Monoculturas da Mente – Entenda o modo de vida destrutivo sobre a Terra

Entenda porque fomos e estamos condicionados a um modo de vida destrutivo sobre a Terra.

Esta leitura serve para todos àqueles que estão dispostos a sair do véu do desconhecimento e olhar de fato para o funcionamento do mundo que habitamos. Para assim, sair do automatismo e rapidez que atropela a todo tempo o próprio modo de vida genuíno e autêntico. É preciso sair da ilha, para enxergar a ilha. Neste artigo te convido a isso.

Para começar, gostaria de introduzir a autora do conceito: Vandana Shiva, PDH em física, ativista ambiental e ecofeminista. Ela participou de diversos movimentos ecologistas na Índia desde a década de 1970 e ativamente de fóruns internacionais como porta-voz do contra-desenvolvimento capitalista.

Fonte: Medium.

Com este termo, ela traz a reflexão acerca de temas como as políticas globais de conservação e preservação da biodiversidade, biotecnologia, ciência e poder, autonomia dos povos, produção de alimentos e outros insumos.  Critica os grandes organismos internacionais e as corporações que interferem na definição de políticas mundiais amparadas no conhecimento científico gerado pela comunidade acadêmica, desconsiderando, desta forma, comunidades tradicionais que  dependem da manutenção da biodiversidade.

Segundo Vandana Shiva, a cultura e o conhecimento científico ocidentais tornaram-se hegemônicos e passaram a ser encarados como únicas formas possíveis de se conceber a realidade e atuar no mundo. Aquilo que o foge dessa esfera passa a ser encarado como anticientífico, primitivo e, com o tempo, acaba desaparecendo.

A partir disso, Vandana desperta o questionamento sobre o pensamento unilateral que se instalou no mundo, denominando o processo de “monoculturas da mente”. Segundo ela, a monocultura inicia-se na mente para só depois chegar ao solo. Isso ocorre quando um grupo ou um sistema se autodetermina superior, sobretudo em termos de conhecimento e cultura, e crie mecanismos para imprimir em outras sociedades as formas de pensar e de estar no mundo.

Foto: Giselle Paulino, 2008. / Reprodução: Drops de Sustentabilidade.

Os sistemas modernos de saber provêm de uma cultura “ultradominadora e colonizadora […] e são, eles próprios, colonizadores” (SHIVA, 2003, p. 21).

Vandana afirma ainda que os sistemas locais de saber sofrem uma série de violências, destacam-se duas:   (a)   não   são   considerados   como   saber,   são obscurecidos  e  tornados  desprezíveis;  (b)  o  sistema  dominante  destrói  as próprias  condições  de  existência  concreta  dos  sistemas  locais,  eliminando alternativas ao sistema imposto. Dessa maneira, a relação com a diversidade cultural, ecológica e biológica que os diferentes sistemas de saber apresentam está condenada ao desaparecimento, e  também  são  solapados  “os  meios  de vida das pessoas, cujo trabalho está associado ao uso diversificado e múltiplo dos  sistemas  de  silvicultura,  agricultura  e  criação  de  animais”.

As reflexões são trazidas para o universo da agricultura e da silvicultura, destacando que a proposta do modelo ocidental moderno para essas áreas é a expressão concreta do saber dominante e  das  necessidades  do  mercado, gerando  uniformidade  e  destruindo  a  diversidade.

Contudo, um tipo de conhecimento ou determinada cultura não ganham status de superior simplesmente porque realmente o é. Isso acontece por meio da dominação. Como assegura Shiva, poder e saber são indissociáveis porque tem a ver com a forma que alguns grupos passaram a ser vistos com a ascensão do capitalismo. Nesse sentido, para que um grupo ou determinada nação consiga impor sua forma de pensar ao mundo, é necessário que tenha poder aquisitivo e que o tenha em maior valor do que os grupos que deseja dominar.

Imagem: Gerd Altmann/Pixabay.

A autora salienta que esse poder ainda se torna mais forte e ganha validade, porque se tende a conceber o sistema dominante não como uma tradição local globalizada, mas como uma tradição universal, que é superior aos sistemas locais. “O saber dominante também é produto de uma cultura particular” (SHIVA, 2003, p. 22).

No entanto, as sociedades que estão sob o jugo desse poder parecem alienadas e reproduzem o pensamento, modo de vida, modos de produção do sistema dominante, sem nenhum pensamento crítico a tal respeito. Mas isso não acontece por acaso, simplesmente porque as pessoas gostam de ser dominadas e desejam isso. Os sistemas dominantes atuam de maneiras diversas para que seu saber continue perpetuando e para que permaneça reinando absoluto, desconsiderando todos os outros saberes.

Imagem: Freepik.

Portanto, cabe a nós a reflexão sobre o modus operandi que se encontra o planeta. Isto é, um sistema capitalista que pressupõe a eliminação de outras culturas para sobressair um modo totalitário, impondo certos modos de vida, de pensamento, de compra, de produção, etc. E busca abolir aqueles que fogem a esse modelo.

É preciso estar atento e usar da coragem que habita em si para buscar uma vida verdadeira que condiz com seus próprios valores e construir seu sentido no mundo, não deixando dominar-se por ele. Ser voz ativa e não apenas reproduzir pensamentos e ações diárias que estão destruindo o ecossistema terrestre, que só visa o lucro. Destrói-se a vida em prol de dinheiro, sem medir o impacto que causa em nós e nos outros seres da Terra. Não podemos fechar os olhos para isso e fingir que não acontece. Saber é poder. O conhecimento expande os horizontes e ajuda-nos a não submeter ao que supostamente dizem que é “certo”.

Referências:

 

Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:

MUNIZ, Isabella. Monoculturas da Mente – Entenda o modo de vida destrutivo sobre a Terra. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/monoculturas-da-mente-entenda-o-modo-de-vida-destrutivo-sobre-a-terra.html>.

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *