Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?
Nós, seres humanos, temos uma tendência a adiar problemas. Ainda mais quando é complexo e sem aparentes soluções acessíveis no curto prazo, como é o caso da emergência climática – aí é que deixamos em banho-maria. Nesse caso, porém, esse comportamento procrastinador pode resultar em nossa própria extinção enquanto espécie do planeta Terra.
Além de muitos acreditarem que temos tempo suficiente, que a previsão dos cientistas não irá se concretizar ou que “a tecnologia” dará um jeito aos 46 do segundo tempo, a ciência do clima não é a coisa mais fácil do mundo de se compreender. Isso acaba afastando e deslegitimando para muitos a gravidade do assunto.
Mas a crise é urgente e parte do nosso trabalho enquanto educadores é encarar a missão de comunicar o desafio com a complexidade devida, porém de forma mais acessível, democrática e fundamentada em bases científicas sólidas. Graças a pessoas e instituições que há muitos anos estudam o assunto exaustivamente, temos hoje uma ciência climática extremamente robusta e qualificada.
Em agosto deste ano, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) divulgou um relatório que deu luz e validação ao que muito é debatido. Afirmou, por exemplo, ser certa a influência do ser humano no aquecimento do planeta e que a concentração de dióxido de carbono, um dos principais gases que contribuem para esse aquecimento, é a maior dos últimos 2 milhões de anos [1].
Não é mais uma questão de “daqui a 50 ou 100 anos”, o futuro é definitivamente agora e já estamos sofrendo os impactos do aquecimento do planeta. Cenas de filmes americanos que rondam nosso imaginário estampam agora as capas dos jornais: nuvens de poeira, metrôs submersos e pessoas fugindo de ilhas totalmente em chamas. Ainda que nem todos os meios de comunicação estabeleçam a conexão entre esses eventos e o aquecimento global, o IPCC deixa claro: eventos extremos podem ficar até 39 vezes mais frequentes com o aumento de 4°C do planeta e já são 4,8 vezes mais frequentes atualmente [2].
O mesmo relatório nos mostrou que algumas das consequências já são hoje irreversíveis, como o derretimento das geleiras, o aquecimento do oceano e o aumento do nível do mar. É provável que não exista mais gelo no Ártico em seu pico de verão pelo menos uma vez antes de 2050 [1].
O prazo para agirmos já foi calculado e estampa a fachada de um prédio em Nova York: 7 anos e 267 dias [3] (e decrescendo a cada minuto). Estudos podem variar em termos de quanto tempo temos para mudar nosso rumo e evitar uma catástrofe climática, mas uma coisa é certa, ele deve ser resolvido em uma geração e essa é a nossa.
Meios de comunicação como o renomado jornal The Guardian fazem hoje questão de abandonar a expressão “aquecimento global” para usar “crise climática”. Outros, incluindo o antropólogo Bruno Latour, utilizam a expressão “emergência climática” em seu lugar. O uso da língua se faz essencial neste momento, pois nos reforça o grau de urgência necessária para revertermos este cenário.
Entretanto, expressões como “crise”, “colapso”, “emergência”, ou “catástrofes” precisam ser seguidas de “ação”, “compromisso”, “transição” e “conquistas”. A compreensão da urgência deve nos unir, e não nos afastar. Deve nos dar esperança e não impotência. Precisamos de ação e não de paralisia.
Problemas complexos exigem soluções complexas e desafios urgentes requerem medidas imediatas. Educação climática, regeneração dos ecossistemas, políticas públicas eficazes e a mudança de nossa forma de consumo e produção são exemplos de soluções concretas e viáveis, mas que serão apenas conquistadas colaborativamente.
Com a reunião de grandes tomadores de decisão na Conferência do Clima agendada para a próxima semana, a pressão política pelo mesmo senso de urgência se faz necessária e possível. Convido vocês a acompanharem o que está em pauta no encontro, cobrarem seus representantes e inspirarem mais pessoas a também tomarem as rédeas na construção coletiva de nosso futuro melhor e possível.
Referências e Sugestões de Leitura:
- [1] IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021
- [2] Aumento da frequência e da intensidade de eventos que aconteciam em média uma vez a cada 50 anos em um clima sem influência humana. Fonte: IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021.
- [3] Climate Clock.
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Saiba como colocá-lo nas referências:
RIBEIRO, Livia. Por que precisamos agir hoje no enfrentamento da emergência climática?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/10/por-que-precisamos-agir-hoje-no-enfrentamento-da-emergencia-climatica.html>.