Você sabe o que são “Sementes Crioulas”?

As sementes têm uma grande importância na manutenção da nossa biodiversidade e,consequentemente, na nossa alimentação. As sementes crioulas, sementes da paixão, landraces, raças da terra, variedades tradicionais, entre outras denominações, pelas quais são conhecidas, fazem parte do universo da agricultura familiar e da agroecologia.

Essas variedades foram melhoradas apenas pelas mãos de agricultores e agricultoras. Não foram modificadas geneticamente, como em processos de melhoramento genético e transgenia. Tais variedades, têm preferência devido a características de adaptabilidade, valorização dos costumes, sabor e qualidade, além do baixo custo de produção.

Imagem: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

As sementes crioulas são utilizadas pelos agricultores há muito tempo, sendo uma prática antiga entre as populações tradicionais, que fazem o manejo e preparo das sementes de forma artesanal, por isso recebem o nome de “crioulas” e/ou “nativas”, estas vêm sendo produzidas em suas propriedades ao longo dos anos, passando de geração em geração pelas famílias. As formas de produção são de caráter agroecológico em sistema manual de semeadura e consorciado de plantio.

As variedades tradicionais não são somente as sementes em si, mas também tubérculos, como batata, mandioca, culturas de origem animal entre outros alimentos conhecidos. Possuem um grande potencial nutricional, além de outros aspectos positivos, como: maior resistência, maior produtividade, melhor adaptação, menor custo de produção e também maior diversificação das possibilidades de plantio, pois não requerem um pacote de insumos, não demandam uso de agrotóxicos e não irão prejudicar o meio ambiente, além de promover saúde.

Imagem: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

Para, Antunes et al (2017), o termo “Variedade Crioula”, pode ser definido como “aquele em cultivo” por agricultores em um mesmo ambiente, por tempo suficiente para que a seleção natural e os agricultores ajam de modo a produzir uma população, cuja composição gênica a tenha tornado altamente adaptada às condições em que foi cultivada. Consequentemente, diferenciada das demais, que surgem como resultado das interações temporais entre populações de plantas e os demais componentes do agroecossistema, incluindo o homem.

Historicamente, as mulheres são as “guardiãs das sementes”. De acordo com Nunez e Maia (2006), quando se fala da origem das sementes, há relatos que desde o começo da humanidade, agricultores e, especialmente agricultoras, têm conservado, selecionado e melhorado sementes, dando origem a uma grande diversidade de cultivos e variedades utilizadas na produção agrícola, adquirindo características desejáveis de adaptação muito específicas aos locais de cultivo, carregando consigo a questão cultural e, garantindo a sustentabilidade e soberania alimentar.

Como explica, Franco et al (2015), os agricultores familiares que trabalham com agricultura de base ecológica e armazenam sementes em suas propriedades, são considerados “guardiões das sementes crioulas”. Em muitas regiões a Comissão Pastoral da Terra organiza o trabalho criando bancos de sementes, e incentiva os agricultores a serem os guardiões, além de organizar eventos para troca de sementes e reflexões sobre o tema junto às comunidades, sendo de grande relevância para a manutenção da agrobiodiversidade local.

Imagem: Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Governo da Bahia

Esse trabalho de incentivo e apoio realizado pela Pastoral da Terra e também outras instituições, fortalecem o trabalho dos agricultores e a troca de informações para obter maior produção e variedade. A Via Campesina congrega entidades e movimentos sociais ligados aos pequenos agricultores (camponeses) de todo o Planeta, e fazem campanhas em oposição aos transgênicos e a oligopolização do setor de sementes, como a campanha mundial “Sementes: patrimônio dos povos a serviço da humanidade”.

Referências

BARROS, I. I. B. et al.  Sementes crioulas: o estado da arte no Rio Grande do Sul. Rev. Econ. Sociol. Rural, v.46, n .2.  Brasília Apr./June 2008.

PEREIRA et al. Reconquista de sementes crioulas e plantas alimentícias não convencionais no Assentamento Dênis Gonçalves, Zona da Mata Mineira0. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF – Vol. 13, N° 1, Jul. 2018.

ANTUNES et al. Agrobiodiversidade, sementes crioulas e guardiões de sementes – ou a construção de uma nova realidade social a partir de uma nova realidade rural. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF – Vol. 13, N° 1, Jul. 2018.

FRANCO et al. Percepção de agricultores familiares sobre as dificuldades na produção e conservação de sementes Crioulas. cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 8, No. 2, Nov 2013.

NUÑEZ, P. B. P.; MAIA, A. S. Sementes crioulas: um banco de biodiversidade. Revista Brasileira de Agroecologia. v. 1. n. 1. 2006.

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MAIRESSE, Letícia. Você sabe o que são “Sementes Crioulas”?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/06/voce-sabe-o-que-sao-sementes-crioulas.html>.

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