Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela

Uma carta para a vegana mais legal que eu já conheci e para os que não escolheram e estão nessa

Verdade seja dita, para mais da metade da população, carne virou um artigo de luxo. O dinheiro mal paga as contas e quando dá para comprar “mistura”, geralmente é ovo. E aí entram os vegs sem opção mesmo. Não tem como comprar carne, só que falta informação sobre como substituir e equilibrar os nutrientes para saúde andar bem.

Em paralelo a isso, temos os vegs por opção – seja pelos animais, pelo meio ambiente como um todo, ou por uma soma de fatores, o vegetarianismo é uma escolha (em um futuro próximo, talvez não seja mais, porém vocês ainda não estão prontos para essa conversa). É uma opção simples, não fácil. Envolve estudar, se adaptar, testar e experimentar novas possibilidades e sabores.

A tomada de consciência é algo chato por duas razões, a primeira é que é um caminho sem volta. A partir do momento que cai a ficha, não tem como desfazer, porque primeiramente você sempre pensará e pesará os impactos daquela determinada ação. Em segundo lugar, porque vem a vontade de fazer a chave girar para todos ao nosso redor. E, nos tornamos quem mais tememos: a pessoa que ao abrir a boca, todo mundo revira os olhos.

Trabalhando em comunidades de alta vulnerabilidade social, conheci o pior tipo de consciência socioambiental: o elitista/excludente. Em um projeto específico, atendendo crianças e jovens de duas vilas, a galera se reunia para almoçar e era uma alegria só. Até que chegou o dia em que fizemos um estrogonofe de frango sensacional. Muitas das pessoas ali nunca nem tinham experimentado, então havia uma ansiedade geral. Alguns dos voluntários eram vegs e fizeram uma cumbuquinha de estrogonofe de grão de bico, que mal dava para 5 pessoas comerem, mas eles eram em 3, então estava safo!

Só que aí veio a grande baixaria. Um bilhete ao lado da cumbuquinha com a frase “esse não matou animais”. E para explicar para as crianças o que aquilo significava? Com o perdão da expressão, mas toda vez que lembro dessa cena só me vêm em mente a frase “não se caga veganismo/vegetarianismo para quem mal tem o que comer em casa e vê carne como artigo de luxo”.

Por ver tanta coisa que acaba sendo um tiro no pé desses movimentos tão importantes, hoje quis escrever sobre a vegana mais incrível que eu já conheci. Foi em um evento que reunia pessoas de iniciativas de impacto social e ambiental (em um lugar mais ou menos refinado, com quiosques de várias opções de comida) que conheci a Duda. Quando ela chegou na rodinha falou “Estou com fome, vocês já comeram?”

Particularmente, eu amo quem fala de comida já de cara, talvez por ser taurina, não sei. Mas eu estava com fome e fui com ela procurar o que comer. Começamos a andar e ela me disse que era vegana e queria comer algo bem gostoso. Falei que eu tinha essa vontade de ser veg um dia, mas que amava demais sushi, hambúrguer, cachorro quente e essas guloseimas todas. Então a Duda me deu uma girada de chave que me voltou para o lado certo. Ela disse: “Eu como sushi e amo!”.

Ok Bruna e o que tem isso? Mas ela não era vegana? Não estou entendendo mais nada!

A melhor vegana que eu conheço é imperfeita! É sempre uma escolha atrás de outra e está tudo bem querer comer de vez em quando.

Para o planeta, para as nossas relações, para a vida fluir, é muito melhor termos uma maior quantidade de pessoas com conhecimento e conscientiza-ação sendo vegs imperfeitos, do que uma pouca quantidade de vegs “perfeitos”. Quantas pessoas se reconheceriam em uma Duda e passariam a fazer ao menos uma Segunda Sem Carne?

Enfim, aos que não têm a grana do bife, grão de bico é caro, mas couve não! Vegetais verde-escuros e bastante cor nesse prato. Aos que se sentem os ecochatos da rodinha, vão com calma, cada um tem seu próprio tempo para girar a chave. A todos meu abraço com afeto, porque o mundo está precisando, acima de tudo, de amor.

O amor cura e inclui. E como se esse texto fosse um grande brinde à vida do planeta: Saúde!

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CARVALHO, Bruna. Veganismo e vegetarianismo: uma opção ou a falta dela. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/09/veganismo-e-vegetarianismo-uma-opcao-ou-a-falta-dela.html>.

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