Em Defesa da Comida (de Verdade), por Michael Pollan

Autossustentável: Comida de Verdade
Comida é tudo. O ato de comer é uma de nossas necessidades humanas, é um instinto. Precisamos comer para sobreviver. Mas os seres humanos, ao longo de sua evolução, transformaram o ato de comer em algo muito mais significativo do que a mera satisfação de uma necessidade básica. Comer é um ato emocional, uma das mais ricas experiências sensoriais que podemos ter. Traz prazer, conforto, tranquilidade. São muitos sentimentos envolvidos.
Nas últimas décadas, o surgimento da indústria alimentícia mudou completamente a nossa relação com a comida. Alimentos ultraprocessados, produzidos em grande escala, passaram a compor a nossa dieta, e, consequentemente, houve um grande aumento nas taxas de doenças crônicas como a obesidade, pressão alta, diabetes… A partir do momento em que essas doenças passaram a ser associadas com a nossa má alimentação, comer bem deixou de ser apenas uma atividade prazerosa e cultural, e tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil. No lugar da comida, passamos a enxergar nutrientes, calorias, gordura, carboidratos…. Por que, e quando o ato de comer deixou de ser apenas algo prazeroso para se tornar algo tão complexo e científico?
Todas essas perguntas são respondidas por Michael Pollan em sua obra “Em Defesa da Comida”. Pollan é jornalista e professor autor de sete livros, quatro deles best-sellers do New York Times. Dedica sua vida a estudar a alimentação moderna, sendo considerado como uma das pessoas mais influentes no mundo nessa área.

Autossustentável: Michael Pollan
A história da ciência moderna da nutrição tem sido uma história de guerra entre os macronutrientes: proteínas contra carboidratos; carboidratos contra proteínas, e então gorduras; gorduras contra carboidratos.
Em seu livro, Pollan faz uma investigação profunda sobre a história da indústria alimentícia e da ciência da nutrição, e explica como ambas caminham juntas. Nós deixamos de comer “a comida da mamãe”, perdemos um pouco desse elo entre a alimentação e a cultura, e passamos a escolher o que comemos a partir de recomendações de pesquisadores, das empresas alimentícias e do governo. E aí surgiram tabelas nutricionais complexas, rótulos nos alimentos cheios de ingredientes desconhecidos, pirâmides alimentares e recomendações controversas e que mudam a cada dia, deixando os consumidores cada vez mais confusos. Não existe uma unanimidade sobre o que comer nem mesmo entre os próprios pesquisadores e nutricionistas; tantos alimentos já se passaram como vilões da nossa dieta: ovo, carne, gordura, carboidrato, proteína (e alguns já até passaram de vilões para aliados da nossa saúde, inúmeras vezes). E o pior de tudo é que todas essas informações, além de gerarem confusão, não estão contribuindo para a nossa saúde. Pollan argumenta que a maioria das recomendações nutricionais que recebemos nas últimas décadas, paradoxalmente, têm contribuído para nos tornar menos saudáveis e mais obesos.
As recomendações nutricionais servem de apoio para as empresas venderem seus produtos como alimentos saudáveis. Através de apelos como “light”, “diet”, “0% gordura”, “sem açúcar”, “sem colesterol”, “com ômega 3”, “com vitaminas”, essas “substâncias comestíveis parecidas com comida” produzidas pelas indústrias transformaram-se magicamente em alimentos saudáveis aos olhos dos consumidores.
Autossustentável: Comida de verdade
Foto: Sabores com Saberes
Depois de explicar o papel da indústria, da ciência e do governo na mudança em nossos hábitos alimentícios e na forma de produzir comida, Pollan nos mostra o caminho para recuperar a nossa saúde e nossa felicidade com o ato de comer. Esse caminho é mostrado através de alguns “mandamentos” a serem seguidos para guiar essa mudança de hábitos, mostrados a seguir: 
  • Não coma nada que sua tataravó não reconheça como comida.
  • Evite produtos que contenham ingredientes que são desconhecidos, impronunciáveis, e mais do que cinco em número.
  • Evite produtos que aleguem vantagens à sua saúde no rótulo.
  • Dispense os corredores centrais dos supermercados e prefira comprar nas prateleiras periféricas.
  • Melhor ainda, se puder, evite os supermercados: compre comida em outros lugares, como feiras livres, mercados orgânicos ou mercados hortifruti.
  • Pague mais, coma menos.
  • Coma uma variedade maior de alimentos.
  • Coma devagar, sentado em uma mesa (sua escrivaninha não é uma mesa!)
  • Tente não comer sozinho.
  • Coma mais como os franceses, ou italianos, ou japoneses, ou indianos, ou gregos.
  • Consulte seu estômago.
  • Cozinhe e, se puder, plante alguns itens do seu cardápio.

Basicamente, tudo se resume em cozinhar mais, não comer comida industrializada (apenas comida de verdade) e reestabelecer uma conexão com a comida. Devemos conhecer a origem de nossos alimentos, para garantir que seja de uma boa procedência. Mas principal mensagem é que devemos desfrutar e muito do prazer de comer, de preferência em boa companhia, pois a comida, quando proveniente da natureza e preparada com amor e respeito aos ingredientes, nos dá muito prazer e não agride a nossa saúde e a natureza. Nada de contar calorias, nada de viver uma vida evitando as gorduras e os carboidratos. Apenas ser feliz.
Pollan, M. AZQuotes.com. Disponível em: http://www.azquotes.com/quote/1272428

Pollan, M. Em Defesa da Comida – Um Manifesto. Tradução de Adalgisa Campos Da Silva. Intrínseca, 2008. 272 p.


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