Escola do Campo: uma experiência transformadora
Imagem: Meiry Santos/Prefeitura de Porto Velho.
Quando falamos de escola, todos temos referências que nos vem à mente que podem ser inspiradas nos modelos apresentados na mídia, mas que, geralmente, são baseadas nas lembranças que temos da(s) escola(s) que frequentamos.
Como professora, possuo referências a partir das escolas em que estudei e também daquelas em que trabalhei. Por isso, gostaria de compartilhar uma experiência única que tive como professora – que apenas a prática me possibilitou, já que, não estudei na faculdade sobre esse modelo de escola – a escola do campo.
Participei de um momento de atribuição de aulas para turmas de Educação Infantil e dentre as escolas com vagas disponíveis, havia uma que nos explicaram brevemente que era situada no campo. Fiz algumas perguntas, percebi que nenhuma das professoras manifestou interesse e não compreendi o porquê. Então escolhi a escola do campo.
Todos os dias, um ônibus disponibilizado pela prefeitura passava em diversos pontos da cidade para buscar todos os funcionários que iam para esta escola e, no trajeto, tínhamos o privilégio de conversar em igualdade com todos os funcionários – diretora, professores, merendeiras e encarregadas da limpeza – proporcionando trocas de experiências e visões muito relevantes.
A viagem era longa, pois após o trajeto na cidade, passávamos grande trecho em estrada de terra que nos rendeu muitas emoções, especialmente em época de chuva que dificultava muito a passagem do ônibus, causando atrasos e até atolamento. Finalmente quando chegávamos à escola, localizada em um assentamento, éramos sempre bem recebidos pelas crianças, seus responsáveis e os funcionários que moravam nas proximidades.
A escola não era muito grande, mas as instalações ficavam em um espaço com muita natureza preservada. Foi assim que conheci a escola do campo e acredito que eu tenha aprendido mais com eles do que o contrário.
Assim como em qualquer escola, havia conteúdos curriculares a serem trabalhados que professoras desenvolviam com bastante carinho. Porém, percebi que a escola do campo possuía particularidades e exigia adaptações. É importante ressaltar que, cabe às professoras e professores trabalhar os conteúdos obrigatórios, mas, para que as crianças aprendam, devem ensinar de forma interessante e significativa.
Sendo assim, era indispensável que conhecêssemos a vida e a realidade dessas crianças para desenvolver o conhecimento segundo seus interesses e necessidades, levando a uma prática para além do modelo de escola que conhecemos e estudamos. Os trabalhos eram desenvolvidos assegurando às crianças acesso aos conteúdos curriculares nacionais, todavia, somente nesta escola do campo pudemos aprender com a natureza tão viva ao nosso redor.
O lugar nos proporcionava experiências muito significativas como a possibilidade de estudar, por exemplo, sobre árvores, folhas ou flores, podendo olhar e tocar diversos tipos tanto nas próprias plantas como no chão. Além de, por vezes, pararmos atividades para observarmos algum animal que aparecesse como aves, macacos, lagartos, entre outros, gerando ainda mais conhecimento. Nos momentos adequados, as crianças podiam brincar e interagir com a natureza no grande espaço disponibilizado. Tais interações promoviam relação de respeito cuidado e valorização do meio ambiente.
Considerando os grandes problemas ambientais que estamos vivenciando, compreendo que a educação destas crianças foi muito privilegiada por esta oportunidade, pois elas, possivelmente, conseguem valorizar a natureza e compreender a importância dos cuidados e mudanças que necessitamos realizar urgentemente quanto às questões de preservação e sustentabilidade.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
MATTARA, Bianca. Escola do Campo: uma experiência transformadora. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/10/escola-do-campo-uma-experiencia-transformadora.html>.