Qual o futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?

Vem entender como o Brasil está lidando com isso!

O Brasil é um país continental que possui uma localização geográfica privilegiada, tendo incidência solar durante todo o ano e clima tropical, o que favorece o cultivo de alimentos e o desenvolvimento da agricultura.

Outro fator de grande relevância no Brasil está relacionado à grande reserva de água doce que nosso território possui. Segundo informações da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), o país possui a maior reserva de água doce superficial do planeta – correspondendo a 12% do total de água doce mundial, sendo recortado por diversas bacias hidrográficas. 

Mas apesar disso, a água não é distribuída de maneira igual por todo o território brasileiro, 68% da água superficial localiza-se na região Norte; 16% na região Centro-Oeste; 7% na região Sul; 6% na região Sudeste; e 3% na região Nordeste. A região mais densamente populosa, com 41,80% da população brasileira, é a região Sudeste [1], justamente a que possui uma das menores disponibilidades de água.

Diante disso, para entender se o país continuará a ter disponível sua reserva de recursos hídricos [2], é importante analisar a atual conjuntura (econômica, ambiental, climática e social). Diversos fatores impactam na preservação de nossas águas, merecendo destaque: o saneamento básico; os setores industrial, agrícola, e de energia; e as mudanças climáticas [3].

Mas, antes, dois importantes lembretes relacionados ao acesso à água. O primeiro é que o acesso à água potável é reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um direito humano. E o segundo é que no Brasil, de acordo com a Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997), a água é considerada um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Ainda de acordo com essa lei, em situações de escassez, o uso prioritário da água é para o consumo humano e para a dessedentação de animais.

Saneamento Básico: Uma Necessidade Urgente

Apesar de estarmos em 2024, a universalização do saneamento básico no Brasil ainda está longe de acontecer. E o que isso significa em termos práticos? Significa que o país ainda não oferece acesso à água potável a toda sua população, situação que fica pior em localidades distantes da centralidade das metrópoles. E nas regiões de periferia (localidades que ficam às margens, no entorno dessas grandes cidades) o acesso à água potável também acontece de forma precarizada.

Além do acesso à água potável, os serviços de saneamento básico incluem a coleta e tratamento de esgoto; a drenagem de águas pluviais (águas vindas das chuvas); e a coleta e destinação correta dos resíduos urbanos (comumente chamados de lixo). E por quê? Porque no Brasil há o entendimento, na área das políticas públicas, de que todos esses serviços de saneamento impactam a os corpos hídricos do nosso país, principalmente se esses serviços são deficitários. Por isso, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) está diretamente ligada a gestão das águas no país.

Quando não há o serviço de coleta de esgoto, ou quando há a coleta, mas sem o devido tratamento, esse esgoto (domiciliar, industrial, comercial e/ou hospitalar) acaba fluindo e sendo despejado sem qualquer tratamento em rios, lagos, lagoas, lençóis freáticos. E quando a coleta de resíduos (lixo) não é realizada ou quando esse serviço ocorre de forma precarizada, a destinação incorreta desses resíduos pode contaminar o solo e os corpos hídricos.

Por isso é necessário que ocorra o quanto antes a universalização do saneamento básico em nosso país. Caso contrário nossas águas estarão comprometidas devido a poluição, resultando em:

  • Altos custos para o sistema de saúde para tratamento de enfermidades e redução da produtividade da força de trabalho devido a doenças relacionadas à água e;
  • Comprometimento da disponibilidade de água para usos múltiplos, incluindo o abastecimento público e a irrigação agrícola.

Setor Industrial e Agrícola: Pressões sobre os Recursos Hídricos

Os setores industrial e agrícola desempenham um importante e fundamental papel na economia brasileira. No entanto, são também um dos principais consumidores de água em nosso país, o que nos acende um alerta, já que, são setores que precisam se modernizar no quesito de uso eficiente de recursos hídricos.

O setor agrícola, responsável por mais de 70% do consumo total de água no país, enfrenta desafios significativos devido à irrigação ineficiente, ao uso excessivo de agroquímicos e ao desmatamento. Essas práticas não apenas comprometem a sustentabilidade dos recursos hídricos, mas também afetam a produtividade e a competitividade do setor agrícola a longo prazo. É preciso uma gestão responsável e sustentável de recursos, sem desperdício e alinhada à realidade da emergência climática que o mundo está atravessando.

No setor industrial, a gestão inadequada da água e o lançamento de efluentes, muitas vezes repletos de produtos químicos, sem o tratamento adequado representam uma ameaça à qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos. Isso acaba gerando custos adicionais para as empresas, em termos de multas ambientais e restrições operacionais.

Setor Energético: Vulnerabilidade à Escassez Hídrica

A matriz energética no Brasil é composta fortemente por energia renovável, possuindo grande destaque as usinas hidrelétricas. No entanto, essa fonte energética é bastante vulnerável às variações climáticas e aos impactos das mudanças climáticas.

Oscilações no regime de chuvas afetam a disponibilidade de água para geração de energia, levando a períodos de escassez hídrica e aumentando a volatilidade nos preços de energia. Fato já observado em períodos de estiagens e secas, onde as usinas termelétricas precisaram ser acionadas para atender a demanda de energia; havendo, consequentemente, além do ônus ambiental, também o ônus financeiro com aumento das tarifas de energia elétrica.

Diante dessa vulnerabilidade, a diversificação da matriz energética torna-se uma necessidade urgente, com investimentos em fontes renováveis alternativas, como solar, eólica e biomassa, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e aumentando a resiliência do sistema energético como um todo.

Mudanças Climáticas: Agravando a Crise Hídrica

As mudanças climáticas já são, infelizmente, uma realidade em todo o mundo. E mais, estamos atravessando um período que os cientistas denominam como emergência climática, já que os efeitos das mudanças climáticas estão evoluindo de forma mais acelerada que se esperava.

Com isso, temos vivido a intensificação dos extremos climáticos, ou seja, o aumento da frequência e da intensidade de eventos como secas e enchentes. Secas prolongadas reduzem a disponibilidade de água, afetando a produção agrícola, a geração de energia hidrelétrica e o abastecimento público. Enquanto as enchentes causam danos materiais e humanos significativos, inclusive com a perda de vidas (o que poderia ser evitado se nossas cidades incluíssem a emergência climática em seus planejamentos urbanos), além de prejudicar a infraestrutura e a atividade econômica.

A adaptação às mudanças climáticas e a mitigação de seus efeitos exigem políticas públicas integradas, considerando principalmente a realidade das cidades, que promovam a gestão sustentável dos recursos hídricos, a conservação de ecossistemas aquáticos e a redução das emissões de gases de efeito estufa.

É preciso então que seja pensada uma gestão sustentável dos recursos hídricos no país com a inclusão dos fatores mencionados, com ações coordenadas e políticas públicas eficazes, assegurando assim a disponibilidade de água de qualidade para as gerações presentes e futuras. Ou caminharemos, a passos largos, para uma crise hídrica sem precedentes na história do país.

[1] IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Censo Demográfico 2022.

[2] A água é um recurso finito, que apesar de ter a capacidade de se regenerar não está conseguindo completar esse processo pois estamos poluindo os corpos hídricos em quantidade e velocidade maior que a natureza é capaz de regenerar.

Referências e Sugestões de Leitura:

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ABREU, Nathália. Qual futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/voce-conhece-o-tratamento-de-esgoto-por-wetlands-construidos.html>.

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