Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis
A Arborização Urbana no Brasil é uma atividade relativamente nova, com pouco mais de 100 anos, e tem fundamental importância na mitigação dos impactos ambientais resultantes da urbanização. A presença dos corredores verdes nas cidades, como se observa em grandes avenidas, além de melhorar o aspecto estético, tem função de minimizar as ilhas de calor, fornecer sombra para a população, diminuir a intensidade das pragas urbanas, manter abrigo e habitat para a avifauna (pássaros, urubus, beija-flores, tucanos, maritacas, pombos, entre outros) e para os insetos polinizadores, tem caráter psicológico (ao incentivar bons sentimentos como equilíbrio e harmonia em meio ao caos urbano) e, ainda, podem preservar os recursos genéticos vegetais.
Por isso as atividades do paisagismo buscam aliar sensibilidade e critério científico para reconstituir a paisagem natural dentro do cenário da frieza das construções. Normalmente, usam-se espécies de raízes pivotantes (que penetram verticalmente no solo) e porte menor para calçadas e, nos casos de áreas maiores, como praças e canteiros centrais (principalmente se não houver fiação aérea), espécies maiores e de raízes superficiais são permitidas.
A preferência é por plantas nativas, de forma que a chance de sucesso aumenta e o impacto ambiental é mais positivo. Entre as espécies mais usadas em Belo Horizonte, por exemplo, estão a sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), murta (Murraya paniculata), quaresmeira (Tibouchina granulosa), ipês (Handroanthus sp.), resedá (Lagerstroemia indica), pata-de-vaca (Bauhinia sp.) e a magnólia (Magnolia sp.). Essa relação vale para várias outras cidades do sudeste e centro-oeste do Brasil.
Outras espécies, de notável efeito ornamental, também são muito usadas no paisagismo urbano, como o pau-ferro (Caesalpinia ferrea), pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia), birosca (Schizolobium parahyba), flamboyant (Delonix regia), aroeira (Schinus molle), as palmeiras em geral (que, embora quase todas sejam exóticas, adaptam-se muito bem ao clima brasileiro), sapucaia (Lecythis pisonis), chichá (Sterculia chicha), paineira (Chorisia speciosa), entre várias outras.
Pra regiões frias, temos árvores que exibem cores em tons avermelhados no outono e algumas gimnospermas, como o bordo (Acer sp.), carvalho (Quercus sp.), plátano (Platanus acerifolia), álamo americano (Populos tremuloides) e o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). Como essas plantas dependem de condições climáticas pouco usuais no Brasil para florescerem, não representam riscos para a flora nativa brasileira.
Algumas têm intenso impacto visual, social ou mesmo histórico, como o baobá (Adansonia digitata, um verdadeiro monumento natural), a barriguda (Cavanillesia arborea, típica do sertão nordestino), a sumaúma (Ceiba pentandra, árvore símbolo da Amazônia) e a embaúba (Cecropia sp., “enfermeira do ambiente”).
Pelo site do IBGE, é possível saber o nível de domicílios urbanos localizados em vias arborizadas de qualquer cidade do Brasil (dados 2010) e, dessa forma, constatar absurdos como a muito deficiente arborização das ruas de cidades no bioma amazônico. Dentre as capitais, a maior porcentagem de domicílios urbanos em vias públicas arborizadas está em Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte (empatada com Porto Alegre), enquanto as mais desfavorecidas nesse sentido são Belém, Manaus e Rio Branco, todas localizadas na maior floresta tropical do planeta.
Vale lembrar que esse estudo não aponta as cidades com mais áreas verdes ou quantidade de árvores, mas aquelas com espécimes próximas dos moradores, ou seja, o que é importante para o dia-a-dia dos cidadãos, mas não relevante para a qualidade ambiental geral das populações de outros animais. Nessa perspectiva, de maneira alguma a arborização urbana substitui a presença de parques, praças, jardins, canteiros e as Unidades de Conservação, pois são esses espaços verdes mais amplos e contínuos que cumprem as funções ecológicas e garantem serviços ecossistêmicos como a diminuição das inundações e a preservação da biodiversidade.
Referências:
- VITAL, A. F. M.; SOUSA, M. M. S. P. S.; SOUSA, J. B. de; ARRUDA, O. de A..Implementação de uma composteira e de um minhocário como prática da educação ambiental visando a gestão de resíduos sólidos do CDSA. Revista Didática Sistêmica, v. 14, n. 2, (2012). Disponível em: <https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/2975/1964>.
- FILHO, José Augusto de Lira; MEDEIROS, Maria Aparecida Severo. Impactos adversos na avifauna causados pelas atividades de arborização urbana. Disponível em: <http://joaootavio.com.br/bioterra/workspace/uploads/artigos/avifauna.-5181af3bd79e9.pdf>.
- LIMA, Valéria; AMORIM, Margarete Cristiane de Costa Trindade. A importância das áreas verdes para a qualidade ambiental das cidades. Revista Formação, nº13, p. 139 – 165. Disponível em: <https://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/viewFile/835/849>.
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PAIVA, Leonardo. Arborização Urbana: fôlego e inspiração para cidades mais sustentáveis. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/arborizacao-urbana-folego-e-inspiracao-para-cidades-mais-sustentaveis.html>.