Coronavírus e Mudanças Climáticas

Recentemente o mundo viu uma queda enorme nas emissões de dióxido de carbono, o principal fator do aquecimento global. No entanto, o motivo não é algo para comemorar. A razão desta queda foi o surto do coronavírus (COVID-2019) na China, que infectou quase 80 mil pessoas, fechou fábricas, refinarias e voos em todo o país.

Eu moro em Xangai e a sensação era de que o país estava parado, apesar de supermercados farmácias e alguns restaurantes operarem a todo vapor. As autoridades ordenaram a todos que ficassem em casa, e como resultado, as emissões de CO2 (dióxido de carbono) nas últimas três semanas foram de cerca de 25% menores do que no mesmo período do ano passado, de acordo com cálculos de Lauri Myllyvirta, analista do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo. A China é uma potência industrial tão grande que mesmo uma queda temporária como essa é significativa.

Imagens de satélite da China/ Imagem: NASA/BBC / Reprodução: G1

Os números oferecem um lembrete preocupante de quão profundamente dependente de combustíveis fósseis a economia moderna ainda é, não só na China mas em todo o mundo. Quando a atividade industrial diminui, seja por causa de uma recessão ou por conta de um grande surto de doença, a poluição climática também tende a despencar.

Imagem: Creative Commons

E quanto mais exploramos os recursos naturais, mais contribuímos para as mudanças climáticas e mais próximos estamos de novos virosferas [1]. Por exemplo, por conta do derretimento de geleiras entramos em contatos com vírus que estavam congelados há mais de 20 mil anos; devido ao desmatamento e ao contato com animais e ecossistemas antes distantes de nós, entramos em contato com vírus que não temos conhecimento e nem resistência imunológica.

Imagem: Creative Commons

‘‘Este (COVID-2019) é mais um vírus que chega à espécie humana por causa de impacto ambiental. Ao desmatar, degradar o ambiente e ampliar a proximidade de animais silvestres para alimentação, recreação ou estimação, o homem se aproxima de vírus com os quais não tinha contato nem imunidade.’’  – Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia em entrevista à BBC Brasil.

Imagem microscópica de Coronavírus./ Imagem: Creative Commons

As mudanças climáticas também podem tornar os ecossistemas inadequados para os animais, forçando-os a irem para mais perto das áreas urbanas e, dessa forma, aumentando o risco de transmissão de outras doenças. Conforme informações da BBC Brasil, é estimado que só conhecemos 3 mil dos 1,5 milhão de vírus que existe na vida selvagem do planeta. O que sabemos é que um mundo em aquecimento incentiva o surgimento e a disseminação de novas doenças infecciosas.

O Covid-2019 é mais uma amostra de como justiça ambiental é também justiça social. Provavelmente outros vírus vão surgir no Brasil, e no mundo, nas próximas décadas, fruto do nossa ignorância em relação ao meio ambiente. Será que podemos aprender com esta atual crise ou vamos continuar repetindo nossos erros?

Imagem: Creative Commons

[1] Termo criado por Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, para nomear os novos tipos de vírus que a humanidade está se expondo devido às mudanças climáticas em curso e à degradação do meio ambiente.

Referências: Coronavírus: ‘A situação é grave?’ – BBC Brasil, Coronavírus: 25 perguntas e respostas para entender tudo que importa sobre a doença – BBC Brasil.

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SOUZA, Maria Eduarda. Coronavírus e Mudanças Climáticas. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/03/coronavirus-e-mudancas-climaticas.html>.

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