Manguezal: um ecossistema ameaçado
Manguezal em Tamandaré – PE. / Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável
A biodiversidade é entendida como “a riqueza da vida na terra, o que inclui todas as plantas, animais, microorganismos e genes que eles contêm, bem como os ecossistemas que estes compõem”. Portanto, a biodiversidade diz respeito a tudo que envolve seres vivos sendo, por isso, de extrema importância para sobrevivência contínua das espécies, comunidades naturais e manutenção da espécie humana.
A diversidade de organismos sempre é positiva, já que uma maior diversidade de organismos representa uma maior diversidade genética e de ecossistemas (que prestam diferentes serviços para humanidade). Um exemplo disso, é como essa diversidade de organismos condiciona todo o alimento que consumimos, proporcionando uma grande variedade de alimentos e recursos que permitiram o avanço da humanidade.
O manguezal é um ecossistema ímpar, encontrado em regiões tropicais e subtropicais, e se caracteriza por possuir água salobra resultante do encontro da água doce de rios com a água salgada do mar. O estuário, local de transição dessas águas, gera uma salinidade bem específica dos manguezais. Além dessa, outras características que marcam esse ecossistema são os solos pobres em oxigênio e ricos em matéria orgânica, e a dinâmica do nível de água, que tende a variar de acordo com a maré. Vale ressaltar que a presença de mangues em um estuário faz com que esse ecossistema seja capaz de reter muito mais matéria orgânica do que estuários que não possuem esse tipo de flora.
A dinâmica do nível de água nos manguezais propicia o surgimento de uma flora própria e adaptada à água salobra e às baixas concentrações de oxigênio no solo: as árvores de mangue. Essas árvores possuem raízes expostas denominadas penumatóforos, que além de promover trocas gasosas entre as raízes e o ambiente, também funcionam como escoras que garantem uma melhor fixação das árvores. Outra importante função dessa flora é servir de abrigo e substrato para diversas espécies de animais graças à estrutura única que as árvores de manguezal possuem.
As características descritas acima fazem com que os manguezais sejam um foco de grande biodiversidade e um habitat bastante utilizado por diversas espécies de animais, seja de forma temporária ou permanente. Os mangues são habitados de forma temporária por animais que utilizam os estuários para reprodução e que passam parte do seu ciclo de vida nestes locais, como, por exemplo, camarões, lagostim, moluscos e peixes. E são habitat permanente de animais sésseis, que por não possuírem capacidade de locomoção, habitam exclusivamente estes ecossistemas. Muitas destas espécies de manguezais possuem grande valor comercial, o que faz com que sejam fonte de renda para diversas famílias que vivem no entorno dessas áreas.
Um dos muitos exemplos que podemos citar é o caso da Ilha de Deus, localizada em Recife, capital pernambucana. Nessa ilha existe uma comunidade, nascida no entorno de um manguezal associado a três rios distintos da cidade de Recife, cuja atividade pesqueira e o cultivo de sururu (molusco muito comum na região Nordeste) são as principais fontes de renda das famílias locais. O cultivo de sururu é uma atividade exercida por centenas de mulheres, as chamadas de marisqueiras.
No Brasil, as áreas de mangue são protegidas pela Resolução nº 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o texto define que toda a extensão de área de manguezal é uma área de proteção permanente. Recentemente, ao final de setembro de 2020, essa resolução foi revogada pelo próprio CONAMA, tornando esses ecossistemas ainda mais vulneráveis à ação humana.
Essa revogação representa um grande retrocesso já que coloca em xeque todas as espécies que compõe os manguezais e os diversos benefícios que estes ecossistemas trazem. Além disso, também compromete a fonte de renda de diversas famílias que dependem diretamente do bem estar e continuidade destes ecossistemas, como é o caso dos habitantes da Ilha de Deus.
Referências e Leitura Sugerida:
- PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrinha; vida, 2011. 328p
- MENEGASSI, D. Entenda como fica a proteção dos manguezais e restingas sem a resolução do Conama. O Eco. 2020. Disponível em: <https://www.oeco.org.br/reportagens/entenda-como-fica-a-protecao-dos-manguezais-e-restingas-sem-a-resolucao-do-conama/>.
- DOURADO, M.L.; FREITAS, L. Como um antigo esconderijo de criminoso se tornou exemplo de transformação social no Recife. BBC News. 2016. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38236207>.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
MIRANDA, Paulo Henrique. Manguezal: um ecossistema ameaçado. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/manguezal-um-ecossistema-ameacado.html>.