Negociações climáticas: pequenas vitórias continuam sendo apenas pequenas vitórias

Há dois anos, com a finalização da celebração do Acordo de Paris, o mais relevante acordo climático internacional desde Quioto, já havia explicitado que a celebração era uma vitória, sim, apesar de muito pequena. Muito menor do que a necessária ambição para uma mudança abrupta no rumo do desenvolvimento humano exige para que atinjamos as difíceis metas auto-impostas de aumento máximo da temperatura média global. Dois anos depois, com a finalização da rodada de negociação nesta última semana, reitero: observamos vitórias, sim, mas elas continuam pequenas, minúsculas.
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Imagem: Dive The World |
Esse ano, a negociação foi presidida por Fiji (ainda que hospedada pela Alemanha). Sendo um país-ilha severamente afetado pelas mudanças oceânicas, Fiji colocou claramente a necessidade de uma postura ambiciosa dos países presentes. Mais que isso, a presença do jovem Timoci Naulusala, um estudante de 12 anos do país, colocou em perspectiva a ação individual dos negociadores e dos mandatários a fim de impedir que os cenários catastróficos que se avizinham de fato venham a ocorrer.
Discurso do estudante Timoci Naulusala na COP 23
Ainda assim, a negociação teve resultados pouco expressivos. Na verdade, possivelmente a maior vitória desse ano foi não haver um retrocesso – lembremos que, desde o ano passado, tivemos uma grande ação de disrupção nas negociações climáticas: a saída dos EUA do Acordo de Paris (para saber mais clique aqui). O que poderia vir a ser um início do esgarçamento absoluto das negociações acabou se virando contra os americanos, pois, hoje, acabaram como o único país (dos quase 200 do Sistema ONU) que não estão no acordo. E se pouco contribuíram para as discussões desse ano, também não a atrapalharam de forma significativa.
A ambição para 2017 é que diversos pontos intermediários ficassem mais bem estabelecidos, como a governança e o fluxo de investimento do Fundo Climático Internacional, responsabilidade e ambições no corte de emissões e ações mais efetivas de adaptação, em especial na África. Ainda que parte tenha sido discutida e com avanços pontuais, é difícil não ouvir de negociadores e ambientalistas a necessidade de aumentar a ambição.
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Imagem: Revista Forum |
E não falta ambição a delegação brasileira. Historicamente, um dos principais atores nas negociações, com a difícil e importante tarefa de unir os interesses de países desenvolvidos e em desenvolvimento, o Brasil chegou na conferência deste ano com uma visível mancha interna: o aumento expressivo do desmatamento. Não bastasse isso, ainda ganhou um “Fóssil do Dia”, premiação diária aos países contrários aos objetivos da conferência, justificada pelos incentivos à exploração do pré-sal. Mas, como estamos falando de ambição aqui, o país rapidamente assumiu o interesse em sediar a conferência em 2019, provavelmente na cidade de Foz do Iguaçu.
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Um dos vários incêndios florestais que atingiram Portugal nos últimos meses. Incêndios florestais são cada vez mais comuns em várias partes do mundo devido a elevação das temperaturas e ao tempo seco sentidas de forma mais severa nos últimos anos. Imagem: Correio Braziliense |
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Em setembro deste ano, podemos observar a formação simultânea de 3 furacões no Oceano Atlântico: Kátia, no Golfo do México; Irmã, na região do Caribe; e José, também nessa região. Devido ao aumento da temperatura dos oceanos, esse tipo de evento poderá ser cada vez mais comum. Imagem: Financial Tribune |
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Imagem área de parte da Ilha de Saint Martin completamente devastada pelo Furacão Irmã em setembro deste ano. Imagem: Reprodução: G1. Netherlands Ministry of Defence/Handout via REUTERS |