Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo

Cada ser humano produz por dia cerca de 1,2 kg de resíduos. Isso significa que durante uma vida de 70 anos um indivíduo deixa no planeta um legado de, em média, 70 toneladas daquilo que ele considera “lixo”.

Somos mais de 7,8 bilhões de pessoas consumindo, muitas vezes de forma desenfreada, produtos como: sapatos, celulares, roupas, móveis, comida, produtos de beleza e tudo aquilo que surge em nosso campo de visão sem nos questionarmos sobre a destinação de tudo isso após a vida útil desses produtos.

A “Máquina do Consumismo” tem dominado nossos desejos e impulsos. Nós nos tornamos peças essenciais desta engenhoca que utiliza recursos naturais para produzir itens que são desenvolvidos tendo como base a obsolescência programada. Ou seja, itens criados para que, de maneira proposital, durem pouquíssimo tempo e precisem ser substituídos com frequência (como os celulares, por exemplo). Afinal, é esta renovação “imposta” e frenética que faz com que as engrenagens da máquina girem de forma eficiente e alimentem, devidamente, o atroz sistema capitalista.

Imagem: John Atkinson.

Sabemos – ou pelo menos deveríamos saber – que todo e qualquer resíduo gerado pelo ser humano causa algum tipo de impacto no meio ambiente. Listamos aqui, alguns dos mais prejudiciais:

  • Isopor: Aquele copinho de café, aquela bandeja de frios, sabe? Pois é, eles são problema na certa!  O isopor é um plástico expandido e leve, pois possui mais bolhas de ar do que petróleo em sua composição. Sendo assim, se torna um resíduo volumoso e sem valor comercial para os catadores. Mas ainda assim algumas empresas estão se especializando na reciclagem desse material, conforme abordamos no artigo “Isopor: é possível reciclar SIM!”, clique aqui para ler.
  • Plástico descartável: Este resíduo é apenas mais um dos que causam uma grande catástrofe ambiental: leve e barato, atrai pouco o interesse das cooperativas e catadores. Além disso, de acordo com estudo realizado pela Fundação Ellen MacArthur, em parceria com a McKinsey, até 2050 teremos mais plástico do que peixes nos mares e inúmeros estudos já apontam a presença de microplásticos em peixes, frutos do mar e na água doce.
  • Caixa longa vida: Esta embalagem possui películas prensadas de papelão, plástico e alumínio. A separação desses componentes é muito complexa e por isso, a reciclagem se torna inviável. Então, deve ser melhor consumir leite de garrafa PET, certo? Errado! O PET leitoso (como é conhecido) apresenta as mesmas – ou ainda maiores – dificuldades no processo de reciclagem. E a pior parte, é que o principal argumento utilizado por algumas das empresas que vêm adotando as garrafas é: “a embalagem é mais atrativa ao consumidor; é mais bonita”. Sim, você leu “bonita”!
Imagem: Creative Commons.

Além da grande demanda por produtos contidos nestas embalagens, ainda enfrentamos a falta de conhecimento e disposição da população para realizar a gestão adequada dos resíduos. Segundo departamentos municipais de limpeza urbana, seis toneladas de lixo reciclável não são aproveitadas, diariamente, por não estarem limpas, secas e separadas corretamente.

Mas, afinal, qual é a forma correta do descarte? Se você acha muito difícil ter muitas lixeiras em casa ou decorar várias cores, aí vai uma dica prática. Separe seus resíduos da seguinte maneira:

  1. Rejeito: é o único tipo de resíduo que deve ir para o aterro sanitário (que é bem diferente de lixão), pois não pode ser reaproveitado. Por exemplo: papel higiênico, fraldas, papéis de fritura, etc.
  2. Reciclável: é todo resíduo seco, o qual deve ser devidamente lavado (com água de reuso de preferência) e destinado aos catadores e cooperativas.
  3. Orgânico: é todo resíduo úmido, como restos de comida, frutas e verduras e que pode ser utilizado em composteiras, por exemplo.

Para saber como descartar corretamente seus resíduos, acesse nosso artigo Não existe jogar fora! Saiba como descartar corretamente seu lixo, clique aqui para ler.

E se, por acaso, você disser: “ah, mas no meu prédio/bairro/cidade não tem coleta seletiva, o caminhão de lixo mistura tudo”. Eis que o Cataki resolve isso. O aplicativo é responsável por conectar o morador aos catadores da região. Ele funciona como uma espécie de aplicativo de carros, apontando no mapa o catador mais próximo da sua residência. Para saber mais como funciona o aplicativo, leia nosso artigo “Cataki: o aplicativo que conecta catadores e gera renda”, clicando aqui.

Quanto à compostagem, você pode ter sua própria composteira caseira e deixar que as minhocas façam o trabalho de digerir o material orgânico, gerando um adubo de excelente qualidade, sem produzir mau cheiro.

Imagem: Creative Commons.

Podemos – e devemos –, portanto, pensar em estratégias que reduzam o impacto que geramos no planeta. Pequenas mudanças de hábito e comportamento podem ser adotadas: não exige grandes esforços dar preferência às embalagens de papel e papelão, substituir o copo plástico do cafezinho por uma caneca, a garrafa plástica por uma reutilizável, as 50 sacolas de supermercado por meia dúzia de ecobags. Nem sempre é mais custoso fazer a ação correta. E, apesar de nenhuma dessas posturas isoladas causarem o “alívio” necessário à Terra, elas permitem, efetivamente, que a transformação seja iniciada.

De fato, as grandes marcas e indústrias, são as maiores responsáveis pela geração e destinação incorreta dos resíduos. Porém, um sistema econômico que se mostra insustentável e que tem como pilares a ganância, a desigualdade social, a exploração e a maximização dos lucros não pode ser ignorado, deve ser revisto, remodelado e combatido através das nossas “imperceptíveis” ações diárias de resistência e quebra de paradigmas.

É urgente que façamos a parte que nos cabe e que usemos nosso poder de consumo com sabedoria, espalhando o bom exemplo e cobrando medidas restritivas de órgãos públicos e privados, pois só assim, exercendo a Responsabilidade Compartilhada, veremos mudanças significativas no mundo em que habitamos. Tendo sempre em mente que “o melhor lixo é aquele que não é gerado”.

Referências:

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SILVA, Pâmela. Gestão de Resíduos lança luz sobre as trincas do Capitalismo. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/09/gestao-de-residuos-lanca-luz-sobre-as-trincas-do-capitalismo.html>.

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