mais relax total. As consequências pela alienação e falta de responsabilidade pela população no que se refere as questões ambientais, estão chegando de forma rápida com a alteração climática, vírus, extinção da fauna e flora, alterando o equilíbrio ecológico.

  4. O assunto sustentabilidade ainda é um mito, mas com informações vamos desmistificando, e o que ajuda muito são as ações práticas nas aulas com os alunos, onde concretizamos a teoria! Não é impossível ser sustentável, basta quer !
    Parabéns Livia, Douglas, Edson e Aline!!! 8 anos de muito trabalho!!! Gratidão por compartilhar o conhecimento.

  5. Ótimo artigo!
    Tentei implantar na empresa onde trabalho, fazendo com que todos reciclagem e o valor arrecadado com a venda desses itens no decorrer do ano, iriamos fazer uma confraternização para todos no final do ano, mas o pessoal foi se desmotivando e no fim já misturavam, tudo novamente. Acredito que seja algo para se praticar em casa e nas escolas para assim podermos levar para as ruas e empresas.

    1. Se vcs soubessem, a Índia e China jogam todos detritos no mar, passou na internet caminhões e caminhões levando e jogando tudo no “MAR”!!!!!!

  6. Falta educação. A questão ambiental deveria receber mais ênfase na escola. Deveria ser tão importante quanto a matemática e o português. Se desde cedo aprendessemos que a lata de lixo não é um desintegrador de matéria teríamos a idéia de produzir menos lixo e todo mundo cobraria medidas sanitárias eficazes dos políticos inúteis.

  7. Falta educação, boa vontade e interesse.
    Mas tb falta condições como por exemplo: coleta seletiva, pontos de descarte de materiais recicláveis, controle de embalagens plásticas, fim das sacolas plásticas, canudos, copos descartáveis e principalmente incentivo para empresas de reciclagem.

  8. Realmente o artigo diz tudo e concordo com alguns comentários,mas…o que adianta proibir as sacolas plásticas..se o mesmo é usado na maioria das embalagens. ..eu se que é um começo. .mas temos que pensar grande..para conseguirmos algo.

  9. Acho que os motivos são mais simples:
    – a maioria da população é pobre e tem outras prioridades como comida.
    – como o estado já cuida do meio ambiente (ou deveria) muitos acabam deixando de lado.

    1. Nao nesse governo, Bozo deixou bem claro o q pensa sobre meio ambiente em várias manifestacoes, as mais recentes contra a Greta Thunberg, sendo das mais idiotas, grotescas e vergonhosas, diga-se de passagem. Muito pelo contrário, as suas medidas estimulam a destruicao do meio ambiente.

  10. O ser humano está para o Planeta, na mesma proporção que um vírus está para um computador.
    Devagar e, de dentro pra fora, vai destruindo toda as suas entranhas.
    Destruição das matas e meio-ambiente; poluição dos mares; poluição da atmosfera; alteração do clima; utilização de agrotóxicos agressívos e nocivos à vida animal e vegetal, com extinção de várias espécimes;
    Além de ser o predador de si mesmo…??

  11. Os grandes conglomerados, nas mãos de famílias hiper ricas.Dão as cartas a sujeira e poluição vem de cima para baixo para terem lucros , poder e controlo.A população mesmo sendo maioria não tem poder econômico, que controla políticos, armas, alimentos, remédios, hospitais.Lutar é bom, mas existem varias frentes de combate.Fome em todo o planeta, cracolândia, refugiados por guerras criadas artificialmente.O mundo sustentável o, sonho de Nícolas Tesla.Vai passar por muitas batalhas , ninguém larga o poder.Apenas são defenestrados.

  12. Comentários todos importantes, profundos e sensíveis! Mas lembremos que: nada nos é dado, tudo nos é cobrado direta ou indiretamente; as empresas que existem dependem de nós consumidores; não temos ainda graus de educação suficientes, ao nível mundial, para conseguirmos uma maior consciencialização que promova a nossa capacidade de organização enquanto cidadãos para alterarmos o nosso paradigma de vida baseado no dinheiro, individualismo, competição cega, ganância, máximo conforto. E, por isso, assistimos ainda a uma ausência ou muito pouca exigência dos nossos políticos, a uma democracia pouco evoluída, porque o modelo de democracia representativa já evidenciou muitas fragilidades (ex. corrupção política) pelo que temos que evoluir enquanto pessoas e seres vivos humanos deste planeta para uma democracia participativa. Para isso os nossos comportamentos terão de mudar bastante e isso é o mais difícil! Se queres mudar o mundo muda-te a ti mesmo (Ghandi) e “eles” ( o grande capital) sabem disso….mas Margaret Mead, antropóloga, lá dizia: Muitas pequenas pessoas, em muitos pequenos lugares podem fazer com que GRANDES COISAS ACONTEÇAM! Haja esperança e pro atividade para essa mudança urgente!!

    1. Perfeitas colocações. Textos pequenos e cheios de conteúdo. Ler coisas assim me faz voltar a ter um pouquinho de esperança na humanidade, mas só um pouquinho……rs.

  13. Muito legal o artigo, mas o tom ainda é meio leve. Precisamos lembrar que o consumismo é fomentado e é o valor CENTRAL da sociedade. O sistema econômico predominante (Capitalismo Liberal) vive da destruição, da mutilação intelectual da população, da fome, guerra, doença.. Tudo isso dá lucro para algumas pessoas que se lixam para pobres, plantas e animais… é uma racionalidade limitada, considerando que estamos no mesmo planeta, mas o ponto numero 1 do artigo fala disso mesmo…

    1. Infelizmente na ideia e discursos atuais, falar contra o consumismo e sobre o sistema econômico predominante (Capitalismo Liberal) você é rotulado erroneamente partidário de um movimento. Enquanto as questões políticas, no sentido de regularizar os fatos a que são cada coisa, sem rótulos e polarizações, isso não será identificado como um problema e sim um pensamento apenas de visão de mundo, como se fosse opcional.

  14. Eu tenho teorias. O maior problema é criar um problema querendo que os outros resolvam. A indústria faz isso. Outro ponto: Não oferecer contrapartida. Aí vai tudo para o lixo comum. ?

    1. Com poucas palavras vc disse tudo.
      Enquanto cobram das pessoas toda a responsabilidade de preservação, as empresas fazem mais e mais embalagens de plasticos, ve se vc vai ao mercado e encontra macarrao em pacote de papel? Nao claro que nao, nao temos o poder de escolha para contribuir para o bem da natureza.

  15. Que beleza de artigo. Simples e objetivo com a clara intenção de educar e conscientizar a população do mundo em que vivemos. Nada nos pertence e não deve ser destruido de forma alguma por interesse de alguns. Parabéns pelo artigo tão bem elaborado.

  16. Falta o medo nas pessoas. O medo de um planeta poluído e cheio de furacoes, enchentes e calores insuportaveis, morte dos corais e acidificação dos oceanos. É preciso assustar as pessoas. contar apenas com a sensibilidade ecológica pode ser inútil. O medo pode fazer com sejam mais cuidadosas com o ambiente. E a culpa. Ninguém se sente culpado pela poluição.. MEDO E CULPA. Um binômio perfeito para que as pessoas saiam do sofá e tomemações ecológicas. As religiões conhecem bem esse binômio e assim dominam as massas. Já nascemos culpados (sei lá de que) e o medo do inferno.

  17. Não só o exemplo que vem de cima, mas as escolas deveriam trabalhar este tema e insistir desde crianças. Em casa o civismo e educação também é muito importante ensinar aos filhos que o planeta precisa que aliviem de todas a poluição e o cidadao pode ajudar e muito. Quanto aos animais estão os médicos a pedir que não se coma carne vermelha e pouca branca. Se não comer tanta carne, não há necessidade de consumo e muitos menos animais são abatidos. Afinal nem só de carne vive o homem, há tantos pratos gostosos e agradaveis é necessário variar.

  18. Falta o exemplo vir de cima. Hoje, basicamente só se cobra do cidadão que faça algo a respeito. É preciso cobrar as empresas que geram os poluentes ou produtos que acabam nos lixões, nos rios e nos oceanos. Afinal, o que é mais fácil, controlar milhões de pessoas ou algumas centenas de centenas de empresas?

    1. Milhares de pessoas conscientes fazem a diferença pressionando os empresários inconscientes, precisamos agir, fazendo a diferença desde a nossa casa e levar esta consciência por onde estivermos, com profundo amor, mostrando o que queremos ou não!

  19. A arte da materia não condiz com a realidade. Nem de longe os navios são responsaveis pela poluição. O caso da BAIA DA GUANABARA é prova disso. Trata-se de esgoto domestico e industrial. A autora poderia visitar empresas de navegação para ver como o controle é rigoroso.

  20. Puro egoismo e indiferença pelo outro..a sociedade moderna ocidental deu tudo de mão beijada ao cidadão…agua luz comida..resultado foi a desvalorização de quase tudo..tudo é dado como adquirido..basta ter dinheiro…o que interessa é ter e não ser…torna se urgente mudar de paradigma

  21. Se a sociedade exigir dos governos e/ou se organizar para ter coleta e sistemas de sustentabilidade
    Como verdadeira indústria reversa ou até indústrias só para isso
    Como separar o lixo na cidade ??
    se no caminhão público eles são orientais a juntar tudo , colocam tudo junto e despejam em algum lugar péssimo sem tratamento e perto de pessoas menos favorecidas sem responsabilidade sem se importar

  22. Existe um dito popular que penso ser muito verdadeiro que vem ao encontro da matéria acima, e serve pra muitos setores da vida que é: “O que os olhos não vêem o coração não sente”.
    É preciso que as pessoas vêem de perto os problemas para que se sensibilize.
    Se vc não ver o sofrimento do outro como vc vai se sensibilizar? Se vc nao for em um matadouro de bois como vc vai ter pena do animal? Mas isso não é interessante para a industria. A indústria cada vez mais quer aumentar suas vendas. Como ela irá te informar de algo que vai desmotivar o seu consumo? E assim sao em varios setores da vida. A ganancia do lucro nao deixa a informacao chegar no consumidor. Simples assim.

    1. Perfeito! Bela síntese do problema! Sempre me pergunto como conseguir que pessoas que entendem o problema, mudem seu comportamento. Ouço algumas vzs: “ ah… não vai ser essa quantidade de lixo que vai mudar alguma coisa!” Pena…

    2. Existem pequenas ações no mundo que merecem serem destacadas e multiplicadas. Concordo que o homem se distanciou da natureza e com o grau de egoísmo que se encontra prefere não ver a triste realidade que estamos transformando o nosso planeta.

    3. Vc vê o ar? Não, mas ele existe e vc sabe. Pois bem, não vemos os animais serem assassinados, porém sabemos o que acontece e COMO ACONTECE. Alguém se importa? Óbvio que não e mtos ainda fazem pilhéria. O que falta ao ser humano foi exatamente o que eu citei acima: humildade, bom senso e compaixão. Pobres não são coitados, como mtos querem nos fazer crer, afinal são nesses locais miseráveis onde a crueldade é maior e pior. alguns dirão: mas os ricos são piores! será? como os pobre são em um número infinitamente maior, no mínimo, a maldade deles e dos mais abastados se iguala. E é precisamente por esse motivo que sempre serei a favor da natureza e dos animais. Nossa espécie jamais alcançará o grau de compreensão e visão necessários à vida em comum entre nós e as outras espécies – isso não é para um ser tão cheio de soberba como nós.

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