A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26

A COP26 terminou e o Brasil deixou uma marca positiva no evento. Sim, temos motivo de orgulho. A participação de vários grupos da sociedade chamou a atenção de quem estava em Glasgow. Vozes indígenas e quilombolas foram ouvidas pelo velho continente que um dia as silenciou. Elas estiveram lá para avisar que só é possível pensar um modelo de desenvolvimento sustentável, se as vivências daqueles que historicamente têm resistido forem ouvidas.

A preocupação com o aumento da temperatura da Terra é urgente para todos, mas há outros problemas decorrentes do avanço de complexos industriais que impactam comunidades locais há décadas e que ainda precisam ser levados a sério. Os planos de descarbonizar precisam incluir as mais diversas comunidades que vivem dos ambientes naturais, porque elas têm necessidades diversas. Termos como “racismo ambiental” estão sendo utilizados para explicar o processo de destruição dos povos tradicionais e quilombolas através do avanço capitalista ao longo das décadas.

Xamã da tribo Pataxó. Imagem: Freepik

A sociedade em que vivemos foi construída tendo o racismo como sistema de dominação. Consequentemente, tudo que decorre dela também é racista. Essa é a premissa do “racismo estrutural” bem definido em livro de mesmo título do Professor Silvio Almeida. Sabendo-se disso, coletivos negros e indígenas do Brasil se uniram a outros movimentos no mundo para colocar a pauta contra o racismo na mais importante mesa de tomada de decisão sobre o futuro do planeta.

A Coalizão Negra por Direitos (reunião de entidades do movimento negro de todo o país para a incidência política no Congresso Nacional e em fóruns internacionais) junto à CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e à UNEafro estiveram em diversas cidades da Europa falando sobre a urgência de se titular as terras quilombolas se quisermos atingir a meta de desmatamento zero. Quilombos e terras indígenas protegem o espaço natural e salvam as florestas, pois a relação é de simbiose e respeito.

Quilombolas da comunidade Lagoa Santa, no município de Ituberá (BA). Foto: Programa de Aceleração do Crescimento/ Flickr

As populações das águas, por exemplo, retiram dos mangues, dos rios e do mar não apenas o seu sustento, mas também o seu viver. Se as águas são poluídas pelo lixo químico lançado nelas, aquela população não perde apenas seu ganha-pão, perde a saúde e, consequentemente, a vida. Para a Coalizão,

“A crise climática também é crise humanitária. Continuar negando as estruturas do racismo é negar aos povos e às gerações humanas o direito de Bem Viver e as diversas formas de vida no Planeta Terra” [1].

Imagem: Árvore e Água/ @arvoreagua

Já são mais de 200 anos de apagamento de vários povos que são colocados dentro da categoria “outros”. Enquanto as decisões partirem apenas entre aqueles que estão na categoria “nós”, não teremos esperança de dias melhores. É preciso mudar as estruturas da sociedade para que consigamos salvar o Planeta. É urgente a luta contra o racismo ambiental. Essa foi a bandeira levantada durante as últimas semanas pela sociedade civil brasileira na Europa. Por isso, meu motivo de orgulho.

Referências e Sugestões de Leitura:

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OLIVEIRA, Tassi. A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-forca-da-sociedade-civil-o-balanco-positivo-da-cop-26.html>.

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