Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?

Cada vez mais, o mundo está de olho em tudo o que pode ser responsável por agravar o efeito estufa. E, ao falarmos sobre mobilidade urbana, a atenção que recai sobre o assunto é ainda maior.

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), os automóveis de passeio são responsáveis por 62% das emissões de monóxido de carbono, enquanto os ônibus somam cerca de 2%.

Ironicamente, as cidades seguem incentivando políticas de aquisição de veículos particulares, uma vez que o Estado brasileiro é sócio e refém da indústria automobilística. Como se não bastasse, a sociedade carrega a tradição do carro próprio como símbolo de poder e status.

E o problema não para por aí.

Automóvel particular: o lobo em pele de cordeiro

O espaço físico ocupado pelos automóveis é absolutamente desproporcional quando comparado ao transporte coletivo. Em 2017, o sistema viário da cidade de São Paulo era composto da seguinte maneira:

  • 3,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 17 mil ônibus;
  • 2,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 4 milhões de automóveis individuais.

Em síntese, os carros utilizavam uma frota 250 vezes maior para transportar um número de pessoas 27 vezes menor em relação ao transporte público coletivo. Não à toa, os automóveis ocupam cerca de 80% da malha viária e os ônibus apenas 6%, demonstrando a falta de democratização das vias públicas.

Na contramão de países desenvolvidos, o Brasil prioriza o transporte individual ao invés do coletivo:

  • O diesel, que representa cerca de ¼ do custo total da tarifa no transporte público, subiu 250% nos últimos 19 anos;
  • A gasolina, principal combustível utilizado nos veículos individuais, no mesmo período sofreu um reajuste de 56,4%.

Além disso, segundo um estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), o país soma 1.062 Km de linhas de metrôs e trens, contando com um déficit de 850 Km. Para transportar 25 mil pessoas, um trem precisaria dar 9 viagens e um automóvel quase 14 mil viagens. Alguma dúvida de que o modal errado está sendo priorizado?

No Brasil, o transporte público praticamente não conta com subsídios do poder público, ou seja, todos os custos são cobertos pela tarifa paga pelos passageiros. Com valores crescentes de passagem, superlotação e horários irregulares, mais gente se vê obrigada a recorrer aos automóveis particulares ou aos percursos a pé.

O impacto das bicicletas e dos carros elétricos

A bicicleta é o meio de transporte mais sustentável e que, justamente por isso, deveria ser fomentada. Governos que já se conscientizaram a respeito da proeminente crise climática que estamos enfrentando, têm buscado estimular seu uso.

Como exemplo, podemos citar Finlândia, Itália e França que financiam e oferecem subsídios de até 16 mil reais para motoristas que trocarem os carros por bikes.

Imagem: Freepik

Em São Paulo, porém, pesquisas apontam que a falta de segurança impede os paulistanos de adotar a bicicleta como meio de transporte principal. Vale ressaltar que pintar uma faixa na rua e chamá-la de ciclovia não basta, é preciso que haja planejamento urbano e mudança de paradigmas.

A propósito, falando em mudança, diversas montadoras de veículos ao redor do mundo têm anunciado a substituição de suas frotas por modelos elétricos, que são menos agressivos ao meio ambiente. Sem dúvida, a decisão representa um avanço.

Contudo, se a partir de hoje, todos os novos carros vendidos no mercado passassem a ser elétricos, ainda levaria de 15 a 20 anos para substituir completamente a frota mundial de carros movidos a combustível fóssil.

Além do mais, continuar extraindo recursos naturais e descartando pneus, óleos e carcaças não parece uma estratégia muito revolucionária. A solução não está em tornar os carros mais verdes, mas sim em frear sua existência.

Imagem: Freepik

Para tanto, é preciso pensar na expansão dos modais sustentáveis de forma acessível e segura, bem como estar atento à demanda de calçadas niveladas e sem buracos. Afinal, ⅓ das viagens realizadas nas cidades brasileiras é feita a pé ou em cadeiras de rodas.

Solução definitiva precisa do Público-Coletivo

Transformar o cenário atual exige limitar a lotação dos ônibus e ampliar as frotas para que eles passem com maior frequência nos pontos. É crucial também, que a acessibilidade seja adequada e planejada corretamente para incluir pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

Políticas de incentivo ao transporte sustentável já existem e são adotadas: Barcelona oferece passagem gratuita por três anos a cidadãos que vendem seu veículo antigo; a prefeita de Paris, por sua vez, busca a redução dos automóveis aumentando zonas restritas a pedestres.

Imagem: Freepik

Embora o problema seja difícil de ser resolvido, não é, nem de longe, impossível. Aos poucos, a cultura tem mudado e o automóvel deixado de ser o sonho de consumo das pessoas com maior consciência ambiental.

Lentamente, esse desejo passado de geração em geração, perde força e para que isso ocorra de forma rápida e definitiva, o caminho é claro: priorizar o transporte público coletivo, que é dever e direito de todos!

 

Referências e Sugestões de Leitura: 

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SILVA, Pâmela. Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/qual-prioridade-o-brasil-nao-da-a-mobilidade-urbana-sustentavel.html>.

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