A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030
Ontem, dia 5 de junho, foi o Dia Mundial do Meio Ambiente. No entanto, não há nada o que se comemorar. Retrocessos, afrouxamento de legislações ambientais como a dispensa de licenciamento aprovada na Câmara, e sucateamento dos órgãos de fiscalização, como IBAMA e ICMBio, aumento do desmatamento, invasão de terras indígenas estão em curso.
A devastação dos ecossistemas brasileiros vem se tornando cada vez mais preocupante, não só para a biodiversidade, como também, para própria humanidade. Afinal, afeta o clima global, a segurança alimentar e pode até ser o centro de origem de novas zoonoses.
Fizemos um raio-x dos nossos biomas detalhando a importância de cada um deles e o cenário atual de degradação, destruição.
Amazônia
Um dos habitats naturais mais preciosos do mundo e desempenha um papel vital na regulação da temperatura do planeta. Apesar de sua exuberância, a Amazônia sofre diariamente com diversas ações de desmatamento, que danificam o sistema de ‘rios voadores’, responsável por abastecer outras regiões do continente.
Dados oficiais do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta semana apontam que em abril e maio de 2021 a região registrou os maiores índices de alertas de destruição para os meses em toda a série histórica.
Somente neste ano, entre janeiro e maio, foram 2,337 Km2 um aumento na área de 14,6% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar da cobertura de nuvens ter sido superior em 2021 (janeiro-maio) e apesar de ter chovido mais na região norte – o que em tese, deveria desacelerar o desmatamento.
A falta de chuva e a perda da biodiversidade provocadas pelo desmatamento na região sul da Amazônia já causam queda de produtividade e de receita ao agronegócio brasileiro. A estimativa é de que o prejuízo, mantidos os níveis de desmatamento, chegue até US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) por ano até 2050, segundo pesquisa publicada na ‘Nature Communications’.
Caatinga
A caatinga é o único bioma 100% brasileiro. Se estende por cerca de 70% do Nordeste e também se encontra no Norte de Minas Gerais. Considerado o bioma do semiárido mais diverso do mundo, a Caatinga possui mais de mil espécies de vegetais, destacando-se a carnaúba e o cumaru e quase duas mil espécies de animais, incluindo o veado-catingueiro, o tatu-peba e a asa branca.
De acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 42,3% da sua cobertura vegetal original já sofreu algum tipo de modificação e 52% do bioma sofre com problemas de degradação. Apenas cerca de 4% da área da Caatinga é protegida pelo Governo.
Cerrado
O segundo maior bioma do País ocupa quase 24% do território nacional (2 milhões de km²) e é considerado a savana mais biodiversa do planeta em fauna e flora. Também abriga as nascentes que alimentam as principais bacias hidrográficas do País. No entanto, apenas 8,21% de sua área é protegida por unidades de conservação, segundo dados do ICMBio.
De 2000 a 2019, foi o bioma mais afetado por queimadas, com focos de fogo em 41% de sua área, de acordo com o Mapbiomas. Em março deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) emitiu alertas de desmatamento para uma área de 529,3 km² de Cerrado, 146% a mais do que no mesmo período de 2020.
Segundo dados disponibilizados pelo Mapbiomas, 43,8% do Cerrado é utilizado para agropecuária, o que é resultado do aumento de 61 milhões para 86 milhões de hectares registrado entre 1985 e 2019.
A situação é ainda mais preocupante em 2021. Somente entre 1 e 27 de maio de 2021, foram desmatados 870km², um aumento de 142% em comparação aos 360km² registrados no mesmo período em 2020.
Mata Atlântica
Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o bioma cobria originalmente 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Mas, por estar presente na região onde estão as maiores cidades, atualmente restam apenas 12,4% da área de floresta original.
Este bioma é considerado o mais ameaçado do país e acolhe maior número de espécies ameaçadas, tanto em números absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos ecossistemas. São 1.026 animais ameaçados que vivem ali, sendo que 428 deles são endêmicos, ou seja, só existem em regiões de Mata Atlântica.
Pampa
Atualmente, resta apenas 36% da vegetação nativa da região, já que boa parte foi desmatada para a criação de monoculturas de soja e arroz. No Pampa, há apenas uma Área de Proteção Ambiental, que é a APA do Ibirapuitã.
Pantanal
O ano de 2020 foi um marco terrível para o Pantanal, pois cerca de 26% de sua vegetação foi devastada em incêndios transformando mais de 4 milhões de hectares deste bioma em cinzas. Estima-se que mais de 11 milhões de animais tenham morrido durante os incêndios. E os que sobreviveram começam, aos poucos, a retornar para as suas áreas.
Por trás das queimadas estão a expansão da agropecuária e o fogo para manejo de áreas de pastagem, a degradação de biomas interligados (Amazônia, principalmente) que alteram os regimes de chuva por todo o Brasil e, uma fiscalização deficiente por parte dos órgãos governamentais. Segundo o ICMBio, somente 4.4% de seu território está protegido por unidades de conservação.
Década da Restauração
O relatório “Tornando-se #GeraçãoRestauração: restauração de ecossistemas para pessoas, natureza e clima” destaca que a humanidade está usando cerca de 1,6 vezes a quantidade de serviços que a natureza pode fornecer de forma sustentável. Isso significa que os esforços de conservação por si só são insuficientes para evitar o colapso do ecossistema em grande escala e a perda da biodiversidade.
A restauração do ecossistema é uma das formas mais importantes de fornecer soluções baseadas na natureza para a insegurança alimentar, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e perda de biodiversidade. O relatório destaca ao seu final que cada dólar investido em restauração dos ecossistemas cria até 30 dólares em benefícios econômicos.
Afinal, não basta não derrubar. É preciso contribuir para sua regeneração.
Assim, foi lançada nesta semana a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030, liderada pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 visa prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos. É um chamado para a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o mundo, para benefício das pessoas e da natureza.
Somente com ecossistemas saudáveis podemos melhorar a subsistência das pessoas, combater as mudanças climáticas e deter o colapso da nossa biodiversidade.
Mas o que você pode fazer?
- Começar sua própria iniciativa em campo, unir-se a um esforço de restauração ou conservação existente, ou ajudar a construir uma aliança para apoiar a recuperação da natureza. Realize mutirões de limpeza de rios e lagos e praias.
- Mude seu comportamento e gastos para diminuir sua pegada ambiental local e global e direcionar recursos para empresas e atividades que restaurem a natureza, em vez de prejudicá-la. Encorajar outros ao seu redor a fazerem o mesmo. Isto é, alimente-se sazonalmente e regionalmente: descobrir quais frutas e plantas crescem perto de você durante qual época do ano.
- Plante árvores: plantar árvores é uma atividade de restauração simples e enormemente popular. Você pode incluir árvores em um jardim, um espaço público, uma fazenda, em uma paisagem ou mesmo um país inteiro. A plantação seletiva pode revitalizar uma floresta degradada por sobre-exploração.
- Fazer sua voz e ideias serem ouvidas em debates sobre como gerenciar seu ambiente local e sobre como podemos tornar nossas sociedades e economias mais justas e mais sustentáveis. Pressionar tomadores de decisão para fazerem a coisa certa.
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SOUZA, L. B. Leonardo. A Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/06/a-decada-da-restauracao-de-ecossistemas-2021-2030.html>.