Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?
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Imagem: Jörn Uwe Germer/ Wikimedia
Ao acessar o site do Instituto Trata Brasil, fui recepcionada com a seguinte informação: desde o mês de Janeiro de 2021, são despejadas – POR DIA – no meio ambiente “5.368 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento”.
Como já descrito em um artigo aqui no site, o esgoto passa por dois processos – coleta e tratamento – antes de ser despejado em corpos hídricos. Porém, devido a deficiências no sistema sanitário apenas 46% do esgoto gerado é devidamente coletado e tratado, segundo o “Ranking do Saneamento de 2021”, do Instituto Trata Brasil.
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Além dos impactos ambientais, a insuficiente coleta e tratamento de esgoto ocasionam problemas de saúde pública e escassez hídrica. Somente em 2019 houve mais de 270 mil internações causadas por doenças relacionadas à falta de saneamento básico, e cerca de 16% da população brasileira carecem de água potável.
O tema possui tanta importância que um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o ODS 6, prevê acesso equitativo à água potável e ao saneamento até 2030. Em paralelo, destacam-se as Soluções Baseadas na Natureza – SBN, como alternativas da área de planejamento urbano, que visam a consolidação de Cidades Sustentáveis no Brasil e no mundo.
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Uma das SBN é o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos, uma tecnologia baseada nos princípios das áreas naturalmente alagadas (pântanos, brejos, várzeas, mangues, charcos, entre outros), que se originou na década de 1950 e que vem ganhando interesse por ser um sistema simples e de baixo custo.
Os Wetlands Construídos são basicamente a construção de canais ou lagoas artificiais que abrigam plantas aquáticas, onde são despejados esgotos e a partir da interação desse ecossistema e seus processos físicos, químicos e biológicos, ocorre a modificação da qualidade e a despoluição da água. Ou seja, reproduzem os processos de áreas naturalmente alagadas, mas de maneira controlada.
Podem ser classificados em dois tipos: os sistemas que utilizam plantas aquáticas flutuantes, e os que utilizam plantas aquáticas emergentes. No primeiro, trata-se de canais rasos cuja espécie mais utilizada no Brasil é a Aguapé (Eichhorniacrassipes), a qual apresenta elevada capacidade de resistir a altos níveis de poluição da água. No segundo caso, o grupo de plantas mais utilizado é o Junco, sendo a Taboa (Typhadomingensis) e o Caniço (Phragmitesaustralis) as espécies mais conhecidas. Nesse sistema, as raízes das plantas se prendem aos sedimentos depositados, e, por isso, os lagos devem ser projetados com maior profundidade.
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Os Wetlands Construídos apresentam muitas vantagens, e uma delas é que podem ser aplicadas de maneira descentralizada, ou seja, para o tratamento de águas residuais domésticas, industriais, de mineração ou urbanas. Soma-se também o fato de ser uma tecnologia de baixo custo de implantação e manutenção, comparando-se aos métodos tradicionais.
O tamanho da área necessária para o projeto pode ser o principal desafio para sua implantação em grandes centros urbanos. Por outro lado, o planejamento prévio de parques residenciais ou industriais pode viabilizar a implantação, pois além do tratamento de esgoto dessas áreas, podem servir como jardins filtrantes na drenagem das águas pluviais urbanas, minimizando o perigo de enchentes e alagamentos.
Há diversos estudos que comprovam a eficiência de Wetlands Construídos em áreas urbanas e rurais, como os realizados pelo Grupo de Estudo em Saneamento Descentralizado – GESAD da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), demonstrando que esse sistema possui grande potencial estratégico para aplicação em comunidades locais, principalmente aquelas carentes de esgotamento sanitário.
Outro fator relevante é o seu “anonimato”, pois numa pesquisa informal feita em minhas redes sociais, constatei que num total de 200 pessoas, apenas 19% tinham conhecimento de Wetlands Construídos, ou seja, nem 40 pessoas sabiam do que se tratava.
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Se além dos métodos tradicionais de tratamento de esgoto, também houver interesse por métodos alternativos e espaço para parcerias entre universidades, poder privado e poder público, seria possível reverter a quantidade alarmante de “piscinas de esgoto” mencionada inicialmente. Somente com a combinação de soluções globais e locais é que o cumprimento da gestão sustentável da água e saneamento equitativo poderá ser alcançado até 2030.
Referências e Sugestões de Leitura:
- ABREU, Nathália. Como o esgoto é tratado? Saiba como funciona uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto. Autossustentável. Disponível em: https://autossustentavel.com/2020/08/como-o-esgoto-e-tratado-conheca-como-funciona-uma-ete.html
- BOEHM, Camila. Falta de saneamento básico causa mais de 273 mil internações em 2019. Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-10/falta-de-saneamento-basico-causa-mais-de-273-mil-internacoes-em-2019
- INSTITUTO TRATA BRASIL. Ranking do Saneamento 2021. Disponível em: https://www.tratabrasil.org.br/pt/estudos/estudos-itb/itb/novo-ranking-do-saneamento-2021
- INSTITUTO TRATA BRASIL. Relatório – Ranking do Saneamento 2021. Disponível em: https://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/Ranking_saneamento_2021/Relat%C3%B3rio_-_Ranking_Trata_Brasil_2021_v2.pdf
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ARTIJA, Maria Vitória. Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/voce-conhece-o-tratamento-de-esgoto-por-wetlands-construidos.html>.