Comida de quintal – Sobre o plantar e o cozinhar para uma vida mais orgânica!
Temos o grande sonho daquela casa de campo. Na casa imaginária, criamos espaços para cultivar alimentos orgânicos, para o pomar particular e até já instalamos uma cozinha bem próxima a diversas cantoneiras de temperos. O simples movimento de esticar as mãos e colher coentro, salsa, alecrim manjericão é imprescindível na proposta.
Há um crescimento significativo no interesse por uma vida mais natural, mais conectada a natureza e certamente que a cozinha ganha prioridade no interesse. A mudança de hábitos tem sido gradativa, mas vem acontecendo!
Muitos buscam ter pelo menos um vasinho de tempero na cozinha para ter um sabor mais real e orgânico em suas preparações. Outros, visitam com frequência feiras orgânicas. Alguns, fazem daquele sitio, chácara ou quintal da casa de família no interior ou na cidade, mais que um jardim e optam por cultivar pelo menos uma árvore frutífera.
Nosso lado mais orgânico que nunca deixou de existir, vem emitindo chamados cada vez mais fortes e nós estamos começando a ouvir e a transformar o meio a partir disso. Ponto positivo! Espaços urbanos estão ganhando hortas comunitárias e a ideia do compartilhar tem dado um novo sabor a convivência.
Já há inclusive, quem esteja vivenciando a volta do escambo (da troca) no quesito alimentação em bairros bem movimentados: Se tenho temperinhos e você tem couve no quintal, negociamos!
Eu faço parte do time dos que sonham com essa casinha no campo e com a cozinha cheia de temperos na cantoneira, então procurei trazer a experiência para o apartamento mesmo!
A casa de interior, de família, em que costumo passar algumas férias, também ganhou essa energia de pomar e horta na medida do possível, ainda que seja numa avenida movimentada. A cozinha de ambos espaços familiares, sem dúvida alguma tornaram-se mais saborosas, saudáveis e diria … criativas.
Por que? Bem, você colhe um tipo de alimento e precisa usá-lo em algo. Tal alimento tem um tempo de vida. Logo, você realmente precisa ir para a cozinha inventar alguma receita.
O cultivo de alimentos favorece o hábito de cozinhar
A experiência do cultivo de alimentos em casa, me mostrou que realmente somos seres que precisam intensificar esse contato com a natureza, com uma alimentação mais amorosa e natural e que esse hábito do cultivo, favorece o hábito da culinária. Um inspira o outro.
Aqui, num apartamento, a área de serviço tem uma parte reservada ao cultivo de alimentos e temperos. Na verdade, é um grande espaço de experiências surpreendentes. Lembro que numa ocasião plantei gergelim. Ele cresceu muito e me rendeu umas boas 250g. Fiz um pão maravilhoso com eles. Eu nunca tinha visto um pé de gergelim e me encantei em ver uma espécie de vagem que nasce grudada no caule e solta aquelas lindas e saborosas sementinhas. E a flor desse pé de gergelim? Linda.
Outra coisa que dá bem é feijão fradinho. Plantamos e ele cresceu, cresceu e se enrolou num dos varais, floresceu, deus suas vagens e alguns bons grãos que acrescentei a uma boa receita de hambúrguer vegano. A experiência de ver as fases, o florescimento, estar ali, na colheita e cozinhar com aquilo que se semeou, dá um novo significado ao cozinhar. Uma outra energia.
Batata doce? Também dá. A última que estava crescendo e colocamos na cantoneira, virou mãe de várias e ainda ganhamos uma cortina de “folhas coração” em toda a janela. Quem disse que tiramos? Um belo dia, ao cuidar da terra, sentimos algo e lá estava: a batata doce da cantoneira. Imensa e saborosa. Cozinhei para o café da tarde. Até hoje a matriz está lá, firme e forte. Logo colho mais.
Quando compramos alimentos que estão nascendo é o momento de incentivar a vida e também nosso mergulho numa proposta de uma vida mais orgânica que pede o toque de cuidado e a cooperação.
Cenoura, coloco na água até que sua folhagem fique maior. Mesmo não indo muito adiante, uso a folhagem numa salada. Lentilhas? Deixo germinar.
Por aqui já teve tomatinho também e não falta manjericão, alecrim e salsa. Tudo isso a uns dois passos da cozinha. É quase o esticar das mãos da tal sonhada casa de campo, que falei lá no início. A prática da sustentabilidade também depende de ações cotidianas, simples, porém profundas.
Na casa do interior, já temos chuchu, abacaxi, jabuticaba, abacate, urucum, limão, banana, laranja, manga e criamos um pedacinho com capuchinha, uma flor comestível, já que a ideia é ir cada vez mais para as Panc´s – Plantas alimentícias não convencionais. Quando estou por lá, coloco sempre a proposta de todos os dias montar um prato de salada ou alguma preparação com algo retirado do quintal. Todas as etapas até o preparo, são lindas e importantes. Mexer na terra é uma das especiarias da vida, certamente!
Neste movimento todo do plantar como dá, percebo ainda que as crianças aprendem sobre processos de crescimento e ciências, sobre cuidado ambiental e sobre a própria ecologia interior. Levá-las para plantar, depois colher e posteriormente cozinhar, cria nelas um sentimento de presença importante no mundo e menos egoica. Elas se tornam parceiras do meio ambiente. Vejo isso por aqui, com meu pequeno.
A perfeição da natureza nos leva a prática, bastando apenas uma decisão. De um ponto ao outro e lá estaremos nós.
Para uma degustação mais ampla da proposta e para que você comece hoje mesmo seu cantinho de sabor e tenha uma cozinha mais orgânica e sustentável, deixo uma receita vegana simples, uma comida de quintal!
Cestinha de batata doce recheada com chuchu picadinho, temperado com alecrim e manjericão
Ingredientes para 04 cestinhas:
- 1 batata doce média que você pode colher da cantoneira – Lave, descasque e rale em tiras bem finas. Tempere com sal, cúrcuma, azeite e páprica. Tempero é bem a gosto. Pode colocar pimenta do reino.
- Coloque 01 “ovo” de linhaça para dar liga – Como faz? Duas colheres de sopa de farinha de linhaça com um pouco de água morna (o suficiente para cobrir). Misture bem e deixe descansar. Mexa e verifique: fica uma colinha.
- Misture na batata doce temperada e ralada.
- Unte bem com óleo, formas de empadinha. Forre as forminhas com a massinha de batata doce: fundo mais grossinho e laterais – Uma espessura que não quebre ao desenformar.
- Pincele um pouco de azeite e coloque para assar até que perceba estar mais durinhas e douradas. Para retirar: solte com delicadeza as laterais e deixe amornar um pouco.
Recheio: Corte cubinhos de chuchu (pode ser do seu quintal) – Usei 1 médio também. Refogue com azeite, temperos a gosto e alecrim que você colheu da cantoneira. Sal a gosto. Quando o chuchu estiver mais cozido, desligue e acrescente ¾ de xícara de leite de coco ou de leite de aveia. Integre o leite ao chuchu para criar um creminho. Prove e sinta se precisa de mais temperos. Coloque folhinhas de manjericão da cantoneira.
Sirva de entrada ou de petisco mesmo. O recheio pode variar, use a criatividade!
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AMORES, Valéria. Comida de quintal – Sobre o plantar e o cozinhar para uma vida mais orgânica!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2018/06/comida-de-quintal-sobre-o-plantar-e-o-cozinhar-para-uma-vida-mais-organica.html>.