O Caminho para a Sustentabilidade Chinesa – Saiba como o país está investindo na área!
A China tem realizado progressos significativos na mitigação da crise ambiental provocada pela formação histórica e cultural. O Império do Meio tem sua terra sendo cultivada intensamente há mais de 8.000 anos! Os impactos cumulativos desta exploração de recursos naturais aliados às práticas agrícolas ineficientes causaram pobreza generalizada e degradação ambiental no princípio de 1900.
Cenário Apocalíptico
No século XX, inundações, secas e outras catástrofes afetaram a maioria da população do país, incluindo a Grande Fome Chinesa de 1959 a 1961, que causou entre 20 milhões e 45 milhões de mortes. Após a reforma econômica de 1978 e diante deste cenário, o governo estabeleceu 6 programas de sustentabilidade. No entanto, com condições modestas de investimento a terra continuava a se deteriorar.
Na década de 1990, a cobertura florestal natural estava abaixo de 10% e cerca de 5 bilhões de toneladas de solo erodiam anualmente, causando problemas significativos de sedimentação e qualidade da água. No Planalto de Loess, as partes mais afetadas estavam perdendo 100 toneladas de solo por hectare a cada ano por conta da erosão, e o Rio Amarelo que fluía por ele tinha a duvidosa honra de ser a hidrovia mais turva do mundo. Os solos agrícolas estavam esgotados e a produtividade diminuía, as áreas de gado tinham excesso de pastagem e mais de um quarto da China era desertificada.
Entre 1990 e 2000, a China sofreu uma série de desastres naturais causados pela gestão insustentável da terra, incluindo a seca do Rio Amarelo em 1997, as enchentes do Rio Yangtze em 1998 e as tempestades de poeira que afligiram Pequim em 2000.
Esforço Monumental
A emergência era tamanha que a partir de 1998, a China intensificou dramaticamente seu investimento no setor de sustentabilidade, incluindo o lançamento de 11 novos programas. O portfólio incluiu programas icônicos, como o Programa de Grãos (Grain for Green Program), o Programa de Conservação de Florestas Naturais e o Programa Three North Shelter belt Program, que visava retardar e reverter a desertificação, plantando uma zona verde de amortecimento de 4.500 km.
Os programas também incluem medidas como a melhoria dos meios de subsistência, pagando aos agricultores para implementarem ações sustentáveis em suas terras. Na China, incentivo financeiro é uma das maneiras eficientes de criar mudanças de comportamento. Outro importante fator foi o fornecimento de habitação e trabalho não agrícola nas cidades em expansão da China, isso também impulsionou a renda familiar e reduziu a pressão sobre a terra.
Mais de 350 bilhões de dólares foram investidos nestes programas abordando mais de 620 milhões de hectares (65% da área terrestre da China). Esse esforço, embora imperfeito, é globalmente incomparável. Os 16 programas de sustentabilidade introduzidos até hoje tem como objetivo:
- Redução da erosão, sedimentação e inundação nos rios Yangtze e Yellow (Rio Amarelo);
- Conservação de florestas no nordeste da China;
- Diminuir a desertificação no norte seco e no sul rochoso do país;
- Reduzir o impacto das tempestades de poeira na capital, Pequim;
- Aumentar a produtividade agrícola no centro e leste da China.
O Resultado
Após 20 anos, os resultados desses programas foram extremamente positivos. O desmatamento diminuiu e a cobertura florestal dobrou, ultrapassando 22%. Os campos de pastagens também se regeneraram. As tendências de desertificação se inverteram em muitas áreas e, embora impulsionadas principalmente pela mudança climática, os esforços de restauração ajudaram.
A erosão do solo diminuiu substancialmente, qualidade da água e a sedimentação dos rios melhoraram dramaticamente. Os sedimentos do Rio Amarelo caíram em 90% e o Yangtze não fica muito atrás. A produtividade agrícola aumentou através de ganhos de eficiência e avanços tecnológicos. As comunidades rurais estão em melhor situação agora e a fome desapareceu em grande parte.
Dito isto, também houve consequências não intencionais. O reflorestamento onde árvores nunca cresceram secou os recursos hídricos e levou a altos índices de fracasso nas plantações. Mas, para dar crédito aos esforços, o vasto investimento deu grandes passos na sustentabilidade da população rural e do mundo natural.
Lições da Experiência da China
Não pretendo fingir que a China é o melhor exemplo na área de sustentabilidade. A poluição muito séria do ar, da água e dos solos, a expansão urbana, o desaparecimento das zonas úmidas costeiras e o comércio ilegal de animais silvestres ainda cobrem a nação mais populosa do mundo. Também é preciso tomar cuidado para não transferirmos os problemas domésticos chineses para o exterior.
Embora o contexto do país seja único, a China tem um caminho definido, um objetivo comum a ser alcançado e ações efetivas sendo implementadas. Em contrapartida, me parece que o governo brasileiro se recusa admitir as devastações naturais do nosso país e de se comprometer com a sustentabilidade como um investimento público em larga escala e de longo prazo. Como apresentei acima e nos meus últimos artigos (A China é capaz de solucionar a crise de poluição do ar?; e Desafios da Sustentabilidade na China) o Presidente Chinês Xi Jinping tem claramente traçado um caminho para a sustentabilidade e uma civilização ecológica, e o nosso presidente? O que anda fazendo?
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SOUZA, Maria Eduarda. O Caminho para a Sustentabilidade Chinesa – Saiba como o país está investindo na área!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2019/04/o-caminho-para-a-sustentabilidade-chinesa-saiba-como-o-pais-esta-investindo-na-area.html>.