Biomas Urbanos: Cidades que auxiliam Florestas
Está cada vez mais evidente a necessidade de trazer a natureza de volta para dentro das cidades e para perto das pessoas, tendo em vista o número crescente de problemas oriundos da falta dela em ambiente urbano. Para exemplificar, podemos citar a própria Covid-19 (que, como qualquer pandemia, surgiu pelo contato indevido do ser humano com outros animais), as pragas urbanas (como os caramujos africanos em cidades mineiras) e os desastres naturais (como as tempestades que castigaram Belo Horizonte em janeiro de 2020).
No caso da capital mineira, a combinação da maior chuva da história da cidade com rios canalizados e solo altamente impermeabilizado provocou o caos, com dezenas de mortes e prejuízos milionários. Esses e outros problemas poderiam ser mitigados caso os biomas e seus serviços ecossistêmicos estivessem presentes.
Esses serviços compreendem, entre outros exemplos, a redução da temperatura média do ar, o sombreamento de calçadas, o embelezamento de casas e vias, a absorção e infiltração da água da chuva no solo, a redução da poluição sonora, a melhoria da qualidade do ar, o aumento da população de pássaros e borboletas (e outros pequenos animais), a redução da população de pragas urbanas, e a diminuição da intensidade das tempestades [1]. Além de qualidade de vida, tudo isso traz à tona um excelente argumento, que é cada vez mais usado pelos ambientalistas: o econômico. Os serviços ecossistêmicos promovem redução de gastos à população como um todo e podem ser medidos financeiramente, a chamada Economia dos Ecossistemas ou Capital Natural [2].
Esses benefícios são potencializados quando praticamos um paisagismo urbano ecológico, composto, predominantemente, por plantas nativas (aquelas que ocorrem dentro de sua área natural de dispersão potencial), uma vez que, a cidade passa a se tornar uma extensão do bioma em que se encontra e usufrui de vários benefícios que a vegetação, que é típica e bem adaptada à região, proporciona ao meio [3]. Paisagismo é a ciência que cria, projeta, gere e mantém os espaços livres, busca equilibrar funcionalmente, ambientalmente e esteticamente o ambiente em sua relação com o homem, trazendo qualidade de vida para todos. A preocupação paisagística dentro dos ambientes urbanos traz, ao menos em parte, os serviços ecossistêmicos de volta.
A sugestão seria fazer os jardins e espaços públicos de São Paulo e do Rio de Janeiro compostos, em grande parte, por espécies de Mata Atlântica, enquanto que os de Goiânia e Brasília por espécies do cerrado e os de Belo Horizonte por espécies de ambos os biomas (por se tratar de um ecótono ou área de transição). Esse projeto de paisagismo urbano ecológico além de fortalecer identidades e a economia regionais (criando um fator diferencial na promoção de atividades ligadas ao turismo), reduziria os custos do setor (já que a perda de plantas e a necessidade de manutenção seriam reduzidos) e seria uma forma de conservação ex-situ – espécies, que hoje estão em risco de extinção e poderiam se tornar um item de composição urbana e dos jardins [4].
O paisagismo urbano ecológico é uma forma prática de preservação de recursos genéticos para uma futura emergência, ou seja, ao menos impede a perda definitiva de genes e permite uma reconstituição futura de flora. Para isso, é importante que avanços sejam alcançados nos inventários da flora ornamental nativa, para impulsionar o mercado e auxiliar os profissionais da área.
Nessa perspectiva, as pessoas comuns seriam agentes ativos no processo conservacionista da flora. O paisagismo torna-se, assim, um compromisso social de manter a biodiversidade para as gerações futuras e contribui para a educação ambiental dos cidadãos. Felizmente, essa prática já é tendência na Europa e nos EUA, mas o Brasil segue nos seus primeiros passos nesse processo, mesmo sendo o país mais biodiverso do planeta.
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Referências:
[1] BRÚSSOLO, R.G.; ELY, D.F.; O clima e a cidade: ilhas de calor em Assis (SP). Revista Formação, n.22, volume 2, 2015, p. 99-127. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/3579/3080
[2] ANDRADE, D.C.; ROMEIRO, A.R.; Capital Natural, Serviços Ecossistêmicos e Sistema Econômico: rumo a uma “Economia dos Ecossistemas”. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/6228551.pdf
[3] HEIDEN, G.; ROSA LÍA BARBIERI, R.L.; ELISABETH REGINA TEMPEL STUMPF, E.R.T. Considerações sobre o uso de plantas ornamentais nativas. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. v. 12, n.1, p. 2-7, 2006. Disponível em: https://ornamentalhorticulture.emnuvens.com.br/rbho/article/view/60/69
[4] BARROSO, C.M.; KLEIN, G.N.; BARROS, I.B.I.; FRANKE, L.B.; DELWING, A.B.;Considerações sobre a propagação e o uso ornamental de plantas raras ou ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul, Brasil. Disponível em: https://ornamentalhorticulture.emnuvens.com.br/rbho/article/view/210/105
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PAIVA, Leonardo. Biomas Urbanos: Cidades que auxiliam Florestas. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/biomas-urbanos-cidades-que-auxiliam-florestas.html>.
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