Moda: o mercado e o consumidor que vão surgir após a pandemia

A pandemia de Covid-19 apresentou ao mundo desafios sem precedentes, nos obrigou a dar um passo atrás e a redefinir nossas prioridades. Para indústria da moda (vestuário, calçados e têxtil), este deve ser encarado, de fato, como um momento de reflexão sobre seus processos, bem como sobre o preço e os impactos para as pessoas e o planeta. O novo coronavírus parece ter freado o consumo, eliminado supérfluos e colocado uma lente de aumento em rotinas automatizadas e valores como a sustentabilidade, além de colocar em xeque a cultura do excesso.

Até então, as iniciativas de sustentabilidade vinham sendo vistas como algo ainda a ser consolidado, e que aos poucos iria ocupar seu espaço em processos e normas em diversos segmentos, como luxo, esporte, fast fashion e varejo, mas agora estão mais pressionadas a definitivamente se tornarem parte do compromisso de marcas e empresas.

Um estudo recente – “Tecendo um futuro melhor: reconstruindo uma indústria da moda mais sustentável após o Covid-19”, publicado por pesquisadores do Boston Consulting Group (BCG), da Sustainable Apparel Coalition (SAC) e da empresa de tecnologia Higg Co – confirmou essa tendência e constatou que esse tema vem ganhando proporções mais relevantes do que nunca.

O levantamento mostra que a atual crise “exige simultaneamente que as empresas adequem seus progressos com iniciativas sustentáveis, a fim de serem competitivas no mercado que surgirá após a pandemia”. Mostrou que “embora o caminho ainda não esteja claro e as questões em aberto permaneçam enquanto os governos e a sociedade navegam na pandemia, uma das principais lições da era Covid-19 será que saúde, segurança e prosperidade são atividades intrinsecamente coletivas, e não individuais. E as indústrias de vestuário, calçados, têxtil e moda não são diferentes”. O estudo concluiu que “os líderes que tecerem com sucesso a sustentabilidade em suas estratégias de negócios deixarão um legado duradouro: o de uma indústria da moda reconstruída e mais sustentável”.

Felizmente, todo esse cenário vem colocando questões de interesse em todo o ambiente, seja para os clientes, ou seja, impulsionando ainda mais os esforços de sustentabilidade dos varejistas. Em todo o mundo marcas e grandes corporações concentraram suas manufaturas na produção de roupas hospitalares, bem como em máscaras médicas e não médicas. Esse movimento levou as empresas a redirecionar o excesso de material e tecidos de matérias-primas que, de outra forma, acabariam em aterros para criar equipamentos de proteção laváveis e reutilizáveis, além de investirem em projetos sociais.

Imagem: Creative Commons

Um exemplo é a marca carioca Osklen, que firmou uma parceria com o Instituto Alpargatas para a produção de 50 mil máscaras de proteção e 9.000 jalecos não hospitalares para profissionais que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Já a marca mineira Bendizê criou a campanha “Por uma quarentena mais justa”, onde uma linha de blusas em homenagem a Guimarães Rosa terá 20% da venda revertida para a organização social TETO Brasil, para adquirir cestas básicas, galões de água e produtos de higiene para serem doados a famílias em situação de vulnerabilidade. Outro exemplo, a grife Thaís Rodrigues aproveitou o momento para doar 100 kits de higiene (com detergente, sabonete, creme dental e outros itens) para o Instituto Melo Cordeiro, um projeto social que atende crianças e adolescentes em situação de risco social em Ferraz de Vasconcelos (SP).

Imagem: TETO Brasil

No entanto, enquanto aqueles que estão começando no campo da sustentabilidade precisam usar esse momento para fazer a transição para estabelecer vantagem competitiva, empresas mais adiante nessa jornada do consumo consciente precisam salvaguardar o progresso e manter práticas essenciais. Além disso, para que todos esses exemplos se transformem efetivamente na construção de uma nova era, a mudança de mentalidade deve passar também pelo consumidor e, consequentemente, seu comportamento de compra.

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MATTOS, Litza. Moda: o mercado e o consumidor que vão surgir após a pandemia. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/moda-mercado-consumidor-pandemia.html>.

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