Áreas de Preservação Permanente e Cidades Sustentáveis: o equilíbrio é possível!

Qual o tipo de cidade nós queremos? Aquela que supre nossas necessidades de maneira equitativa, envolvendo todos os meios e atendendo nossos direitos? Ou aquela que almeja o crescimento desorientado através da exploração desenfreada dos recursos naturais tão necessários à nossa sobrevivência?

Seguindo as premissas estabelecidas pelo Programa Cidades Sustentáveis, o desenvolvimento urbano sustentável reúne “as dimensões social, ambiental, econômica, política e cultural no planejamento municipal”, o que envolve o cuidar dos recursos hídricos, fauna e flora regional, de modo a garantir aos cidadãos o direito ao meio ambiente e o direito à cidade, como afirma Henri Lefebvre em seu livro de 1968.

Em uma entrevista, o Professor de Direito Ambiental da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Fernando Rei, afirma que não há exemplos de cidades sustentáveis no Brasil, mas, por ser realizável, existem cidades que escolheram caminhar nesse percurso, pois por serem organismos vivos, as cidades e o meio ambiente estão em constante transformação e movimento, se fazendo necessária a continuidade da boa gestão pública ambiental e territorial, viabilizando a concordância entre os instrumentos legais ambientais e de urbanização e cumprir o objetivo de se tornar uma cidade sustentável.

Imagem: Freepik.

Coexistindo com o desenvolvimento sustentável, em 2012, houve a revogação do Código Florestal (Lei Federal n°12.651/2012) no qual o conceito de Área de Preservação Permanente (APP) foi “renovado”, ou seja, elas já eram consideradas em zonas rurais e passaram a ser consideradas as APPs presentes em zonas urbanas também (art. 4º– Lei Federal nº. 12.651/2012).

E o que é Área de Preservação Permanente? Por definição, toda e qualquer “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (art. 3º da Lei Federal 12.651/2012).

Desde então, com a consideração de APPs em áreas urbanas, nasceu outro título: “Áreas de Preservação Permanente Urbanas” (APPs urbanas).

Imagem: Mundo Geo.

De acordo com o Código Florestal, há vários tipos de APP, mas na maioria das vezes situam-se ao redor de cursos hídricos. Histórica e culturalmente falando, as cidades se estabeleceram às margens dos cursos d’água, fato que torna quase impossível não haver ocupação urbana em uma APP.

Mas, qual a conexão entre cidades sustentáveis e Áreas de Preservação Permanente? Como já dito, cidades sustentáveis estão intrinsecamente ligadas à preservação dos recursos naturais ali presentes, optando pelo desenvolvimento socioeconômico, porém sem causar impactos altamente danosos ao meio ambiente, o que envolve obras públicas e privadas baseadas em soluções naturais (Based Nature Solutions).

Quais os conflitos existentes?  Áreas de Preservação Permanente localizadas em centros urbanos refletem em variadas vertentes: antinomia jurídica e conflitos legais, realidade urbana dos municípios brasileiros, gestão territorial, gestão ambiental dos fragmentos florestais urbanos, entre outros.

Parque Estadual do Cocó é o maior parque natural em área urbana do Norte e Nordeste do Brasil e o quarto da América Latina, sendo o maior fragmento verde da cidade de Fortaleza. / Imagem: SAES Advogados.

É um conceito recente, pois até a década de 1990 não existia o conceito voltado às áreas urbanas. Na lei vigente (Lei Federal nº. 12.651/2012) não se definem os limites a serem aplicados em uma APP urbana. E como agravante ainda há a problemática “qual a solução para as APPs em áreas urbanas consolidadas?”, sendo questionável a normativa correta a ser aplicada em um processo de loteamento urbano.

E como lidar com essas áreas situadas em áreas urbanas (muitas vezes já consolidadas) respeitando os princípios legais da sociedade e caminhando em direção a uma cidade sustentável? Ressaltando que essas áreas além de abrigarem enorme biodiversidade, protegem zonas vulneráveis às ações antrópicas e regulam a disponibilidade dos recursos naturais (imprescindíveis para o bem-estar humano).

Áreas de Preservação Ambiental Urbana não são intocáveis, mas possuem suas particularidades. Quando requisitada a retirada de uma cobertura vegetal, por exemplo, é primordial a análise técnica do órgão ambiental responsável – para constatar se determinada área está de fato cumprindo a sua função ambiental – para que o laudo técnico permita ou não a supressão vegetal. Ou, então, aponte soluções como medidas que fomente a recomposição florestal.

Imagem: Construtiva Aprimoramento Profissional.

Ademais, há exceções para quando se é ou não permitida a supressão de uma APP previsto no art. 8º “a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei”. Outro fator importante é o fato do bem coletivo estar em primeiro lugar que o bem individual, consequentemente, dadas as condições, manter uma APP em pé gera mais benefícios para a população do que retirá-la para autorização de uma obra com poucos usufruidores.

De fato, a comunhão entre o desenvolvimento urbano sustentável e Áreas de Preservação Permanentes Urbanas podem ser simples ou complexas. Para atenuar, está em trâmite no Senado o Projeto de Lei 368/2012 que prevê autonomia aos municípios para determinar a dimensão das APPs em ambientes urbanos, seguindo Planos Diretores Municipais e leis sobre Uso e Ocupação do Solo em conjunto com os Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente.

Imagem: Freepik.

Será uma solução eficiente? Dependendo da resposta para a pergunta feita inicialmente, sim. Relembrando que é imprescindível o diálogo equânime, planejamento urbano integrado e estratégico entre as partes envolventes: sociedade civil, instituições públicas, setor privado e instituições acadêmicas.

 

Referências:

 

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ARTIJA, Maria Vitória. Áreas de Preservação Permanente e Cidades Sustentáveis: o equilíbrio é possível!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/areas-de-preservacao-permanente-e-cidades-sustentaveis-o-equilibrio-e-possivel.html>.

Mudanças Climáticas no Cinema Ambiental: um pedido de socorro da Terra

As mudanças climáticas ocasionadas pelo ser humano têm se intensificado nas últimas décadas e gerado debates sobre como superar esse problema de ordem não apenas ambiental, mas também social e político.

As discussões sobre as mudanças climáticas envolvem desafios relacionados à ciência, à tecnologia e às práticas sociais (baseadas no progresso tecnológico e científico e pautadas na produção e consumo dos recursos naturais de forma insustentável).

Imagem: Pixabay.

Debater sobre como a sociedade é, ao mesmo tempo, a força motriz do problema e da solução, foi encontrando caminhos em diferentes meios, sobretudo, na comunicação ambiental. Há indícios de seu surgimento no final da década de 1960 nos Estados Unidos, como forma de alertar as populações ao redor do mundo sobre as mudanças climáticas e problemas ambientais, utilizando relatos e diários de viagens que eram publicados em revistas científicas.

Essas publicações eram uma tentativa de informar o público geral, capacitar os cidadãos para entenderem o que estava acontecendo com o meio ambiente e despertar o interesse em ajudar.

Foi assim, influenciado pela comunicação ambiental, que surgiu o cinema ambiental. Se a intenção era falar do problema para incentivar as pessoas a pensarem em como ajudar diante da emergência dessa discussão, a melhor forma de atingir um grande número de pessoas era utilizando um entretenimento de massa.

“Uma Verdade Inconveniente”, documentário de 2006. Sinopse: O documentário analisa a questão do aquecimento global, a partir da perspectiva do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, mostrando os mitos e equívocos existentes em torno do tema e também possíveis saídas para que o planeta não passe por uma catástrofe climática nas próximas décadas.

A representação nas telas dos danos causados pelas mudanças climáticas sejam as mais reais (que já estão acontecendo) ou até mesmo de grandes catástrofes – pensando em um futuro, caso o ser humano não mude sua forma de viver, produzir e consumir de acordo com os limites do planeta – pode causar impacto nas pessoas.

Os filmes ambientais passaram a ser instrumentos importantes para auxiliar no combate às alterações climáticas, utilizando vários gêneros fílmicos. Esses filmes chegam aos espectadores com facilidade, pelo circuito tradicional de distribuição e também por meio dos Festivais Ambientais que passaram a ganhar força nos anos 1990.

Para que um filme entre na categoria de temática ambiental, ele precisa, além de retratar a dicotomia urbano e natural, trazer motes centrais focados no meio ambiente, seja em sentido de denúncia, informação ou como pano de fundo.

Portanto, não somente os documentários – que trazem denúncias sobre os desmatamentos, extinção de biomas, aquecimento global, pobreza e tantos outros problemas relacionados ao meio ambiente – podem ser utilizados para alertar a sociedade e consequentemente, apresentar possíveis soluções e iniciativas de mudança.

Os filmes de animação que envolvem também as crianças na preocupação com o meio natural têm se tornado muito frequentes e bons aliados para explicarem para os pequenos a importância do cuidado com a natureza; as ficções científicas e os famosos filmes catástrofes, mesmo forçando a realidade ao falar das mudanças climáticas, são capazes de gerar certa preocupação em espectadores mais sensíveis à temática.

“Animais Unidos Jamais Serão Vencidos”, animação da PlayArte de 2011. Sinopse: Os animais que habitam um delta africano esperam pela cheia anual do rio, mas descobrem que os humanos estão destruindo a área para construir um balneário. Billy, um suricato, e seu amigo Sócrates, um leão, tentam salvar seu território.

É importante ter em mente, que a combinação do real com o imaginário pode promover um cenário que imita a diversidade cultural da sociedade, assim como os valores (tanto individuais quanto coletivos) e tudo que estamos reproduzindo. Ilustrar para a sociedade em geral como chegamos na situação atual, mostrando possíveis futuros, caso nosso modo de produção seja mantido, é urgente e o cinema ambiental, desde seu surgimento tem um papel importante para ecoar o pedido de socorro do planeta Terra.

Referências:

  • AGUIAR, S.; CERQUEIRA, J. F. B. Comunicação ambiental como campo de práticas e estudos. Comunicação e Inovação. São Caetano do Sul: n. 24, v. 13, p. 11-20, 2012. Disponível em: <https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/article/view/1474/1191>.
  • CERQUEIRA, J. F. B.; COUTINHO, R. “Mudança Climática e Cinema de Animação: Uma análise ecocrítica das séries Capitão Planeta e os Planetários (episódio The Ozone Hole, 1991) e Os Pinguins de Madagascar (episódio Operation Big Blue Marble, 2012)”. Investigar o cambio climático na interface entre a cultura científica e a cultura común: 163. Disponível em: <https://bit.ly/2JPa9ju>.
  • KORNIS, M. A. História e cinema: um debate metodológico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 237-250. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1940/1079>.
  • GUIDO, L. F. E.; BRUZZO, C. Apontamentos sobre o cinema ambiental: a invenção de um gênero e a educação ambiental. Rev. Eletrônica Mestrado Educação Ambiental, v. 27, julho a dezembro de 2011. Disponível em:  <https://www.seer.furg.br/remea/article/view/3249/1933>.

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MARIA, Flávia. Mudanças Climáticas no Cinema Ambiental: um pedido de socorro da Terra. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/mudancas-climaticas-no-cinema-ambiental-um-pedido-de-socorro-da-terra.html>.

Sustentabilidade na Escola – Como é o uso de materiais na prática escolar?

Professoras e professores trabalham para despertar nas crianças o interesse e desejo pela aprendizagem buscando alcançar as expectativas dos conhecimentos a serem ensinados, para isso, fazem significativo uso de diferentes materiais.

Frequentemente, os profissionais da educação atuam de forma muito criativa para estimular todos os alunos e alunas de suas turmas com distintos interesses e diferentes níveis de aprendizagem. Desta forma, é comum que educadores utilizem, diversos materiais a fim de confeccionar enfeites, ferramentas e instrumentos que possam colaborar com a aprendizagem das crianças. Por isso comumente encontramos em salas de aula, especialmente nos anos escolares iniciais, diferentes tipos de cartazes, jogos, brinquedos e instrumentos que visam colaborar com a aprendizagem das crianças.

Imagem: Freepik.

Pensando sobre as práticas escolares, sabemos que a aprendizagem deve ser atual e coerente com as demandas que vivemos, assim, um tema que tem sido trabalhado e estimulado no ambiente escolar é a questão da sustentabilidade. Considerando especificamente esta temática, proponho que façamos uma reflexão sobre o uso de materiais no ambiente escolar.

Educadoras e educadores elaboram diversos tipos de projetos com a temática da sustentabilidade, o que pode gerar um conflito, se pensarmos que utilizam grandes quantidades de materiais descartáveis, difíceis de serem reciclados ou até não recicláveis no cotidiano das aulas. Para desenvolver diversas atividades, muitos tipos de papéis são usados de forma desmedida, além de materiais específicos como EVA, glitter, colas, fitas adesivas, tecidos e diversos outros tipos de materiais que, geralmente, são descartados posteriormente.

EVA (emborrachado) com glitter. / Imagem: Magazine do EVA.

Como podemos compreender este fato? Tal prática acontece por falta de reflexão sobre o próprio trabalho? Será que o uso excessivo de materiais acontece devido à pressão exercida por gestores, familiares ou até pelo governo para cumprir as expectativas de aprendizagem? Ou será que profissionais da educação não encontram outra maneira de adequar seu trabalho?

É importante compreendermos que, possivelmente, os profissionais da educação não possuem alternativas para trabalhar de maneira mais sustentável, pois algumas vezes já recebem atividades prontas para serem aplicadas, como também trabalham com os materiais disponibilizados nas escolas. Apesar disso, é importante que haja conscientização quanto ao uso dos materiais oferecidos ou adquiridos de modo que os trabalhos ocorram de forma consciente, evitando desperdício e promovendo reutilização ou descarte adequado.

Imagem: Freepik.

Para uma prática mais sustentável, entretanto, são necessárias adaptações para além dos trabalhos dos educadores, compreendendo a toda instituição escolar e seus responsáveis. Desse modo, os materiais disponibilizados podem ser mais adequados, assim como deve ser oferecido apoio, atualização e aperfeiçoamento destes profissionais para que se sintam motivados e amparados a tornarem seu trabalho mais sustentável.

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MATTARA, Bianca. Sustentabilidade na Escola – Como é o uso de materiais na prática escolar?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/sustentabilidade-na-escola-como-e-o-uso-de-materiais-na-pratica-escolar.html>.

Moda e Sustentabilidade: o poder das nossas escolhas!

Não é de hoje que a roupa deixou de exercer somente a sua função prática, que é a de proteger o nosso corpo. Atualmente, ela também desempenha as funções estética e simbólica; essas diretamente associadas a quem somos e ao que acreditamos.

Historicamente, e em diferentes épocas, personalidades transmitiram mensagens através do vestir, diminuindo cada vez mais as fronteiras entre moda e ativismo. Podemos citar, por exemplo, a estilista Katharine Hamnett [1], que utiliza a moda como ponte para o seu ativismo em prol do meio ambiente e de causas sociais. Citamos também a atriz Emma Watson [2], que atualmente declarou apenas apoiar marcas que representem suas crenças.

Katherine Hamnett

A palavra ativismo significa “transformação da realidade por meio de uma ou mais ações práticas”. É quando a gente se opõe não apenas à teoria e partimos para o fazer.

Com as amplas discussões sobre sustentabilidade, a moda se torna um pilar cada vez mais importante para que nós, consumidores, possamos fazer escolhas assertivas. Através dessas escolhas, a roupa passa a atuar não só como uma ferramenta de expressão da nossa individualidade, como também da nossa cultura e crenças: sociais e políticas. É através dessas escolhas que estreitamos relações com nossos posicionamentos, sejam eles associados à causa animal, a condições de trabalho digno e/ou menos impacto ao meio ambiente.

Podemos ver debates cada vez maiores sobre a necessidade de apoiar economias criativas e valorizar produtores locais, onde nossas escolhas vão contra a lógica de um sistema de produção acelerado – que já falamos diversas vezes aqui, degrada o meio ambiente e escraviza pessoas.

Compre menos, escolha melhor, faça durar. / Imagem: Edward Howell/ Unsplash.

Dentro do sistema econômico que vivemos, utilizar o nosso poder de escolha para financiar negócios que acreditamos é fazer o dinheiro chegar até quem está trabalhando em prol da sustentabilidade. Através dessas decisões, garantimos não somente que iremos vestir algo que foi produzido em conformidade com o que acreditamos ser certo, como também incentivamos o crescimento dessas empresas e de toda cadeia produtiva na qual ela faz parte.

Estar nesse lugar de escolha também é sobre fazer perguntas. Sobre olhar para dentro, questionar nossos próprios hábitos de consumo, entender o impacto das nossas decisões e desenvolver consciência. Mas esse é apenas um dos caminhos, dentre tantos outros, para se chegar a um lugar de desejo –habitar espaços onde humanidade e natureza possam coexistir de maneira sustentável, prezando pelo nosso bem estar e pela preservação do planeta.

 

Referências:

 

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AURELIANO, Bruna. Moda e Sustentabilidade: o poder das nossas escolhas!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/moda-e-sustentabilidade-o-poder-das-nossas-escolhas.html>.

Seletividade Hierárquica dos Serviços de Saneamento

Fala-se muito sobre desigualdade social, mas você já observou que há um padrão de iniquidade social e discriminação no acesso aos serviços de saneamento básico? Pense na sua cidade: quais os bairros que sofrem com a interrupção no serviço de abastecimento de água? Quais os bairros que não têm rede de esgoto? Ampliando mais a análise, no Brasil, quais regiões apresentam menores índices de cobertura dos serviços de saneamento?

Imagem: Instituto Trata Brasil.

Se você pensou em bairros periféricos e regiões Norte e Nordeste do Brasil acertou!

Não se engane o saneamento básico compreende serviços de abastecimento de água, drenagem urbana e manejo de água pluviais urbanas, limpeza urbana e coleta de resíduos sólidos, esgotamento sanitário. Ele é responsável por controlar os impactos da urbanização sobre o meio ambiente e a redução dos riscos naturais. Para saber mais, acesse O que é Saneamento Básico? Entenda como funciona essa importante ferramenta de proteção à saúde humana e ambiental.

A ausência das condições adequadas desses serviços essenciais pode contribuir para contaminações dos corpos hídricos e solo, assoreamento dos rios, inundações e, consequentemente, para transmissão de doenças infecciosas.

Imagem: Martin Slavoljubovski/ Pixabay.

Mas, se a saúde também depende do saneamento, por que há desigualdade de acesso?

A primeira hipótese refere-se à incapacidade dos indivíduos de pagarem pela ligação e utilização dos serviços. A segunda, apresenta a influência dos aspectos culturais e educacionais, ou seja, os indivíduos que sabem dos benefícios desses serviços optarão pela adesão. A terceira hipótese é a deficiência na oferta desses serviços, já que, predominantemente, os prestadores são públicos. Portanto, fatores sócio-políticos evidenciam uma seletividade hierárquica (atendimento dos mais favorecidos para os menos favorecidos).

Imagem: Freepik.

Diante desse cenário, observa-se que o desenvolvimento econômico precisa estar associado às políticas públicas. Como corresponsáveis, o que podemos fazer pelo Saneamento Básico?

  1. Ao notar deficiências nos serviços de saneamento, informe aos órgãos e autoridades locais responsáveis;
  2. Preserve os corpos hídricos (rios, lagos, água subterrânea) e o solo; são dos mananciais que ocorre a captação de água para o consumo da população;
  3. Suspeitou de um vazamento de água ou ligação clandestina, informe a concessionária ou órgão de meio ambiente local;
  4. Faça a ligação entre a sua casa e a rede de esgoto da sua rua.
  5. Apoie ações de Educação Ambiental.

Caro leitor, nas próximas eleições valide seu voto pensando “nas obras que ninguém vê”, mas que garantem nosso bem-estar.

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BRITO, Suan Lima. Seletividade Hierárquica dos Serviços de Saneamento. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/seletividade-hierarquica-dos-servicos-de-saneamento.html>.

O Uso de Plantas Medicinais

O uso de chás é uma prática comum em algumas famílias que recorrem às plantas medicinais para curar determinadas doenças. Neste período de pandemia que atravessamos surgem informações, sem nenhuma base científica, sobre plantas, alimentos, produtos naturais que curam ou previnem a Covid-19.

A correta identificação, além de informações sobre o uso adequado e manejo das plantas medicinais, se fazem necessárias, pois, a automedicação e o perigo da identificação incorreta é um assunto preocupante e extremamente perigoso para a saúde. Também é preciso despertar para o uso responsável destas plantas, desmistificar esta questão de que o que é natural é sempre seguro, pois pode ser nocivo à saúde, como qualquer outro produto, se usado incorretamente.

Imagem: Tumisu/Pixabay.

Como alerta o Ministério da Saúde (BRASIL, 2020), a população deve tomar cuidado com as informações que recebe e compartilha nas redes sociais, principalmente aquelas informações que garantem uma solução milagrosa, sem evidência científica. Muitas plantas caem no conhecimento popular, mas suas propriedades podem não ser tão benéficas, ou a forma de uso não é correta e, em determinadas situações, acabam agravando os problemas existentes. Por isso, vale reforçar que qualquer tratamento deve ter indicação de profissional de saúde.

Conforme consta na portaria 971/2006 do Ministério da Saúde, o Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica, com a maior diversidade vegetal do mundo, ampla sociodiversidade, uso de plantas medicinais vinculado ao conhecimento tradicional e tecnologia para validar cientificamente esse conhecimento.

Imagem: Freepik.

Muitas plantas passaram a ser estudadas e ter maior embasamento científico, sendo aliadas da medicina para combate a diversas doenças, tanto na prevenção quanto na cura. Mas, segundo dados do Ministério da Saúde (2012), entre as 250 mil e 500 mil espécies de plantas estimadas no mundo, apenas pequena percentagem tem sido investigada fitoquimicamente, fato que ocorre também em relação às propriedades farmacológicas, nas quais, em muitos casos, existem apenas estudos preliminares.

Foram realizados estudos recentes sobre plantas medicinais utilizadas no combate à Covid-19 e se observou eficácia naquelas utilizadas para infecções no trato respiratório e com possíveis efeitos antivirais (Zhang et al. p. 24, 2020).

As plantas medicinais são produtos tradicionais para o tratamento de enfermidades, contudo, é importante fazer a identificação correta e conhecer suas propriedades e o seu uso não deve ultrapassar muito tempo. Recomenda-se utilizar por até uma semana o mesmo chá e a forma mais comum utilizada pela população é por infusão (coloca-se a planta verde ou seca na xícara, adiciona-se água fervente, tampa-se e deixar repousar). A decocção é feita para raízes, caules ou cascas, onde estas partes da planta são fervidas juntamente com a água.

Imagem: Clker-Free-Vector-Images/ Pixabay.

Segundo Lorenzi (2008), os princípios ativos das plantas medicinais provocam reações benéficas ao organismo, resultando na recuperação da saúde. Ele também reforça que é preciso conhecer bem as plantas medicinais de cada região, para assim descobrir como as plantas podem, realmente, ajudar na recuperação e na manutenção do bem-estar. Desta forma, será possível repensar os conceitos de saúde, doença e tratamentos estabelecidos.

Ao procurar fontes confiáveis de informações sobre identificação e princípios ativos para escolha da planta é possível fazer o emprego correto, utilizando plantas medicinais selecionadas com eficácia e segurança terapêutica, baseadas na tradição popular ou cientificamente validadas como medicinais.

No Brasil, a partir da década de 1980, diversos documentos foram elaborados para a introdução das plantas medicinais e fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje temos as Práticas Integrativas e Complementares (PICs) que se enquadram no que a Organização Mundial da Saúde (OMS) denomina de medicina tradicional e medicina complementar e alternativa. As PICs ampliam as opções terapêuticas e melhoram a atenção à saúde da população, contemplando plantas medicinais e fitoterápicos. É válido ressaltar que cada município e estado tem suas próprias políticas, cabendo aos cidadãos informarem-se e cobrarem das autoridades, sobre projetos na área.

Imagem: Freepik

A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Decreto 5.813/2006) objetiva garantir o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicas, além de promover o uso sustentável da biodiversidade e desenvolver a cadeia produtiva e a indústria nacional.

Para maiores informações, há resoluções da ANVISA sobre as drogas vegetais e demais documentos e registro de cerca de 500 fitoterápicos, com estudos sobre cada uma destas espécies e também vários estudos científicos sobre demais plantas medicinais. Outra fonte confiável para consulta é o livro “Plantas Medicinais do Brasil: nativas e exóticas” de Harri Lorenzi e Francisco José de Abreu Matos que contempla 394 espécies da flora nativa e exótica cultivadas no país.

Referências:

  • ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Resolução-RDC nº 14/2010. DOU nº 63, 5 de abril de 2010. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf>.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica/Ministério da Saúde. Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 156 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica n. 31).
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: <https://antigo.saude.gov.br/fakenews/47213-alimentacao-e-fake-news>.
  • BRASIL. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006, Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde.
  •  LORENZI, H.; MATOS, F. J. de A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008.
  • ZHANG D.; WUB K.; ZHANG X.; DENG S.; PENG B. In silico screening of Chinese herbal medicines with the potential to directly inhibit 2019 novel coronavirus. J Integr Med 2020; 18(2): 152-158.

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MAIRESSE, Nathália. O Uso de Plantas Medicinais. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/12/o-uso-de-plantas-medicinais.html>.

Compras Públicas Sustentáveis: A importância da visão sustentável nos negócios

Em 2020, a população mundial foi confrontada com os desafios da pandemia provocada pela rápida disseminação do Coronavírus que provocou (e continua provocando) significativas transformações sociais devido à necessidade do distanciamento. Em paralelo, porém, outro problema precisa ser tratado de forma eficaz e imediata para preservar as gerações presentes e futuras: as mudanças climáticas.

Apesar de diferentes, é possível fazer um paralelo entre os dois problemas, na medida em que surge grande oportunidade para que a saída pós-pandemia passe por “estratégias verdes”. Nesse ponto, indica-se aqui a possibilidade de introdução de critérios sustentáveis nos negócios como um todo (públicos ou privados) como forma de alavancar processos que no mesmo plano possam ser eficientes e contribuam para a melhora do meio ambiente.

Imagem: Freepik.

No caso das compras públicas, a busca de inclusão do critério da sustentabilidade nas Contratações Públicas remete à ideia de consideração das externalidades ambientais negativas e o custo ambiental de todo o processo de produção (“do berço ao túmulo”) que, mesmo em circunstâncias de crise, pode ser considerado. Isso porque o desenvolvimento sustentável (ambiental-econômico-social) com Contratação Pública impõe uma análise ampla desse processo.  Ora, o Estado pode desconsiderar, por exemplo, os custos com saúde da população ocasionados pelo produto “mais barato” com base no menor preço, o que em longo prazo terá sido menos benéfico.

Para tanto, é preciso utilizar a Avaliação do Ciclo de Vida (Life Cycle) de produtos e ponderação de toda a cadeia produtiva para prática de obras ou serviços requeridos pelo Poder Público. A ideia de circular não é mera coincidência, mas sim a concretização das ideias já apontadas como Economia Verde (Green Economy), Economia Circular (Circle Economy), Desenvolvimento Sustentável (Sustantable Development), Consumo Sustentável (Sustentable Consumption), reaproveitamento/reciclagem de produtos, enfim, com a consideração de todo o ciclo de vida e da defesa do meio ambiente como política pública estratégica [1].

Imagem: Freepik.

A adoção das compras públicas sustentáveis no Brasil passou a ser, inclusive, uma exigência legal e, assim sendo, tornou-se pilar norteador das Contratações Públicas (art. 3º – Lei nº. 8.666/93). No intuito de balizar ainda mais os parâmetros a serem cumpridos pela Administração Pública na escolha de bens, serviços ou obras em consonância com os preceitos ambientais, o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Federal brasileiro editou a Instrução Normativa nº. 01/2010 que visa considerar os processos de extração ou fabricação, utilização e descarte dos produtos e matérias-primas [2].

Diante disso, observa-se que o Estado brasileiro deve passar por uma (re)leitura verde para cada vez mais tornar políticas públicas ambientais como estratégicas para consolidação do Brasil no cenário mundial no tema e, assim sendo, torná-lo mais efetivo e conectado com os preceitos do século XXI.

Para mais informações, acesse:

https://lumenjuris.com.br/direito-ambiental/contratacoes-publicas-sustentaveis-2020-2632/p

Referências:

  • [1] “O instrumento-chave de implementação da noção de consumo sustentável é a “análise do ciclo de vida” dos produtos (ACV). Trata-se de uma noção utilizada, tanto nos documentos internacionais referidos, como pela União Europeia, cuja Política de produção e consumo sustentáveis tem nela o seu principal apoio. (…). O que a estratégia de produção e consumo e sustentáveis preconiza é a “neutralização” dos índices de consumo através da análise do ciclo de vida, um instrumento que recomendavelmente será aplicado a todas as fases de produção, utilização e descarte do produto/serviço, para que o consumidor tenha a informação do ónus ambiental, que todas cada uma delas provoca-desde o berço até à cova (from cradle to grave)”. AMADO GOMES, Carla. Introdução ao Direito do Ambiente. 4. ed. Lisboa: AAFDUL, 2018. p. 74.
  • [2] BRITO, Felipe Pires M. de. Contratações Públicas Sustentáveis. (Re)leitura verde da atuação do Estado Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

PIRES, Felipe. Compras Públicas Sustentáveis: A importância da visão sustentável nos negócios. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/compras-publicas-sustentaveis-a-importancia-da-visao-sustentavel-nos-negocios.html>.

Calçados feitos com calças jeans descartadas: Reciclagem, Upcycling e Moda Sustentável!

A indústria da moda é uma das mais vorazes em consumo de recursos naturais e uma das mais poluentes do planeta. Por trás daquela sua calça jeans, por exemplo, está um processo de produção que consome grandes quantidades de água, energia e corantes a base de produtos químicos altamente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Uma simples camisa de algodão “esconde” aproximadamente 2.700 litros de água. Além disso, outra preocupação, ofuscada em meio a tantos impactos, é a geração de resíduos – são geradas 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano no Brasil, conforme dados do SEBRAE.

Descarte inadequado de resíduos têxteis./ Imagem: Diário do Litoral.

Mas em meio a tantos fatos ruins, felizmente existem cada vez mais iniciativas e empresas que buscam mudar essa realidade, através de ações que impactem positivamente o meio ambiente e a sociedade. Esse é o caso da EcoModas, uma empresa fundada com foco na preservação do planeta. A empresa do setor têxtil, além de produzir peças de vestuário, como o próprio nome da empresa sugere, também atua fortemente com conscientização ambiental, fruto da preocupação de seus diretores, Adriana Santos e Alex Santos, com todos os impactos negativos que a indústria da moda causa ao meio ambiente.

Como vimos, o jeans tem um impacto muito grande durante o processo de produção e ao ser descartado incorretamente continua impactando negativamente o meio ambiente, sendo entulhado em aterros. Buscando minimizar esse impacto pós-consumo, entram em cena a reciclagem e o upcycling, processos realizados pela EcoModas onde calças jeans usadas ganham vida nova se transformando em calçados lindos, cheios de estilo, confortáveis e com design ecológico.

Calçado da EcoModas feito a partir de jeans reciclado. Imagem: EcoModas.

Os calçados em jeans reciclado são feitos sob demanda (o que possibilita a não geração de grandes estoques) com calças jeans que a empresa recebe através de doações. Além disso, e como um grande bônus, todo o desenvolvimento do produto é pensado de forma sustentável, já que o solado é produzido com plástico e borracha reciclados e o forro é feito a partir de garrafas PET, transformadas em tecido.

Maravilhoso não é mesmo? Mas não é só isso! A EcoModas, que ao longo dos últimos anos se destacou no mercado nacional por transformar toneladas de materiais que iriam para aterros em novos produtos, também possui outros produtos em seu portfólio: carteiras, nécessaires, estojos, ecobags e bags de notebook feitas a partir da reciclagem de outros materiais – banners e câmaras de ar de pneus.

Bolsa feita com câmara de ar de pneus reciclada. / Imagem: Divulgação EcoModas.

Além dos produtos feitos a partir da reciclagem de banners comercializados no site, a empresa também atua em parceria com empresas que buscam a reutilização de banners e lonas utilizadas em campanhas de mídia externa. Tendo em vista que o descarte desses materiais em aterros é problemático – o material do qual são feitos esses banners (vinil) é um polímero que possui em sua composição vários poluentes (cloro, etileno e tramas de poliéster) – a EcoModas produz brindes utilitários a partir desses materiais para empresas interessadas nesse tipo de upcycling.

Bag de Notebook feita com banners reciclados. / Imagem: EcoModas.

E o propósito sócio-ambiental da EcoModas vai mais além, já que a empresa também reutiliza cones de linhas de costura industrial vazios para cultivar árvores que são usadas para enriquecer a flora e preservar nascentes através do Projeto Viveiro Educandário.

Para conhecer mais a EcoModas, acesse:

Referências:

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ABREU, Nathália. Calçados feitos com calças jeans descartadas: Reciclagem, Upcycling e Moda Sustentável!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/calcados-feitos-com-calcas-jeans-descartadas-reciclagem-upcycling-e-moda-sustentavel.html>.

Cataflix: a Reciclagem por quem faz ela acontecer – Você precisa assistir essa série!

Cada brasileiro produziu, em média, 380 kg de resíduos (“lixo”) em 2018, o que equivale a 79 milhões de toneladas no Brasil inteiro, segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos, relatório da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). E quando pensamos na destinação correta, dentre as quais a reciclagem, os catadores e catadores de materiais recicláveis têm um papel crucial nesse processo, pois são eles que coletam diariamente cerca de 90% de tudo que é reciclado no Brasil, segundo dados do IPEA.

Apesar de toda a importância que possuem – são os catadores e catadoras que fazem a reciclagem acontecer no país – infelizmente, eles ainda não recebem o merecido reconhecimento da sociedade pelas atividades que desempenham. Baixíssima remuneração e condições de trabalho que estão longe de serem as ideais são só alguns exemplos do que esses profissionais enfrentam diariamente.

Imagem: Pimp My Carroça.

Justamente para mudar essa realidade que o movimento Pimp My Carroça foi criado em 2012. E desde então, mais de 2000 catadores e catadoras já foram atendidos. O reconhecimento do projeto, que tem como foco o reconhecimento social e econômico desses importantes profissionais, fez com que atravessasse as fronteiras brasileiras sendo replicado em cerca de 50 cidades de 14 países diferentes.

E não para por aí! O Pimp My Carroça acaba de lançar uma novidade para dar mais visibilidade aos catadores e catadoras de materiais recicláveis: o Cataflix, uma série disponibilizada gratuitamente no canal do Youtube do Pimp My Carroça. Visando a criação de conteúdo relevante sobre a reciclagem e o universo dos catadores e catadoras, a série é apresentada pelos próprios catadores que se transformaram em youtubers para nos apresentar suas rotinas de trabalho e todos os desafios enfrentados diariamente.

Resultado de uma parceria entre Pimp My Carroça e Nestlé, o Cataflix é gravado em São Paulo e possui (assim como o Pimp My Carroça e seu aplicativo Cataki) relevância nacional com vídeos e depoimentos de catadores do país inteiro. Além disso, a série conta também com a participação de especialistas que colaboram com cada um dos temas abordados nos episódios. Outro diferencial são os cenários: um grafiteiro diferente é convidado para pintar um painel que retrate o tema de cada um dos episódios.

Imagem: Divulgação Pimp My Carroça.

O Cataflix terá frequência quinzenal, ou seja, a cada duas semanas será lançado um novo episódio. O primeiro e o segundo episódio, lançados no dia 30/10 e 13/11, já estão disponíveis no Youtube. O terceiro episódio será lançado amanhã, dia 27/11. Nessa primeira temporada a série contará com cinco episódios, sendo sempre apresentada por uma dupla de catadores youtubers.

“O público da série é tanto o gerador de resíduos (nós) quanto o próprio catador, até porque um não vive sem o outro”. João Bourroul, coordenador de comunicação do Pimp My Carroça.

Confira abaixo o guia dos episódios da primeira temporada do Cataflix:

Episódio 1 – Sou catador com muito orgulho! 

Qual a importância das catadoras e catadores para o Brasil? Qual a necessidade de remunerar o trabalho dos profissionais da reciclagem? Por que os catadores sentem orgulho de sua profissão?

No episódio de estreia, o Cataflix traça um panorama geral sobre as dificuldades e as belezas do trabalho dos catadores. Também são abordados os seguintes temas: a importância do reconhecimento e da remuneração da sociedade pelos serviços prestados pelos catadores; o valor de alguns dos principais materiais coletados pelos catadores; e a trajetória do Pimp My Carroça e do seu aplicativo Cataki.

Clique aqui para assistir.

Episódio 2 – Catadores contra a Covid-19

Como os catadores podem se proteger da Covid-19? Essa é a pergunta que o segundo episódio da série vai responder. Spoiler: a responsabilidade também é dos geradores de resíduos (nós).

Os catadores e catadoras são trabalhadores muito expostos ao novo coronavírus, pois além de trabalharem o dia todo na rua, esses profissionais precisam manusear materiais potencialmente contaminados. Os catadores-youtubers Anne e Carlão dão algumas dicas sobre como os catadores têm se protegido e como o gerador de resíduos pode – e deve – contribuir para a proteção desses trabalhadores tão essenciais para a limpeza urbana e para o meio ambiente.

Clique aqui para assistir.

Episódio 3 – História dos catadores no Brasil e no mundo (Previsão de estreia: 27/11)

O lixo é um problema que acompanha a humanidade desde os tempos da Grécia Antiga e quanto mais nos desenvolvemos mais lixo geramos. Hoje os catadores são encontrados em praticamente todos os países do mundo, inclusive no Brasil, onde se espalham pela maioria das cidades.

Mas nem sempre foi assim. Como toda profissão, a atividade dos catadores tem uma origem que data de muitos séculos atrás e sua trajetória acompanha e reflete algumas das principais transformações da humanidade ao decorrer de sua história. O terceiro episódio da série é uma viagem no tempo pela trajetória dessa profissão tão essencial, mas, infelizmente, ignorada.

Imagem: Conexão Planeta.

Episódio 4 – Destinação correta dos resíduos (Previsão de estreia: 11/12)

A separação e a destinação correta dos resíduos, o que comumente chamamos de lixo, é o tema do quarto episódio da série.

E ninguém melhor que os catadores e catadoras para contar sobre a melhor forma para o gerador de resíduos (nós) separar e destinar os materiais de sua casa. Lembrando que depois de consumir um produto, aquela embalagem não desaparece! Ela segue existindo e, se você fizer sua parte – destinando corretamente a embalagem, além de ajudar a gerar renda para o trabalhador da reciclagem, também contribui para um planeta menos poluído.

Episódio 5 – Saúde dos catadores (Previsão de estreia: 18/12)

A tração humana de carroças está longe de ser o modelo ideal para catadores e catadoras de materiais recicláveis, mas é o modelo mais comum hoje em dia.

Pensando na redução de danos, o último episódio da primeira temporada do Cataflix traz dicas práticas para o profissional da reciclagem manter a saúde em dia mesmo diante das dificuldades e dos riscos da coleta na rua.

Para acompanhar a primeira temporada do Cataflix, clique aqui e acesse o canal do Pimp My Carroça no Youtube.

Para conhecer mais sobre o Pimp My Carroça acompanhe:

E para ficar por dentro do Cataki, o aplicativo criado pelo Pimp My Carroça, acompanhe:

Sugestões de Leitura:

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ABREU, Nathália. Cataflix: a Reciclagem por quem faz ela acontecer – Você precisa assistir essa série!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/cataflix-a-reciclagem-por-quem-faz-ela-acontecer.html>.

Empresa oferece soluções para a logística reversa de embalagens

Na sua próxima ida ao mercado, repare nas embalagens de alguns produtos, como caixas e garrafas de suco, produtos de limpeza, artigos para animais de estimação e itens de cuidado e higiene pessoal. Algumas delas trazem o selo “eureciclo” impresso.

Mas você sabe o que esse selo significa?

O selo Eureciclo faz a ponte entre marcas de bens de consumo com recicladores, promovendo reciclagem com responsabilidade social, através da compensação ambiental. Ele foi idealizado para solucionar duas questões principais: a destinação final de embalagens geradas por empresas e marcas e a marginalização dos agentes da cadeia de reciclagem.

Assim, é possível dar um destino ambientalmente correto à uma massa de resíduos equivalente à massa das embalagens que uma empresa coloca no mercado.

Imagem: eureciclo

Então toda vez que você encontrar uma embalagem com selo “eureciclo” você pode ter certeza que essa empresa investe na cadeia de reciclagem! Isso só acontece porque, para adotar o selo, a empresa deve realizar o pagamento pelo serviço de coleta e triagem prestado pelos operadores de reciclagem.

Eureciclo homologa os operadores parceiros de coleta e triagem de resíduos recicláveis e checa a consistência do processo de forma escalável e segura, priorizando sempre a transparência e a inclusão. Do outro lado deste processo, estão as empresas que investem na cadeia de reciclagem, gerando incentivos para o desenvolvimento destes operadores.

As marcas que participam deste processo, recebem o selo eureciclo para estampar suas embalagens e comunicar seu compromisso aos consumidores.

Imagem: eureciclo

Todo esse processo é certificado visando o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), comprovando a logística reversa de suas embalagens e adequando-as à legislação ambiental vigente.

O objetivo da iniciativa é elevar a taxa de reciclagem no país, que atualmente gira em torno de 3%. Quando impresso em uma embalagem, o selo certifica que a empresa destina recursos à cadeia de reciclagem, através da compensação ambiental de pelo menos 22% das suas embalagens, conforme a meta nacional atual prevista na PNRS.

Essa meta é progressiva (34% em 2023, 40% em 2027 e 45% em 2031) e busca direcionar as empresas a adequarem seus processos. A boa notícia é que algumas marcas certificadas compensam 50%, 100% e até 200% de suas embalagens.

Muito bacana né? Já foram mais de 90 mil toneladas compensadas e mais de 2.900 marcas estão apoiando a cadeia de reciclagem em um movimento de incentivo à criação de um mundo mais sustentável.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Empresa oferece soluções para a logística reversa de embalagens. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/eureciclo-solucoes-logistica-reversa-embalagens.html>.

Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas

Uma parceria entre a Sagui, uma marca de óculos, e o Estúdio RatoRói que desenvolve novas superfícies com materiais reciclados da recuperação de embalagens e sacolas plásticas, resultou em óculos sustentáveis.

A ideia surgiu quando o designer Felipe Madeira percebeu o alto preço dos acetatos importados e, começou a pesquisar um material sustentável, há quatro anos. A sua ideia de reutilizar tubos de pasta de dente foi inspirada nas telhas produzidas com este mesmo material.

Em 2017, o designer Felipe Pinto conheceu a RatoRói. Eles uniram suas tecnologias e começaram a criar e produzir, em um processo exclusivo, armações que levassem material residual em sua composição e tivessem um design moderno.

Imagem: Sagui (divulgação)

Mas como é feito?

Os tubos de pasta e as sacolas plásticas são transformados em uma chapa, depois moldada e cortada nos formatos dos óculos, tanto de grau quanto de sol. Cada par é único, já que a cor das armações depende do material pois, na reciclagem a textura e cor dos tubos de pasta e das sacolinhas criam padrões aleatórios.

Para cada armação, na média de 3 a 5 tubos de pasta de dente, descartados pela indústria, e uma sacola plástica são ressignificados.

Imagem: JR Óptica

A Sagui possui 12 modelos disponíveis em 6 padrões de cores distintos, totalizando 72 modelos para melhor atender ao perfil dos consumidores. A produção mensal é de 180 unidades e o custo de produção chega a ser 70% menor do que óculos tradicionais de acetato.

Os modelos estão à venda através do marketplace Nossa Nova.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas. Autossustentável. Disponível em: <Designer cria óculos feitos com tubos de pasta de dente e sacolas plásticas>.

A Reciclagem sozinha vai salvar o planeta?

Falamos muito sobre reciclar aqui na Autossustentável e sobre toda a importância desse processo para diminuição do impacto que temos no meio ambiente, seja considerando a reciclagem como instrumento para mitigar a poluição, ou como alternativa para menor extração de recursos naturais do planeta.

Mas é preciso entender que a reciclagem é parte (ou deveria ser) da destinação correta de todos os resíduos que geramos (comumente chamados de “lixo”). Por isso não podemos esquecer que a reciclagem faz parte de um processo maior, a gestão de resíduos urbanos – uma dos quatro componentes do saneamento básico no Brasil, clique aqui para saber mais.

Charge: Gilmar.

Além disso, ampliando um pouco mais nossa percepção, em um exercício de melhor compreensão de nosso papel enquanto cidadãos, consumidores e habitantes deste planeta cada vez mais prejudicado, a reciclagem é também parte de um processo de reeducação, onde a mudança de hábitos de consumo está ligada ao despertar da consciência socio-econômica-ambiental. Complicou? Calma que estamos juntos nessa jornada!

Tudo começa bem antes de nos depararmos com o todo o “lixo” gerado em nossas casas: latas e potes de alumínio, garrafas PET, potes de vidro, celulares e baterias, roupas que não usamos mais, eletrodomésticos, restos de alimentos e tantos outros tipos de coisas que precisamos descartar.

Reciclagem um dos 7 R’s da Sustentabilidade

Inicialmente pode parecer estranho, mas a sustentabilidade tem uma relação muito próxima com a economia e com a forma como consumimos. Quanto mais conscientes de nosso papel e quanto mais exigentes com as empresas das quais consumimos e com os governantes que nos representam, mais próximos estaremos de reduzir nossa pegada ecológica – ou seja, a pressão que nosso ritmo e hábitos de consumo geram sobre os recursos naturais e o planeta como um todo.

Ave atingida por vazamento de petróleo. / Imagem: Pensamento Verde.

Podemos começar a mudança de hábitos de consumo ao planejar nossas compras, pensar com calma e cuidado sobre o que vamos consumir. Aí entra em cena o que conhecemos como os R’s da Sustentabilidade, que nada mais é do que o processo de reavaliar nossa relação com o consumo, de despertar a consciência e entender a responsabilidade que temos, compartilhada com empresas e governos, em manter essa grande casa que nos acolhe habitável para nós, para as gerações futuras e para todas as espécies de fauna e flora.

Repense!

É muito comum ao entrar em mercados e lojas sem uma lista definida do que realmente precisamos, acabemos incluindo na cesta ou no carrinho produtos que não precisamos. As promoções são válidas apenas quando adquirimos um produto ou serviço que vamos de fato utilizar, isso ambientalmente e economicamente! Isso é válido também para compras online. Repense: consumo consciente é bom para o seu bolso e para o planeta!

Recuse!

Seguindo a mesma linha de raciocínio e pensando em nosso poder como consumidores, recuse produtos e serviços de empresas que não estejam comprometidas em melhorar sua atuação social e ambiental. Empresas que poluem o meio ambiente ou que não entendam a necessidade de ações voltadas para a inclusão social – aqui vale observar se a empresa possui políticas afirmativas para a contração de mulheres, negros, indígenas, portadores de alguma deficiência, LGBTQUIA+ – normalmente estão focadas apenas no lucro financeiro.

Imagem: Yvette W/ Pixabay.

Reduza!

Vamos a um exemplo prático: você vai ao mercado comprar 1 litro suco, o sufuciente para você passar o mês. Mas chegando ao mercado você se depara com a seguinte promoção: leve a embalagem de 2 litros de suco e pague apenas 1,8 litro. O primeiro impulso é comprar, mas será que essa quantidade toda de suco (1 litro a mais do que você consome normalmente) vai ser realmente consumida por você durante o mês? Será que esse suco não vai estragar justamente por levar mais tempo para ser consumido? Junto da quantidade maior de suco, vem uma embalagem maior, que precisou de mais matéria-prima para ser produzida, precisou também de mais água e mais energia. Quando for comprar alguma coisa, pense em como reduzir a quantidade de lixo que será gerado com aquilo e evite excessos de consumo.

Repare!

Quebrou? Tente consertar. Rasgou? Tente costurar. Soltou? Tente encaixar. Descolou? Tente colar. Seguimos em um ritmo tão frenético de consumo que quando algum produto apresenta alguma falha o primeiro impulso é descartar e adquirir um novo. Muitas vezes esse produto ainda possui uma vida útil considerável e descartamos, perde o meio ambiente, perde seu bolso.

Imagem: Pixabay.

Reutilize!

Vivemos na era digital onde em um clique ou deslizada de tela aprendemos a fazer coisas incríveis com objetos e produtos que temos em casa, dando vida nova e com utilidades bem criativas. O DIY – Do It Yourself, traduzindo, o “faça você mesmo” além de ser econômico também leva a termos em nossas coisas peças únicas, dando um toque de originalidade e personalidade.

Além disso, também é muito positivo quando adotamos o hábito de adquirir produtos que sejam reutilizáveis, como: guardanapos de pano, sacolas retornáveis, fraldas de pano e embalagens reutilizáveis para armazenar alimentos ao invés das descartáveis.

Recicle!

Finalmente chegamos à reciclagem! Viu só como são vários os passos até chegarmos aqui como consumidores? A reciclagem deve ser pensada quando todas as outras alternativas anteriores já foram esgotadas.

Imagem: Pete Linforth/ Pixabay.

E o que pode ser reciclado? Conforme expliquei em um de meus artigos aqui na Autossustentável – Não existe jogar fora! Saiba como descartar corretamente seu lixo – os recicláveis são geralmente as embalagens do que consumimos: plástico, alumínio (refrigerante, cerveja, enlatados em geral), vidro (garrafas), papel (cadernos, cartas, correspondências), e isopor (embalagens). Eles são facilmente reconhecidos pelo símbolo da reciclagem contido nas embalagens.

Reintegre!

Essa parte do processo é pensada para materiais que não podem ser reciclados, como a matéria orgânica, que é tudo aquilo que tem origem biológica. Reintegrar é retornar à terra tudo aquilo que ela nos ofereceu, fechando o ciclo natural. Através da compostagem dispomos restos de alimentos, cascas, sementes, saches de chá e café, folhas de árvores, buchas vegetais e colher desse processo adubo para nutrir a terra e nossa hortinha caseira.

E por que apresentei tudo isso a você em um texto que fala sobre reciclagem? Porque precisamos entender que a reciclagem sozinha não é capaz de dar conta de todo o lixo os resíduos que produzimos. Reciclar é sem dúvida muito importante para que elementos sejam reintegrados novamente à cadeia de produção, mas se continuarmos a consumir e descartar na velocidade atual, os impactos continuarão crescentes.

Fonte: Wikimedia Commons.

Outra situação preocupante é que no Brasil o índice de reciclagem é muito baixo. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019, documento elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), das 79 milhões de toneladas de lixo resíduos geradas pelo Brasil em 2018, estima-se que apenas 3% foram de fato recicladas, mesmo o potencial de reciclagem sendo de 30%.

Sugestão de Leitura:

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ABREU, Nathália. A Reciclagem sozinha vai salvar o planeta?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/a-reciclagem-sozinha-vai-salvar-o-planeta.html>.

Unidades de Conservação que inspiram nossas paisagens

As Unidades de Conservação (UCs) foram criadas por ato do Poder Público (Lei 9985/2000) a partir de estudos técnicos prévios e consulta pública que permitiram identificar a localização, dimensão e seus limites mais adequados. Desta forma, as UCs foram criadas com o objetivo de conservação de recursos ambientais e possuem limites definidos, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção.

São os mosaicos e corredores ecológicos, que promovem a conservação da sociobiodiversidade, dos serviços ambientais e de oportunidades de negócios. Este último ponto mostra a importância dessas áreas, afinal aliar a conservação do meio ambiente com a rentabilidade das pessoas é o cerne da sustentabilidade. E as populações tradicionais residentes são consideradas no documento, inclusive indenizadas ou compensadas. Quando não há realocação, podem conviver com a UC sob normas e ações específicas, de forma que seus modos de vida e os objetivos da unidade estejam assegurados.

Parque Nacional Serra da Capivara. / Fonte: Adventure Club.

Na prática, são as áreas mais bem representativas dos ecossistemas em seu estado natural. Percorrendo o país, é comum passar por amplas áreas modificadas e alguma unidade de conservação se destacar como ilhas preservadas nesse cenário de paisagens profundamente antropizadas (cidades) ou alteradas (demais áreas). Cada uma deve dispor de um plano de manejo, que são regras específicas, como áreas de visitação, de proteção ou pesquisa, mas nem sempre está presente, como se pode ver no Painel das Unidades de Conservação Brasileiras.

Neste painel, é possível acessar relatórios detalhados sobre todas as UCs do país, facilitando a tomada de decisões, além de ser uma forma de fiscalização delas por parte dos governantes e dos cidadãos. Outras informações, ainda mais detalhadas, podem ser geradas na forma de relatório parametrizado de unidades de conservação. É importante ressaltar que, embora sejam muito importantes e de extrema valia, estes sistemas estão cheios de lacunas, ou seja, há muitas informações que ainda não foram disponibilizadas ou não foram estudadas in loco.

As primeiras UCs do mundo ocidental foram implantadas por sua beleza excepcional, como é o caso do Grand Canyon nos EUA (Arizona), considerado uma das 7 maravilhas naturais do mundo, o Parque Nacional de Yellowstone (o mais antigo do mundo, inaugurado em 1872), o Parque Nacional de Everglades (1947, hoje é patrimônio mundial pela UNESCO) e o Parque Nacional do Itatiaia, o mais antigo do Brasil, criado em 1937. Atualmente, outros critérios, além da paisagem propriamente dita, são considerados na criação de uma área protegida.

Parque Nacional de Itatiaia./ Fonte: Wikimedia

A ciência (ou arte) de planejar a paisagem tem tudo a ver com as Unidades de Conservação do Brasil, afinal, estes locais são verdadeiros refúgios para a vida silvestre animal, vegetal ou microscópica. Nossas paisagens podem ser planejadas para serem um reflexo dos nossos biomas de origem, que são encontrados em melhor estado justamente nas UCs, principalmente aquelas de Proteção Integral. Nossas áreas protegidas podem ser uma inspiração para o planejamento das paisagens urbanas, semi-urbanas e rurais. E o Paisagismo planejado, preferencialmente, com plantas nativas, tem um potencial conservacionista muito maior que o paisagismo convencional (“Paisagismo de condomínio”), podendo se tornar um grande aliado na conservação ex-situ de espécies vegetais ameaçadas de extinção.

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PAIVA, Leonardo. Unidades de Conservação que inspiram nossas paisagens. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/unidades-de-conservacao-que-inspiram-nossas-paisagens.html>.

É melhor abrir um MEI (Microempreendedor Individual)?

As relações de trabalho vêm se transformando já faz tempo, mas a pandemia gerou uma nova onda de busca por soluções. Muitos acabaram perdendo o emprego. O home office facilitou que alguns tivessem uma segunda fonte de renda.

A opção de usar o seu carro para atuar como motorista de aplicativo explodiu. Os salões de beleza passaram a ter regras específicas no MEI. As empresas mais do que nunca buscam formas de diminuir seus custos transferindo-os para os empregados que passam a ser terceirizados ou contratos como CNPJ.

O empreendedorismo não é das tarefas mais fáceis, mas está cada vez mais na lista de opções daqueles que precisam encontrar um meio de sustentar a própria família. As mulheres que se tornaram mães estão buscando formas de ficar mais próximas dos filhos ou de ter um rendimento enquanto cuidam de um filho que é pessoa com deficiência. Os aplicativos “sugeriram” que entregadores e motoristas deveriam se formalizar para que pudessem ser contratados.

Imagem: Creative Commons

As razões são muitas, mas o fato é que o número de cadastros como MEI explodiu. De acordo com os dados do Sebrae, em 29/02/2020 tínhamos 9.749.416 cadastrados. No dia 14/11/2020 já eram 11.160.729. Um milhão e trezentos mil novos cadastros.

O MEI se tornou a porta de entrada da formalização, pois é destinado a negócios cujo faturamento anual não ultrapasse R$ 81 mil por ano — média de R$ 6.750 por mês. Ele possibilita que se tenha um CNPJ em nome do microempreendedor, o que facilita para emitir notas, trabalhar para empresas e conseguir empréstimos bancários.

Mas cuidado, o MEI tem uma série de regras que devem ser estudadas com carinho no Portal do Empreendedor. Quem é servidor público ou já tem uma empresa em seu nome não pode se cadastrar como MEI. O MEI também não pode ter sócio, mas pode ter até um empregado. Algumas profissões não podem se cadastrar como MEI.

Portal do Empreendedor

O cadastro do MEI é gratuito, mas é necessário emitir mensalmente uma guia que resume os tributos que o MEI precisa pagar com uma alíquota bem reduzida que vai de R$ 52,25 a R$58,25.  E esse pequeno valor dá direito a benefícios previdenciários como salário-maternidade, auxílio por incapacidade temporária (o antigo auxílio-doença) e aposentadoria.

Então abrir um MEI é a solução da vez? Depende. Como dissemos nem todas as atividades podem ser MEI. E em relação aos direitos perante o INSS é necessário lembrar que se o valor da contribuição é pequeno, o valor do benefício também será. A Previdência Social é um sistema baseado na contribuição, então os benefícios devidos ao MEI serão no valor de um salário mínimo nacional, hoje R$1.045,00.

Imagem: Creative Commons

Sabemos que para muitos não existe opção, abrir um MEI é o que é possível para o momento. Mas, se você tiver opções, considere as possibilidades.

Também é necessário lembrar que apesar de ser uma forma simples e rápida de formalizar sua atividade, você passa a ser empresário e ter todas as obrigações de um empresário. E se você desistir da atividade e não der baixa no cadastro, continuará tendo a obrigação de pagar a DAS. Por esse motivo, muitos acabam buscando o auxílio de contador, a fim de que tudo seja feito da forma correta para evitar dívidas futuras desnecessárias.

Como mencionamos o local de cadastro do MEI é o Portal do Empreendedor. Para perguntas, dúvidas frequentes e informações mais confiável sobre o MEI você pode encontrar no site do Sebrae é a fonte mais confiável de informações sobre o MEI.

Portal Sebrae MEI

Além disso, o Sebrae disponibiliza cursos on-line gratuitos sobre diversos assuntos como MEI (como: Como se tornar um MEI e Como formalizar seu negocio como MEI), vendas, marketing e gestão financeira para pequenos negócios.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

STEFFEN, Janaína. É melhor abrir um MEI (Microempreendedor Individual)?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/mei-microempreendedor-individual.html>.

Como a escolha presidencial americana pode interferir na política ambiental do Brasil?

(Inicialmente, gostaria de informar que este texto respeita as projeções de vitória da chapa Biden/Harris para as eleições 2020 feitas pelas agências de notícias Associated Press, CNN, ABC, entre outras.)

No momento que escrevo este texto, estamos no meio de mais uma polêmica do presidente brasileiro. Na terça-feira, dia 10/11, em uma entrevista coletiva, Bolsonaro disse que “apenas na diplomacia não dá… é preciso pólvora” [1]. Ele se referia a uma fala do presidente-eleito Joe Biden em um debate em que ele propôs investimentos à Amazônia, desde que o Brasil “parasse de destruir a floresta” [2].

Joe Biden, presidente eleito dos EUA. / Fonte: Jonathan Ernst / Reuters.

Várias pessoas já escreveram sobre o que esperar para o Brasil com Biden na presidência dos EUA, mas este é um momento em que líderes começam a definir estratégias nas relações com o novo comandante-chefe da maior potência mundial do ocidente. O que isso tudo quer dizer? Como devemos nos preocupar com o futuro da Amazônia agora que sabemos que Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos?

Trump e Bolsonaro, aparentemente, tiveram uma boa relação nestes últimos dois anos. O presidente brasileiro nunca escondeu sua admiração pelo colega americano [3]. No campo ambiental, os dois têm uma aproximação ideológica: negam o aquecimento global [4]; pregam um desenvolvimentismo agro-industrial e o nacionalismo na política internacional.

Imagem: Isac Nóbrega/PR / Reprodução: Último Segundo IG.

Biden, por outro lado, não compartilha totalmente das mesmas ideias dos dois. Uma das suas pautas de campanha foi o investimento em políticas públicas para diminuição das mudanças climáticas e o retorno dos EUA ao Acordo de Paris. Essas promessas de campanha já aparecem em o que é agora seu plano de governo [5]. Biden espera investir em tecnologia verde e criar empregos nessa área diminuindo a emissão de carbono dos Estados Unidos até 2050.

Pensando na próxima década, líderes se aproximam do presidente-eleito para dialogar sobre, entre outras coisas, o clima do planeta. Boris Johnson, Primeiro Ministro do Reino Unido, convidou Biden para participar da COP26 (Conferência das Nações Unidas para o Clima) em 2021 na Escócia [6]. Lembrando da boa convivência com Trump, Johnson citou ainda que Biden pode contribuir para um “retorno ao tipo de negócio que estamos acostumados a fazer: defender a democracia em todo o mundo, os direitos humanos” [7].

Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson. / Fonte: UK Parliament/Jessica Taylor/Handout via Reuters / Reprodução: G1.

Por trás dessa aproximação existe o entendimento de que Biden não é tão entusiasta quanto Trump da saída do Reino Unido da União Europeia, por isso, será preciso fortalecer as relações diplomáticas entre os dois países. E é assim que se é feito há algumas décadas. Quando um país depende do apoio de outro, ou depende comercialmente, ele busca uma aproximação diplomática estratégica.

A situação do Brasil, neste momento, é tensa. O país investiu muito em uma relação entre líderes, não entre Estados. Por ser um parceiro histórico do nosso país, não acredito que os EUA venham a “escantear” o Brasil. Contudo, na pauta climática, se não houver uma mudança de postura do presidente brasileiro, é possível que aquelas discussões entre França e Brasil vistas em 2019 se repitam, mas, dessa vez, entre Biden e Bolsonaro. No entanto, no caso de uma discussão desses dois últimos, nós teríamos muito mais a perder. As sanções possivelmente impostas ao Brasil por parte dos EUA podem de fato vir a constranger o Executivo brasileiro a fazer o que aquele país quer.

Por um lado, pensando positivamente, isso pode significar que o Brasil volte a investir em política de proteção para a Amazônia, mesmo que a contragosto. Só que, do ponto de vista de Estado, é muito melhor que as políticas partam de uma vontade soberana do que de imposição externa. O que irá de fato acontecer, não sabemos, mas torço para que a apreensão fique apenas como um registro desse momento tenso e não se concretize.

Referências:

[1] O GLOBO. ‘Apenas na diplomacia não dá’, diz Bolsonaro ao citar proposta de Biden sobre Amazônia. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/apenas-na-diplomacia-nao-da-diz-bolsonaro-ao-citar-proposta-de-biden-sobre-amazonia-1-24739152>.

[2] BBC News Brasil. A proposta de Biden para a Amazônia e por que ela irritou Bolsonaro. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54364961>.

[3] Último Segundo IG. Bolsonaro diz “I love you” pra Trump, mas não recebe “te amo” de volta. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-09-25/bolsonaro-diz-i-love-you-pra-trump-mas-nao-recebe-te-amo-de-volta.html>.

[4] El País. Trump sobre relatório climático do seu Governo: “Não acredito”. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/27/internacional/1543283242_634443.html>.

[5] BBC News Brasil. Joe Biden eleito nos EUA: quais são suas propostas em 8 temas cruciais. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54858509>.

[6] Reuters. UK PM Johnson invites Biden to COP26 climate conference next year. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/uk-britain-usa-johnson-biden-cop26-idUKKBN27Q2RN>.

[7] BBC News. Boris Johnson congratulates Joe Biden in phone call. Disponível em: <https://www.bbc.com/news/uk-politics-54892505>.

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OLIVEIRA, Tassi. Como a escolha presidencial americana pode interferir na política ambiental do Brasil?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/como-a-escolha-presidencial-americana-pode-interferir-na-politica-ambiental-do-brasil.html>.

Bucha vegetal: alternativa simples e barata para uma limpeza mais ecológica

Muitas vezes, pela agitação do ritmo de vida, acabamos consumindo produtos sem pensar muito sobre o impacto que uma “pequena” e corriqueira compra pode causar no meio ambiente. A bucha que temos o costume de usar na cozinha, aquela fiel escudeira na limpeza, a esponja de lavar louça sintética de espuma, é um desses casos.

Esse objeto é composto por plástico poliuretano, um material de difícil reciclagem baseado em petróleo e outros componentes químicos sintéticos. Também demoram centenas de anos para se decompor e ainda deixam microplásticos no meio ambiente, podendo ser ingeridos por animais. Uma solução, mais barata e ecológica é a bucha vegetal, cuja matéria-prima é natural e totalmente biodegradável, podendo ser inclusive, reciclada em casa por meio da compostagem. Confira alguns bons motivos para mudar esse hábito de consumo.

Imagem: Wikimedia.

 10 motivos para usar a bucha vegetal

  • Ela vem da natureza.
  • A bucha vegetal é biodegradável.
  • Não gera resíduos durante a sua decomposição e pode ser compostável.
  • É mais eficiente do que a bucha sintética, porque limpa as louças e não risca.
  • Custa bem mais barato.
  • Rende mais, pois pode ser cortada em pedaços e dura cerca de um mês.
  • É mais higiênica, já que demora mais para desenvolver fungos e bactérias.
  • Usando a bucha vegetal, você incentiva os pequenos agricultores a produzirem a planta.
  • Com essa bucha, você vai produzir menos lixo, economizar na compra de esponjas e, se não quiser mais comprar, pode cultivar em casa.
  • O tempo médio de uso é de 2 meses.

Imagem: Faz Fácil Plantas & Jardim.

A bucha vegetal, bucha-dos-paulistas, lufa, ou esponja vegetal, como o próprio nome diz, tem origem em uma planta, mais precisamente uma trepadeira com o nome científico de Luffa Aegyptiaca, própria do clima tropical, nativa do sul e sudeste da Ásia. Seu fruto se assemelha a um enorme pepino que pode chegar até 45 centímetros de comprimento. Essa fibra natural possui diferentes propriedades, como isolante térmico e acústico, pouco inflamável e de grande compactação.

Para quem mora em um ambiente espaçoso, que recebe luz direta do sol, ainda é possível cultivar sua própria bucha vegetal, dentro de vasos ou diretamente no solo. O ideal é um clima quente e úmido, mas pode ser cultivada em temperaturas acima de 16°C.

Imagem: Freepik.

Além de ser usada como esponja de lavar louça, esse material também pode servir como esponja de banho, esponja de limpeza e esfoliante, e até mesmo como palmilha. Outra vantagem é que usando a bucha vegetal você também incentiva os pequenos agricultores que produzem a planta e ainda preserva a sua louça e utensílios dos riscos causados pelos modelos sintéticos.

Para limpar a bucha vegetal e prolongar a sua durabilidade, basta colocá-la de molho uma vez por semana em uma solução de cloro com água por 30 minutos. Essa simples medida a deixa livre de bactérias e branquinha novamente. Ou você pode também fervê-la uma vez por semana por 5 minutos. Outra dica é após o uso, sempre pendure a bucha para mantê-la seca.

Para descartá-la, enxague bem, corte em pedacinhos e coloque na composteira ou descarte com outros resíduos orgânicos. Composte somente se usada com lava louças e sabão biodegradável.

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MATTOS, Litza. Bucha vegetal: alternativa simples e barata para uma limpeza mais ecológica. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/bucha-vegetal-alternativa-simples-e-barata-para-uma-limpeza-mais-ecologica.html>.

Qual sabor a carne tem para a saúde e o meio ambiente?

De acordo com dados do IBGE referentes ao ano de 2019, a cada minuto cerca de 11.204 frangos, suínos e bovino foram abatidos para consumo no Brasil. Além da causa animal, que é de absoluta relevância, a alimentação baseada no consumo de carne se mostra menos saudável quando comparada a uma alimentação centrada em vegetais, já que esta favorece a prevenção de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e diversos tipos de câncer.

Fonte: Pixabay/ Arte: Canal Rural.

Por se tratar de um alimento perecível, a carne demanda a incorporação de aditivos como nitritos e nitratos, que prolongam seu “tempo de prateleira” e permitem a comercialização antes do apodrecimento. E é justamente aí que mora um dos grandes problemas! Conforme pesquisas realizadas pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS), essas substâncias adicionadas têm o potencial de formar compostos cancerígenos.

Diante dos estudos, a carne processada – presunto, salame, hamburguer, linguiça e diversos outros embutidos – foi enquadrada pela agência no Grupo 1 de risco, junto com tabaco, álcool e amianto. Entretanto, o fato desse tipo de carne estar no mesmo grupo do tabaco, por exemplo, não significa que ambos sejam nocivos na mesma proporção, mas sim que nos dois casos a OMS considera comprovada a correlação entre seu consumo e o maior risco de câncer. A carne vermelha, por sua vez, foi classificada no Grupo 2A: provavelmente carcinogênica para humanos.

Voltando nosso olhar para questões ambientais, todo e qualquer esforço realizado na direção de uma vida mais sustentável é válido. Porém, quando se trata de água, nada parece impactar tanto na sua economia quanto eliminar a carne do cardápio. Compreensível, já que para produção de apenas 1 kg de carne bovina são utilizados entre 10 e 20 mil litros de água.

Como se não bastasse, em 2019 o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP estimou que de 60% a 80% das áreas desmatadas na Amazônia eram utilizadas como pasto. Sem citar, é claro, a enorme parcela de terra coberta por plantações que se transformarão em ração para engordar animais que serão abatidos.

Área de desmatamento em Apuí (AM) é registrada em imagem aérea durante ‘Operação Área Verde’, realizada pelo Ibama./ Imagem: Bruno Kelly/Reuters. / Reprodução: UOL Notícias.

Só no primeiro semestre de 2020, a China comprou mais de 43 milhões de toneladas de soja brasileira (utilizada, em sua maior parte, na alimentação de porcos). Em meados do século XX os chineses plantavam quase metade de toda soja consumida no mundo, hoje não chega a 5%. Essa queda se deve ao grande estresse hídrico gerado no cultivo do grão, tendo em vista que para produzir 1 tonelada de soja é consumido, em média, 1,5 milhão de litros de água.

Em síntese, o governo chinês parece ter ideia do valor que a água possui. Inclusive, já gastou 80 bilhões de dólares em um dos maiores projetos de engenharia da história, um duto que transportará 45 trilhões de litros de água por ano.  Comparativamente, o Brasil manda por ano, inserido na soja, quase o triplo dessa quantidade que será transportada: 129 trilhões de litros. Ao importar soja brasileira, os chineses também estão importando água.

Produção de soja em Mato Grosso. / Fonte: Mato Grosso Econômico.

Todavia, se ainda assim você julgar necessário o consumo de carne, saiba ao menos que, de acordo com a Universidade Federal do Paraná, em 2017 o consumo per capita de carne no Brasil foi de 246,30 gramas por dia, quando o suficiente – nutricionalmente falando – seria apenas 71 gramas.

Estão cada vez mais evidentes os benefícios proporcionados por uma alimentação baseada em vegetais, seja sua motivação a saúde, o meio ambiente, a causa animal ou até mesmo, quem sabe, todos esses fatores combinados.

Obviamente, ao adotar uma dieta que difere da “tradicional”, alguns novos alimentos precisão ser apresentados e inseridos no cardápio, como grãos, leguminosas, verduras, cereais, oleaginosas e etc. E está aí, inclusive, mais um ponto mega positivo, já que uma infinidade de possibilidades se abrirá.

Tirando os alimentos de origem animal do prato por apenas 1 dia, uma pessoa deixa de gerar 14 kg de CO2 emitido na atmosfera (o que equivale a 100 km rodados de carro), 7 kg de grãos (usados como ração), 3.400 litros de água (o equivalente a 26 banhos de 15 minutos cada) e ainda preserva 24 m² de terras.

Imagem: Pixabay.

A carne pode conter nutrientes importantes ao organismo. Contudo, junto com tais nutrientes, por tabela, são ingeridas diversas substâncias nocivas à saúde. Então, por isso – e também pelo rastro destrutivo deixado até chegar ao prato – talvez seja válido considerar a busca por alimentos mais naturais, que causem menos efeitos colaterais.

Não se trata, portanto, de condenar a agropecuária e as pessoas que querem (ou que até mesmo ainda precisam) consumir carne, mas sim de repensar os modelos de produção e consumo que estamos reforçando diariamente. Afinal, para quem já pode escolher, existe uma enorme responsabilidade em gerar menos impacto e usar o garfo como “arma” política.

 

 Referências:

 

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SILVA, Pâmela. Qual sabor a carne tem para a saúde e o meio ambiente?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/qual-sabor-a-carne-tem-para-a-saude-e-o-meio-ambiente.html>.

Como as Escolas podem ajudar no combate às Mudanças Climáticas?

Vivemos crises globais sem precedentes. Enquanto desigualdades são escancaradas e milhares de pessoas sofrem suas consequências diretas, muitos ainda negam sua existência e urgência. Diferentemente da pandemia causada pela Covid-19, a crise climática não será solucionada com uma vacina que está em teste. Ambas têm origens similares – desequilíbrios ambientais, exploração ilimitada dos recursos, aumento exponencial da população e um sistema exploratório completamente desigual e opressor – mas as corridas por soluções ainda estão em ritmos e prioridades bem discrepantes.

As escolas sempre tiveram papel fundamental desde o início do movimento ambientalista na década de 1970, sendo palco de diferentes discussões e grande aliada na formação de pessoas protagonistas, críticas e que coletivamente buscam soluções locais para desafios globais. No combate à crise climática não poderia ser diferente, vemos nascer uma mobilização muito potente e inspiradora em instituições pelo mundo todo.

Imagem: Pixabay.

Grande parte do movimento pelo clima foi e segue liderado por crianças e jovens que mais do que convidar, convocam e provocam seus professores a fazerem parte, a aprenderem, a reinterpretarem o mundo e todas suas possibilidades junto com eles.

Partindo ou não de uma demanda dos próprios alunos, é urgente que as escolas assumam sua corresponsabilidade e vão para além de uma abordagem apenas disciplinar expositiva, trabalhando e as dimensões comunitárias e territoriais, com ações práticas, transformadoras e contextualizadas.

Imagem: Unplash.

É necessário o desenvolvimento do que são chamadas de “competências climáticas” ligadas à ciência, adaptação e mitigação em relação a questões como justiça climática, vulnerabilidade e risco ambiental, compreensão dos ciclos da natureza e do método científico.

São diversas as possibilidades de inserir o enfrentamento à crise climática nas escolas, como, por exemplo, a criação de um comitê ou uma formação pedagógica para os educadores sobre o assunto. Porém, mais do que apenas iniciar, um dos grandes desafios das escolas é manter sua comunidade engajada em propostas significativas, sistêmicas e realmente transformadoras.

Um dos caminhos é fazer parte do Movimento Escolas pelo Clima, organizado pela Reconectta em parceria com o The Climate Reality Project, que surgiu com o objetivo de conectar e inspirar instituições comprometidas com educação e ação climática. A ideia é que as escolas se comprometam a inserir a temática no ano de 2021, que possam dialogar e se apoiarem ao longo do caminho em comunidade, assim como serem reconhecidas por seu empenho.

Fonte: Alexandre Beck.

Mais que uma rede de apoio e inspiração, o movimento manifesta-se como um caminho possível. Imersos em contextos que parecem muitas vezes dar largos passos para trás, os educadores precisam acreditar que um futuro melhor é possível e que existem muitas pessoas comprometidas a fazer isso acontecer. Como responde o personagem “Armandinho” em uma de suas famosas tirinhas, “não estou sozinho, só estamos espalhados…, mas já começamos a nos reunir.”

Conheça e faça parte do Movimento Escolas Pelo Clima: www.reconectta.com/escolaspeloclima

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RIBEIRO, Livia. Como as Escolas podem ajudar no combate às Mudanças Climáticas?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/como-as-escolas-podem-ajudar-no-combate-as-mudancas-climaticas.html>.

Manguezal: um ecossistema ameaçado

Manguezal em Tamandaré – PE. / Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável

A biodiversidade é entendida como “a riqueza da vida na terra, o que inclui todas as plantas, animais, microorganismos e genes que eles contêm, bem como os ecossistemas que estes compõem”. Portanto, a biodiversidade diz respeito a tudo que envolve seres vivos sendo, por isso, de extrema importância para sobrevivência contínua das espécies, comunidades naturais e manutenção da espécie humana.

A diversidade de organismos sempre é positiva, já que uma maior diversidade de organismos representa uma maior diversidade genética e de ecossistemas (que prestam diferentes serviços para humanidade). Um exemplo disso, é como essa diversidade de organismos condiciona todo o alimento que consumimos, proporcionando uma grande variedade de alimentos e recursos que permitiram o avanço da humanidade.

Manguezal na Colômbia. / Imagem: Pixabay.

O manguezal é um ecossistema ímpar, encontrado em regiões tropicais e subtropicais, e se caracteriza por possuir água salobra resultante do encontro da água doce de rios com a água salgada do mar. O estuário, local de transição dessas águas, gera uma salinidade bem específica dos manguezais. Além dessa, outras características que marcam esse ecossistema são os solos pobres em oxigênio e ricos em matéria orgânica, e a dinâmica do nível de água, que tende a variar de acordo com a maré. Vale ressaltar que a presença de mangues em um estuário faz com que esse ecossistema seja capaz de reter muito mais matéria orgânica do que estuários que não possuem esse tipo de flora.

A dinâmica do nível de água nos manguezais propicia o surgimento de uma flora própria e adaptada à água salobra e às baixas concentrações de oxigênio no solo: as árvores de mangue. Essas árvores possuem raízes expostas denominadas penumatóforos, que além de promover trocas gasosas entre as raízes e o ambiente, também funcionam como escoras que garantem uma melhor fixação das árvores. Outra importante função dessa flora é servir de abrigo e substrato para diversas espécies de animais graças à estrutura única que as árvores de manguezal possuem.

Estuário do Rio Paripe – ITamaracá – PE. / Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável

As características descritas acima fazem com que os manguezais sejam um foco de grande biodiversidade e um habitat bastante utilizado por diversas espécies de animais, seja de forma temporária ou permanente. Os mangues são habitados de forma temporária por animais que utilizam os estuários para reprodução e que passam parte do seu ciclo de vida nestes locais, como, por exemplo, camarões, lagostim, moluscos e peixes. E são habitat permanente de animais sésseis, que por não possuírem capacidade de locomoção, habitam exclusivamente estes ecossistemas. Muitas destas espécies de manguezais possuem grande valor comercial, o que faz com que sejam fonte de renda para diversas famílias que vivem no entorno dessas áreas.

Um dos muitos exemplos que podemos citar é o caso da Ilha de Deus, localizada em Recife, capital pernambucana. Nessa ilha existe uma comunidade, nascida no entorno de um manguezal associado a três rios distintos da cidade de Recife, cuja atividade pesqueira e o cultivo de sururu (molusco muito comum na região Nordeste) são as principais fontes de renda das famílias locais. O cultivo de sururu é uma atividade exercida por centenas de mulheres, as chamadas de marisqueiras.

Caranguejos no Estuário do Rio Paripe – ITamaracá – PE./ Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável

No Brasil, as áreas de mangue são protegidas pela Resolução nº 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o texto define que toda a extensão de área de manguezal é uma área de proteção permanente. Recentemente, ao final de setembro de 2020, essa resolução foi revogada pelo próprio CONAMA, tornando esses ecossistemas ainda mais vulneráveis à ação humana.

Essa revogação representa um grande retrocesso já que coloca em xeque todas as espécies que compõe os manguezais e os diversos benefícios que estes ecossistemas trazem. Além disso, também compromete a fonte de renda de diversas famílias que dependem diretamente do bem estar e continuidade destes ecossistemas, como é o caso dos habitantes da Ilha de Deus.

Referências e Leitura Sugerida:

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MIRANDA, Paulo Henrique. Manguezal: um ecossistema ameaçado. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/manguezal-um-ecossistema-ameacado.html>.

Energias Renováveis como caminho para a Igualdade de Gênero

Observando o cenário global de energia, estamos vivenciando uma mudança rápida e abrangente de fontes de energia. A transição energética de combustíveis fósseis para a adoção das energias renováveis. Essa transformação pode trazer consigo grandes mudanças sociais, ambientais e econômicas como a inserção massiva de empregos na área.

A Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) estima em suas pesquisas que o número de empregos no setor pode aumentar de 10,3 milhões em 2017 para quase 29 milhões em 2050 [1]. Esse crescimento abre um leque de oportunidades para profissionais de diversas habilidades e talentos. Pensando nessas oportunidades, o setor de energias renováveis pode abranger maior participação das mulheres, ao mesmo tempo em que asseguraria a distribuição socialmente justa de oportunidades socioeconômicas.

Imagem: Unplash.

As energias renováveis ​​andam de mãos dadas com todos os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e podem ter um grande impacto se usadas da maneira certa. Especialmente os ODS relacionados ao o acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis e modernas (ODS 7), à igualdade de gênero e empoderamento (ODS 5), e o crescimento inclusivo e trabalho decente (ODS 8) que carregam entre si uma grande interligação [1]. Porém, é necessário que esses objetivos sejam alcançados com inclusão, igualdade e equidade entres gêneros, pois a energia é útil não em si, mas para fornecer bens e serviços, incluindo emprego e meios sustentáveis de subsistência.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: [2]
Hanitsch [3] cita que “a desigualdade de gênero é um dos principais problemas para o combate no século XXI. A desigualdade de gênero não é apenas uma questão de direitos humanos, mas principalmente um desperdício de potencial humano no mundo, como muitas mulheres não podem viver a vida em sua plenitude. As energias renováveis ​​podem empoderar as mulheres porque aumentam os direitos substantivos e processuais, visto que as mulheres são vistas não apenas como detentoras de direitos, mas também como parceiras essenciais e atores do desenvolvimento. As mulheres podem ser independentes, contribuindo para a família, renda e bem-estar. Isso permite que elas usem suas diversas habilidades, beneficiando o mundo tanto social quanto economicamente. As energias renováveis ​​têm a capacidade de desempenhar um papel significativo nessa luta e fortalecer sua autoestima”.

Neste contexto, a IRENA lançou em 2019 um relatório contendo resultados de uma pesquisa sobre energia renovável com a perspectiva de gênero. O relatório “Energia Renovável: uma Perspectiva de Gênero” destaca os seguintes pontos [1]:

  • As respostas dos participantes da pesquisa mostram que 75% das mulheres e apenas 40% dos homens, percebem a existência de barreiras à entrada e ascensão das mulheres no setor;
  • A pesquisa apresenta também uma lacuna semelhante sobre a igualdade salarial ao longo das linhas de gênero: 60% dos entrevistados do sexo masculino assumem igualdade de remuneração entre mulheres e homens contra apenas 29% das entrevistadas;

    Imagem: Creative Commons.
  • Maior diversidade de gênero traz co-benefícios substanciais, concluiu a pesquisa;
  • As mulheres trazem novas perspectivas para o local de trabalho e melhoram a colaboração, enquanto o aumento do número de mulheres qualificadas na liderança de uma organização produz um melhor desempenho geral;
  • No contexto do acesso à energia, o envolvimento das mulheres como agentes ativos na implantação de soluções de energia renovável fora da rede é conhecido por melhorar a sustentabilidade e maximizar os benefícios socioeconômicos;
  • A pesquisa da IRENA revela que o acesso moderno à energia reduz a carga de trabalho pesado, melhora o bem-estar e libera tempo para mulheres e meninas buscarem educação e se engajarem em atividades geradoras de renda;
  • As mulheres estão em uma posição ideal para liderar e apoiar o fornecimento de soluções de energia em áreas isoladas da rede elétrica, especialmente em vista de seu papel como usuárias primárias de energia dentro de casa e em suas redes sociais.

Fonte: [4]
A partir disso, percebemos que os investimentos em energias renováveis ultrapassam as questões técnicas, mas emerge no campo social promovendo a sustentabilidade e uma sociedade mais justa, ofertando o empoderamento de meninas e mulheres.

Referências:

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COSTA, Tatiane. Energias Renováveis como caminho para a Igualdade de Gênero. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/energias-renovaveis-como-caminho-para-a-igualdade-de-genero.html>.